IMAGENS DE GUERRA
No Iraque, a televisão exibiu um vídeo de captura e prisão de soldados americanos. As imagens foram ao ar para o mundo todo no dia 23/3. Ao mesmo tempo, as emissoras americanas, lutando pela propriedade de transmitir a seqüência, mostraram apenas trechos cortados ou imagens fotográficas.
A maioria das emissoras se recusou a mostrar o vídeo em respeito às famílias dos prisioneiros de guerra, já que apenas algumas delas foram avisadas.
A relativa ordem não esconde a dúvida. As emissoras não parecem ter chegado a um consenso. Enquanto a ABC transmitiu apenas a fotografia do interrogatório de um soldado, identificado como Joseph Hudson, a al-Jazira divulgou o vídeo inteiro, em uma estação de língua filipina a que a mãe do soldado assiste. A NBC fez o mesmo.
As imagens ressuscitaram um antigo debate nos círculos jornalísticos: A mídia tem a obrigação de dar essas notícias e imagens, independente de quão terríveis sejam, ou devem pensar duas vezes, especialmente em tempos de guerra, nos sentimentos das famílias e no impacto do que pode ser encarado como propaganda?
Notícias do vídeo iraquiano foram anunciadas na manhã do domingo, 23/3, nas estações de TV americanas. Segundo Josh Getlin e Elizabeth Jensen [Los Angeles Times, 26/3/03], alguns minutos após ficar disponível, a CBS mostrou uma breve parte do interrogatório do soldado. A CNN mostrou uma foto com americanos mortos e não-identificáveis.
Depois que oficiais americanos no Catar e no Pentágono condenaram a al-Jazira pela transmissão, a maioria dos canais retirou virtualmente todas as imagens. Solicitou-se às emissoras que aguardassem até a notificação das famílias para a divulgação das fitas.
Donald Rumsfeld, secretário da Defesa americana, disse em uma entrevista à CNN que o vídeo do Iraque viola termos da Convenção de Genebra sobre o tratamento a prisioneiros de guerra, especialmente no que se refere à não-exposição de prisioneiros a curiosidade pública ou humilhação. "Não é preciso dizer que emissoras que mostram essas imagens estão agindo de maneira infeliz."
A tecnologia é cruel
De câmeras em tanques transmitindo notícias ao vivo, a repórteres que acompanham as tropas americanas no front e mostram tudo em detalhes com os mais requintados aparatos de transmissão, os telespectadores estão vendo e sentindo uma guerra contra o Iraque diferente de qualquer conflito anterior.
Da legião de espectadores boquiabertos com tanta tecnologia, emergiu Nancy Chamberlin para estalar os dedos e chamar o público de volta para o chão, mostrando o lado cruel dessa cobertura. Nancy é mãe do marine Jay Aubin, morto na explosão de um helicóptero. "Admiro o que as emissoras e suas novas tecnologias estão fazendo hoje para noticiar a guerra", disse Nancy no programa de Tom Brokaw, da NBC. "Mas para as mães e esposas que estão assistindo, é a morte. Não conseguimos sair da frente da TV. Cada tanque, cada helicóptero, ?aquele é meu filho?? E só quero que percebam que a tecnologia pode ser ótima, mas há mães, pais, esposas lá que podem estar sofrendo com isso."
Brokaw concorda com Nancy. "Isso é muito eloqüente e adequado. Faremos o que pudermos para reforçar essa mensagem repetidamente… Por trás desses gráficos computadorizados, há uma vida em jogo."
Uma pesquisa realizada pela CNN/USA Today/Gallup revela que a cobertura da mídia está trazendo bons resultados até agora. Cerca de 87% do público acham que a mídia está fazendo um bom ou ótimo trabalho.
Para Peter Johnson [USA Today, 25/3/03], no entanto, tecnologia pode ser sufocante. De explosões em Bagdá a imagens de longos comboios de tanques atravessando o deserto, tem-se assistido a um desfile incrível de tecnologias do exército e das emissoras. A campanha do Pentágono, para Johnson, não se deu conta de que com tanto acesso os jornalistas estão cada vez menos impressionáveis.