ABOBRINHAS DA SEMANA
Alberto Dines
Correndo para confirmar a previsão deste Observatório de que nossa mídia vai entrar de corpo e alma na Era das Irrelevâncias, jornais, revistas, rádios e emissoras de TV fizeram da posse do presidente Luiz Inácio um mostruário do que nos espera.
É provinciano, preconceituoso e desrespeitoso o deslumbramento com o vestido curto que a senadora Heloísa Helena (PT-AL) escolheu para a cerimônia no Congresso. É evidente que a parlamentar não envergaria numa ocasião tão especial o seu uniforme de combate (camisa branca e jeans). Quem esperava o contrário projetava a sua própria falta de compostura.
Também é evidente que sendo jovem, vaidosa e politizada, Heloísa Helena não viria de terninho branco nem com uma midi-saia estampada e o cabelo alisado pelo método japonês. Usou os cabelos como são, amarrados singelamente num rabo de cavalo, um vermelhinho básico no comprimento adequado à idade e, como nordestina, valorizou o trabalho das conterrâneas rendeiras.
Fotógrafos têm obrigação de reparar
no inusitado, clicaram à vontade. Mas editores têm
obrigação de adotar um mínimo de recato nas
ênfases. Se não por inclinação, pelo
menos por senso de propriedade: as pernas da senadora ? embora mereçam
? não devem ser tratadas como as da companheira Luma de Oliveira.
No caso de Fidel Castro, foi perversa a fixação da nossa mídia nos tênis que usa mesmo quando veste um solene jaquetão escuro. Não é modismo, originalidade ou opção ideológica ? é problema de saúde. O homem tem 76 anos, é natural que tenha problemas, sobretudo em ocasiões em que deve manter-se de pé durante horas. Se os usa é porque são ortopédicos. E se escolhe os pretos ? e não os prateados e fosforescentes que muito jornalista usa no trabalho ? é porque tem noção do que é correto.
Nos dois casos, o desbunde é evidentemente pequeno-burguês