Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

De quem é a culpa pela grande reprovação dos bacharéis?

Ao ler certas notícias, a gente tem a impressão de que os jornalistas andam acometidos pela preguiça. Sim, porque tem muito profissional de imprensa que parece se recusar a fazer um serviço essencial no jornalismo: checar tudo que lhe chega aos ouvidos, confrontar com outros dados, questionar, questionar e questionar.

É freqüente a predisposição que muitos jornalistas têm em ouvir afirmações sem se dar ao trabalho de conferir se tal afirmação é verdadeira. Isso acontece, por exemplo, toda vez que a imprensa ouve os representantes da OAB. Quando é divulgado o resultado de um exame da Ordem, lá vem uma autoridade da OAB choramingar pelos cantos com a ladainha de que a culpa da grande reprovação dos bacharéis é da ‘proliferação dos cursos jurídicos’, que pode passar de mais de mil, e que o exame seria um ‘termômetro’ da péssima qualidade do ensino jurídico.

O jornalista ouve toda a baboseira e pronto. Publica, sem se dar ao trabalho de checar a afirmação do sujeito. De procurar outros dados. Ora, as autoridades da OAB ou estão sendo levianas ou são ignorantes.

Se há mais de mil cursos jurídicos, o jornalista – digno desse nome – deveria confrontar as leviandades da OAB com a realidade. Se existem mais de mil cursos jurídicos, existem igualmente mais de mil de medicina, outros tantos mil de engenharia. Só para ficar nesses três. Só esse fato da mais clara falta de lisura dos representantes da OAB seria suficiente para se questionar as intenções da Ordem.

Rios de dinheiro

O jornalista poderia, inclusive, ter a hombridade de se perguntar por que em outros cursos universitários não existe exame equivalente. Por que só existe para os bacharéis em Direito que, ao terminarem o curso, por causa da campanha difamatória da OAB têm sua capacidade sob suspeita. Como se cada graduado em direito fosse um dos maiores ignorantes e incompetentes do país.

O jornalista deveria checar se a OAB tem cacife para opinar sobre cursos jurídicos, embora seja tão-somente um ‘órgão’ fiscalizador e defensor do exercício da advocacia. O jornalista poderia ver se é verdade se os tais não sei quantos bacharéis em Direito recém-saídos das universidades desejam, de fato, exercer a advocacia, conforme afirma a OAB. Se entre este monte de graduados não existe quem prefere seguir carreira nas delegacias de polícia, Ministério Público ou magistratura. Se existe quem queira ser apenas um agente penitenciário, policial militar.

O jornalista deveria ter o dever de investigar por que motivo a OAB comemora o fato de haver elevados índices de reprovação no seu exame. O que já foi constatado pelo juiz federal Carlos Humberto de Souza, que acredita ser motivada para a Ordem ganhar rios de dinheiro com os cursinhos e manter uma reserva de mercado.

Briga para ter um ‘cargo’

O jornalista poderia voltar no tempo e procurar entender como isso se transformou em lei. Aí, poderia constatar o porquê da OAB ter sido uma das primeiras vozes a se levantar para derrubar Fernando Collor: a desburocratização da criação de universidades e o veto a obrigatoriedade do exame da Ordem. E poderia constatar também que a OAB, se aproveitando da pouca autoconfiança de Itamar Franco como presidente da República (cujo símbolo de governo era um jabuti fantasiado de tartaruga) e se aproveitando de que ele era um sujeito com os pés no chão e a cabeça nas nuvens, induziu o presidente a aprovar a lei 8.906/94 sem veto algum.

O jornalista poderia também investigar a OAB, procurando saber por que ela tem imunidade tributária, por que não presta contas ao Tribunal de Contas. Se perguntar o que ela faz com o dinheiro das anuidades e com o dinheiro das inscrições no exame.

O jornalista poderia investigar também por que há uma briga danada para se ter um ‘cargo’ na OAB, se o advogado terá que trabalhar de graça. Mas, infelizmente, não é isso que acontece. A OAB joga a isca e o jornalista cai como um idiota.

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Bacharel em Direito, João Pessoa, PB