Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se


MERCADO EDITORIAL
Comunique-se


Editora Três: venda na próxima semana, 23/02/07


‘Após uma reunião na sexta-feira (23/02) entre os redatores-chefe das
revistas da Editora Três e Domingo Alzugaray, seu presidente, foi anunciado aos
profissionais da empresa que sua venda deverá ser concretizada na próxima
semana. O banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e o Grupo Camargo de
Comunicação, associado ao Grupo Bandeirantes, são os principais cotados para
efetuar a compra.


Ato contínuo, o nome de Nelson Tanure, dono da Companhia Brasileira de
Multimídia (CBM), foi praticamente excluído da negociação. A possibilidade do
empresário ser o comprador da editora detonou uma paralisação entre os
jornalistas que durou quase três dias, entre 12 e 14/02. Os profissionais temiam
a degradação das condições de trabalho, como já aconteceu em outros veículos
incorporados à CBM.


O anúncio de que a venda será fechada na semana que vem deveria ser passado
apenas aos editores, mas repórteres e outros profissionais pressionaram e
participaram da reunião em que foi passada a notícia. ‘Trocamos o temor pela
incógnita, mas estou um pouco esperançoso com a saída de Tanure. Nosso maior
receio continua sendo a manutenção de nossos direitos’, afirmou um jornalista da
editora.


Dívidas trabalhistas


Com sérios problemas financeiros, a Três vem atrasando o pagamento dos
salários desde julho do ano passado, e a venda da empresa é considerada uma das
últimas opções antes da falência. Os atrasos salariais se somaram à
possibilidade de Tanure comprar a empresa e resultaram na paralisação da semana
anterior ao carnaval, que terminou com o pagamento de uma das parcelas
atrasadas.


Na quarta-feira de cinzas (22/02) ocorreu nova assembléia na editora para
definir o posicionamento dos profissionais frente o atraso das parcelas de 05 e
20/02. A direção da empresa ofereceu a proposta de pagar a primeira no dia
27/02, que não foi aceita pelos profissionais. Os jornalistas exigiram o
pagamento de ambas as parcelas atrasadas no mesmo dia e ainda não obtiveram
resposta da direção. Está marcada para o dia 27/02 nova assembléia onde os
profissionais tirarão sua posição frente ao problema.


O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo e uma comissão de
profissionais da editora estão tentando marcar para o dia 26/02 uma reunião com
a direção para garantir os direitos dos trabalhadores na negociação, seja lá
quem for o comprador. O objetivo do grupo é pressionar para incluir no contrato
de venda uma cláusula instituindo que parte do dinheiro da negociação deve ser
destinada a pagar as dívidas trabalhistas da Três.’


***


Levantamento aponta as trinta empresas de mídia que mais faturam no mundo,
23/02/07


‘A empresa Zenith Optimedia colocou no mercado nesta quarta-feira (21/02) uma
pesquisa onde levantou as 30 maiores empresas de mídia do mundo em faturamento
de publicidade. A Time Warner foi a primeira colocada, com US$ 29.834 bi, quase
o dobro da News Corporation, segundo lugar com US$ 16.726 bi. Além delas, outras
14 empresas da relação são dos EUA.


Os dados são referentes ao ano de 2005 e mostram que essas empresas somadas
faturaram US$ 215 bilhões no período, apenas com publicidade. Como praticamente
todas as elas possuem atividades fora do universo da mídia, o critério utilizado
para classificá-las foi o faturamento com publicidade dos setores midiáticos. A
General Electric, que tem um valor de mercado em torno de US$ 370 bilhões, ficou
em terceiro lugar pelo faturamento de US$ 14.689 bilhões da NBC Universal,
empresa que controla.


A alemã Bertelsmann ficou em sétimo e foi a empresa fora dos EUA melhor
colocada, com US$ 9.622 bi. A Europa emplacou outras oito empresas no ranking,
que também conta com o mexicano Grupo Televisa e com o japonês Yomiuri Shimbun,
o jornal impresso mais vendido do mundo.


O documento completo sobre as Top 30 é um arquivo com 92 páginas, detalhando
a atuação de cada uma das empresas, suas movimentações no mercado, histórico e
planos futuros. A Zenith Optimedia vende o arquivo em pdf por £295, o
equivalente a US$ 578,20.’


INTERNET
Comunique-se


Egito sentencia blogueiro a quatro anos de prisão, 23/02/07


‘Após abrir uma investigação contra a jornalista por produzir uma reportagem
sobre prostituição no Egito e processar outra repórter por uma matéria sobre
tortura em suas prisões, o país abriu um novo precedente para a liberdade de
expressão no país ao condenar o blogueiro Abdel Kareem Suleiman a quatro anos de
prisão. Ele é acusado de ofensas ao presidente Hosni Mubarak e ao islamismo.


Suleiman, um jovem de 22 anos, assinava seus textos com o pseudônimo de
Kareem Amer. Em seu blog ele criticava a Universidade al-Azhar, principal
instituição do país, chamando-a de ‘universidade do terrorismo’. De acordo com o
blogueiro, a instituição reprimia o livre pensamento. Ele já fora expulso da
universidade que passou a pressionar por sua condenação. Suleiman também chamou
o presidente de ‘ditador’.


A sessão do julgamento do blogueiro durou apenas cinco minutos. Suleiman foi
condenado a três anos pelas ofensas à universidade e mais um ano pelo que disse
sobre Mubarak. É a primeira vez que o Egito condena um blogueiro, embora no ano
passado tivesse prendido vários sob a acusação de produzirem notícias ofensivas
ao regime. Posteriormente, todos foram libertados. Na internet, já circula uma
campanha pela libertação de Suleiman.


DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro


Hora de ter e preservar ideais, 23/02/07


‘O XIS DA QUESTÃO – A coluna dedica o texto desta semana aos jovens
ingressantes nos cursos de jornalismo. Com um recado preliminar: não permitam
que maus professores, maus alunos, maus currículos, maus modelos de jornalismo e
teorias trôpegas lhes destruam a capacidade de sonhar. E não abram mão do poder
de preservar os próprios ideais. Poder que é vosso, de cada um, não dos outros.


1. Sonhos… Ideais…


Milhares de jovens iniciam por esta época, nos cerca de 400 cursos de
jornalismo já existentes do país, a caminhada rumo ao sonho de serem
jornalistas. Têm o encanto luminoso dos 17,18, 19 anos, idade das primeiras
grandes encruzilhadas da vida, quando há rumos a escolher. Por isso, alguns
deles sofrem a angústia da dúvida, ante a opção escolhida.


Com mais ou menos dúvidas, a verdade é que os jovens ingressantes nos cursos
de jornalismo buscam a felicidade, nome dado ao fruto dos sonhos. E em sonhos
navegam, querendo ser alguém na vida. Escolheram o jornalismo, na esperança de
que no jornalismo, sendo jornalistas, poderão ser e conseguir tudo com que
sonham.


Por que tantos querem ser jornalistas?


‘Jornalismo está na moda’, há quem diga. Mas não é só uma questão de moda. O
jornalismo tornou-se atividade essencial na sociedade moderna. E tende a
expandir-se como mercado de trabalho, a despeito de parecer um campo já
saturado.


Para o jornalismo convergem as informações, as emoções, os saberes, os
conflitos, as expectativas, as notoriedades e os mitos do tempo presente. É no
jornalismo, em suas aptidões de linguagem, que se concentram, hoje, as
possibilidades mais amplas e eficazes de realizar intervenções transformadoras
na realidade. O jornalismo tem também o fascínio do poder. Poder próprio. E
poderes alheios, dissimulados ou não, que correm pelas vias e veias da expressão
jornalística.


Ademais, o jornalismo tem lá a sua dimensão de arte. A arte de reelaborar a
realidade, narrando-a. Nessa arte se podem vislumbrar os encantos da liberdade
de ser, dizer e fazer, que aos talentosos tanto estimula.


Por tais e tantos encantos, expande-se entre os jovens o sonho de ser
jornalista.


Porém, para os que fizeram a escolha do jornalismo, nem só de sonhos se
constitui o momento do ingresso no curso que os levará à carreira. Há também
temores, desconfianças. Afinal, falam tão mal do jornalismo! – dizem que mente,
que perdeu a independência, que só serve aos poderosos, que é um mercado sem
espaço para tanta gente.


Por tudo isso, decidi dedicar a coluna desta semana aos jovens ingressantes
nos cursos de jornalismo. Com um recado preliminar: não permitam que maus
professores, maus alunos, maus currículos, maus modelos de jornalismo e teorias
trôpegas lhes destruam a capacidade de sonhar e acalentar ideais.


2. Trabalho e lutas


Não basta, porém, ter sonhos e ideais. Algum dia, no final do curso, haverá
trabalho a fazer e lutas a enfrentar, no mundo real do jornalismo. Trabalhos e
lutas que exigirão lucidez, sempre. E coragem, não poucas vezes.


Na perspectiva desse momento, aqui deixo alguns elementos para reflexões que
possam aclarar e organizar, também no plano racional, as relações com a futura
profissão.


São duas as idéias que proponho à reflexão dos jovens estudantes de
jornalismo. A primeira delas, esta:


– O mundo mudou de forma radical, além de radical, irreversível, em relação a
épocas surpreendentemente recentes, nas quais se produziram os ideários, diria
também os ideais do jornalismo libertário, justiceiro, poético e até aventureiro
em que todos ainda gostamos de acreditar. Mas que já não vislumbramos.


O mundo mudou, impulsionado pelos impactos transformadores das novas
tecnologias. Aconteceu uma revolução de efeitos culturais surpreendentes, que
destruiu as fronteiras (físicas, ideológicas, científicas…) ordenadoras das
interações humanas, em tempos idos. Com a queda das fronteiras, desmoronaram
mitos e dogmas que, em séculos recentes, deram sentido e ânimo aos embates do
mundo. Por mais que a gente não goste das sociedades de hoje, a verdade é que as
convicções e as formas da democracia evoluíram para melhor. Porque aumentou a
percepção social das contradições.


Mas os conflitos se multiplicaram de forma assombrosa. E se tornaram
complexos.


Se olharmos a realidade que os jornais nos apresentam, vemos um mundo de
sujeitos institucionalizados. Esses sujeitos agem de forma organizada,
competente, por meio de acontecimentos, atos, falas e/ou silêncios que produzem
colisões transformadoras (sociais, culturais, políticas, econômicas) e que, por
isso, têm a natureza da notícia. As informações, estrategicamente produzidas,
entram em redes que, de forma já incontrolável, globalizam idéias, ações,
mercados, sistemas, poderes, discussões, interesses, antagonismos e acordos. E a
mesma lógica se reproduz nos âmbitos nacional, regional e local, onde também a
informação socializada se tornou a energia vital dos conflitos.


É nesse mundo que os jovens estudantes, ingressantes na carreira, terão de
ser jornalistas e fazer jornalismo.


3. Conflitos e complexidades


Segunda idéia:


– As mudanças do mundo impõem novas razões e novas circunstâncias ao
jornalismo – as razões éticas da democracia, em plena evolução para práticas
participativas, o que significa dizer, de aprofundamento dos conflitos; e as
circunstâncias da complexidade desses conflitos.


Há que compreender isso, sem renunciar à crença de que o jornalismo continua
vinculado ao universo dos valores humanistas universais e a compromissos com o
interesse público. Para que assim seja, é preciso encarar e equacionar a mais
complicada contradição que a nova era nos coloca: o jornalismo só sobreviverá se
também for negócio, fonte de lucro. Teremos, pois, de encontrar formas de
gerenciar a contradição, para que o objeto do negócio e do lucro seja o jornal,
não o jornalismo.


Jornal e jornalismo, negócio e linguagem, anúncio e notícia, têm de saber
conviver sem se misturar. São partes solidárias, mas idealmente independentes,
no processo de viabilizar, pela notícia, ações estratégicas e táticas
(políticas, econômicas, culturais, ideológicas, religiosas…) que, embutidas na
difusão jornalística, ora desorganizam ora reorganizam as relações e os
ordenamentos sociais. Assim, como espaço público dos conflitos, o jornalismo é
submetido a crescentes pressões dos interesses conflitantes envolvidos nos
acontecimentos.


Em tal cenário, e sob tais pressões, o jornalismo terá que tornar-se cada vez
mais um discurso independente, elucidativo e asseverador, até porque só assim
poderá ser crítico, ético, confiável e educativo. Garantir à sociedade as
qualidades desse discurso é o papel mais importante e mais espinhoso dos
jornalistas – os que já o são e os que vêm por aí, pelas veredas do estudo.


******


Recado final, aos que agora ingressam em faculdades de jornalismo: este é o
vosso tempo de estudar. Estudem, pois. Leiam, pesquisem, discutam. Desenvolvam
habilidades técnicas e sensibilidade estética para as artes do ofício escolhido.
E desenvolvam, em tempos de estudo que jamais devem terminar, aptidão
intelectual para apreender, compreender e interpretar, como narradores, o mundo
complicado que o século XX nos legou.


Que cada um de vocês amadureça o seu próprio ideal de jornalismo. Ideal não é
coisa coletiva, mas individual. É aquilo que só existe na idéia. Pois construam
sem medos, cada um de vocês, a vossa própria utopia. Façam dela fonte de
sentidos para as escolhas e as lutas da vida real, no jornalismo ou fora dele. E
não abram mão de um poder que é vosso, de cada um, e não dos outros: o poder de
preservar os próprios ideais.


(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua
carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como
repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande
circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco,
Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo
Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação
empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de
Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado
em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor
associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do
Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar –
Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal,
Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O
jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários
artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos
em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’



Adamo Bazani


Repórteres de hoje não têm fontes, 23/02/07


‘Antigamente, o repórter era aquele cara que saía pra rua, passava o dia todo
conversando com suas fontes e quase sempre voltava com boas histórias. Hoje são
poucos os ‘auto-pautáveis’. Atualmente, uma voz aveludada e uma boa aparência
parecem valer mais que a competência.


Na lista das espécies em extinção está a dos repórteres com fontes. Isso
mesmo, não que esses exemplares da ‘natureza jornalística’ não existam. São
encontrados sim, em rádios, TVs, jornais, mas, numa quantidade cada vez menor.
Aquela figura do repórter que chegava todo o dia na redação, ligava pras suas
fontes, fazia sua ronda particular e ia pro chefe de reportagem já com uma pauta
parece estar chegando ao fim.


A maioria chega ao local do trabalho, bate um papinho com os colegas, abre o
e-mail, o MSN, o Orkut e depois de todo esse ritual, chega ao chefe e faz a
mesma pergunta todo o dia: o que tá rolando?


O chefe também, em vez de ser um cara com contatos, fontes, e antenado no
mundo, puxa uma série de releases de assessorias de imprensa, dá uma olhada ‘com
cara de conteúdo’ e entrega a pauta, o próprio release. Essa cena eu me cansava
de ver. Estou afastado do dia a dia por causa de um sério problema de saúde, mas
quando voltar ao combate, tenho certeza, é o que eu vou voltar a ver.


Nessa, os poucos que têm fontes, mesmo que poucas fontes, se destacam. Mas
nem sempre.


O mercado tem sua culpa. Primeiro a rede de Q.I – Quem Indicou. Depois a
bundalização do jornalismo, principalmente o da TV. Cada vez está mais bonita a
tela, já perceberam? Repórteres que poderiam, se já não foram, misses, modelos,
cantoras pop…Coisa mais linda…Só que uma boa parte, só isso. Não é nenhuma
discriminação contra mulheres bonitas no mercado, mas é fato. Algumas dessas
modelos-news, estão em frente ao quebra-pau de GCM e Camelô, ligam para a
redação e perguntam pro chefe: O que eu faço aqui agora?


Gordos na reportagem de TV? Xiiiiii, se não forem gordos estridentes
apresentadores, podem esquecer. O repórter de TV tem de ser magrinho, simpático
e bem penteadinho. Para o gordo? Serve a produção, redação e escuta, ou seja,
levantar toda a matéria, fazer tudo praticamente e nem ter o nome divulgado nos
0,00000000001 segundo do Gerador de Caracter.


Até em rádio, que não aparece a cara, a bundalização tem sido presente.


Só resta lamentar pela má qualidade do jornalismo em todas as modalidades.
Pois quantas histórias boas que acontecem aí do lado de sua casa, com a vida do
cara que pega ônibus com você todo o dia, na porta do hospital lotado, na
agência do INSS (ah, essa eu peguei um monte de história que ninguém se
interessou) e que passam no anonimato.


E viva o novo jornalismo, cada vez mais, digamos, bonitinho.


(*) Repórter (feio) da CBN. Fonte: Madrugada News’


VIOLÊNCIA & IMPRENSA
Bruno Rodrigues


Para João Hélio, FerVil e tantos outros, 22/02/07


‘Nessa semana de entressafra, entre a Quarta-Feira de Cinzas e o início –
ainda que não-oficial – do ano, faço coro com tantos colunistas indignados: este
Carnaval não era para ter existido. Era para ter sido a semana de luto pelo
menino João Hélio.


Não adianta tecer teorias sobre o que poderia ser feito, pois seria correr
atrás do próprio rabo. Somos nós os responsáveis, não tenho dúvida, mas longe da
visão cristã ‘culpa & arrependimento’: votamos em quem manda no país,
aqueles que poderiam fazer alguma coisa – e que não fizeram nada. Agora, até
podem fazer algo pelo seu filho ou pelo meu, mas pelo pequeno João não adianta
mais.


Tive raiva da minha naturalidade, e aí cabe o duplo sentido: sou do Rio de
Janeiro e acho tudo muito natural. ‘É exceção’, pensamos nós, os cariocas, antes
de irmos à praia. ‘Não vamos exagerar’, alivia a turma do ‘deixa disso’, nas
noites da Lapa e do Leblon.


Soltei os cachorros em meu blog, o Cebol@:


‘Faça a seguinte comparação: imagine um menino passando férias em uma fazenda
com uma penca de coisas a fazer, de subir em árvore a tomar banho de rio, de
jogar bola a ouvir histórias da avó.


Agora pense neste mesmo menino ficando de castigo, e a mãe dizendo: ‘que
feio! para aprender, você vai ficar uma semana sem tomar banho de rio!’.


Ah, meu amigo, com tanta coisa além para fazer, qual é o moleque que vai dar
a mínima para um castigo desses? Só se for muito mané.


O Rio de Janeiro e nós, cariocas, nos merecemos por isso – para o bem e para
o mal.


Para cada caso de violência, tem um show do Zeca Pagodinho no Morro da
Urca… Vai se revoltar com o quê?


Afinal, gente, a vida continua, o Carnaval vem aí e me traz mais um chope.


Eu disse que era divagação, mas acabou como desabafo, mesmo…’


João não foi o primeiro nem será último a morrer neste limbo de
poder-e-não-poder público. A frase soa como clichê, não é? Não deveria.


Em julho de 2004, perdi um amigo e a área de conteúdo online no Brasil o seu
pioneiro, Fernando Villela, o FerVil. Ele parou o carro em um sinal, enfiaram o
cano de um revólver pela janela entreaberta, veio o susto e pam, foi-se FerVil –
que tinha 30 anos.


Em meu primeiro livro, de 2000, eu pedi ao Fernando que escrevesse a
apresentação, e repeti o texto no segundo, no ano passado. A prosa era tão
atual, tão visionária, que nem precisei editar. Quem dera o dia-a-dia fosse
previsível assim.


Há alguns meses sugeri à amiga Anna Catharina, do Comunique-se, a criação de
um prêmio especial para o jornalismo online, e que o nome fosse ‘FerVil’.
Ninguém mais esqueceria o Fernando e, indiretamente, a violência que o
levou.


Será que precisa? A bem da verdade, por um bom tempo haverá outro João Hélio,
outro Fernando, para nos lembrar que nem tudo melhora com o tempo.


(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo
online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua
continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra
treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior.
Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para
a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é
citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas
uma das principais referências na área de Comunicação Social no
Brasil.’


CARNAVAL & MÍDIA
Milton Coelho da Graça


Falta Galvão no carnaval da Globo, 22/02/07


‘Levou algum tempo, no início da televisão, para as emissoras entenderem que
as transmissões esportivas não podiam seguir o modelo do rádio. O rádio-ouvinte
quer ‘ver’ o jogo através da descrição do locutor, mas o telespectador já está
vendo, como se estivesse numa cadeira numerada do estádio, e foi necessário
criar um novo estilo – finalmente consagrado por Galvão Bueno – que busca
informar apenas complementando a imagem.


Temos transmissões de desfiles carnavalescos há muitos anos, mas a Rede
Globo, a meu ver, ainda não conseguiu encontrar o ‘tom’ adequado para o trabalho
jornalístico. Como telespectador, acima de tudo, quero ver e ouvir o desfile das
escolas, mas a quipe da Globo fala quase sem parar e, na verdade, ‘atravessa’ o
desfile.


Cada escola de samba no Rio desfila durante 80 minutos e o ideal seria, a meu
ver, que os comentários fossem curtos e espaçados, permitindo que cada
telespectador possa curtir as imagens e a música: cada detalhe da letra do
samba, a interpretação de cada ala, a malemolência dos puxadores, as sutilezas
da bateria, a entrada dos agogôs, o repique dos tamborins, tudo enfim.


As reportagens nos intervalos são ótimas e, com uma pauta rica e bem montada,
é possível dar todas as informações essenciais ao entendimento da proposta de
cada escola. Começado o desfile, a imagem e o samba exigem toda a atenção. O
desfile é uma super-ópera, um supermusical da Broadway. Tem sentido ficar
explicando cada canção, cada movimento dos bailarinos?


Chamem o Galvão, ele explica isso direitinho.


Chorem comigo a derrota da Império


Para quem gosta de carnaval, o rebaixamento de uma das ‘grandes’, históricas,
é sempre uma tristeza. E, para quem, como eu, começou a gostar de samba lá em
cima na Serrinha (morro onde nasceu a Império Serrano), há mais de meio século,
a tristeza é quase inimaginável. Mas nem vou dizer nada sobre isso.


O companheiro Marcelo Moutinho escreveu um artigo na página Opinião-Editorial
de O Globo (‘Império dourado’), imperdível para quem deseja entender a alma, as
entranhas do Rio de Janeiro. Aqui o carnaval junta alegria, mulher bonita,
criatividade musical e artística, droga, pilantragem, crime organizado,
jogo-do-bicho, corrupção, tudo isso em absoluta harmonia e ao som de um ritmo
transatlântico e colorido.


O Rio, graças às origens e tradições do carnaval, é uma sociedade urbana
singular em todo o mundo. E, sem a Império Serrano, o desfile principal não será
o mesmo.


Cana tem também um gosto bem amargo


Nossos índices de maior desigualdade de renda e pior qualidade de educação
coincidem muito com as áreas em que predomina a cultura da cana de açúcar, cuja
expansão o governo promete apoiar como máximo empenho para aumentar rapidamente
a produção de etanol.


Os Estados Unidos ajudaram muito o Brasil, desde a década de 60, a expandir a
produção e a produtividade da cana – tanto agrícola como industrial de açúcar -,
para não dependerem de Cuba. Agora também oferecem cooperação para o maior
aproveitamento da cana como fonte de biocombustível.


Esta poderia ser uma grande oportunidade para condicionar o avanço econômico
ao avanço social nessas áreas. Infelizmente não surgiu, pelo menos até agora,
uma defesa firme desta tese, nem no governo, nem na oposição e nem mesmo na
mídia. Vale a pena recordar que Miguel Arraes se tornou um líder popular
nacional e objeto do ódio das forças civis e militares que comandaram o golpe de
1964, apenas porque prometeu durante a campanha para Governador de Pernambuco em
1962 – e cumpriu – exigir o pagamento do salário mínimo aos trabalhadores rurais
do Estado.


(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O
Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e
Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste
Comunique-se.’


JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio


Novidades mais que bem-vindas, 22/02/07


‘Olá, amigos. A ESPN Brasil inaugurou, em 2007, um pacote de programas
interessantes, que mexeram com a sua grade e deram ao assinante uma maior
variedade de opções esportivas ao longo da semana. A maioria delas me pareceu
interessante, porém os formatos precisam ganhar um toque mais brasileiro.


O interessantíssimo’The book is on the table’, sobre esportes americanos é, a
meu ver, o melhor de todos. Tirando-se o título, que me pareceu pouco criativo,
a atração, comandada pelo seguro Everaldo Marques, mostra a fundo os esportes
que nós aqui no Brasil acompanhamos meio de longe, como beisebol, futebol
americano e hóquei no gelo, dando-nos informação, análise e um aprofundamento
bem legal aos temas.


O ‘Fora de jogo’, que edita em português um programa da ESPN Latina, é legal,
mas poderia ser menos fiel ao formato original. A meu ver, o ótimo Paulo Calçade
está um pouco engessado na comando do programa, provavelmente tendo de dar o
mesmo tom que os argentinos e espanhóis aos temas. Não sei se, por questões
contratuais, o programa deve seguir o formato original à risca, mas acredito
que, se as letras miúdas não forem empecilho, é questão de tempo para que o
programa e seus participantes ganhem mais desenvoltura e sejam menos ‘travados’
aos olhos dos assinantes.


O ‘É rapidinho’, na minha opinião, sofre do mesmo problema do ‘The book…’:
o título é óbvio, sem muita criatividade, mas a idéia é ótima. Comentários
telegráficos, em 1min45s cada, sobre diversos temas do esporte atual. Acho que
os debatedores podem se organizar mais, para que não atropelem um ao outro, mas
isso é questão de ajuste fino. Ou cada um fala sobre um tema, ou diminui-se o
número de debatedores. Três para falar de um mesmo assunto em menos de dois
minutos é, a meu ver, um certo exagero.


Por fim, o ‘Juca Kfouri entrevista’ é, como o nome já diz, um programa de
entrevistas pelo craque Juca Kfouri. Assisti à entrevista com Paulinho da Viola,
e me pareceu um pouco arrastada, justamente pelo estilo do músico, calmo e
tranqüilo demais para falar de esporte, de futebol e de Vasco, tradicionalmente
um time quente dentro e fora do âmbito esportivo. Mas o formato é valorizado
pela excelência do entrevistador, sem dúvida.


Mesmo precisando de alguns ajustes, os programas mostram a disposição da ESPN
Brasil em inovar e melhorar a sua programação, brindando os seus telespectadores
com novos programas, novos formatos e a velha e boa disposição de fazer um bom
jornalismo esportivo.


(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou
da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a
cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a
editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da
Globo.com.’


JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu


Cinzas do carnaval, 22/02/07


‘A caatinga é consoante


O cantador é vogal


O grito eleva radiante


O que nos falta no sol


(Nei Duclós in Novos Poemas)


Cinzas do carnaval


O considerado José Truda Jr., que passou insone todo o chamado tríduo
momesco, a arrastar correntes em sua mansão de Santa Teresa, cujo telhado sofreu
com as peripécias do helicóptero da Globo, conseguiu despachar na tarde desta
quarta-feira de cinzas:


Entre um zap e outro, passei pelo excelente jornal TV Esporte e Notícia, da
Rede TV!, quando uma belíssima apresentadora anunciava:


‘Não deu muito certo a iniciativa do compositor Carlinhos Brown de formar um
bloco sem cordão de isolamento entre os foliões pagantes e não pagantes: uma
briga de gangues terminou em tiroteio que resultou em um morto e um baleado no
pescoço.’


Pois prefiro nem imaginar se tivesse dado tudo errado na iniciativa do genial
artista soteropolitano!


TV Comunitária


A coluna cumprimenta e deseja boa sorte ao velho e considerado amigo José
Alberto da Fonseca, que acaba de assumir a direção da TV Comunitária de Belo
Horizonte, Canal 13, como anuncia o sempre bem-informado Edu Ribeiro. Zé
Alberto, que é publicitário de origem, vai investir principalmente no
jornalismo.


Quem foi o craque?


Notícia da Agência Ansa que saiu no UOL Tablóide:


Italiana engravida e pede dez testes de paternidade


Uma garçonete italiana que trabalha em um bar temático esportivo ficou
grávida e pediu testes de paternidade para quase um time de futebol inteiro
(…) A garçonete vive em Val Venosta, Alto Adigio, norte de Itália, segundo
informou hoje o jornal em língua alemã de Bolzano, Tageszeitung. O caso,
especificou o jornal, aconteceu em um povoado do vale de Merano.


O colunista achou estranho a moça desconhecer o pai, porque desde menino ouve
dizer que mulher sempre sabe quem chegou lá onde a coruja dorme, porém
Janistraquis, mais vivido, arriscou palpite:


‘Considerado, quando a moçoila aprecia os prazeres de uma boa suruba na
concentração do time, fica difícil encontrar quem chegou junto…’


Catilinária


A propósito daquele sensacional projeto que acaba com os vestibulares nas
universidades, substituindo-os por sorteios, o considerado Camilo Viana, diretor
de nossa sucursal em Minas Gerais, repassa à coluna a carta que Otacílio M.
Guimarães, criador de cabras no sertão da Bahia, enviou ao responsável pela
idéia, senador Sibá Machado, carta na qual escreveu, entre tantas diatribes:


(…) Não poderia deixar de parabenizá-lo por essa iniciativa, até porque o
senhor se superou com esse projeto. Aliás, os petistas sempre estão me
surpreendendo. Quando eu imagino que o estoque de imbecilidades, de burrices, de
idiotias, de má fé , de desonestidades, de falta de respeito para com a
sociedade brasileira acabaram , sempre aparece um petista se superando e
apresentando mais uma.


Leia no Blogstraquis esta que chamaremos de ‘Catilinária sertaneja’


Tadeu Schmidt


Janistraquis comemorou os gols da virada do Vasco contra o Fast Clube, em
Manaus, e comentou:


‘Considerado, precisamos reconhecer que o excelente repórter Tadeu Schmidt é
também, longe e longe, o melhor apresentador do Globo Esporte; boa voz com
perfeita entonação, simpático, bem-humorado, inteligente e, ainda por cima, tem
pinta de galã.’


Verdade. Tadeu é dez.


Deus é paraguaio


O considerado Marcos Alfredo da Rocha, de Florianópolis, envia manchete da
editoria Mundo, da Folha Online:


Bispo candidato à Presidência do Paraguai teme atentados


Rocha achou ‘esquisitíssimo’:


‘Ora, bispos são, na verdade, altos executivos dessa poderosa multinacional
que tem sede no Vaticano. O eleitor paraguaio vai sufragar semelhante
candidato?’


Janistraquis, que nunca votou em quem tenha vestido batina alguma vez na
vida, ponderou:


‘Considerado, como tudo nesse belo país vizinho carece de autenticação, Dom
Fernando Lugo garante que é ex-bispo, embora a Santa Sé não tenha aceitado a
renúncia dele. De todo modo, é louvável a tentativa paraguaia de abrigar-se nos
braços do Altíssimo. Em contrapartida, por aqui continuamos no maior
inferno…’.


Crioulo doido


Nosso correspondente na Europa, o considerado Giulio Sanmartini, este que é o
mais carioca dos italianos em atividade na imprensa brasileira, despacha da sede
em Belluno:


A primeira página do Globo Online anuncia que Explosão em trem mata 66
pessoas na China.


Fui dar uma olhadinha e, ao clicar para ler a matéria, descobri que a tal
explosão se deu na Índia! Tudo bem, não é mesmo?


Tudo bem, sim, ó Sanmartini; não se pode esquecer que estávamos a brincar o
carnaval…


Fora do real


O senador Cristóvão Buarque, que como todos sabem nasceu e se criou na
Noruega, a respirar aquele sossego de nação rica e culta, reagiu assim à idéia
de se reduzir a maioridade penal no Brasil:


‘É um instrumento de vingança.’


Janistraquis, que adora tais manifestações de arrogância travestidas de
piedade cristã, comentou:


‘Pois é, considerado; o senador empunhou a bandeira da educação na tentativa
de presidir e pacificar este país. Todavia, se o povo quisesse mesmo ser educado
não teria preferido reeleger um analfabeto. Mas, compreende-se o equívoco do
senador; para um estrangeiro rico, um escandinavo como ele, é difícil entender
um país de m…’.


Iguaizinhos


Depois de avaliar os discursos de cada um e também a biografia política,
Janistraquis chegou à seguinte conclusão:


‘Considerado, o Arlindo Chinaglia é apenas um Severino Cavalcanti com sotaque
paulista…’


Nei Duclós


Leia no Blogstraquis mais um poema do sempre bem lavrado campo no qual Nei
Duclós semeia seu talento.


Convívio social


As pessoas politicamente corretas e de excelente coração defendem a tese
segundo a qual as penitenciárias não existem para castigar, mas para recuperar
os bandidos; ao condenar a alguns séculos de reclusão quem cometeu crime
hediondo, séculos que se transformam automaticamente em cinco anos, o judiciário
brasileiro pretende devolver o assassino ao convívio social, reabilitado e
pronto para se candidatar a deputado nas próximas eleições.


É muito diferente do que fazem os americanos, esses bárbaros filhos e netos
de John Wayne, que punem os facínoras com pena de morte e também com a prisão
perpétua sem direito a liberdade condicional. Quer dizer: o elemento é jogado
ali dentro e deixa na porta toda a esperança, como no inferno de Dante. Para os
cultíssimos e sensíveis brasileiros tal perversidade é inadmissível numa pátria
cristã.


Esta coluna pergunta aos seus considerados leitores: quantos assassinos
perigosos vocês conhecem que estão recuperados depois dos tais cinco anos de
cadeia? Quantos se transformaram em cidadãos respeitáveis e tementes a Deus?
Respostas na área de comentários ou no endereço eletrônico abaixo.


Milhão e bilhão


Cansado de ler e escutar jornalistas confundirem todos os números, o
considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, cidade
carnavalesca por excelência, ou melhor, excelências, pois Roldão envia o
seguinte lembrete para ser lido e decorado pela meninada:


Vale a pena fazer uma comparação entre milhão e bilhão para demonstrar como
não se tem noção do que seja um bilhão: leva apenas cerca de onze dias e meio
para um milhão de segundos desfilarem, ao passo que são necessários cerca de 32
anos para um bilhão de segundos cumprirem o mesmo trajeto, se me permitem o
carnavalesco paralelo.


Nota dez


Ferreira Gullar, considerado jornalista, poeta, prosador, crítico de arte,
etc., etc., intelectual e cidadão acima de qualquer suspeita, escreveu em sua
coluna da Folha de S. Paulo sob o título O bandido como vítima:


(…) Quando se fala, como agora, em alterar o Estatuto da Criança e do
Adolescente, alega-se que o agravamento das penas não reduz a criminalidade, o
que é verdade. Mas tampouco mantê-lo brando, como é, a tem reduzido, uma vez
que, para o desespero de todos nós, ela aumenta e se agrava a cada dia.


Leia no Blogstraquis o excelente artigo que paira sobre a mediocridade geral
da nação.


Errei, sim!


‘NO VENTILADOR – Pessoalmente, considerei um exagero a Folha de S. Paulo
estampar semelhante manchete de página. Empresa faz papel higiênico com rolo de
80 metros, dizia o titulaço em oito colunas do caderno Negócios. Janistraquis
também achou esquisito ‘em princípio’, mas ponderou com sabedoria: ‘Considerado,
pela quantidade que estão jogando no ventilador, oitenta metros ainda é
pouco…’. Argumentei que, se foi mesmo essa a intenção do editor de Negócios,
eu poderia rever minha posição. Janistraquis prometeu investigar.’ (junho de
1990)


Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067
– CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).


(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e
torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil,
Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe
do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu
oito livros, dos quais três romances.’


COMUNIQUE-SE
Cassio Politi


Pesquisa duvidosa dá nó nos miolos do leitor, 19/02/07


‘A reportagem ‘Record e SBT se declaram vice-líderes’ traz os dados de uma
pesquisa, mas não explica os critérios. Um leitor desconfiou dos dados: ‘Esses
sistemas de medição de audiência são pouco confiáveis, mas eu confio mais no
Ibope do que na pesquisa feita nas ruas’.


O dado que gera a dúvida é aquele que diverge da nossa percepção: a TV
Cultura está empatada com o SBT na terceira colocação do ranking da audiência.
Será?


Eis a questão: esse ranking tem âmbito nacional ou regional? Baseia-se em
pontos de audiência ou em pesquisa feita nas ruas? Neste caso, quantas pessoas
foram entrevistadas? Para que um levantamento goze de credibilidade, é
fundamental que o público entenda como se chegou àquele resultado.


Enganoso


Tudo isso sem contar que o título é falso. Em momento algum, o SBT se
declarou vice-líder. Aliás, nem sequer se declarou porque não há mais assessoria
na emissora. Lamento que a reportagem do Comunique-se dependa do assessor para
conseguir chegar à fonte. Nessa linha, o portal estará condenado a trabalhar
sempre com a informação oficial. Furo, nem pensar.


Sugiro que o colunista Eduardo Ribeiro, que há anos circula pelos bastidores
do jornalismo, dê à redação uma palestra sobre fontes neste mercado. Não fosse
sua coluna ‘Editora Três às vésperas de mudar de mãos’, a dúvida sobre a relação
entre Domingo Alzugaray e Nelson Tanure continuaria no mais absoluto sigilo.


Entrevista repercute


A matéria ‘Jornal Nacional foge do padrão para repercutir assassinato de João
Hélio’ provocou um debate entre leitores. Alguns afirmaram que a matéria não
deixa clara qual foi, afinal, a quebra de padrão. Outros explicaram que o
diálogo entre William Bonner e Fátima Bernardes, por si só, já explica a adoção
de um formato diferente para os padrões do JN.


Considero que o Comunique-se, nesse ponto, não falhou. A matéria é clara
quanto à conduta diferenciada do casal de apresentadores. Destaco, porém, dois
verbos mal aplicados:


1. O texto começa assim: ‘O ‘Jornal Nacional’ de segunda-feira (12/02)
repercutiu a entrevista…’. Um telejornal pode informar, denunciar, opinar,
debater, entre tantas outras nobres ações dentro do jornalismo. Mas nunca
repercutir. Uma informação repercute por si só, queira o jornalista ou não.


2. A matéria informa que Fátima Bernardes foi entrevistada por Bonner. Uma
prática, no mínimo, esquisita, a de um jornalista entrevistar uma colega. O
redator deveria ter escolhido melhor um verbo que definia o inusitado diálogo
entre os colegas de bancada.


Sem rotina


Um usuário afirma que o Comunique-se só se preocupa com o que acontece em São
Paulo, em detrimento à cobertura do mercado fluminense. Não considero que a
redação cometa esse protecionismo, sobretudo pelo fato de ela estar situada no
Rio de Janeiro. Houve coberturas de casos envolvendo profissionais da Tribuna da
Imprensa, Jornal do Brasil, TV Globo e tantos outros.


Entretanto, pego carona nesse comentário para apontar, novamente, a falta de
rotina dos jornalistas do Comunique-se para cobrir os veículos de comunicação.
Nada li, no noticiário, sobre a contratação de Alexandre Garcia pela Rádio
Eldorado. Essa informação saiu somente na coluna ‘Jornal da Imprença’. Por que a
redação não aproveitou a pauta sugerida por Moacir Japiassu, que assina a
coluna?


Gafe


A reportagem ‘RSF: ‘ano começa mal para imprensa brasileira’ informa que o
apresentador Domingues Júnior, agredido em sua casa, em Porto Velho, trabalha na
TV Rondônia. Barrigada! Ele trabalha na Rede TV! Rondônia. O erro merece
correção destacada porque a TV Rondônia não apenas existe como é afiliada da
Rede Globo e, portanto, concorre diretamente com a afiliada da Rede TV!.


Calendário confuso


Uma matéria publicada dia 12/02 (segunda-feira) começa assim:


‘Caracas, 10 fev (EFE).- O Ministério da Comunicação venezuelano anunciou
hoje a suspensão da edição de amanhã do programa dominical da rádio e televisão
‘Alô, presidente’, do governante Hugo Chávez’.


Que salada! A nota saiu na segunda-feira, datada de sábado, informando que o
programa do domingo seria suspenso. Afinal, o programa não foi ao ar? Ou a
suspensão de sábado foi suspensa?


Bem, é melhor não complicar ainda mais. Vou até simplificar: o programa ‘Alô,
presidente’ não foi ao ar no domingo (11/02). E ponto final.


Carnaval


A reportagem ‘Escola de Samba homenageia Band na avenida’ é oportuna, mas
deveria levar a redação a rever sua produção. Há pelo menos dois meses, estava
exposta no saguão do prédio da Rede Bandeirantes, em São Paulo, as fantasias da
Nenê de Vila Matilde.


Embora tenha sido alertado sobre tal pauta meses atrás, o Comunique-se só foi
dar a informação às vésperas do Carnaval, muito depois de a TV Globo, que
transmite o desfile, informar que a ‘co-irmã’ seria homenageada.


Ouvidoria


Em comentários postados e e-mails enviados nas últimas semanas, alguns
leitores cobram deste Ombudsman mais atenção para dois aspectos:


1. Erros gramaticais. Tenho observado deslizes nos textos publicados no
Portal, aos quais também estou sujeito. A Língua Portuguesa é cheia de
armadilhas. A partir deste mês, terei uma reunião quinzenal com a redação para
fazer a ‘crítica interna’. Nesses encontros, abordarei, por exemplo, o mau uso
da crase. Mas vale lembrar que o Comunique-se tem o privilégio de contar com o
colunista Moacir Japiassu, que cumpre, com um olhar atento e observações
inteligentes, o papel de guardião do bom jornalismo.


2. Alguns usuários têm feito um indevido da área de currículos. Um leitor
classificou bem a morosidade dos técnicos do Portal para resolver o problema de
‘mendicância’ de emprego ao classificar de ‘agilidade de transatlântico’. Firmo
aqui o compromisso de, se não resolver o problema, trazer à tona uma posição
clara e transparente do Comunique-se, para que seu usuário não seja lesado. Só
não solucionei o caso porque a apuração do problema demandará mais algumas
semanas.


Cassio Politi é jornalista. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em
projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net, e no site UOL
News, do Portal UOL. Ministra cursos de extensão sobre Jornalismo On-Line e
Videorreportagem desde 2001. Deu aulas em 25 estados brasileiros para mais de 2
mil jornalistas. Em janeiro de 2007, tornou-se o primeiro ombudsman do
Comunique-se, empresa na qual também ocupa o cargo de diretor de Cursos e
Seminários.’

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