Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A razão dos outros

CAIXOTINS

Carlos Brickmann (*)

É duro ser corrigido. Mais difícil ainda é aceitar lições vindas de profissionais de outros ramos ? especialmente quando eles têm razão.

Este colunista não tem qualquer motivo para gostar ou desgostar do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. Não mantém com ele qualquer contato extraprofissional. Gosta de sua irmã, Laura, jornalista de excelente nível, gente muito boa. Já foi processado por um cavalheiro que escolheu Greenhalgh para representá-lo ? mas, enfim, o advogado agiu profissionalmente, a briga mesmo não era com ele.

Estou, portanto, à vontade para dizer que Luiz Eduardo Greenhalgh com certeza não agrediu ninguém. Não faz seu gênero. Mais: ao reclamar da reportagem em que uma pessoa que não devia merecer crédito o acusou de agredi-la, escreveu uma carta absolutamente precisa à Folha de S.Paulo (Painel do Leitor, 26/12/03) ? uma lição de jornalismo. Alguns trechos:


"(…)nenhuma pauta estará completa sem que se desenvolva a relação dos fatos com contextos variados e pertinentes, a fim de oferecer ao leitor os nexos históricos, causais, estatísticos e culturais da notícia. Isso não foi feito(…)"

"(…)toda boa reportagem exige cruzamento de informações. Isso também não foi feito(…)".

"Nenhuma das pessoas que, além de mim, estiveram presentes ao interrogatório do preso (…) foi ouvida. Nem os delegados (…), nem o curador designado para o ato, nem as duas testemunhas presentes ao interrogatório, nem mesmo o promotor(…)".

"(…) o jornal não publicou entrevista com o promotor que acompanhou o depoimento, cujo telefone foi passado à jornalista (…) pelo senador Eduardo Suplicy(…)".

"(…)o jornal ignorou (…) as manifestações de solidariedade que recebi imediatamente de todo o país, entre elas o pronunciamento de senadores e uma carta aberta da OAB. Ignorou também as cartas enviadas ao jornal, pelo menos as que foram remetidas com cópias ao meu gabinete(…)"


A carta não recebeu resposta. Mas que resposta lhe poderia ser oferecida, diante da precisão e contundência com que se manifestou Greenhalgh?

Um leitor desta coluna (que esqueceu de assinar o nome!) concorda com a nota da semana passada sobre o mal do declaracionismo. Mas diz que o faz temeroso: não sabe se os que decidirem opinar farão melhor.

Não, não farão. Opinar é difícil; opinar bem exige excelente conhecimento dos fatos, exige estudo. Não basta o senso comum ? que, a propósito, é o menos comum dos sensos. Mas a carta do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh mostra o que seria uma boa reportagem ? sem opinião, com declarações, e também com trabalho, com pesquisa. Em vez de atacar simplesmente uma pessoa, com base em acusações de quem não merece crédito, por que não investigar um pouco, fazer reportagem e dar a resposta?

(*) Jornalista; e-mail <carlos@brickmann.com.br>