Alguns jornais, especialmente aqueles títulos chamados populares, que custam menos e são dirigidos à nova classe média, noticiam na sexta-feira (5/9) mais uma chacina na região metropolitana de São Paulo. Segundo a conta da imprensa, é a décima-quarta matança apenas neste ano.
A média é de quatro mortos em cada ação, embora haja casos de mais de uma dezena de assassinatos ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Em geral, os crimes acontecem em bares da periferia, em pontos de encontro de jovens que vivem nas favelas ou nas cercanias de escolas públicas.
A imprensa cumpre sua obrigação de noticiar esses fatos como quem registra dados estatísticos: 14 chacinas, à média de quatro mortos em cada evento, então temos 56 mortes violentas praticadas por grupos armados e organizados.
O que raramente aparece no noticiário é o contexto em que acontecem esses crimes.
Na maioria das vezes, trata-se de vingança, por conflitos que começam em pequenos desentendimentos e deságuam em tragédia. Ou seja, a tragédia nasce da ausência do Estado na prevenção do agravamento desses pequenos conflitos.
Visto no conjunto, o pacote das 14 chacinas revela o abandono em que se encontram os moradores das periferias das grandes cidades.
Trabalho burocrático
O Globo tem prestado excelente serviço, ao publicar séries de reportagens sobre a ação de grupos criminosos que tomaram como reféns comunidades inteiras no Rio de Janeiro. Mas a imprensa paulista segue fingindo que a cidade de São Paulo se limita pelos rios Tietê e Pinheiros, no triângulo que é chamado de ‘centro expandido’.
Fora dos bairros onde residem os leitores de jornais, é como se à ausência do Estado correspondesse também a ausência da imprensa. Ali onde o crime domina a vida dos cidadãos e aparece como fator definidor da longevidade da população, as mortes da rotina já não são notícia.
A menos que a violência vaze para dentro daquilo que a imprensa chama de cidade, seguem todos, polícia e imprensa, cumprindo burocraticamente a tarefa de atualizar as estatísticas.
A polícia não investiga os crimes, a imprensa não faz perguntas impertinentes, e a violência vai vencendo a esperança.