Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Atlas mundial dos ‘emoticons’ mais usados cria e destrói estereótipos

Foi feita a análise de mais de 1 bilhão de mensagens de celulares, em busca de mais de 800 emoticons (aquelas imagens que representam situações e estados de espírito). O resultado da checagem não vai convencer os antropólogos mais racionais, mas as conclusões fornecem muito material para rechear as conversas de viciados em curiosidades e estereótipos.

O estudo foi feito pela empresa londrina SwiftKey, que desenvolve um aplicativo de texto para prever as palavras mais usadas pelo usuário no Gmail, no Facebook, no Twitter e no Evernote, facilitando assim a redação das mensagens. Foram analisados textos enviados de outubro de 2014 a janeiro deste ano. No caso do idioma espanhol, foi feita a distinção entre as mensagens escritas no padrão da Espanha, no dos países hispano-americanos e no padrão dos EUA.

Os dados foram apresentados separados emoticon por emoticon e também agrupados em 61 famílias, que, segundo a empresa, demonstram um tipo de emoção semelhante ou se referem a um tema comum.

Quando se trata do uso de ícones ligados a expressões felizes, o troféu vai para quem fala turco, russo e vietnamita. Os que menos os usam falam francês, e curiosamente eles parecem também pouco inclinados a incluir expressões tristes (os adeptos das lamúrias e da tristeza estão entre os hispânicos dos EUA, os vietnamitas e os hispano-americanos). E não é que as pessoas que falam francês não se mostrem expressivos, e sim que aparentemente prefiram mostrar amor puro: no uso dos corações ganham com folga do resto dos países.

No grupo dos emoticons que exprimem ideias associadas ao romance, vencem os russos e alemães, seguidos pelos espanhóis e à frente dos vietnamitas, os menos efusivos – e que ostentam outra marca peculiar: parecem detestar as carinhas de macaco, que quase nunca usam. Quem mais recorre a elas são os que vivem do Alasca à Terra do Fogo e são latinos.

Os malaios, por sua vez, não gostam do coraçãozinho, mas ficam em primeiro lugar no uso dos gestos com as mãos, deixando para trás os brasileiros e os espanhóis. Os italianos, apesar do estereótipo, preferem deixar os gestos com as mãos para as conversas cara a cara: nesses emoticons, o país fica num discreto décimo lugar.

Mas há estereótipos seguidos à risca. Quem tecla mais os emoticonsrelativos a festas? Os espanhóis, 72% acima da média, e os italianos. Quem fala menos de bebidas alcoólicas? Os árabes e os turcos. Quem fala mais sobre o tempo ruim? Os russos e os canadenses. E sobre o tempo bom? Os árabes e os australianos.

Sempre segundo o estudo, dão maiores mostras de religiosidade os brasileiros, os hispânicos e os latino-americanos (que são também, junto com os malaios, os que mostram ter mais sono). No extremo iconoclasta estão os franceses, alemães e árabes.

Entre os usuários que mais usam símbolos relacionados à violência se destacam o Canadá e os EUA. Invertendo a ordem, são também os dois países que inserem mais ícones ligados às drogas – exceto o álcool, que parece coisa dos australianos – e a gays e lésbicas.

Guia rápido do estereótipo 2.0

>> Os países que mais recorrem ao sinal de excrementos são os EUA, o Reino Unido e o Brasil. Esse ícone faz parte da família dos divertidos, dos quais os russos são os menos adeptos.

>> Os vietnamitas e os franceses são os que menos usam os ícones relacionados à homossexualidade, como o arco-íris e os casais do mesmo sexo de mãos dadas.

>> Os EUA são o líder mundial no uso do ícone da coxa de frango, da berinjela, do bolo de aniversário e do saco de dinheiro. Os autores da pesquisa qualificam como obsceno o sentido em que a berinjela é usada.

>> Estes são os líderes de cada família de ícones: bebês (América Latina), gatos (Brasil), de temática feminina (Reino Unido), violência (Canadá), férias (Austrália), festa (Espanha), tristeza (hispânicos dos EUA), corações (França), carinhas felizes (Turquia), romance (Rússia), flores (países árabes), gestos com as mãos (Malásia).

>> Os franceses usam o ícone do coração em qualquer de suas variações, incluindo a versão em que aparece partido, quatro vezes acima da média. Os russos usam os ícones relacionados a romance (como beijos, cartas de amor ou casais se beijando) três vezes acima da média. Os árabes e vietnamitas igualam essa taxa, mas para o ícone do biquíni. Os malaios têm o dobro da média na inserção de ícones relacionados ao sono.

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José Manuel Abad Liñán, do El País