Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cidade e o mundo

‘Pressão global, reação regional’ – essa poderia ser uma variação do axioma que virou refrão nos anos 90 para definir a receita de conteúdo dos jornais diante da inevitável globalização: visão global, ação local. Mas o cardápio é tão simples assim? Certamente, não. Caso contrário, a regionalização da mídia já teria sido teorizada em fórmula matemática, como se fez com o famoso lead.

De um lado, a cidade é o mundo. A pauta olha com mais atenção os bairros, as esquinas, os valores comunitários. Afinal, ninguém mora no planeta ou num país. Vive-se numa cidade – ou numa região. Ao mesmo tempo, as pessoas pertencem cada vez menos a uma localidade, e cada vez mais ao mundo que criam. As fronteiras mentais se alargam na proporção da inovação tecnológica. A noção de aldeia global é anterior ao século 21, mas é espantosa a velocidade das mudanças e dos novos entrelaçamentos mentais.

E o que é mundo? É o que as pessoas decidem eleger como o centro das suas prioridades, pouco importa se empurradas ou não por ondas ou tsunamis informativos. A crise dos jornais tem origem nesse paradoxo existencial, seja eles pequeno, médio ou grande. Vivem o mantra de que o foco deve ser local, mas o local é influenciado cada vez mais pelo global e ambas as correntes se retroalimentam.

Oxigenar incertezas

E a oportunidade dos mesmos jornais está em explicar essa teia aos seus leitores, de modo a que se sintam participantes no pequeno e importante mundo à sua volta e ao mesmo tempo bem-informados sobre as tendências geradas pela globalização. E possam descobrir o seu ‘mundo mental’, que não é necessariamente geográfico, até surgir o primeiro buraco de rua.

Dá até para brincar: quem nasceu primeiro, o local ou o global? Pertencemos a uma cidade porque estamos inseridos no mundo, ou pertencemos ao mundo porque estamos numa cidade? Parece que tanto faz. As escolhas é que definem ‘de onde somos’ e para ‘onde vamos’.

Então, e o jornal com isso? Vive o ponto de equilíbrio do trapezista. Se olhar muito para o local, não explicará aos leitores porque as esquinas estão se transformando – ou desaparecendo, dando lugar a outros hologramas espaciais. Se esquecer do local, não terá utilidade alguma porque estará dando com cara pasteurizada aquilo que todos estarão estampando. Vida longa para quem fizer bem a travessia para esse fantástico novo mundo.

O congresso da ANJ jogou um pouco mais de luz sobre esse dilema que se arrasta desde meados dos anos 90, com o advento da internet. Não é um evento para fórmulas prontas, mas para reflexão. Saí com mais dúvidas do que entrei – mas isso é bom, para oxigenar as incertezas e tentar correr menos riscos no escuro do futuro.

De tudo, uma certeza – a soberania do leitor. É quem, afinal, decide se a cidade é o seu mundo; ou se o mundo é uma grande cidade.

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Editor-chefe do jornal O Diário do Norte do Paraná, de Maringá (PR)