Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Redes sociais e individualismo

A superficialidade não é apenas uma das características da comunicação no mundo virtual, pelas redes sociais. Antes, é mais um fenômeno muito próprio, indissociável da instantaneidade que brota nas telas de telefones, tablets e computadores. Quanto a isto, não há muito o que acrescentar nem criticar.

No entanto, cabe-nos uma avaliação do que vemos hoje estampado nas redes sociais de forma avassaladora, numa análise que enfoca o resultado da combinação do individualismo com o hedonismo, aflorando nas selfies diárias, nas festas luzidias e no maravilhoso brilho de um objeto caro ou na foto de uma personalidade famosa.

Totalmente soterrada encontra-se a subjetividade poética que existiu até início da década de 1980. Era ela o resultado do mundo das décadas de 1960 e 1970, um período de esperanças e receios, cercado daquela magia do desenvolvimentismo entrando nos lares e transformando também a vida comunitária.

Desde então, o mundo mudou muito. O surgimento dos computadores de mesa foi apenas o início. Daí, o que se seguiu foi um mundo completamente novo, já que portátil e extremamente acessível a todas as faixas de renda. Na década de 1990 as grandes empresas e conglomerados da indústria eletrônica obtiveram enormes lucros, catapultando o setor para investimentos que resultaram nesta avalanche, vista no século de 21, de telefones celulares, tablets, notebooks, entre tantas outras coisas, que resultaram no uso intenso das redes sociais da internet pela população.

Opinião bruta

Pulando etapas neste breve estudo, passando direto para o aspecto antropológico e psicossocial, nítida fica a espetacularização miniaturizada do ego, com uso de selfies e propagação de ideias que, incrivelmente, se bandeiam para a radicalização, o que é feito por alguns segmentos da sociedade cada vez mais procurando protagonismo. Este é um caso tipicamente brasileiro, uma espécie de “direitização” de setores preocupados com a política e as ações do poder público.

Tal radicalidade também é perceptível na opinião das pessoas, querendo apresentar conclusões firmes, mas muitas vezes sem embasamento. Aliás, uma das características desta nossa época é a exacerbação da opinião, não interessando se ela é copiada, preconceituosa ou eventualmente falsa. O que interessa é jogar esta opinião, empurrá-la e sedimentá-la junto ao mundo virtual para que ali fique gerando comentários e outras opiniões. Claro que os absurdos acontecem, vitimando pessoas e entidades. Uma época de opinião bruta esta que nós vivemos.

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Gastão Bach Muri é jornalista