O que é melhor, Twitter ou Facebook? Por incrível que pareça, esta é uma pergunta que ainda ouço com certa frequência. E a resposta, como sempre, continua sendo a mesma: não há resposta para essa pergunta, já que as duas redes são completamente diferentes. O fato de continuarem a ser comparadas demonstra apenas como o mundo da internet ainda é novo e, em boa medida, desconhecido.
Costumo dizer que participar do Twitter é como gritar no meio da praça. Algumas pessoas ouvem, outras não; às vezes o grito se espalha. Às vezes alguém grita de volta, e a comunicação pode se estender assim durante algum tempo, gritos para cá e para lá, entrecortados por outros ruídos. Já participar do Facebook equivale a sentar com os amigos no botequim para colocar a conversa em dia. Duas dinâmicas, dois estilos quase opostos de comunicação – a começar pela limitação do número de caracteres do Twitter, que impõe uma concisão que nem todos aceitam bem. Minha amiga Cristina De Luca tem outra analogia: ela diz que o Facebook está mais para Saramago, o Twitter mais para Millôr. Faz sentido.
O Twitter é a ferramenta ideal para quem quer informação ágil em tempo real; o Facebook é perfeito para quem quer conversar com os amigos.
O que se publica numa e noutra rede tem destino diferente. Tuítes têm vida muito curta: ou são vistos assim que vão ao ar, ou caem no vazio. O que se escreve no Facebook, ao contrário, tem uma permanência muito maior; há textos e imagens que vão e vêm indefinidamente, às vezes durante anos.
Esse é um detalhe importante a levar em consideração. Essa semana mesmo tive uma demonstração prática de como pode fazer diferença. Perguntei aos meus 40 mil seguidores do Facebook se usam Twitter. Tive cerca de 1,5 mil respostas em menos de duas horas. Repeti a pergunta no Twitter, onde tenho 141 mil seguidores, e não cheguei a cem respostas. Mesmo com todas as considerações possíveis – perfil dos leitores numa e noutra rede, horário, dia da semana – esses números são muito eloquentes. No Twitter peguei quem ia passando; no Facebook consegui formar uma roda.
Tendência visível
A pesquisa rápida e despretensiosa me repetiu algo que eu já sabia – pouca gente frequenta as duas redes com igual entusiasmo – e me confirmou algo que eu intuía: há um viés quase “ideológico” na rejeição de alguns usuários do Twitter ao Facebook.
Explico: a rejeição dos usuários do Facebook ao Twitter é sobretudo pragmática. Eles não gostam do limite de 140 caracteres, não gostam da falta de interação que encontram e acham a rede confusa e desnecessária. Têm tudo o que precisam no Facebook. (Monica Reissenweber: “Não gosto do Twitter. Não consigo escrever meus complexos pensamentos em frases curtas monitoradas automaticamente me dizendo quantas letras eu ainda tenho”.)
As queixas dos usuários do Twitter, porém, incluem reclamações contra o algoritmo do Facebook, que seleciona o que aparece nas páginas de cada usuário de acordo com as suas preferências (@Uaiseilah: “A vida é muito perfeita no FB, prefiro a realidade do Twitter”.)
O Twitter tem um público mais jovem, que tende a se achar mais esperto e antenado do que o público do Facebook. Essa tendência está cada vez mais clara, e é um dos motivos pelos quais muita gente está voltando para o Facebook. Clecius Paganella Pacheco é uma dessas pessoas: “Usei o Twitter e deixei de usar. Muita patotinha de gente que se achava superior intelectualmente.”
Esta conversa dá panos para as mangas.
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Cora Rónai, do Globo