CORRESPONDENTE INTERNACIONAL
Maria Carolina Nomura, de Huesca, Espanha (*)
Morar em outro país. Conhecer diferentes histórias de gente de todas as raças, crenças e costumes. Aprender a olhar o mundo sob outros prismas e mesmo assim identificar a relevância da notícia mergulhada nos anais de outra cultura. Estar informado sobre os acontecimentos do país de origem e relacioná-los aos feitos do país onde se vive.
Essas são algumas das características do trabalho de um correspondente internacional.
A seguir, uma entrevista com dois correspondentes na Espanha: a polonesa Grazyna Opinska, correspondente na Espanha da Agência Polaca de Imprensa, que atualmente vive em Zaragoza, e o peruano Jesús Miguel Flores Vivar, que trabalhou como correspondente na Espanha e atualmente é professor da Universidade Antonio Nebrija, em Madri.
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No que consiste o trabalho de um correspondente?
Grazyna Opinska ? Dar as últimas notícias do que acontece no país, fazendo um background e uma análise dos diferentes problemas vividos.
Jesús Miguel Flores Vivar ? Informar de tudo o que acontece no país de destino, principalmente sobre fatos relacionados com economia, política e sociedade.
Quais as principais diferenças entre um correspondente internacional e um enviado especial?
G.O. ? Um correspondente vive no país de onde ele informa, e conseqüentemente, conhece melhor o que acontece, está todo o tempo testemunhando as mudanças. Ao passo que um enviado especial cobre um acontecimento concreto e específico e nem sempre sabe interpretar os feitos, dar o background da situação.
J.M.F.V. ? O correspondente internacional é o jornalista que está morando em outro país que não o seu e informa tudo o que acontece nele. O enviado especial é o jornalista que vai a um país cobrir um fato pontual. Não obstante, o correspondente pode ser enviado especial a outro lugar perto de onde vive na atualidade. Por exemplo, um correspondente na Espanha pode ser enviado especialmente para cobrir um evento em Portugal.
Para a Polônia e o Peru, quais são as noticias da Espanha que mais interessam?
G.O. ? As relações polaco-espanholas e experiências da Espanha na União Européia.
J.M.F.V. ? Tratados e investimentos espanhóis no Peru.
Quais são as vantagens de se trabalhar como correspondente internacional?
G.O. ? Poder estar perto de onde estão os acontecimentos relevantes, estar constantemente atualizada e conhecer a fundo os problemas do país.
J.M.F.V. ? Fica-se inteirado do "último do último". Viaja-se muito e ademais se conhece muita gente.
Quais são as principias ferramentas de um correspondente? Agências de notícias, jornais locais?
G. O. ? Depende para que meio se trabalha, mas tudo que oferecem as novas tecnologias em comunicação é muito útil e eficaz.
J.M.F.V. ? Hoje em dia, internet e telefone celular.
Como você se pauta, ou seja, como escolhe os assuntos que serão tratados?
G.O. ? Minhas prioridades informativas são a política de meu país e o que é relevante para a Espanha. Nelas é que procuro me aprofundar.
J.M.F.V. ? Se você se refere à estrutura de perguntas, normalmente se produzem durante o desenvolvimento de uma entrevista.
A Polônia, com outros nove países, fará parte da União Européia a partir de 1? de maio. Qual é a visão polonesa dessa integração? Como os jornais poloneses tratam dessa questão?
G.O. ? Os meios de comunicação apresentam os benefícios e cada vez mais, a integração em si. Isso é tema para todo um artigo.
A seu ver, como as noticias de Peru e América Latina são tratadas pelos jornais espanhóis?
J.M.F.V. ? Os meios de comunicação espanhóis tratam muito de temas referentes à América Latina. Há, inclusive, centro de documentação que se encarrega de observar o tratamento da informação da América Latina na imprensa espanhola (Alpe) e há também uma base de dados do Centro de Información y Documentacion Cientifica da Espanha (Cindoc).
Para ser jornalista na Polônia e no Peru é necessário cursar a Faculdade de Jornalismo? Qual é o currículo acadêmico da universidade?
G.O. ? Não é necessário o diploma de jornalismo para trabalhar como jornalista. Acredita-se que um jornalista com diploma de outra especialidade, mas que tenha capacidade para informar, pode aportar conhecimentos em determinada matéria. No entanto, a carreira universitária de jornalismo e estudos de pós-graduação existem na Polônia. Há pessoas que, para defender a categoria, querem limitar o trabalho de jornalistas não-titulados.
J.M.F.V. ? Sim. Ainda que empresas de comunicação possam contratar uma pessoa que não é graduada em jornalismo. Isso acontece em todos os meios, inclusive nos espanhóis. Quanto ao currículo acadêmico, na maioria das universidades o curso de Jornalismo dura de 4 a 5 anos.
De que maneira o jornalismo digital ajuda em sua carreira de correspondente?
G.O. ? Atualmente o jornalismo digital é absolutamente imprescindível, porque não se pode estar presente em todos os lugares em que acontece algo importante.
J.M.F.V. ? Ajuda muito. As notícias produzidas podem ser emitidas em tempo real. Por exemplo, quando se outorgaram os prêmios Planeta de 2002 (cujo ganhador só se conhece à meia-noite de um dia X), um minuto depois os jornais credenciados emitiram a notícia de que o jornalista Alfredo Bryce Echenique era o vencedor.
Como você avalia o jornalismo da atualidade?
G.O. ? Está cada vez mais rápido e comercial. Explora-se o sensacionalismo (good news is bad news). Na realidade, o jornalismo não está em seu melhor momento. Ser um bom jornalista cada vez menos depende dos jornalistas.
J.M.F.V. ? Está cada vez mais inclinado ao uso das tecnologias modernas. A informação sempre esteve ligada ao jornalismo. Hoje em dia, com o macrocanal de informação que é a internet, o jornalismo deve ganhar mais protagonismo. Mas, para isso, tanto os meios informativos tradicionais como os profissionais que trabalham neles devem passar por um processo de adaptação e reciclagem, o que não acontece. Devemos saber que o uso eficiente das tecnologias digitais deve ser estudado e praticado.
(*) Jornalista