Ninguém faz novela como a TV Globo. Esta afirmativa ressoa pelo imaginário popular brasileiro assim como os personagens criados e recriados no seio da dramaturgia brasileira. Em 50 anos de existência, a emissora carioca implantou um sistema de demarcação temporal que pautou a vida dos brasileiros pelos horários de exibição de suas telenovelas. Atualmente, as tramas não têm atraído a atenção do público. A televisão e sua programação têm disputado com concorrentes de peso. Mas um fator preponderante para a queda da audiência e da adesão às novelas é a banalidade dos enredos. O público não se sente preso a uma narrativa despretensiosa, previsível e repetitiva. Com o casting da TV Globo, é possível produzir novelas espetaculares, e não arremedos de telenovela.
As novelas inéditas têm níveis de audiência inferiores às novelas anteriormente exibidas. Este fato comprova não somente o saudosismo dos bons enredos, mas uma aversão ao que tem sido exibido, especialmente nos horários das 18 e 19 horas. Não é preciso fazer referência à novela das 21 porque esta nasceu sem pé nem cabeça. Ela é resultado de uma narrativa insossa e pouco atrativa. Discute alguns temas importantes para a sociedade, resgata outras temáticas que parecem caras aos autores, mas de resto permanece na escassez de boas expectativas. A telenovela global no ano do cinquentenário é o Rei do Gado, assim como poderia ser Tieta, Roque Santeiro ou Pedra Sobre Pedra, atualmente exibida no Canal Viva.
A TV Globo parece ter abdicado de novelas adaptadas. A grande crítica que se faz aos produtores de televisão parece ser verdadeira: eles não valorizam a cultura literária. Na década de 1990, a TV Globo produziu especiais para o Terça Nobre, a exemplo de Menino de Engenho e O coronel e o Lobisomem, que enchiam os olhos do telespectador. Existia uma mecânica muito afinada em torno da exibição de algumas produções. O desejo da TV Globo em exibir Tieta só foi concretizado em 1989. O romance da filha pródiga já havia sido publicado em várias línguas e existia o receio de que a obra não fosse adaptada ao gosto de Jorge Amado. No final, a novela foi e é sucesso. Existe nela um conteúdo de atualidade que não se apaga com o tempo. Pergunte qual era o nome da novela que antecedeu Alto Astral… Ninguém lembra mais.
Pobreza e escassez de boas ideias
A TV Globo tem vivido de esporádicos sucessos nas telenovelas. Avenida Brasil, Viver a Vida e alguns outros sucessos medianos que não estão à altura dos grandes sucessos produzidos ao longo destes cinquenta anos. Vale a pena ressaltar também que a safra de bons atores pereceu antes mesmo da florada. O que a própria emissora chama de futuro da teledramaturgia se resume a rostos bonitos e pouco talento dramatúrgico. Não se pode recriar um Lima Duarte ou uma Renata Sorrah; não se pode esperar, em futuros remakes, que o Murilo Pontes e a Pilar Batista sejam tão marcantes e tenham atuações tão originais. Enquanto perecem os grandes autores, diretores (Roberto Talma), atores e produtores de uma novela genuinamente brasileira, restam os apelos por uma melhora no quadro. O público não que mais assistir ao que lhe pressionam diante dos olhos.
A dificuldade de fazer novela talvez tenha sido dirimida pela evolução tecnológica. A TV Globo costuma levar as gravações dos primeiros capítulos de algumas de suas novelas para fora do Brasil. Parece ser uma estratégia de sentido para retirar o telespectador de uma realidade televisiva rotineira. Este estratagema não resolve e não define uma alteração na produção da teledramaturgia. É preciso pensar em resoluções mais profundas, uma vez que os níveis rasteiros de audiência das novelas veiculadas atualmente representa uma crise. Não é apenas a crise de uma emissora cinquentenária que perdeu o faro pelas grandes produções. É um fator de pobreza e escassez de boas ideias.
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Mailson Ramos é relações públicas