A Editora Senac Distrito Federal lançou o livro Carlos Castelo Branco – o jornalista do Brasil, com entrevistas exclusivas concedidas ao jornalista Carlos Chagas. No fim dos anos 70, o cineasta e professor da Universidade de Brasília Pedro Jorge de Castro combinou com Chagas a realização de uma série de entrevistas filmadas com Castelo Branco. Esse material, que permaneceu nos arquivos do cineasta por mais de 20 anos, foi agora organizado, dando origem ao livro.
A publicação conta uma parte importante da história brasileira, desde o governo de Getúlio Vargas até o de José Sarney, com revelações dos bastidores políticos que não foram divulgadas por causa da ação da censura.
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Homenagem a Castelo
Carlos Chagas
Trecho da coluna de Carlos Chagas publicada na Tribuna da Imprensa (8-9/7/06)
Editado pelo Senac, será lançado primeiro em Brasília o livro ‘Carlos Castelo Branco, o jornalista do Brasil’. Será no tradicional centro de noite de autógrafos da capital, o restaurante Carpe Diem, terça-feira, dia 11, a partir das 19 horas. O livro é resultado de longas entrevistas por mim realizadas com Castelinho, na década de 80, e filmadas pelo cineasta Pedro Jorge.
Foram meses seguidos em que nos encontrávamos aos sábados, à tarde, para repassar os principais acontecimentos da política nacional, desde que o mestre de todos nós desembarcou em Belo Horizonte, vindo de Teresina, para iniciar sua carreira jornalística. Eram tempos bicudos do Estado Novo, em 1939.
A trajetória de Castelo e suas observações e participações na vida política nacional estenderam-se pelas décadas seguintes, quando ele se tornou o principal jornalista político do País. Do fim da censura, quando ele teve o prazer de mandar o censor comprar o jornal do dia seguinte na banca da esquina, se quisesse lê-lo, à queda de Getúlio Vargas, meses depois, até o governo Dutra.
As revelações se sucedem, inclusive a confirmação da pressão feita pelo então ministro da Guerra sobre o ditador, para a realização de eleições de verdade. Em seguida, a volta de Vargas ao poder, presidente constitucional, e o diagnóstico sobre por que a tragédia terminou com um tiro no peito.
O período de Café Filho, de quem o entrevistado era amigo pessoal e a afirmação de que o então presidente foi mesmo acometido de um enfarte. A crise da posse de Juscelino e a singular interpretação das iniciativas do general Henrique Lott em defesa da Constituição.
Os tempos áureos do ‘Diário Carioca’, onde foi editor e colunista político, e sua ida para a ‘Tribuna da Imprensa’ e, depois, para o ‘Jornal do Brasil’. O governo de JK, com quem Castelo se encontrava freqüentemente, e a eleição de Jânio Quadros. O convite para tornar-se o primeiro secretário de Imprensa da presidência e suas duas exigências: jamais chegar ao Palácio antes das nove da manhã e a prerrogativa de entrar fumando no gabinete presidencial.
A renúncia, sobre a qual escreveu um livro cujos originais ficaram guardados no cofre-forte do Banco Nacional até sua morte, hoje documento essencial para se entender como e por que Jânio Quadros tentou dar o golpe para tornar-se ditador. O malogro e a volta do jornalista à profissão. A razão pela qual João Goulart acabou deposto: não entendeu o equilíbrio de forças responsáveis por sua ascensão ao poder.
Os anos do regime militar e o seu primeiro diálogo com o homônimo presidente: ‘Um jornal do Uruguai publicou que o principal jornalista político do Brasil era filho do presidente da República.’ ‘Perdão, mas o que eu li foi que o principal jornalista político do Brasil era filho do ditador de plantão…’ Os governos dos generais-presidentes e os detalhes da prisão de Castelinho, junto com Sobral Pinto e Mário Covas.
As conversas com o coronel comandante do quartel, que pregava uma ‘democracia à brasileira’ e a resposta de, para quem a democracia prescindia de adjetivos e só existia o peru à brasileira, que estavam comendo…
Em suma, não fossem as deficiências do entrevistador, o livro seria uma perfeita radiografia de mais de cinqüenta anos dos bastidores da política nacional.