Aos 14 anos, pulando o muro que separava a minha casa de uma rádio comunitária, escolhi – mesmo sem saber – a minha profissão. Aquele foi o ‘pulo do gato’ da minha história. Tudo seria bem diferente caso, naquele dia, eu não me deixasse levar pela imensa curiosidade de saber o que acontecia nos bastidores de um lugar aparentemente divertido, que, até então, eu só conhecia pelo rádio. Oito anos depois, aqui estou eu: na reta final do curso de jornalismo e sentindo as mesmas sensações de quando era garoto.
Nas últimas férias de julho, um amigo me emprestou um livro. Tratava-se da autobiografia do jornalista Samuel Wainer, intitulada de Minha razão de viver. Eu nunca havia ouvido falar nesse nome, mas, pela insistência do meu amigo, resolvi me dedicar à leitura. Nas três primeiras páginas, já tive a impressão de que aquele não seria só mais um livro da minha lista de lidos. E estava certo. As palavras de Wainer me tocavam a todo o instante, deixando um profundo eco dentro de mim.
Durante aquela semana, mergulhei de cabeça na saga do dono do jornal Última Hora. Até o momento, nem Chateaubriand nem Roberto Marinho tinham me chamado tanta atenção com suas histórias. Algo naquele jornalista judeu me fascinava. A sua disposição em lutar pelo que acreditava foi o que mais me chamou a atenção. Às vezes, parava pelo meio dos parágrafos e viajava lá pelos anos 30, 50, 60. Foi uma semana de descobertas.
Basta acreditar e lutar
Ao terminar de ler Minha razão de viver, senti vontade de encontrar Samuel Wainer, dar-lhe um abraço e dizer-lhe sobre as minhas sensações ao ler sua história. Sabendo que isso não era possível, decidi pesquisar sobre seu filho, Samuca (como era chamado pelo pai e, posteriormente, por amigos), também jornalista. Era a forma que eu tinha de chegar um pouquinho perto de Wainer. Mas, para a minha tristeza, descobri que o primogênito do jornalista havia morrido quatro anos depois do pai.
Ainda disposto a saber mais sobre o dono da UH, persisti em minha busca. Depois de uma sucessão de fatos (coincidências inacreditáveis), consegui marcar uma entrevista com o caçula Bruno Wainer, filho de Wainer com a também jornalista e escritora Danuza Leão. Mesmo sem ter conhecido seu pai, a sensação que eu tinha era de que estava conversando com Samuel. Foi algo indescritível. A emoção no término da entrevista era inevitável.
Sempre enxerguei a vida de uma forma romântica. E com o jornalismo não é diferente. Mesmo depois de conhecer algumas vias obscuras da profissão, nunca deixei de acreditar nela. E, depois de ler Minha razão de viver, a vontade de fazer a diferença na minha área só aumentou. Para alguns, mero sentimentalismo de um acadêmico. Para mim, a certeza de que histórias como a de Samuel Wainer (em proporções e contexto diferentes) ainda são possíveis. Basta acreditar e lutar, como fez ele até o fim.
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Acadêmico de jornalismo, publicou as antologias Vide-Verso e Retratos Urbanos, da Andross Editora, é editor-chefe do site Palavriando