Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Disputa de informações na cobertura política

Ainda rende a polêmica gerada pela reportagem publicada no dia 17/1 no sítio conservador Insight sobre o senador Barack Obama, com comentários em programas de rádio e TV, negações oficiais e discussões sobre o uso de fontes anônimas. Segundo a matéria, a campanha presidencial da senadora Hillary Clinton estaria preparando um ataque a Obama. O senador, que é cristão, seria acusado de ter escondido do público o fato de ter freqüentado uma madrassa (escola tradicional islâmica) na Indonésia quando tinha seis anos de idade. Ambos os senadores, que são os principais candidatos a disputar a vaga democrata na corrida presidencial americana de 2008, criticaram a reportagem. Não há evidências de que Hillary planejava espalhar tais acusações.


Assim como outros editores, o editor do sítio Insight Jeffrey T. Kuhner não costuma revelar as fontes de seus repórteres. No entanto, talvez ele seja o único a não revelar nem os nomes de seus repórteres, noticia David D. Kirkpatrick [The New York Times, 29/1/07]. Mesmo diante de tanta polêmica e negando saber a identidade das fontes do autor da matéria, Kuhner manteve-se firme na alegação de que o artigo era ‘consistente’ e não revelou o nome do repórter que o escreveu.


Esclarecimentos


O jornal conservador Washington Times, que, assim como o Insight, é de propriedade da Unification Church, desaprovou o artigo. O Insight tinha, anteriormente, uma versão impressa, mas a Unification Church fechou a revista há um ano e meio. O editor nacional do Washington Times enviou um e-mail a sua equipe no qual pedia aos repórteres para ‘não mencionar nenhuma informação contida na matéria do sítio da Insight‘ em nenhum artigo do jornal. O correspondente que cobre o Congresso também foi instruído a esclarecer a Hillary e a Obama que o Washington Times não tem nada a ver com o sítio e nem com o polêmico artigo. ‘Alguns dos editores ficaram aborrecidos quando o Insight foi identificado como sendo uma publicação do Washington Times‘, afirmou Wesley Pruden, editor-chefe do diário.


O tema foi abordado excessivamente nos canais Fox News e CNN. John Moody, vice-presidente da Fox News, alegou que seus comentaristas erraram ao citar a matéria. ‘Os apresentadores violaram uma de nossas regras, que é saber sobre o que se está falando. Eles divulgaram uma informação que não sabemos se é verídica’, afirmou.


Bola de neve


O caso ilustra o quão fácil informações políticas dúbias ganham espaço em programas de debate em canais a cabo, talk shows em rádios e sítios políticos. ‘Com tanta anonimidade, como é possível afirmar que o Insight realmente existe?’, questiona Ralph Whitehead Jr., professor de jornalismo na Universidade de Massachusetts. Kuhner alega que grande parte das organizações de mídias utiliza fontes anônimas. ‘Não podemos enviar correspondentes a lugares como Jacarta [onde Obama teria estudado] para checar cada fato da matéria’, acrescenta. O sítio paga US$ 800 por artigo.


Esta não foi a primeira matéria duvidosa publicada pela revista. Certa vez, um artigo acusava Bill Clinton de vender túmulos no Cemitério Nacional de Arlington para doadores democratas; outro dizia que as armas de destruição em massa de Saddam Hussein haviam sido encontradas; uma matéria afirmava que o presidente Bush não estaria mais falando com seu pai sobre política, e outra dizia que os EUA estavam preparando um ataque ao Irã em fevereiro deste ano. Kuhner ainda informou que passou a desencorajar matérias assinadas para evitar que colaboradores não escrevessem o que sabiam por medo de retaliação.