Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Tânia Alves

“O leitor não tem obrigação de saber todos os detalhes de uma história, nem estar informado sobre o que o jornal noticiou em edições anteriores. Por isso, é importante contextualizar e rememorar os fatos, sobretudo em reportagens que dão prosseguimento a uma anterior”. Assim começa o item ‘Contextualização’, do capítulo “Normas jornalísticas do O POVO”, do Guia de Redação e Estilo. A publicação é clara quando trata de indicar a necessidade de se apresentar as circunstâncias do fato numa notícia. Mas, ultimamente, tenho notado que, em muitas matérias publicadas no jornal, falta vincular o fato à sua origem quando se escreve uma suíte (matéria com novas informações sobre um fato já noticiado).

Nos comentários internos dirigidos à Redação, em semanas recentes, por vezes citei a falta de contexto como um dos pontos observados na constituição de matérias. Não foi algo particular de uma editoria. Mas é um caso quase geral. Cito dois, a título de exemplo. No dia 6 passado, na matéria “Donos de buggy podem ser responsabilizados por morte”, na Editoria Cotidiano, o texto falava sobre a consequência de um acidente para o dono do veículo. Mas, em nenhum momento, fazia referência como ocorreu o fato. Outro caso se deu na quarta-feira, 22, na matéria sobre a promoção de policiais militares e bombeiros, que resultou na manchete do jornal ”Governo esvazia tensão e vai promover 8 mil militares”. A matéria não apresentava as circunstâncias dos fatos que resultaram no tensionamento entre o Governo do Estado e PMs. O público que acompanhou de alguma forma os dois assuntos sabia previamente do que se tratava. Aquele que não tomou conhecimento anteriormente ficou por entender.

Dos esforços

Os editores-executivos dos núcleos Cotidiano e Conjuntura, Érico Firmo e Guálter George, respectivamente, fazem reflexão sobre o assunto. O primeiro entende que no jornalismo há sempre que se buscar o equilíbrio entre a novidade e a contextualização que, para ele, é um desafio. “Explicar é mesmo tão importante quanto informar. Às vezes, até mais. Ambas são condições necessárias para o jornalismo. E a gente precisa equalizar nos espaços existentes. Nem sempre conseguimos a contento. Como a matéria-prima estrutural do jornalismo é a informação, às vezes a gente se apega mesmo à novidade e esquece de situar o leitor”, declarou Érico Firmo.

Guálter George, por sua vez, destacou que a contextualização da notícia é tratada no núcleo sempre de maneira muito ativa, na busca de situar o leitor da forma mais clara possível. “Sabemos que na política se trata de uma condição quase indispensável para entender determinados fatos, mostrando-se quem é cada fonte envolvida, a representatividade dela, do que diz etc., ao mesmo tempo em que fazendo um uso mais eficaz dos vários instrumentos gráficos disponíveis para (insisto) situar da melhor forma possível o leitor diante do acontecimento narrado”.

Tirar conclusões

Contextualização é uma obrigação dos profissionais da notícia, sendo um dos fundamentos básicos da redação jornalística. Todo editor, todo repórter sabe e compreende a necessidade de revelar as circunstâncias dos fatos, como bem ressaltaram Érico Firmo e Guálter George. Mas, às vezes, o conjunto se perde na pressa, na disputa do espaço e no conhecimento prévio que o profissional guarda sobre os fatos. Uma frase do Guia sempre deve ser lembrada pelos repórteres: “Muitas informações que podem parecer óbvias não o são para o leitor”.

O jornalista sempre acerta quando não abre mão de apresentar e descrever a conjuntura da narrativa. Seja para rememorar o que foi noticiado no dia de ontem ou quando se colhe informações para lançar luzes para o futuro. Enfim, apresentar o contexto daquilo que se descreve e inserir o tema num tempo e num espaço permitindo que mais informações sejam partilhadas. O leitor tem, então, oportunidade de entender o conjunto para tirar suas próprias conclusões sobre o ocorrido.

The New York Times

Nas semanas passadas, leitores reclamaram o não recebimento, por duas segundas-feiras seguidas, dia 6 e dia 13 deste mês, do suplemento The New York Times. “O jornal deixou de publicá-lo sem nenhum aviso?”, perguntou um assinante. “Gostaria de saber se ainda vão continuar a publicá-lo e qual o motivo da suspensão”, questionou outro. Solicitei uma resposta à chefia de Redação, que enviou a seguinte explicação: “O suplemento semanal The New York Times está sendo descontinuado diante da necessidade de ajustes que o mercado da comunicação brasileira vive. Pedimos desculpas aos leitores pela ausência de comunicação prévia”. O pedido de desculpas faz sentido. Em casos assim, é mais transparente e respeitoso avisar o leitor com antecedência.

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Tânia Alves é ombudsman do jornal O Povo