Após décadas zombando políticos sem ter problemas com a lei, o comediante venezuelano Laureano Márquez não pensou duas vezes antes de escrever um editorial humorístico, em 2005, para o jornal Tal Cual baseado em um diálogo do presidente Hugo Chávez com sua filha de nove anos. Resultado: Márquez e a empresa editora do diário, Mosca Analfabeta, enfrentam agora multas impostas por uma corte local por ‘violar a honra, a reputação e a vida particular’ de Rosines Chávez Rodriguez, a filha mais nova do presidente.
Márquez se defende alegando que não teve a intenção de prejudicar ninguém. Um dos mais conhecidos comediantes da Venezuela, ele afirma que a multa de US$ 18.600 imposta à editora faz parte de uma iniciativa do governo na qual promotores e juízes pró-Chávez estão sendo usados para silenciar críticos. O colunista também deverá pagar uma multa à parte, ainda a ser determinada. ‘Acredito que o governo separa a sociedade em grupos de amigos e de inimigos’, opinou. ‘Governos assim são muito sensíveis às críticas e não as toleram’. Já Chávez nega que sua administração restrinja a liberdade de imprensa.
Representantes do Conselho Nacional de Proteção à Criança e ao Adolescente pediram aos promotores para multarem o colunista e a editora a fim de proteger as crianças de difamações políticas. O Conselho não pediu para processá-los criminalmente.
Cavalo
A polêmica começou durante um programa de rádio, no qual o presidente contou aos ouvintes que Rosines havia dito que o cavalo do brasão da bandeira da Venezuela parecia estranho correndo para a direita com o pescoço virado na direção oposta. Semanas após tal comentário, políticos pró-Chávez pressionaram o governo por reformas para mudar o desenho do cavalo do brasão, para que ele ficasse totalmente virado para a esquerda. ‘Ele considerou mudar o brasão por uma sugestão de sua filha’, disse Márquez. ‘Eu escrevi [no editorial] simplesmente uma carta pedindo a ela outras sugestões’.
Chávez criticou o editorial, mas também reconheceu parte da culpa por trazer o nome da filha de apenas nove anos ao debate público. ‘Eu também sou culpado porque falei dela, mas fiz isto dentro de outro contexto’, disse o presidente. Informações de Christopher Toothaker [Associated Press, 14/2/07].