Ainda rende a polêmica gerada por artigo publicado no Washington Post, no dia 29/11, sobre os supostos laços do pré-candidato à presidência americana Barack Obama com o mundo muçulmano. A revista Columbia Journalism Review chegou a afirmar que a peça ‘pode ser considerada a pior matéria sobre a campanha política publicada em um jornal americano’. A ombudsman do Post, Deborah Howell, dedicou sua coluna do dia 9/12 ao tema. Até ela concluiu que os ‘boatos [sobre Obama ser muçulmano] eram antigos’ e que ‘evidências convincentes de que a história era falsa não foram incluídas na matéria’.
A partir daí, as críticas tornaram-se pessoais. No dia 10/12, Chris Daly, professor de jornalismo da Universidade de Boston, postou em seu blog afirmações que colocavam em dúvida não o conteúdo do artigo, mas os méritos do autor, o jornalista do Post Perry Bacon Jr. ‘Desde quando o Post coloca um repórter de 27 anos para escrever matérias sobre a campanha eleitoral para serem publicadas na primeira página?’, escreveu Daly, de 53 anos. O professor trabalhou como freelancer para o diário de 1989 a 1997.
Jim Romenesko, que tem um blog de notícias sobre a imprensa no sítio do Poynter Institute, colocou um link para o post de Daly em sua página. Com a repercussão do caso, os colegas de Bacon e também jornalistas Michael Bárbaro e Adam Nagourney, do New York Times, Karen Tumulty, da Time, e Peter Baker, do Washington Post, manifestaram-se em defesa dele.
Corporativismo
Como o caso começou a tomar grandes proporções, Leonard Downie Jr., editor-executivo do Post, decidiu intervir, criticando em uma carta pública a atitude de Romenesko de divulgar o post de Daly. ‘O comentário de Daly foi um ataque pessoal a um jovem jornalista e estou desapontado que tenha ganhado destaque e visibilidade no sítio do Romenesko’, declarou Downie. ‘Daly, durante o tempo em que trabalhou como freelancer para o jornal, não conseguiu ser contratado como funcionário, como Bacon é’, rebateu o editor.
No dia seguinte ao primeiro ataque, Daly escreveu um post no qual alegava que não teve intenção de desrespeitar Bacon pessoalmente. Segundo ele, seu objetivo era focar nas falhas da prática jornalística, como a necessidade de edição e supervisão de matérias em organizações de mídia influentes. Bill Hamilton, subchefe de redação da seção de política do diário, lamentou que a controvérsia tenha chegado a este nível.
Para lembrar o caso
O artigo do Post trazia ao debate um boato antigo, publicado há quase um ano pela revista conservadora Insight, de que o democrata Obama, que alega ser cristão, teria estudado em uma escola muçulmana quando morou na Indonésia. Segundo esta matéria inicial, a informação teria sido passada por um membro da campanha da também candidata democrata Hillary Clinton. Assessores dos dois políticos negaram, na ocasião, os rumores, acusando representantes da direita de tentar prejudicá-los ao mesmo tempo. Um repórter da emissora CNN chegou a viajar para Jacarta, onde concluiu que a história era falaciosa. Com informações de Maria Aspan [The New York Times, 17/12/07].