Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sarney enroscou-se nas fitas de ACM

DEUS É BRASILEIRO

Alberto Dines

Patética a carta do presidente do Senado e do Congresso Nacional José Sarney, publicada na Folha de S.Paulo (Painel do Leitor, 9/3/03, pág A 3). O todo-poderoso chefe do Legislativo, ex-presidente da República, escolhido para viabilizar as reformas pretendidas pelo atual governo, tem uma coluna semanal na mais importante página do jornalão e, apesar disso, foi obrigado a choramingar uma reclamação contra notícias publicadas numa coluna de notas breves ("Outros tempos" e "Responsabilidade histórica", dadas no "Painel", pág A4, em 8/3/03).

Sarney não pode reclamar do extenso noticiário político-policial em que está sendo flagrado como protetor do arquidenunciado Antonio Carlos Magalhães. Não tem como responder aos colegas da Página 2 que se indignam com suas manobras. Não pode queixar-se ao bispo, aos cardeais, ao papa. Como marimbondo sem ferrão, imortal diante do caixão, expõe a decadência no pífio protesto de escriba de fim de semana.

Será interessante acompanhar como responderá ao trabalho de Época" (edição 215, de 10/3/03) onde foi exibido o profícuo intercâmbio entre o ex-presidente da República José Sarney e seu ministro das Comunicações, ACM. A matéria é irrespondível, histórica, definitiva. Exibe com toda a clareza o gigantesco esquema de tráfico de influência, favorecimento e corrupção eleitoral que em qualquer país civilizado, com um mínimo de decência, já teria sido desfeito e punido.

O semanário da Editora Globo novamente mostra que corre em faixa própria. Embora não seja do estilo do ex-presidente, qualquer tentativa de engrossar a reclamação poderá provocar a ira do grupo do qual depende para manter o poder no Maranhão & Adjacências.

Deus é, efetivamente, brasileiro. Nenhum dos candidatos na última campanha eleitoral teve a ousadia de prometer o fim das oligarquias do Nordeste. Loucura pura, derrota na certa.

Alguém ouviu nossas preces, condoeu-se da nossa vergonha, deu ânimo à mídia e três meses depois de iniciado o novo governo ofereceu-nos esta dádiva: assistir ao início da desmontagem dos vergonhosos currais de ACM e Sarney.