Há um debate curioso sobre inteligência artificial. Intelectuais de peso como Stephen Hawking e o empresário Elon Musk (fundador da empresa de exploração espacial SpaceX e criador dos carros elétricos Tesla) assinaram uma carta alertando para os potenciais negativos do avanço dessa tecnologia.
As notícias que circularam sobre o documento foram totalmente sensacionalistas. Diziam que a carta era um alerta para o risco de a humanidade ser destruída pela inteligência artificial, no melhor estilo “O Exterminador do Futuro”.
Isso desviou a atenção do conteúdo do documento, completamente pé no chão, feito por um grupo importante de pensadores contemporâneos. O texto não tem nada a ver com robôs assassinos. Na verdade, sua preocupação é com a pobreza e a desigualdade que a inteligência artificial pode trazer.
O avanço dessa tecnologia não é ficção científica. Computadores são cada vez mais capazes de tomar decisões e de desempenhar atividades que julgávamos exclusivamente humanas. Tem havido um avanço rápido em campos como reconhecimento de voz (alô Siri) ou de imagens, máquinas capazes de dirigir veículos, responder a perguntas, resolver problemas e atuar como “agentes” com base em decisões próprias ou comandos humanos.
Desafio da escola
A inteligência artificial poderá substituir um número imenso de atividades hoje desempenhadas por pessoas. Um estudo realizado por dois professores da universidade de Oxford, Michael Osborne e Carl Frey, prevê que 47% dos empregos nos EUA estão em risco de desaparecimento nas próximas duas décadas.
A lista das atividades é grande. Inclui de atendentes de telemarketing a recepcionistas de hotel, passando por motoristas de caminhão e operadores de máquinas. Nas palavras de Osborne: “Os trabalhos que sobrarem serão baseados em habilidades criativas e sociais”.
Esse é um desafio gigantesco para a educação. Na semana passada, o diretor do MIT Media Lab, Joi Ito, declarou sobre a questão: “Se estamos com medo de que inteligências artificiais e robôs tomem nossos empregos, é preciso mudar nosso tipo de educação baseado em provas nas quais uma inteligência artificial poderia passar”.
Na visão dele, boa parte do sistema educacional ainda se concentra no ensino de habilidades que podem ser desempenhadas de forma mais eficiente por máquinas. Ele tem um ponto. Não seria difícil para uma inteligência artificial existente hoje, por exemplo, resolver sozinha todas as questões do Enem.
O desafio da escola é incorporar também o desenvolvimento de habilidades que não podem ser desempenhadas por máquinas, como nossa capacidade de sermos criativos, intuitivos e sociais. Se a escola focar apenas em problemas que máquinas podem resolver, teremos menos chances de competir com elas.
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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro