Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sem Corinthians, cai audiência da Globo

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 11 de setembro de 2008


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Sem Corinthians, futebol cai 11% na Globo


‘A queda do Corinthians para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro evidenciou ainda mais a importância do clube para o desempenho da Globo no Ibope de São Paulo.


Até a semana passada, a Série A do Brasileirão registrava 19,7 pontos na Grande São Paulo, contra 22,2 do mesmo período da competição no ano passado. A queda foi de 11%. A Globo perdeu 12% de participação no total de televisores ligados _que aumentaram neste ano.


Apesar de serem exibidos em dias (quartas e domingos) mais favoráveis, pela maior quantidade de televisores ligados, os jogos de São Paulo, Palmeiras e Santos em 2008 estão apenas dois pontos acima da média dos do Corinthians na Série B, irradiados nas tardes de sábado.


A média do Corinthians na Série B até agora é de 17,7 pontos na Globo, com participação de 34,1% no total de televisores ligados (51,6%). Já os jogos da Série A têm sido sintonizados por 34,6% dos aparelhos ligados (57% no total).


A maior audiência do Campeonato Brasileiro na Globo até setembro vem da Segundona: Bragantino x Corinthians, com 27,4 pontos. Na Série A, o maior público foram os 24,8 pontos de Figueirense x São Paulo.


O problema da Globo na Série A não é só a falta do Corinthians. Ao contrário da rede líder, a Band cresceu 21% com a competição. Tem média de 4,9 pontos neste ano, contra 4,0 de igual período de 2007.


DECIBÉIS 1


A Globo exibiu chamadas anunciando Fábio Assunção, ao vivo, no ‘Mais Você’ de ontem, mas o ator perdeu a hora e faltou ao programa. No ar, Ana Maria Braga até brincou, dizendo: ‘Acorda, menino!’.


DECIBÉIS 2


A Globo diz que houve um ‘ruído de comunicação’ entre a produção do ‘Mais Você’ e Assunção. Na versão oficial, o ator achava que sua participação seria só na semana que vem.


A SUCESSORA


Silvio Santos quer criar um programa só para Ellen Jabour, uma das apresentadoras do caído ‘Olha Você’. A idéia do dono do SBT é fazer dela uma nova Adriane Galisteu. Ele estaria disposto até a dirigir a ex-modelo nos primeiros programas – como fez com Adriane.


ESCOLINHA 1


Sidney Magal está fechando contrato com a Band para ser a estrela do novo humorístico que a emissora planeja estrear no final de outubro, após as eleições. Como Chico Anysio na Globo, ele interpretará um professor à frente de uma classe cheia de tipos engraçados.


ESCOLINHA 2


O programa da Band tem o nome provisório de ‘Uma Escolinha Muito Louca’ e será diário, às 22h. O elenco é quase todo desconhecido. As gravações começam em um mês.


CONTAGEM REGRESSIVA


A cúpula da Globo não vê a hora de estrear ‘Negócio da China’, no início de outubro. Apesar de não ter concorrência, a atual novela das seis, ‘Ciranda de Pedra’, não consegue passar dos 20 e poucos pontos.’


 


 


Cristina Luckner


Programa resgata casos do 11 de Setembro


‘O documentário ‘The Fal- ling Man’, exibido hoje, às 21h, no GNT, conta a história de um homem que pulou da janela do World Trade Center no dia 11 de Setembro de 2001, após a colisão do primeiro avião na torre norte dos prédios.


Na busca por desvendar a identidade de uma das muitas pessoas que pularam do WTC durante os ataques, o diretor Henry Singer ouviu também aqueles que perderam familiares -e os últimos contatos que tiveram com eles, por telefone e e-mail, quando os prédios já estavam em chamas-, além de jornalistas e fotógrafos que cobriam episódio.


O fotógrafo Richard Drew, autor da foto que inspirou o documentário, diz, em uma das cenas, que ‘era como se a câmera me separasse, psicologicamente, do que estava acontecendo naquele momento’.


Até hoje, especialmente no dia 11 de Setembro, o local onde ficavam as torres gêmeas recebe milhares de visitantes. Curiosos, parentes das vítimas, policiais, bombeiros e voluntários que ajudaram no resgate dos feridos à época lotam as ruas do sul de Manhattan.


Entre eles e a grade do terreno dos prédios, painéis formam uma linha do tempo para descrever, com texto e fotos, ‘o dia mais fotografado e filmado da história’, segundo o documentário.


THE FALLING MAN


Quando: hoje, às 21h


Onde: no GNT


Classificação indicativa: não informada pelo canal’


 


 


CAMPANHA
Clóvis Rossi


Contentamento e barbárie


‘SÃO PAULO – O bom resultado do PIB no segundo semestre fará chover, de novo, festejos que desmentem o sedutor estribilho da campanha Marta Suplicy, segundo o qual paulistano ‘não se contenta com pouco’. Errado. Não só o paulistano mas o brasileiro contenta-se, sim, com pouco.


O governo Lula, então, faz até propaganda do pouco. Ou do nada, no caso da lenda da queda da desigualdade, que não existe. Caiu apenas a desigualdade entre assalariados, mas não entre quem vive de salário e quem tem renda do capital.


A propósito, no mais recente boletim do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, Marcio Pochmann, presidente do Ipea, volta ao tema ao escrever que desde a década de 1950 cai a participação do salário na renda.


‘Atualmente [governo Lula, portanto], menos de 40% da renda nacional são apropriados pelos trabalhadores; no final da década de 1950, aproximava-se de 60%. Em contrapartida, os detentores de patrimônio assistem à expansão contínua de seus rendimentos’.


Na mesma toada, três agências da ONU acabam de divulgar estudo apontando falta de ‘trabalho decente’ no Brasil. Significa, entre outras coisas, ‘ausência do trabalho infantil ou forçado; nível adequado de remuneração, formalidade e acesso à proteção social; oportunidades iguais de acesso ao emprego e às ocupações de mais qualidade e mais bem remuneradas’.


Menos mal que quem deixa o governo Lula passa a enxergar as coisas como são, caso de André Singer, ex-porta-voz do presidente, que escreveu ontem que o filme ‘Linha de Passe’ ‘contribui para repor a questão central do período, a de saber se ainda temos chance de produzir uma ‘virada’ civilizatória ou se seremos obrigados a nos conformar com a barbárie transformada em sistema’.


Pois é, seis anos de Lula, muita festa e nenhuma ‘virada’.’


 


 


Valdo Cruz


Retratos


‘BRASÍLIA – A página A4 da Folha de ontem era o retrato fiel da crise na campanha de Geraldo Alckmin. No alto, José Serra em Curitiba posando para fotos ao lado do candidato tucano Beto Richa. Abaixo, o ex-marqueteiro alckmista disparando críticas contra os serristas aliados de Gilberto Kassab.


Nada mais emblemático. Aquele que deveria ser o principal aliado de Alckmin faz campanha pública no Paraná, não em São Paulo, e o ex-marqueteiro do candidato tucano acusa o grupo serrista de sabotagem e traição.


Aliados do governador dizem que ele vai, sim, entrar na campanha de Alckmin -sua presença estava prevista ontem num encontro de arrecadação de fundos para o tucano. Alckmistas desgostosos dizem que ele só decidiu dar as caras quando a canoa ameaça afundar.


Em outras palavras, Serra estaria apenas fazendo figuração, um pouco tardia, para evitar ser acusado de falta de empenho a favor do ex-governador paulista. Enquanto isso, a turma do PT só faz rir em Brasília e no comitê de Marta Suplicy.


A crise de hoje no tucanato paulista, avaliam petistas, apenas reforça aquilo que o presidente anda dizendo por aí: José Serra é o melhor candidato para sua ministra Dilma Rousseff derrotar em 2010.


A balbúrdia no ninho tucano tende, na visão governista, a dividir ainda mais o maior colégio eleitoral do país. Exatamente onde Serra deveria sair mais forte nas suas pretensões presidenciais.


Se Serra perde com a crise paulista, Lula acredita que Dilma só tem a faturar no Estado. Motivo: os novos números positivos de crescimento do PIB anunciados ontem, dado que conta, e muito, em São Paulo, onde o eleitor é sempre mais sensível à economia.


Bem, tudo isso é retrato do momento. Se pudesse ser congelado até 2010, de fato Dilma teria a vida facilitada. Só que novos fotogramas serão registrados até lá. E neles a ministra terá, antes, de mostrar ser boa de palanque.’


 


 


José Alberto Bombig e Catia Seabra


Alckmin contrata marqueteiro que atuou em campanha de Lula


‘Sob nova direção, a campanha do tucano Geraldo Alckmin a prefeito de São Paulo vai mirar o que entende ser os problemas das duas últimas administrações da capital. A estratégia deverá resultar em críticas ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), que tem o PSDB em sua gestão e era vice do governador tucano José Serra até 2006.


Anteontem à noite, em entrevista exclusiva à Folha, o marqueteiro Lucas Pacheco afirmou que deixou o comando da comunicação de Alckmin por estar insatisfeito com os rumos da campanha. O posto foi assumido ontem por Raul Cruz Lima, publicitário de pouca tradição na política, mas que já participou de campanhas do presidente Lula.


O novo chefe, a pedido do candidato e de seus apoiadores mais próximos, trabalhará em duas frentes: comparar o período de Alckmin à frente do Estado com o de Marta Suplicy (PT) na prefeitura (2001-2004) e apontar os ‘equívocos’ de Kassab, nas palavras de um dos coordenadores tucanos.


O novo slogan, por enquanto, será ‘competência e respeito por você’. Também nessa linha, Lima tentará diferenciar o PSDB do DEM (históricos aliados), evocando programas sociais dos tucanos e mostrando que o partido de Kassab tenta se apropriar de realizações de Alckmin, Mario Covas e Serra.


Antes do início da campanha, ele chegou a disputar com Pacheco a chance de comandar a comunicação tucana, mas foi preterido por razões financeiras. Agora, assume com o endosso de Edson Aparecido, coordenador da campanha.


Lima foi dono da agência Denison, nome tradicional no mercado privado, e, segundo a campanha, colaborou com Duda Mendonça e João Santana nas duas vitórias de Lula, em 2002 e 2006, respectivamente. Hoje, faz parceria com Marcelo Simões, outro que chegou a ser cotado para a vaga de Pacheco.


A favor de Lima pesa o fato de ser reconhecido como profissional criativo e enérgico, porém com pouca experiência para enfrentar Santana, hoje com Marta, e Luiz Gonzalez, com Kassab. Entre seus desafios está ainda o de dar mais densidade política ao discurso de Alckmin -como explicar para o eleitor o motivo que o leva a desafiar uma gestão que tem seu partido no comando.


‘Não acho que o Kassab seja um bom prefeito. Se fosse, não teríamos outro candidato. É preciso afirmar a candidatura Alckmin. Se atingirmos a atual gestão, paciência’, afirmou o deputado federal José Aníbal.


Ontem à noite, Lima se reuniu com o grupo de Alckmin. A idéia é que seu primeiro programa vá ao ar amanhã.


Insatisfação


Ao sair, Pacheco disse à Folha que o grupo ligado a Serra atrapalhava sua estratégia, que previa ‘desconstruir’ a gestão Kassab. Pressionado, Alckmin teria evitado as críticas à espera do apoio do governador. ‘Minha intenção foi dar uma sacudida para ver se as coisas mudam. Vou descansar e volto a São Paulo para votar em Alckmin’, disse Pacheco ontem.


Insatisfeito com o programa na TV, o núcleo da campanha -Alckmin, Aparecido e Silvio Torres- sugeriu que Lima ‘auxiliasse’ Pacheco, mas ele preferiu sair. O programa vinha sendo alvo de reclamações. Segundo tucanos, procurava-se reforço para a redação de texto.


O presidente municipal do PSDB, José Henrique Lobo, foi um dos críticos mais contundentes. À Folha Pacheco atribuíra sua saída a ‘lobos em pele de cordeiro’. Ontem, Alckmin ligou para Lobo e chamou, disse o presidente, de injustas as declarações do publicitário.’


 


 


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Folha de S. Paulo


Justiça extingue outras duas ações da Universal contra Folha


‘A Folha obteve mais duas decisões favoráveis em ações de indenização ajuizadas por seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus que alegaram se sentir ofendidos com a reportagem ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’, de autoria da repórter Elvira Lobato, publicada em dezembro de 2007.


O juiz Luiz Felipe Lück Marroquim, do Juizado Especial da Comarca Cível de Apodi (RN), extinguiu ação movida por Manoel Francisco da Silva. Segundo o juiz, o texto ‘não cita o nome de Silva, não o descreve nem reproduz a sua imagem’.


O juiz Douglas Bernardes Romão, de Juara (MT), também extinguiu ação movida por um fiel, por entender que ele não era parte legítima. Com essas decisões, o jornal já obteve 51 sentenças, todas favoráveis, de um total de 101 ações de indenização.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Sem medo do império’


‘Foram solavancos de ações e declarações dramáticas. Para começar, o ‘atentado terrorista’ anunciado em coletiva. Ecoou como tal, ‘atentado’, pelo site da Agência Boliviana, pelo oposicionista ‘La Razón’ e por agências de EUA e Europa.


No Brasil, a resistência à expressão foi maior, com Fátima Bernardes surgindo na Globo para dizer só que ‘o governo culpa a oposição pelo ataque’, depois ‘sabotagem’, destacando antes o risco de corte no gás. Sites daqui reproduziam a BBC Brasil, que despachou de Buenos Aires, registrando que a explosão foi dada como ‘atentado contra a pátria’.


Mais um pouco e o próprio Evo Morales declarou ‘diante do povo’ e ‘sem medo do império’ que o embaixador americano era ‘persona non grata’. Em minutos o ‘New York Times’ postou, da Reuters, que o ‘esquerdista’ expulsou ‘sem dizer que provas teria de que o embaixador está por trás’.


A Agência Boliviana citava então uma ‘reunião secreta’ do embaixador com o prefeito de Santa Cruz, dias atrás, e destacava a foto abaixo.


OUTRO GASODUTO


Início da noite e, como se nada estivesse acontecendo, Lula surge na home de ‘O Estado de S. Paulo’ em foto ao lado do governador do Amazonas, passeando em barco, sob o enunciado ‘Operação de gasoduto deve começar em um ano’. Vai ligar a reserva de Urucu a Manaus.


‘GOLPE? NÃO’


E como se não bastasse Evo Morales, mais alguns dias e chega ao Brasil o paraguaio Fernando Lugo. Já ontem, em entrevista inesperada à Veja.com, ‘o general Lino Oviedo nega que esteja tramando um golpe de estado’, mas alerta que Lugo ‘tem que negociar politicamente’.


OPERAÇÃO ATLÂNTICO


Ontem na home page da Agência Brasil, ‘Forças Armadas farão exercício de defesa do petróleo no litoral’. A Operação Atlântico deve envolver mais de dez mil militares durante duas semanas, a partir de amanhã, por Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Vai ‘simular situação de guerra entre dois países pelo controle de uma grande reserva petrolífera’.


Em entrevista, o estrategista militar Geraldo Cavagnari avalia que a operação é necessária, pois ‘aumentou a cobiça sobre as águas brasileiras’.


PETROBRAS COMPRA…


Do indiano ‘Economic Times’ ao site da ‘Forbes’, o dia começou com a notícia de que uma empresa de engenharia da Índia ‘embolsou contrato de US$ 160 milhões com a gigante Petrobras’ para fornecer equipamento.


E CONFIRMA


Final do dia, em destaque nos sites e portais brasileiros e depois também nos telejornais, a estatal ‘confirma descoberta de óleo leve’ no campo de Iara, junto a Tupi, e ‘estima reservas de até quatro bilhões de barris’.


‘FT’ EM CAMPANHA


Na análise ‘O novo proveito de Lula: Brasil pode manter controle total sobre o petróleo do mar’, o correspondente Jonathan Wheatley volta a pressionar o Brasil para não ‘se contrapor aos investidores e às companhias de petróleo’


SEXO, DROGAS & PETRÓLEO


Aliviando um pouco a pressão sobre os EUA, ‘Sauditas prometem ignorar decisão da Opep de cortar produção’, postou ontem o ‘New York Times’.


Mas veio a noite e a manchete, nos sites do ‘NYT’ e do ‘Washington Post’, virou ‘Funcionários federais pegos em escândalo ético de petróleo’. Comandando ‘bilhões de dólares em royalties de petróleo’, eles são acusados de ‘fazer sexo com e receber presentes de funcionários das companhias’, inclusive com ‘consumo de cocaína’, segundo o Departamento do Interior.


BC CONTRA O NATAL


Até aparecer a Bolívia, o destaque na cobertura on-line era o crescimento de 6% na economia brasileira, seguida pela alta de 1,47% na Bovespa, depois de ‘desabar’ um dia antes. Mas a boa nova prosseguiu como manchete no ‘Jornal Nacional’, que mal noticiou o ataque na Bolívia: ‘A economia produz números animadores. Crescimento de 6% no primeiro semestre’. A certa altura, à tarde, sites e portais traziam no alto a promessa do ministro Guido Mantega de ‘um excelente Natal’.


Mais algumas horas, porém, e o Banco Central elevou os juros em 0,75 ponto. Desta vez, ressaltou o Globo Online, três diretores queriam percentual menor.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Daniel Bergamasco


Republicanos acusam Obama de sexismo


‘A menos de oito semanas das eleições presidenciais americanas, e com projeção de disputa muito acirrada, o republicano John McCain lançou ontem na TV anúncio no qual acusa o democrata Barack Obama de sexismo. O vídeo edita frases de Obama para que pareçam uma referência grosseira à vice da chapa republicana, Sarah Palin.


‘Você pode colocar batom em um porco. Ele ainda será um porco’, disse Obama na terça, usando expressão comum na política americana ao falar sobre a apropriação de seu slogan, ‘mudança’, pela campanha rival -queria dizer que a mudança prometida no caso era apenas cosmética.


No anúncio de TV, a cena se segue à frase de Sarah Palin, da semana passada: ‘Vocês sabem a diferença entre uma ‘mãe do hockey’ (mulheres que levam os filhos para o treino, como ela) e um pitbull? Batom!’.


As críticas republicanas -o partido exigiu desculpas de Obama- haviam começado já na véspera, dia em que o foco da mídia estava nas acusações contra Palin, governadora do Alasca, por receber verbas de viagem sem sair de casa, publicadas pelo ‘Washington Post’.


Em sua fala, Obama não havia citado Palin. Mas parte da mídia questionou: sendo os discursos dos candidatos preparados com tanto zelo, sua equipe não previu a controvérsia?


Antes que algum repórter lhe perguntasse, o democrata comentou o assunto ontem, em ato de campanha.’Estou falando sobre a política econômica de John McCain e disse que ele é mais do mesmo. De repente, eles dizem: ‘Você deve estar falando da governadora (Palin).’


Campanha suja


Para a cientista política Barbara Kellerman, da Universidade Harvard, ainda que se ampare em um factóide o contra-ataque pode ser efetivo. ‘A campanha suja muitas vezes funciona, por mais que seja injusta’, disse. E alertou que o rival pode fazer do medo do rótulo de sexista um escudo: ‘Ninguém quer parecer preconceituoso’.


Steven Brams, da Universidade de Nova York, concorda. ‘É só o começo. A tendência é que Obama use da mesma arma no contra-ataque, para que não pareça fraco para as massas. Sua imagem de intelectual tem apelo limitado. Os eleitores gostam de certa agressividade.’


Outra metáfora na mesma fala de Obama também gerou comentários. ‘Você pode enrolar um peixe velho em um pedaço de papel chamado ‘mudança’. Ele vai continuar a feder pelos próximos oito anos’, disse Obama, logo após a analogia suína. Na TV, a republicana Jane Swift, ex-governadora de Massachusetts, viu ali uma ofensa aos 72 anos de John McCain.


Obama reclamou da mídia por embalar a polêmica. ‘[Os republicanos] pegam um comentário inocente, tiram do contexto, vomitam um anúncio ofensivo porque eles sabem que para a imprensa isso é um ‘hortelã-de-gato’ [erva que deixa os felinos excitados]’, disse.


O Partido Democrata, contudo, já esteve em situação inversa. Na temporada de primárias, John McCain usou a mesma expressão sobre maquiar um porco para criticar o projeto de saúde pública de Hillary Clinton, na época pré-candidata democrata. Foi prontamente acusado pela equipe da senadora de ofendê-la.’


 


 


AQUISIÇÃO
Folha de S. Paulo


Slim compra 6,4% das ações do ‘NYT’


‘O empresário mexicano Carlos Slim, o segundo homem mais rico do mundo segundo a ‘Forbes’, comprou 6,4% das ações do The New York Times Company, empresa dona do jornal de mesmo nome e do ‘Boston Globe’, entre outros.


Com o negócio, ele se torna o terceiro maior acionista do grupo, fora a família controladora Sulzberger.


O mexicano afirmou que a decisão de investir no ‘New York Times’ foi ‘financeira’ e não revelou o valor do negócio nem se pretende ampliar a sua participação. Estima-se, porém, que as ações adquiridas por Slim na semana passada valham cerca de US$ 123 milhões.


Ele tem um histórico de comprar ativos em baixa e revendê-los posteriormente com lucro. Vários analistas ouvidos em reportagem do próprio ‘The New York Times’ disseram que pode ser o caso agora. O jornal vem enfrentando problemas, com a circulação e a receita com publicidade caindo, o que resultou em recente corte de funcionários. Apenas neste ano, as ações do grupo caíram 20,36%. Recentemente, dois fundos de hedge compraram participação na empresa.


Há, porém, analistas que afirmam que Slim pode ter interesse em ter voz na direção do jornal. ‘A questão é que os Sulzberger não querem ceder o controle’, disse Richard Dorfman, diretor da empresa de investimento Richard Alan.


‘É uma grande companhia, que tem hoje um valor atrativo’, afirmou Arturo Elias Ayub, porta-voz do mexicano. ‘A porta está sempre aberta para avaliarmos se compraremos mais.’


Essa é a segunda investida do bilionário no setor de mídia nos últimos meses. Em maio, ele comprou uma participação de cerca de 1% no Independent News & Media, que, entre outros, publica o jornal britânico ‘The Independent’.


O negócio ocorre em um momento em que várias empresas dos EUA vêm sendo alvo de estrangeiros. Bancos como o Citigroup venderam participações expressivos para fundos de governos do Oriente Médio, e a belgo-brasileira InBev comprou a Anheuser-Busch.


Com agências internacionais’


 


 


LUTO
Estêvão Bertoni


A imprensa livre de Fausto Wolff


‘A primeira barreira se ergueu quando o garoto de Santo Ângelo (RS) ganhou o impronunciável nome de Faustin von Wolffenbüttel.


Para facilitar a vida de quem pretendesse chamá-lo, tornou-se Fausto Wolff.


A segunda foi a pobreza. O fato de ter estudado somente até a quinta série, porém, não o impediu de conquistar em 1997 o prêmio Jabuti pelo romance ‘À Mão Esquerda’.


Autodidata e sem dinheiro, roubava livros quando moleque. Quando tentou surrupiar outra coisa, foi repreendido pelo dono da livraria: ‘Livro pode, baralho não’.


Há quatro anos, estranhou não entender nada do que lia no computador. Gritou ‘passarinho’, apelido que deu a Mônica, a mulher, e avisou que havia desaprendido a ler e a escrever. Teve um AVC (acidente vascular cerebral).


Com um dia de UTI, fugiu do hospital. Foi ao boteco, comeu um sanduíche de pernil, bebeu conhaque e fumou. Terminou na casa do amigo Millôr Fernandes, que o convenceu a voltar ao hospital.


Sua saúde foi piorando a partir daquele ano. Com passagens por ‘O Pasquim’, ‘O Globo’, ‘Cruzeiro’ e ‘Manchete’, Fausto tinha uma coluna no ‘Jornal do Brasil’. Polêmico, dizia-se um representante do proletariado dentro da imprensa.


Aos 68, morreu no Rio, na sexta, de insuficiência respiratória. O autor de ‘A Imprensa Livre de Fausto Wolff’ foi casado nove vezes e teve duas filhas. Como pediu em poema, foi cremado.’


 


 


CINEMA
Contardo Calligaris


‘Linha de Passe’


‘DESDE QUE assisti a ‘Linha de Passe’, de Walter Salles e Daniela Thomas, os personagens do filme crescem na minha memória e parecem cada vez mais familiares, mais próximos de mim.


É curioso, pois eles habitam um mundo distante do meu. ‘Linha de Passe’ conta a história de quatro irmãos (de pais diferentes), que vivem com a mãe (que espera um quinto filho), na Cidade Líder, zona leste de São Paulo. A mãe é empregada doméstica (a maravilhosa Sandra Corveloni, prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes). Um dos irmãos é frentista e evangélico. Outro, de peneira em peneira, sonha em se tornar jogador de futebol. Outro é motoboy e já tem um filho com uma menina que ele visita de vez em quando. O último seria estudante se não estivesse sempre viajando de ônibus, à procura do pai, que é ou foi motorista de uma viação paulistana.


Conhecendo esse resumo (e sem ter visto o filme), um colega, que tem um certo preconceito contra o cinema brasileiro, perguntou: ‘Mas por que nunca fazem um filme sobre pessoas que nem a gente? Motoboy, frentista, empregada doméstica, futebol como redenção: como é que vou reconhecer minha vida nesses estereótipos da pobreza nacional?’.


Pois é, este é o milagre de ‘Linha de Passe’: o filme é sobre ‘pessoas que nem a gente’ porque nunca é ‘pitoresco’. Como assim?


O ‘pitoresco’ é uma prática estética que começou no século 18, na Inglaterra. Consistia em transformar paisagens potencialmente sinistras (por exemplo, as ruínas, caras aos primeiros românticos) em pinturas ‘graciosas’, que pudessem ser penduradas em cima da lareira. Logo, o mesmo aconteceu com miseráveis e mendigos: inventou-se um jeito de pintá-los de tal maneira que, enternecedores ou monstruosos, mas sempre ‘recreativos’, pudessem adornar as habitações de nobres e burgueses. Esses novos enfeites eram um bálsamo para a consciência: ‘Sou do bem, tenho um mendigo na sala’. Para obter o efeito pitoresco, não se trata de amenizar a diferença do sujeito representado. Ao contrário, é melhor exagerar essa diferença, de forma que a miséria, a deformidade, a abjeção, por parecerem tão distantes, sejam ‘divertidas’, e não tocantes: o grotesco é um tipo de pitoresco.


O pitoresco, em suma, aproxima falsamente, garantindo que o outro pintado permanecerá outro: uma vinheta caricata. O debate sobre a ‘estetização’ da miséria no cinema brasileiro é, aliás, a continuação da antiga discussão contra ou a favor do ‘pitoresco’.


Voltemos a ‘Linha de Passe’. Suas personagens vivem numa São Paulo especialmente sóbria, muito diferente daquelas belezas naturais do Brasil que, vistas da janela afavelada ou do casebre, podem tornar pitoresca qualquer miséria.


O roteiro escolhe uma família pobre e sem pai, mas não indigente nem desunida. Também por isso, talvez, nos altos e baixos, nas brigas, nas alegrias, nos fracassos e nas incertezas morais dos protagonistas, a pobreza seja, por assim dizer, acidental: suas vidas nos tocam não pela condição social, mas por serem vidas de nossos semelhantes.


Chama-se linha de passe uma roda em que os jogadores devem passar a bola entre si sem que ela toque no chão. É uma versão do ‘ninguém se salva sozinho’: se a peteca cai, todos perdem -é preciso jogar não contra, mas com e para os outros. E saí do filme pensando que a linha de passe não era só entre os irmãos da Cidade Líder. Há uma linha de passe que nos inclui.


Originalmente, o filme seria o primeiro de dois, filmados na seqüência. No segundo, as personagens centrais seriam as figuras de classe média que atravessam marginalmente, por um instante, a vida dos protagonistas do primeiro longa. De fato, o conjunto de filmes teria sido um marco.


Numa cena de ‘Linha de Passe’, um dos irmãos, que desliza para o crime, acaba seqüestrando um motorista em cujo carro ele trombou ao fugir da polícia. Na cena, tensa e dramática, o jovem pede à sua vítima que olhe para ele, para ser visto. Como observou, num e-mail, um leitor e espectador do filme, Tomas Rosenfeld, o jovem tampouco percebe sua vítima (ele agride, aliás, quem o ajudou a se levantar).


O motoqueiro que se apresta a quebrar o vidro de um carro enxerga apenas uma bolsa, não o motorista -assim como o motorista no farol, ao ver surgir uma moto de seu lado, enxerga apenas a ameaça. A invisibilidade é uma via de duas mãos: insulfilm nos vidros dos carros e nas viseiras dos capacetes.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 11 de setembro de 2008


 


PROPAGANDA
Eugênio Bucci


Noticiológio governófilo


‘‘Caderno de trabalho do governo do Estado de São Paulo.’ Essas palavras vêm na forma de um pequeno carimbo no canto superior direito da capa da revista mensal SP Notícias, que foi lançada há poucos meses. Aqui falamos de seu número 2, que circulou entre julho e agosto. São 50 páginas de ótimo papel, impressão primorosa. A tiragem do segundo número, como se lê na página 5, é de 11 mil exemplares. Um deles está agora em minhas mãos. Chegou pelo correio a um endereço residencial de Brasília, enviado pela administração paulista. O esmero gráfico é notável, mas a finalidade preocupa. A que ‘trabalho’ se presta esse ‘caderno’?


Embora montado segundo preceitos fotográficos e editoriais de uma revista jornalística, o ‘caderno’ traz na alma a vocação da propaganda política. Não que se peçam votos para autoridades do Executivo, longe disso. A propaganda da SP Notícia é de outra ordem. O seu alvo parece ser a construção da imagem positiva no médio prazo, como se fosse uma propaganda prévia – e preventiva -, tentando mostrar que tudo vai muito bem, que São Paulo está em boas mãos, que o governo sabe para onde segue e que o Estado avança sem hesitação.


Na capa do número 2, a manchete Trilhos modernos, em vermelho envernizado, faz a função de abre-alas. Logo abaixo, uma linha fina, em letras menores: ‘Plano de Expansão moderniza trens e aumenta conforto do passageiro.’ Ao centro, dominando mais da metade da área da capa, a foto reforça a mensagem. Estamos na cabine de uma locomotiva hightech, logo atrás do homem que opera os comandos. À frente dele, através do imenso pára-brisa, abre-se a paisagem da cidade iluminada. Pontos de luz riscam o espaço, do centro para a periferia, dando a sensação de que o trem viaja em alta velocidade. Os trilhos estão desimpedidos. Próxima parada: o futuro.


A capa tem outras quatro chamadas, não menos encorajadoras: ‘Organizações Sociais de Saúde revolucionam gerenciamento hospitalar’, ‘Investimentos em captação de esgoto para salvar mananciais’, ‘Semestre começa com 50 mil vagas de Telecurso Tec’ e ‘Seis meses de preparativos para receber o príncipe japonês’. São Paulo é o Estado das boas notícias.


No editorial, na página 3, o redator é efusivo. Conta que os trens, como aquele da capa, merecerão um ‘investimento histórico’. Mais à frente, novas comemorações orçamentárias. Na página 24, na ‘reportagem’ sobre a proteção de mananciais, a primeira frase não economiza ânimo (nem tamanho): ‘O investimento é gigante.’ Graças a tanto, será possível ‘diminuir a carga do esgoto despejada nas duas represas’ (Billings e Guarapiranga). A ‘matéria’ prossegue: ‘O Programa Mananciais conta com um orçamento de fôlego, nunca antes disponível.’ Observe o leitor que a expressão ‘nunca antes’ vai-se tornando um cacoete suprapartidário na história deste país – ou deste Estado.


SP Notícias foi rodada na Imprensa Oficial. Afirma que oferece conteúdo informativo. Esse conteúdo, porém, tem por missão convencer o leitor de que o governo estadual é um portento. É o caso de perguntar: há legitimidade nessa missão propagandística? Ou, em termos menos vagos: é positivo que, valendo-se das instalações de órgãos públicos, ocupantes do Poder Executivo, alegando informar o cidadão sobre as obras em andamento, pratiquem o proselitismo? É justo que recursos públicos, que são de todos, sirvam para enaltecer a visão de alguns – os que estão no governo – em detrimento da visão dos demais? Isso é democrático?


A todas essas indagações penso que a resposta é não.


Que fique bem claro: existem informações úteis na revista SP Notícias. Acontece que, nela, as informações estão subordinadas à finalidade do convencimento político. Seu objetivo indiscutível é trabalhar apenas a informação que ajude a angariar simpatia para o governo – e nisso reproduz os velhos vícios da comunicação pública pátria.


A tentação do auto-elogio com a ajuda de recursos oficiais é uma unanimidade de chumbo na administração pública brasileira. Em todos os governos, em todos os níveis, em todos os partidos. Tanto que se pode aqui arriscar uma generalização: todo governante, posando de vítima da imprensa, de mártir, de mutilado simbólico da guerra da informação, alega que o governo tem, sim, o direito de transmitir à sociedade a sua própria versão de si mesmo, mesmo que para isso precise valer-se de seus próprios meios, ou seja, dos meios públicos. ‘Só assim vou emplacar a minha agenda positiva’, raciocina o governante, que, em geral, superestima os efeitos de sua propaganda. E aí vamos nós. Às vezes de modo acintoso, outras vezes de modo mais discreto, a máquina pública põe-se a trabalhar em prol da imagem de políticos.


No caso da revista SP Notícias, ela está mais para discreta do que para acintosa. Faz o gênero chapa-branca chique, com suas ‘notícias’ favoráveis. Culta, evitando vulgaridades e chavões panfletários, resvala no pedantismo. Daí que se pode dizer: ela está mais para um ‘noticiológio’ tendencioso do que para um comício desabrido. Não obstante, padece do mesmo mal – e, tristemente, confirma a regra.


O pior é que esse tipo de coisa tem eficácia duvidosa. O que informa o cidadão não são as autoridades monologando em causa própria, mas o debate aberto, independente, capaz de incorporar o ponto de vista das oposições. O que informa é o contraditório. É por isso que a democracia inventou a fórmula da imprensa livre. Nada que venha do poder pode substituí-la. Por melhores que sejam as intenções, a prática do governismo na comunicação pública é sempre má notícia.


Eugênio Bucci é professor doutor da Escola de Comunicações e Artes e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP’


 


 


GRAMPOLÂNDIA
O Estado de S. Paulo


Controle do grampo


‘A revelação da escuta clandestina de uma conversa telefônica do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, acaba de produzir uma primeira conseqüência alentadora no plano institucional. O impacto do ultraje divulgado neutralizou as resistências no interior do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão de controle do Judiciário, à iniciativa de disciplinar, mediante regras estritas, o chamado grampo legal – a quebra do sigilo telefônico de pessoas sob investigação autorizada por juízes a pedido dos condutores dos inquéritos. Já não era sem tempo. Se o Brasil se transformou numa grampolândia, isso não se deve apenas à escandalosa desenvoltura com que arapongas, a serviço dos mais variados interesses, no aparelho do Estado ou no âmbito particular, devassam a intimidade alheia no conforto da impunidade.


O descalabro se deve também à trivialização das interceptações judiciais – mais de 400 mil só no ano passado. Não devem ser raros os casos de autorizações concedidas com reprovável ligeireza a delegados de polícia que as solicitam no início mesmo de uma investigação, torcendo para que o grampo as justifiquem. A profusão das escutas, naturalmente, favorece a indústria do vazamento – fechando o círculo vicioso em que o ilícito complementa o uso abusivo de um recurso legal. Havia quem se resignasse a isso em nome da independência da magistratura no exercício de suas atribuições. Na realidade, como disse o ministro Gilmar Mendes na sessão em que o CNJ enfim aprovou, por 12 votos a 1, as regras destinadas a disciplinar os procedimentos nas quebras de sigilo, ‘trata-se de realizar esse trabalho dentro dos moldes necessários de controle e com a possibilidade de responsabilização (dos vazadores)’.


Com esse objetivo, a resolução do CNJ determina que, ao autorizar uma escuta, o juiz cite na decisão, entre outros, o nome do solicitante e de todos os demais que terão acesso às gravações, os titulares e os números das linhas a serem grampeadas – proibindo explicitamente a interceptação de outros números – e o prazo da escuta. Pedidos de prorrogação deverão trazer a íntegra dos áudios, o transcrito dos diálogos relevantes, de preferência protegidos por senhas, e um relatório sobre o estado da investigação. Tais os cuidados com os vazamentos que, pela resolução, os pedidos deverão ser encaminhados sempre em envelope lacrado, que só o juiz poderá abrir. Não menos importante é a norma que obriga os juízes a informar mensalmente às corregedorias de seus tribunais o número de escutas por eles autorizadas e dos ofícios encaminhados às operadores de telefonia.


Os corregedores repassarão as informações ao CNJ, que poderá formar assim um banco de dados com o total das interceptações em curso a cada período e com os nomes, um a um, dos juízes que as autorizaram. Se um deles chamar a atenção pelo número de deferimentos, o Conselho pedirá à respectiva corregedoria que investigue o aparente excesso. O controle estatístico permitirá ‘verificar eventuais desvios ou tendências’, diz Gilmar Mendes. Por exemplo, o das sucessivas prorrogações do prazo das escutas, sem suficiente fundamentação jurídica. Foi o que levou anteontem o Superior Tribunal de Justiça à decisão inédita de anular escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal que duraram ao todo 2 anos, 1 mês e 12 dias, numa investigação de fraude fiscal envolvendo dois empresários gaúchos. ‘Dois anos é devassar a vida da pessoa de maneira indescritível’, observou o ministro Paulo Gallotti.


Pela lei atual, o grampo é restrito a 15 dias, mas não há limite para as renovações. Um projeto em tramitação no Senado fala em 60 dias prorrogáveis por até 1 ano. Em cada fase, o prazo é maior, porém a duração total tem um teto. O texto manda os responsáveis pelo inquérito submeter ao juiz, ao final de cada período, as gravações efetuadas para que verifique se elas não extrapolaram da autorização. O projeto e a resolução do CNJ podem divergir aqui e ali, mas a intenção que os anima é a mesma. Deriva do princípio de que as leis se destinam em primeiro lugar a proteger o cidadão contra os abusos do Estado – e não o contrário.’


 


 


Rosa Costa


Senado endurece projeto contra grampo ilegal


‘Em mais um capítulo da ofensiva contra a proliferação de grampos ilegais, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado resolveu agravar a punição para os servidores públicos que violarem o sigilo de comunicação telefônica e informática sem autorização judicial. O prazo máximo de seis anos de reclusão, definido na primeira votação do projeto, aumentou para até sete anos e meio de cadeia.


Servidores públicos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal são suspeitos de terem interceptado ilegalmente o telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.


Na votação, o substitutivo do projeto de lei do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) foi acrescido ainda de uma emenda que proíbe a venda de equipamentos destinados especificamente a intercepção, escuta, gravação e decodificação das comunicações telefônicas. A proibição se estende a programas de informática e aparelhos de varreduras, salvo nas hipóteses e condições fixadas em lei. Caberá ao governo regulamentar o comércio dos equipamentos.


Jarbas lembrou que apresentou a proposta há mais de um ano. A tramitação só avançou no mês passado, quando o Ministério da Justiça apresentou sugestões ao texto, após a suspeita de que autoridades haviam sido grampeadas.


O texto, com 24 artigos, foi aprovado por unanimidade em decisão terminativa. Significa que será encaminhado à Câmara sem necessidade de ser votado no plenário do Senado, a não ser que haja recurso contrário de pelo menos nove senadores.


O substitutivo do relator Demóstenes Torres (DEM-GO) fecha brechas na legislação em vigor para impedir a repetição da situação atual, quando autoridades convivem com a suspeita de que estão grampeadas.


PRAZOS


Boa parte das quase três horas de votação do substitutivo foi tomada pela discussão sobre a duração da interceptação, estipulada no texto em 60 dias, renovados por mais 60, até atingir o prazo de um ano.


Quatro senadores queriam reduzir o prazo para 15 dias, mas o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), substituto de Demóstenes, que está em missão oficial, conseguiu convencê-los a deixar o prazo de lado e aumentar a pena de prisão para autores de grampos ilegais.


No caso de ‘crime permanente’, como os praticados por organizações criminosas, a interceptação será contínua. Para cada prorrogação, será necessária uma nova decisão judicial, mas excepcionalmente o juiz poderá admitir que o pedido seja feito verbalmente, quando a vida de uma pessoa estiver em risco ou houver ‘urgência justificável’ – como no caso de o investigado ou acusado passar a usar outro número.’


 


 


CAMPANHA
Maria Rita Loureiro


Muito longe da lógica democrática


‘Eleições livres, justas e idôneas são condição fundamental da democracia. No Brasil de hoje, a Justiça Eleitoral e as urnas eletrônicas têm permitido avanços consideráveis nesses requisitos. Todavia a forma como se organizam as campanhas eleitorais não tem caminhado na mesma direção: elas não estão contribuindo para o desenvolvimento de nossa democracia, por duas razões principais, interligadas.


Primeiro, porque as campanhas se baseiam na lógica da publicidade comercial, o que as torna muito caras. Os horários ‘gratuitos’ (aliás, bem pagos às redes de TV e rádio, por meio de isenções fiscais) são utilizados para apresentar o nome, a imagem (às vezes grotesca) de candidatos ao Legislativo e alguns chavões veiculados rápida e superficialmente no prazo exíguo atribuído a cada um. A parte principal é destinada à divulgação de propaganda de candidatos a cargos majoritários. Esta se baseia em filmagens de obras e realizações (se for candidato à reeleição) ou de situações graves nos serviços públicos existentes (se de oposição). Utiliza também entrevistas com populares que elogiam uns candidatos, criticam outros, sem falar nos demais expedientes publicitários de divulgação: banners, distribuição ‘santinhos’, etc. A contratação de profissionais especializados em marketing, os equipamentos e o material de apoio para produzir tudo isso custam muito dinheiro aos partidos e aos candidatos.


Mesmo não havendo dados sobre quanto se gasta em publicidade (o TSE apresenta números relativos a receitas e despesas de partidos e candidatos em vários pleitos eleitorais, mas pouquíssima discriminação deles), as informações de responsáveis por gastos dentro dos partidos estimam algo em torno de 70% a 80% do total. Aliás, a necessidade de gerar caixa para financiar campanhas caras é o que parece estar por trás das denúncias de irregularidades envolvendo partidos, candidatos e grupos econômicos no País. Os recursos dos financiamentos públicos e de pessoas, doados oficialmente, não têm sido suficientes para sustentar tais despesas.


Em segundo lugar, além de muito caros (podendo gerar, por isso mesmo, o apelo a práticas de corrupção), os programas eleitorais têm conteúdo de baixa qualidade democrática. Orientadas pela lógica da publicidade comercial, as campanhas eleitorais se tornam campanhas de venda de um ‘produto’ (candidato/programa) ao cliente/eleitor. Canalizam suas energias para convencer o eleitor/cliente da superioridade e maior credibilidade de um ‘produto’ (candidato) ante o concorrente. Do mesmo modo que no mundo do comércio a ‘propaganda é a alma do negócio’, no processo eleitoral ganha quem tiver mais recursos para contratar melhores profissionais e melhores pacotes publicitários.


Ora, nestes termos, estamos muito distantes da lógica democrática. A igualdade política entre eleitores, candidatos e partidos é deformada pelo peso do poder econômico e pela habilidade de profissionais mais qualificados (e mais bem pagos) de persuadir. Ademais, a função primordial de uma campanha eleitoral fica completamente esvaziada, pois joga fora o momento privilegiado da democracia em que o debate público organizado pelos partidos pode ser ativado e no qual os cidadãos podem formar juízos a respeito de seus problemas coletivos e dos diferentes projetos para sua superação.


Infelizmente, os debates entre os candidatos majoritários tampouco contemplam os requisitos para o aperfeiçoamento da qualidade da democracia. Na forma como são organizados, submetidos às restrições rigorosas de tempo estabelecidas pelos donos das empresas de comunicação (‘três minutos para a resposta, um minuto para a réplica, meio minuto para a tréplica’, além das inúmeras interrupções para ‘os nossos comerciais’), eles não oferecem condições mínimas para o debate mais aprofundado entre partidos, candidatos e cidadãos e, por isso, não contribuem para a formação de juízos políticos. Acabam-se transformando em mera maratona na qual vencem não as propostas mais consistentes e representativas, mas os mais hábeis atores midiáticos.


A redução das campanhas a atos orientados pela lógica mercantil tem que ver ainda com a identificação da imagem dos concorrentes com a de administradores competentes que entregam (deliver) o que foi comprado pelo eleitor/cliente. Não é ingênua a apresentação dos candidatos a prefeito, governador e até presidente em cenas nas quais aparecem fiscalizando obras, sempre com capacete. Ora, se o Estado deve ser servidor e mesmo provedor de bens públicos demandados pela população, os governantes precisam ser mais do que isso. Para se qualificar como representantes eles precisam ser líderes capazes de formular, articular e pôr em prática, por intermédio de seus partidos, projetos mais amplos para a sociedade. Infelizmente, nossos programas eleitorais estão longe de tal caminho.


Diante deste quadro, é crucial que a próxima reforma política e novas regras eleitorais contemplem a necessidade de recuperar o teor democrático das campanhas, destituindo-as de seu caráter meramente publicitário e afirmando-as essencialmente como fórum de debate público. Isso implica gerar tempo maior nos meios de comunicação (afinal, todos são concessões públicas) para programas de debates (e não de propaganda) entre cidadãos, partidos e candidatos, inclusive para o Legislativo (locus do poder soberano, é bom relembrar). Certamente essas mudanças terão impactos não só no barateamento dos custos das campanhas, na redução dos recursos necessários para seu financiamento (e, claro, na redução dos incentivos à corrupção), mas igualmente na qualidade da vida democrática do País.


Maria Rita Loureiro, socióloga, é professora-titular da FGV-SP e da FEA-USP’


 


 


O Estado de S. Paulo


Band faz hoje segundo debate


‘A 25 dias do primeiro turno, oito candidatos à Prefeitura de São Paulo enfrentam-se hoje, a partir das 21h30, no segundo debate eleitoral da televisão, promovido pela Band. O encontro, mediado pelo jornalista Boris Casoy, terá cinco blocos e duração aproximada de duas horas e meia.


Os adversários estarão dispostos na bancada na seguinte ordem: Ivan Valente (PSOL), Gilberto Kassab (DEM), Soninha Francine (PPS), Renato Reichmann (PMN), Marta Suplicy (PT), Ciro Moura (PTC), Geraldo Alckmin (PSDB) e Paulo Maluf (PP).


No primeiro bloco, haverá uma pergunta comum a todos os candidatos, com base em enquete sobre os problemas da metrópole. No segundo e no quarto blocos, candidato questiona candidato. No terceiro, jornalistas do Grupo Bandeirantes fazem as perguntas, de acordo com sorteio prévio. No quinto e último bloco, cada concorrente terá dois minutos para as considerações finais.


A emissora usará novamente o recurso da ‘tela dividida’, que permitirá ao telespectador ver ao mesmo tempo quem faz a pergunta e quem irá responder.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
AP e Reuters


‘Batom’ acirra disputa nos EUA


‘A campanha eleitoral à presidência dos EUA foi tomada ontem por um troca de acusações sobre gêneros e machismo. O candidato republicano, John McCain, criticou seu rival democrata, Barack Obama, dizendo que ele fez um ataque sexista contra a vice de sua chapa, a governadora do Alasca Sarah Palin.


Com os candidatos lutando pelo voto feminino, a polêmica ampliou-se ontem, quando McCain divulgou em seu site um anúncio dizendo que seu opositor comparou Sarah a um porco.


Obama comparou o projeto dos republicanos para reformar o governo ao ato de ‘passar batom em um porco’ durante um discurso na terça-feira. ‘Você pode passar batom em um porco. Ele ainda será um porco. Você pode embalar um peixe em um pedaço de papel e chamar isso de mudança. Mas ainda vai cheirar mal após oito anos. Já tivemos o suficiente’, disse o democrata.


Sarah, que era pouco conhecida até ser nomeada vice de McCain, afirmou durante a Convenção Republicana, na semana passada, que a única diferença entre ela e um pit bull era que ela usava batom.


A propaganda veiculada por McCain justapõe os comentários sobre batom feitos por Obama e por Sarah. Em seguida, corta para um apresentador de TV dizendo que uma lição a ser tirada dessa campanha era que ‘o papel do sexismo na vida dos americanos era algo presente e aceitável’. Então, a propaganda exibe frases dizendo que Obama não está pronto para governar.


MENTIRAS


Assessores de Obama reagiram ontem, acusando McCain de propagar ‘mentiras revoltantes’ e de lançar uma ‘tentativa patética’ de jogar com a questão do gênero sexual na campanha.


Obama tratou da polêmica durante um discurso que fez em Norfolk, na Virgínia, dizendo que a campanha de McCain está usando o mesmo jogo político que já cansou o povo americano.


‘Eles (os republicanos) pegam um comentário inocente, tentam tirá-lo do contexto e exibem um comercial vergonhoso porque sabem que seria algo atrativo para a mídia. Mas não me importo com o que dizem sobre mim, pois amo esse país demais para deixar que eles vençam mais uma eleição’, afirmou o candidato democrata.


A porta-voz de Obama, Linda Douglass, disse que era óbvio que o democrata não estava se referindo a Sarah e nem a comparando a um porco: ‘McCain está promovendo uma campanha cínica e desonesta para tentar distrair os eleitores.’


Pesquisas realizadas após as convenções dos dois partidos mostram McCain aproximando-se e até ultrapassando Obama. Uma sondagem do jornal The Washington Post e de rede de TV ABC indicou que o aumento da aprovação a McCain deve-se principalmente a um novo apoio de eleitoras brancas.


A campanha do democrata rejeita a idéia de que esteja perdendo espaço entre as mulheres. No entanto, McCain vem atraindo cada vez mais partidários em seus comícios desde a nomeação de Sarah. Em um discurso na terça-feira em Fairfax, Virgínia, ele reuniu 23 mil pessoas.’


 


 


 


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