Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pouca crítica e muita exclusão

O ensino médio e as parcerias entre poder público e iniciativa privada na gestão do ensino voltaram a ser tema de jornais de circulação nacional, no período de 2 a 15 de agosto. Duas iniciativas foram novamente divulgadas: a implementação, no estado de São Paulo, do curso de gestão de pequenas empresas do programa Telecurso Tec, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, e a ampliação de programa desenvolvido por um grupo de empresários para o ensino médio de Pernambuco, por meio do Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação.


As matérias não problematizam a natureza da relação entre governos e empresas, e alguns questionamentos merecem reflexão. No caso de Pernambuco, qual é a natureza da relação entre ICE e governo estadual? Quais as fontes de financiamento utilizadas para garantir o custo aluno anual de R$ R$ 2.500? Quem e como são avaliados os resultados da experiência? Como a experiência se insere nas políticas destinadas à carreira docente?


Da mesma forma, é preciso entender a parceria entre governo paulista e Fundação Roberto Marinho, noticiada pelo O Globo e Diário do Grande ABC. Qual é o custo da implantação para a sociedade paulista? De que forma o curso responde às expectativas dos milhões de pessoas não matriculadas no ensino médio? Como dialoga com as ações de profissionalização?


Ausência


As notícias relativas ao ensino médio refletem ações destinadas apenas ao meio urbano. Fundamental que a cobertura explicite se os governos vêm pensando as especificidades do campo. Quais são as alternativas para garantir ensino médio, com qualidade, às pessoas que vivem no campo? Há estudos sobre as demandas? Qual o custo? Quais as fontes de financiamento disponíveis?


Homofobia na escola em questão


Reportagem publicada em 6/8, em A Gazeta, do Mato Grosso, expõe problema recorrente nas escolas brasileiras e pouco tratado pela sociedade em geral e a mídia em particular: a discriminação sofrida por adolescentes gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que termina gerando o abandono escolar. A matéria afirma ainda que o principal problema enfrentado pelo Centro de Referências GLBT é a prostituição de adolescentes travestis.


É preciso estimular o debate em torno do tema, inclusive identificando como o poder público, a comunidade escolar e as organizações da sociedade civil vêm tratando a questão.


Inclusão


O Jornal de Brasília e o Correio Braziliense de 7/8 anunciaram a construção de nova unidade de ensino no Distrito Federal, a primeira da região completamente adaptada para pessoas com deficiência física e visual. A inclusão é um tema ausente da cobertura de educação na imprensa e, por isso, a divulgação merece destaque.


Fica a sugestão para a elaboração de outras pautas referentes ao tema, que demonstrem como os governos, das três esferas, vêm realizando a inclusão das pessoas com deficiência na educação básica, uma determinação legal.


Piso continua em destaque


A lei que institui o piso salarial nacional do professorado da rede pública de ensino continuou em destaque. O acompanhamento realizado entre 2 e 15 de agosto registrou 31 matérias. Novamente, não foi ouvido ninguém que pesquise o tema e o poder público continua pautando o debate. Ainda não houve tentativa de compreensão do significado da reserva de um terço da jornada para atividades extra-classe.


A abordagem mais diferenciada foi realizada por artigo publicado no Valor Econômico. Maria Cristina Fernandes, editora de Política, aponta que, apesar de SP e RS serem ‘os mais ativos estados na ofensiva contra a nova lei’, ‘são escassas as evidências de fragilidade de um ou outro’, já que as duas unidades da federação são as de ‘melhor desempenho fiscal’ neste ano. A jornalista aponta que ‘o que a reação parece indicar é que os Estados querem aproveitar essa folga fiscal para aumentar investimentos e não ampliar seu comprometimento com custeio da saúde e educação’.

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Da equipe do Ação Educativa