TRAGÉDIA NO ESPAÇO
Raphael Perret (*)
Sábado, 1? de fevereiro, uma da tarde. Ligo a TV, passo os canais e paro na Bandeirantes, onde o apresentador Gilberto Barros, do programa Sabadaço, fazia comentários sobre uma notícia. A legenda era bem clara: "Acidente com a nave Columbia". Ininterruptamente, a emissora transmitia informações a partir de seu próprio setor de jornalismo e da CNN.
A coisa era séria. O ônibus espacial estava voltando à Terra e se fragmentou ao se chocar com a atmosfera. Os pedaços da nave caíram perto de Dallas. O presidente Bush já se reunia com seus ministros de Defesa, enquanto Israel estava em alerta máximo. Afinal, entre os sete tripulantes mortos havia um israelense (alguns minutos depois seria descartada a hipótese de sabotagem). Outro motivo para se justificar a interrupção do programa de entretenimento da Band era a imediata lembrança da macabra explosão da Challenger, em 1986, minutos após seu lançamento. O interesse público da notícia, portanto, é inegável.
Qual a primeira atitude de quem deseja se inteirar sobre o fato? Assistir aos outros canais para obter o maior número de informações possível. Alguns cliques no controle remoto e, decepcionado, retorno à Band. A Record não ousou interromper seu Programa Raul Gil. A Rede TV! seguiu impávida com o TV Esporte. A TVE fez que não era com ela. O rato Jerry continuava aprontando com seu inimigo, o felino Tom, no SBT. E a Globo, que apresentava o Jornal Hoje, fez rápida referência à queda da Columbia, lembrando o caso Challenger e… passou a exibir matéria sobre o São Paulo Fashion Week.
Bem, pelo menos, com o passeio pelos canais, foi possível avaliar como cada emissora define o que é mais importante para ir ao ar.
(*) Jornalista e mestrando em Sistemas de Informação pelo NCE-UFRJ