NEW YORK TIMES
Em 21 de abril, o New York Times publicou na primeira página o que parecia ser uma das histórias mais importantes desde o começo do conflito no Iraque. De acordo com a repórter Judith Miller, especializada em bioterrorismo, um cientista que trabalhava para Saddam Hussein depôs que o governo iraquiano destruiu armas químicas ilegais dias antes da invasão americana.
Mas o que chamou mais a atenção foi o acordo fechado pela jornalista com as fontes para conseguir a matéria. Judith revelou na própria reportagem que teve de aceitar diversas condições do grupo que entrevistou o cientista, o MET Alpha, unidade militar encarregada de encontrar evidências de armas de destruição em massa. Ela concordou em não entrevistar o cientista ou visitá-lo em casa, não publicar a descoberta por três dias e submeter uma cópia do texto final para aprovação de autoridades militares.
Os próprios colegas de Judith ficaram consternados com a questão da aprovação prévia da matéria. Os militares teriam até ditado mudanças no texto ? aceitas pelo Times ? informa Judith na matéria: eles "pediram que detalhes da descoberta de substâncias químicas fossem apagados", pois tal informação "poderia comprometer a segurança do cientista ao identificar em que parte do programa de armas ele trabalhava."
Segundo Sridhar Pappu [New York Observer, 28/4/03], desta vez não foram somente os usuais professores de ética a reclamar: o acordo provocou discussões intensas na redação do Times. Uma fonte interna garante que muitos questionaram tanto o pacto quanto a decisão do jornal de publicar a reportagem na capa.