Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se


IMPRENSA NA JUSTIÇA
Marcelo Tavela


ANJ condena censura no MS, 21/12


‘A Associação Nacional de Jornais (ANJ) distribuiu nota lamentando e
condenando o ofício do juiz substituto Adriano da Rosa Bastos, da 1ª Vara
Criminal de Campo Grande, que veta menção na imprensa de ação penal contra
Douglas Igor da Silva Fernandes, acusado de cinco estupros. Segundo a ANJ, 12
veículos já receberam o ofício.


‘O segredo de justiça diz respeito às partes de um processo e aos agentes
públicos nele envolvidos. Ministros do Supremo Tribunal Federal já se
pronunciaram a respeito, deixando claro que jornalistas e meios de comunicação
que têm acesso a uma informação, mesmo oriunda de processo sob segredo de
Justiça, não podem ser proibidos de divulgá-la. A proibição é censura prévia’,
define a entidade.


‘Preocupa à ANJ que a censura tenha voltado ao país sob os auspícios do Poder
Judiciário, principal guardião dos princípios constitucionais. O que se espera é
uma ação decidida do próprio Poder Judiciário para instar todos os juízes, de
todas as instâncias, a não mais praticarem a revoltante censura prévia’,
completa.


A vez dos jornais
O ofício do juiz, que de início estava restrito a
portais e emissoras de TV, chegou também aos jornais. O Correio do Estado, que
acompanhou o caso e publico matéria sobre a censura, recebeu o documento na
tarde de quinta-feira (20/12). A assessoria jurídica está analisando as medidas
cabíveis.


‘Enquanto isso, vamos tocar uma pauta com entrevistas com três vítimas, que
estão dispostas a falar’, informa Denilson Pinto, editor de Polícia. O ofício
veda menção ao processo, mas não aborda referência às vítimas.’


 


LULA E A IMPRENSA
Comunique-se


Franklin Martins: Lula tem saldo positivo com imprensa em 2007, 21/12


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu um café da manhã com os
setoristas do Palácio do Planalto, na quinta-feira (20/12). Acompanhado de
Franklin Martins, ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Lula
disse que ‘desculpa é uma palavra que não existe no dicionário da imprensa’, e
exemplificou com o espetáculo do crescimento: foi criticado no anúncio em 2003,
mas não houve pedido de desculpas com o crescimento de 5,7% do PIB no ano
seguinte.


Franklin apresentou números sobre o presidente, que concedeu 152 entrevistas
este ano, 60 a mais que 2006. Foram 73 de improviso, 50 exclusivas, 13 para
órgãos nacionais, duas para regionais e nove para internacionais, segundo a
Folha de S. Paulo.


‘Não há incômodo nenhum na relação hoje em dia, a relação tem momentos
difíceis, de tensão, tem momentos mais descontraídos, mas de modo geral é
positiva, saudável, próprias da democracia. Não é necessariamente justa. A
imprensa, este ano, às vezes foi injusta, mas em outros momentos foi positiva,
foi objetiva’, afirmou Franklin ao Globo.’


 


TV PÚBLICA
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TVs públicas firmam parceria com a TV Brasil, 21/12


‘A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), detentora da TV Brasil, firmou na
quinta-feira (20/12) uma parceria com 20 emissoras públicas, educativas e
universitárias do país todo, com o objetivo de se ajudarem na transmissão de um
conteúdo de qualidade pela emissora pública lançada no governo Lula.


As emissoras comprometeram-se a auxiliar na programação do recém-criado canal
público. Para influenciarem no conteúdo, as TVs foram divididas em cinco grupos
principais: institucional, programação, jornalismo, serviços e infra-estrutura.
O comitê de rede começará a funcionar em março.
Hoje, a TV Brasil é
transmitida apenas em São Paulo, Rio de Janeiro e Maranhão. Com a parceria, o
conteúdo da emissora será veiculado nos demais canais associados.


O comitê de rede é formado pelas seguintes emissoras: TV Alagoas; TV Cultura,
do Amazonas; TVE, da Bahia; TV Ceará; TVE, do Espírito Santo; TVE, do Mato
Grosso do Sul; Rede Minas; TV Cultura, do Pará; TV Educativa, do Pará; TV
Universitária, de Pernambuco; TV Universitária, do Rio Grande do Norte; TV
Cultura, de São Paulo; TVE, de Santa Catarina; TV Aperipê, de Sergipe; Rede Sat,
de Tocantins; TVE Rio/TVE MA/TV Nacional, do Distrito Federal; TV Aldeia, do
Acre; TV Universitária, da Paraíba; TV Antares, do Piauí; e TV Universitária de
Caxias do Sul, do Rio Grande do Sul.’


 


ESPORTE
Marcelo Russio


Quando o repórter não se ajuda, 19/12


‘Olá, amigos. Na última noite aconteceu, no belíssimo Theatro Municipal do
Rio de Janeiro, a cerimônia de entrega do Prêmio Brasil Olímpico aos melhores
atletas de 50 modalidades esportivas, além da escolha dos melhores atletas do
ano de 2007. A festa foi bonita, emocionante e contou com a presença de algumas
das principais figuras do esporte olímpico brasileiro.


Uma ocasião como esta é uma verdadeira bênção para repórteres que cobrem o
esporte amador, pois reúne em um único lugar diversos entrevistados em
potencial, todos relaxados e dispostos a falar com a imprensa, já que se trata
de uma ocasião festiva. Mas alguns colegas, definitivamente, esqueceram que
estavam trabalhando, e foram ao Municipal com espírito de festa, o que sempre
atrapalha aqueles que têm pautas para apurar.


Uma repórter, por exemplo, ao abordar uma atleta, saiu-se com essa:
‘Queriiiiiiiiiiiiiiida!!! Que cabelo poderoso é esse???’ Nada demais se não
estivesse ela com um microfone em mãos, e devidamente credenciada para cobrir o
evento. A atleta, que estava muito solícita (até fora dos seus padrões) não lhe
deu muita atenção, e passou a fugir da imprensa que estava presente ao
evento.


Outra colega jornalista iniciou uma entrevista com outra atleta perguntando
qual a marca do vestido que ela estava usando. Tudo bem que a pergunta é
pertinente às publicações de celebridades, mas o evento pedia mais do que uma
pauta como esta, justamente por ter sido provavelmente a última vez que todos
aqueles atletas estariam presentes antes das Olimpíadas de Pequim, e qualquer
declaração sobre os Jogos seria mais do que bem-vinda.


É uma pena ver que jornalistas perdem boas chances de se prepararem para
fazer matérias interessantes apenas para ir aos eventos e se comportarem como
tietes mal-educadas.


(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando
participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil,
criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a
editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.


 


INTERNET
Bruno Rodrigues


Como preparar o crescimento de um site, 21/12


‘Em Arquitetura da Informação, mais importante que pensar no agora é planejar
o futuro – em outras palavras, no que não existe.


Como assim? Um bom site é pensado, planejado e desenvolvido para abrigar, de
maneira organizada e engenhosa, toda a informação sobre um determinado tema,
seja ele um serviço, um produto, uma empresa. Mas os sites crescem, mudam, se
transformam, e a arquitetura de uma página tem obrigação de acompanhar o novo
cenário.


Na maioria das vezes, porém, sites nascem e adquirem vida própria, e aquele
que foi o seu projeto nos últimos três meses esvai-se na mesa de trabalho e dá
lugar a outro.


Como acompanhar, então, seu projeto anterior, garantindo que a mesma
eficiência que você embutiu na arquitetura do site possa se desdobrar em novas
páginas, áreas, minisites, sem que surjam problemas? Prevendo phantom
labels
.


Phantom labels são setores que ainda não existem no site, mas que toda
boa arquitetura deve prever. Se há uma área de produtos em sua página, é quase
certo que serão inclusos outros, em algum tempo. Abra espaço, ainda que ele não
vá ser preenchido, para que esse conteúdo possa ter pouso.


As vantagens? A ver:


· Valorização do conteúdo


Quando um ambiente inclui informação, e esse é o caso de um site, o tamanho
da página determina a importância do produto final, o que servirá de balizador
na avaliação deste projeto. E uma arquitetura que prevê phantom labels
realistas e funcionais é capaz de aumentar a pontuação.


· Estímulo à criatividade


Um bom brainstorming para criar phantom labels abre portas para a
criatividade, é um estímulo para expandir os horizontes do negócio central do
site.


· Mapeamento de limites


Até onde o tema do seu site pode ir? E até onde você pode querer que ele vá?
Quais são os limites, como respeitá-los ou ultrapassá-los? A phantom
label
responde.


· Planejamento de etapas


Muitas vezes um grande projeto não vai ao ar completo, e para organizar as
etapas vindouras, nada melhor que trabalhar com phantom labels.


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Um aviso final: não abuse das phantom labels. Seja bastante crítico ao
prever área fantasmas – só coloque no papel o que realmente for necessário no
futuro.


*****************************************


Quem quiser ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição
da informação na mídia digital, é só entrar em contato pelo e-mail
extensao@facha.edu.br ou ligar para 0xx 21 2102-3200 (ramal 4) para obter mais
informações sobre meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’.


As alunas da próxima turma, que terá início em 22/01, serão ministradas no
Rio de Janeiro, ao longo de seis terças-feiras à noite, em Botafogo.


Comece o ano de 2008 atualizado e com o pé direito! 🙂


(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre
conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua
continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra
treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior.
Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para
a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é
citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas
uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.


 


Milton Coelho da Graça


Blogueiros, juntem-se e monte uma agência, 21/12


‘Se os jornais cada vez mais gostam de blogs, por que não uma agência de
blogs, como as de notícias, fotos, quadrinhos etc. Pluck, uma empresa do Texas,
lançou o BlogBurst em abril passado e chega ao fim de 2007 já com uma bela
relação de jornais usuários de seu serviço – Washington Post, San
Francisco Chronicle
e muitos outros jornais.


‘BlogBurst oferece um jeito simples para empresas de mídia e principais
bloggers trabalharem juntos, abrindo para os blogs uma audiência maior’, disse
um dos editores do Houston Chronicle. ‘A tecnologia do BlogBurst permite
aos editores descobrir e selecionar os blogs que possam interessá-los em alguma
das editorias’, comentou Dave Panos, um dos fundadores da Pluck.


The State, na Carolina do Sul, tomou outro caminho. A redação recomendou
que o jornal lançasse um site voltado para a comunidade, em que os blogs e o
jornalismo-cidadão fossem incluídos, seguindo tendências atuais da imprensa. A
seleção dos bloggers foi feita pelos editores, principalmente na base da
confiabilidade de cada um, porque a principal preocupação do jornal é evitar
protestos, desmentidos e ações judiciais.


Segundo a Pluck, a maioria dos novos blogs está mudando de foco: em vez de
política, economia e noticiário geral, há uma crescente inclinação para turismo,
educação, resenhas de livros e estilo de vida.


Jornal, mesmo pequeno, é arma pela liberdade
A ABI, em cooperação com a
Associação Nacional de Jornais, planeja montar uma exposição itinerante de
jornais brasileiros menores, inclusive com seções dedicadas a alternativos e
clandestinos. Se você, caro leitor, tem nos baús de memórias exemplares desses
jornais e se dispõe a ceder originais ou cópias, por favor entre em contato com
a Comissão do Centenário da ABI em www.abi.org.br.


Cuidado com os custos escondidos do celular
Um amigo comprou um celular
desses novos 3G superbacanas e ficou particularmente fascinado por um plano da
Claro, ao saber que o acesso à internet, com transmissão de dados e imagens,
custaria apenas mais ou menos 7 centavos por 1 megabyte – R$ 39,95 por um pacote
de 500 megas.


Mas, fora os sábios da informação eletrônica, quem realmente tem na cabeça o
que significa um mega? Moral da história: meu amigo deitou e rolou com o celular
no primeiro mês de uso e a conta foi superior a mil pratas. Com a ajuda de uma
máquina de calcular, foi fácil descobrir que o tal do megabyte, acima dos 500 do
pacote, tinha pulado para 2 reais, 28 vezes mais caro do que o preço no pacote.
E, para quem não fizer pacote, o preço do uso de internet é 6 reais por mega –
46 VEZES MAIS!


Façam a conta, amigos, procurem calcular direitinho o que o celular 3G pode
fazer com um megabyte. E também o rombo que ele pode causar no bolso. Você acha
correto que essa incrível diferença de preço não seja bem explicada ao
consumidor?


(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de
O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e
Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste
Comunique-se
.’


 


JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu


O grande Ruy Onaga, 20/12


‘Neste Brasil fodido cada
um por si são os
tempos do general
Murici
(Talis Andrade in O Enforcado da Rainha)


O grande Ruy Onaga
Sob o título O revisor maior de nossa imprensa, o
considerado Wladir Dupont escreveu no Observatório o texto que recebe a nota
dez
da coluna:


Ruy Onaga não se limitava a detectar e corrigir os erros de sintaxe, vícios
de linguagem, ortografia ou acentuação. Era rigoroso também no manejo da
informação, que queria precisa, sem números ou dados dúbios. Não era sua função
editar os textos, mas quando cheirava alguma disparidade informativa, alguma
coisa que não batia com suas leituras e conhecimentos, pesquisava e mudava,
contestando até mesmo números divulgados pelo governo.


Leia aqui a íntegra desse indispensável texto do qual o grande Onaga não
cortaria sequer uma vírgula.


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Colonialismo cultural
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa
sucursal no DF, de onde se avista um dicionário gigante estacionado à porta do
Palácio do Planalto, pois Roldão acabou de ler o editorial do Correio
Braziliense
, intitulado Salvar a língua, na edição de segunda-feira, 17/12,
encostou esse órgão de grande penetração e escreveu ao diretor do jornal:


O editorial do Correio Braziliense questiona o projeto de lei do
deputado Aldo Rebelo que segue para o plenário da Câmara e estabelece restrições
ao uso de termos e expressões estrangeiras em documentos oficiais, publicidade e
nos meios de comunicação.


Lembra o jornal que a língua é um organismo vivo, impossível de ser
disciplinado por lei. Claro. Mas também é inquestionável o abuso atual, que
chega a deturpar o nosso idioma pelo emprego de termos absolutamente
desnecessários, desprezando os do vernáculo. Falta de amor-próprio não se
restabelece por decreto, certo, mas é um primeiro grito de alerta que deve ser
ecoado.


Chega de tanto colonialismo cultural!


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Risco de morte…
Janistraquis terminou a leitura dalguns jornais,
encostou-os e comentou, num suspiro, pouco antes de despachar uma cesta básica
para D. Luiz Cappio:


‘E o diabo é que escrevem ‘risco de morte’ e acham que, desse modo, estão a
escrever muito bem…’


A propósito, transcreve-se aqui comentário que foi postado sob texto do
C-se, intitulado É grave o estado de saúde do diretor da editora
Manchete:


Nelson Franco Jobim [29/11/2007 – 03:23]
(Colunista / Comentarista /
Crítico-Baguete Diário – RS)


Risco de morte é um neologismo insuportável inventado pela Folha de S. Paulo
numa tentativa de reescrever a língua portuguesa. A expressão risco de vida vem
de ‘risco de perder a vida. É a vida que corre risco. Mas os ‘idiotas da
objetividade’, como diria Nelson Rodrigues, não compreendem a sutileza e a
subjetividade da língua. Em seu autoritarismo, gostariam de reduzi-la a uma
linguagem matemática.


A opinião de Jobim diz tudo o que precisa ser dito a respeito da monumental
besteira.


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Talis Andrade
Leia no Blogstraquis a íntegra de Quadrilha, cujo excerto é
a epígrafe desta coluna. O poema integra O Enforcado da Rainha, mais recente
livro desse grande poeta que é o considerado Talis Andrade.


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O apelido é Champinha
O considerado leitor está, evidentemente, lembrado
de Champinha, condenado por assassinato e estupro no ‘Caso Liana e Felipe’, em
2003. Pois a Folha Online publicou, sob o título Justiça interdita jovem
envolvido na morte de Liana e Felipe, matéria de cinco parágrafos sob a
interdição do bandido, a qual termina assim:


A Folha Online não publica o nome nem o apelido do jovem porque o ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente) não permite que sejam divulgadas
identidades de menores envolvidos em crimes. Na época da morte do casal, ele
tinha 16 anos.


Embora morra de respeito pelo ECA, este fantástico instrumento de recuperação
de assassinos hediondos, Janistraquis considera absurdo dos absurdos a tentativa
de esconder a identidade do condenado referindo-se a ele apenas como ‘jovem’ e
‘rapaz’:


‘Considerado, já disse várias vezes aqui neste espaço e repito que acima da
lei, de qualquer lei, está o bom senso. Um elemento perigoso como Champinha deve
ter, sempre e sempre, nome e foto divulgados. É que ele vai fugir amanhã ou
depois, como aliás todos fogem, e assim não levará o perigoso anonimato à casa
de ninguém.’


Se não fugir, Champinha talvez receba o indulto de Natal.


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Greve de bispo
Janistraquis e o colunista não têm opinião formada acerca
da transposição do Rio São Francisco, porém como estamos no Brasil e a Igreja
mergulhou na história, a coisa pode acabar numa bosta de dar medo.


A propósito, a coluna recomenda a leitura do artigo do considerado André
Petry, na Veja desta semana. Intitulado A fanfarra católica, abriga
frases assim:


Com todo o respeito aos católicos, profissionais ou não, a coisa evoluiu para
um pastelão monumental – mas, no fundo, faz um tremendo sentido. É, mais uma
vez, a Igreja Católica se metendo onde não é nem pode ser chamada.


Confira no Blogstraquis a íntegra do artigo que está dando o que falar.


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Receita de democracia
Das páginas de Cem Anos de Solidão:


‘Um soldado que servia ao coronel Aureliano Buendía trouxe esta notícia: o
governo conservador, com o apoio dos liberais, estava reformando o calendário
para que cada presidente estivesse cem anos no poder.’


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Champanhe
Deu no Jornal do Brasil Online:
Lula: todo brasileiro
tem direito de beber champanhe
Portal Terra
SÃO PAULO – O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite desta quarta-feira, em entrevista à
RedeTV News, que trabalha para que ‘todo brasileiro tenha o direito de tomar
champanhe’. O assunto foi levantado após lembrança de que, em 1986, ele teria
sido visto bebendo champanhe em um restaurante de São Paulo, durante greve dos
trabalhadores.
O presidente disse que foi convidado a ir ao restaurante por
uma revista e que foi ‘vítima de preconceito’ por ser visto, segundo ele,
‘bebendo um licor’.
– Em qualquer lugar do mundo os trabalhadores podem
beber licor e champanhe – afirmou o presidente.
Janistraquis, que passará o
Natal abraçado a algumas garrafas de sidra de São Roque, acha que o elemento
endoidou de vez:


‘Considerado, é claro que todos têm direito ao champanhe, até mesmo os
nordestinos sem bolsa-família e os mendigos do Haiti e da Etiópia; só falta
dinheiro pra comprarem a porra do champanhe!!!’


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Bordelengo
Comentário postado sob artigo do considerado José Paulo Lanyi
no Observatório da Imprensa, intitulado Baixaria = Audiência – A TV que mata e
aleija por dinheiro.


Enviado em 27/11/2007 às 6:49:49 PM
A TV virou um açougue, um boteco, uma
mercearia, um bordéu… TV não significa TELEVISÂO faz tempo.
(Bordéu… o
autor do ‘comentário’ é jornalista em São Paulo.)


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Tá danado!
‘Nunca antes neste país se fez tamanha exaltação da
mediocridade.’
(Clovis Rossi em sua coluna da Folha de S. Paulo.)


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Chocolate
A considerada Beatriz Portinari, jornalista em São Paulo, envia
melindrosa chamadinha na capa do UOL:


Pele – Nem famosos estão livres das espinhas, mas há solução.


‘Ora, poooooorrrr queeeee os famosos estariam livres das espinhas?!?!?!?!’,
irrita-se Beatriz, que de vez em quando tem o rostinho atacado, principalmente
quando exagera nos bombons de chocolate.


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Erramos…
…da Folha Online: A reportagem Lula nomeia Delfim
Netto, MV Bill e mais 13 para o conselho da TV pública (Brasil – 26/11/2007 –
18h30) grafou equivocadamente o nome de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho como
José Bonifácio de Oliveira Marinho. O texto já foi corrigido.


Janistraquis acha que quem confunde sobrinho com marinho deve achar que
araújo é quem vive no ar…


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Picanhaço da pomba!
Sem poder viajar no último, ou melhor, mais recente
feriadão, por causa da chuva que não dava trégua, o considerado Miguel Mota
permaneceu em seu QG da Vila Formosa, em São Paulo, e foi procurar luzes no
UOL:


Não é que vi uma manchete que vinha ao encontro de minhas intenções nesse
feriado caseiro!? ‘Como fazer uma picanha bem suculenta’, anunciava o título.
Porém, ao clicar me assustei logo no início e mudei de idéia, pois não sabia
onde encontrar tamanha picanha e quantas pessoas teria de convidar para
participar do rega-bofe:


‘1 – O que determina o corte correto de uma picanha é a terceira veia. Ela
não deve ficar mais do que um dedo distante do final da peça, na parte mais
larga. Uma picanha tem no máximo 1200kg, passou disto é coxão
duro.’
http://cybercook.uol.com.br/mostra_materia.php?codmat=EM|14|936|938

Afinal,
vocês que viajam muito e sabem de quase tudo podem me dizer onde encontrar
picanha desse tamanho?!?!?!


Janistraquis pesquisou, ó Mota, e garante que picanha de 1.200 quilos a gente
encontrava facilmente até nos acanhados botequins de Itu; hoje, a iguaria está
mais em falta do que caráter nos corredores do Congresso.


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Dias melhores
A coluna deseja aos considerados leitores/colaboradores um
Natal mais arretado do que pai-de-chiqueiro em dia de tempestade e um 2008 como
nunca antes se viu nesta aliciente e desembestada nação.


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Errei, sim!
‘SENNA CANONIZADO – Cícero Correia de Araújo Jr., de Belo
Horizonte, ficou indignado porque lia, emocionado, a reportagem Povo canoniza o
ídolo Senna, no Jornal do Brasil, e, de repente, foi acometido por
desrespeitosa crise de gargalhadas. ‘Isso não se faz com o leitor!’, protesta o
afável Cícero, cujo nome é um verso alexandrino.


O texto assim descrevia a procissão diante do caixão do herói:


‘(…) não foram poucas as pessoas que enfrentaram o rigor dos policiais, que
impunhavam um ritmo de Fórmula 1 à longa fila para despejar suas mensagens e
pedidos próximos ao caixão.’


Acontece que, por um miserável descuido, desapareceu o primeiro d da palavra
pedidos – e o texto, que já derrapava na sinuosa curva dos verbos, desgraçou-se
na ventosidade do substantivo. Dessa forma, por artes do tal estrepitoso,
danou-se a emoção, foi-se o estilo.’ (junho de 1994)


Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067
– CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.


(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor
e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora,
Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E
foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo.
Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a
seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.


 


BALANÇO 2007
Eduardo Ribeiro


Ano fecha com otimismo e muitos investimentos, 19/12


‘O ano de 2007 deve entrar para a história da mídia como um dos melhores. Da
década, do século e do milênio já é o melhor de longe. E se alguém tem alguma
dúvida disso basta olhar as recheadas edições de revistas e jornais em todo o
País, ou acompanhar os breaks de TV e rádio, com propaganda, como se diz na
minha terra, pra mais de metro.


Tive a oportunidade de ser um dos editores de uma edição especial sobre
Agências de Comunicação, que circulou na última sexta-feira (14/12) e nela pude
constatar esse otimismo. Além de fecharem o ano com um crescimento médio de 20%
(teve agência, que não era das menores, por exemplo, que cresceram
inacreditáveis 100%, dobrando de tamanho), o grupo de agências pesquisado
trabalha com metas de crescimento para 2008 da ordem de 15% a 20% – e também
aqui há as que apostam em crescimento de 38%, 50%.


Estamos em dezembro e às vésperas do Natal e nem por isso essa febre negocial
estancou para a tradicional festa. É como se o ano fosse em frente, com Natal e
Ano Novo sendo apenas feriados comuns. A grande maioria das pessoas, sejam
patrões, empregados, fornecedores, etc., corre para cumprir metas, para entregar
o que prometeram, para concluir investimentos iniciados, para aproveitar até o
último segundo os bons fluidos do ano.


Tivemos o jornal O Estado de S. Paulo lançando sua revista de Grandes
Reportagens; a Editora Abril anunciando nova reestruturação operacional; na
semana passada os Diários Associados, na sua tradicional Assembléia Geral Anual,
elegendo oito novos membros vitalícios para o seu Conselho Diretor, após oito
anos sem repor as vagas que se abriram por morte ou saída dos titulares (o
Conselho é integrado por 22 membros); O Globo fazendo permanentes
reestruturações para manter-se na vanguarda da mídia; e assim com praticamente
todos os principais grupos de mídias do País.


Nesta semana uma outra empresa, a allTV, idealizada, fundada e desde então
dirigida por Alberto Luchetti Neto, deu forma a uma rede nacional de emissoras
na web, integrada por franqueadas que cobrem 18 Estados do território
brasileiro. A rede une a programação da allTV com as programações locais das
emissoras franqueadas, ‘porém com liberdade total de escolha’, conforme lembrou
a este J&Cia o diretor-geral do projeto, José Roberto Luchetti, que, em
dupla jornada, também permanece com suas atividades como diretor de Novos
Negócios da Doc Press. Ou seja, as franqueadas poderão pôr na grade local os
programas da allTV que quiserem, compondo-os com os de produção própria.
Integram a rede a allTV Amazônia, já em operação (franquia do site de notícias
Rondônia Agora, que tem programação focada nos nove Estados da Amazônia Legal),
mais a allTV Rio Grande do Sul (franquia com o jornal Já), allTV Rio de Janeiro
(franquia com a Uerj), allTV Ceará (franquia com o site Ceará Agora) e as
emissoras próprias no Pantanal (focadas nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso
do Sul), Santa Catarina, Bahia e Distrito Federal (que também abrangerá Goiás).
O projeto é estender a rede até o final de 2008 a todo o território
brasileiro.


Outro investimento anunciado às vésperas do Natal vem do setor de agências de
Comunicação. A CDN Interativa, agência digital do grupo CDN, está lançando o
SismoWeb (Sistema de Monitoramento Web), ferramenta que monitora o conteúdo
gerado por blogueiros, redes sociais e serviços diversos na internet. Foi
desenvolvido com o objetivo de quantificar e qualificar a exposição da marca ou
de seus produtos e serviços, identificar temas e tópicos em evidência e conhecer
os principais formadores de opinião na rede. Nas palavras de Gerson Penha, que
dirige a empresa, ‘o objetivo do SismoWeb é identificar oportunidades para ações
de comunicação e marketing e também antecipar-se a situações de crise’. Com os
dados obtidos, a CDN Interativa desenvolve relatórios analíticos que organizam
as informações e dão suporte estratégico para que a empresa possa interagir com
seus consumidores e demais públicos, resolver problemas e promover produtos e
serviços.


As revistas também pululam, valendo-se do bom momento do mercado. Menos de um
mês após o lançamento oficial da edição brasileira da Car and Driver, nasce a
Car Magazine, concorrente também internacional, que acaba de lançar a sua edição
zero, de degustação. O grupo que a edita é o Metromídia, dirigido por César
Foffá. Eleita este ano, pela 2ª vez, como a revista com melhor design do Reino
Unido, pela associação da indústria gráfica local, ela será distribuída
mensalmente no mercado brasileiro a partir de março de 2008, com tiragem de 50
mil exemplares, circulação nacional, formato 23 cm x 30 cm, focada no público
classe A, amante de carros. Publicada na Inglaterra pela Emap, onde começou a
circular em 1962, atualmente é editada também na Grécia, Índia, Oriente Médio,
Espanha, México, Rússia, Turquia, Tailândia, África do Sul e chega ao Brasil num
momento em que o setor automotivo nacional está em franca expansão.
Curiosamente, na semana passada, a Emap, que tem publicações em vários
segmentos, além de canais de tevê, rádios, jornais e o festival de publicidade
Cannes Lions, vendeu a sua divisão de revistas de consumo (entre elas a Car
Magazine), TVs e emissoras de rádio para a editora alemã Heirinch Bauer. Segundo
Foffá, que diz ter investido R$ 2 milhões na versão brasileira da revista, isso
em nada interfere no projeto: ‘Só mudou o controlador. De resto, a revista segue
seu curso normal’. Com passagens por emissoras de rádio como Jovem Pan, Manchete
e Eldorado, jornais como Última Hora e Folha de S.Paulo e pela área de
comunicação corporativa, entre outras, há seis anos ele comanda o Grupo
Metromídia (jornal Folha de Alphaville, revista Metropolis e gráfica
Metromidia).


O Grupo RBS, que tem sua força maior de negócios no Sul do País, é daqueles
que também sempre estão anunciando novos investimentos. Dois deles são a
transferência da sede do Canal Rural de Porto Alegre para São Paulo (de quebra
com as contratações de Cesar Giobbi e Luis Nassif, dois jornalistas de grande
prestígio na imprensa brasileira) e a unificação das redações das áreas impressa
e digital do jornal Zero Hora. Desde o dia 19 de setembro deste ano, data de
estréia de Zerohora.com, os mais de 200 repórteres, fotógrafos, editores e
designers do jornal atuam em conjunto com novos 34 profissionais do site nos
processos de planejamento e apuração dos conteúdos. Seguindo uma tendência
mundial, a mesma equipe desenvolve material para as duas plataformas: impressa e
digital. A partir dos novos procedimentos de trabalho adotados, a redação foi
remodelada, passando por reposicionamento físico e recebendo novos equipamentos.
Câmeras de vídeo e outras tecnologias foram inseridas no cotidiano dos
profissionais. Na área central, o media desk – local onde estão situados os
editores-chefes online e offline – concentra as operações, o que viabiliza a
atualização constante dos conteúdos multimídia produzidos.


Nesse ritmo, não é de se admirar que tenhamos até um janeiro atípico, com
muita gente antecipando a volta de férias ou mesmo cancelando o período de
descanso.


A nota triste deste final de 2007, na contramão de tudo o que temos visto no
ano em todos os setores da comunicação, vem da TV Gazeta, de São Paulo, emissora
da Fundação Casper Líbero. O Jornalismo da Rede Gazeta foi duramente atingido
pelo corte de despesas definidos pela Fundação Cásper Líbero para 2008. Além da
eliminação das substituições de férias e proibição de horas-extras, que atingiu
toda a emissora, a Fundação decidiu fechar, depois de 15 meses de operação, a
sucursal de Brasília, que era composta por dez profissionais. Devido à crise
financeira anunciada pela emissora, foram demitidos o coordenador da sucursal e
repórter Fernando Freire, o coordenador técnico Wesley Ortiz Ferreira, a editora
Fábia Belém, as produtoras Mariana Albuquerque e Janaína Santiago, o
cinegrafista Francisco Alves, o auxiliar Lázaro Nunes Filho, o editor de imagem
Daniel Zucco e o motorista Gilberto Viana Silva. Com o fechamento da sucursal,
também deixa a TV Gazeta o comentarista de Política Luiz Carlos Azedo. O
Jornalismo da Rede Gazeta já havia sido atingido com a redução, de semanal para
mensal, do programa de debates e entrevistas Em Questão, comandado pela âncora
Maria Lydia Flandoli.


Que seja um fato isolado e não contamine outras empresas. Como o momento é
bom, é preciso vivê-lo na plenitude, pois ensina a vida que este quadro
favorável não será eterno. Quem tem negócios em mente, quer empreender, deseja
mudar de vida, este é um bom momento, para não dizer que o momento é este. Quer
ver se tenho razão? Veja o que diz a exotérica Mirtes Guimarães, que teve longa
carreira em O Dia até trocá-la pelos frilas, de modo a ter mais tempo para se
dedicar ao tarô e à numerologia. A pedido do J&Cia, ela fez previsões para o
ano que vem, especialmente para a área de mídia.


Diz ela: ‘Pelo tarô, 2008 será um ano excepcional para empresas e jornalistas
que apostarem em idéias inovadoras. É hora de ousar e colocar em prática
projetos há muito elaborados. O ano também é muito positivo para as questões
materiais. O nº 10, arcano que rege 2008, é simbolizado pela Roda da Fortuna que
fala sobre mudanças de posições e de condições econômicas. Ou seja, o mercado
será agitado por contratações, novos lançamentos e melhorias econômicas.’ Na
numerologia, os colegas cuja redução da soma do dia e mês de aniversário mais
2008 dê 10, que se preparem: receberão boa quantia de dinheiro de forma
inesperada.’


Explicação: Para fazer a conta da numerologia, tomemos como exemplo quem faz
aniversário no dia 29/7. A conta que se faz é a seguinte: dia 29 [(2+9=11, que
reduzido dá 1+1=2)] + [Mês 7] + [Este ano de 2008 (2+8) = 10]. O total da soma
dos três (2+7+10) é igual a 19, que, reduzido, dá 1+9=10. Agora se você não
entendeu nada é simples, basta escrever para a própria Mirtes pelo e-mail
mirtessacerdotisa@yahoo.com.br .


Feliz Natal a todos leitores e amigos!


(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares
Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na
comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o
livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra
o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação
e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo
Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil
Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de
Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.


 


O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro


A arrogância dos pequenos dogmas, 17/12


As ‘verdades sagradas’ da cultura jornalística são tão verdades e tão
sagradas que se auto-dispensam de argumentos de sustentação. Refiro-me a um
conjunto de crenças tidas nas redações, e até na academia, como inquestionáveis.
Uma delas, já secular: a pregação dogmática que propõe a divisão do jornalismo
em opinião e informação. Mas também falaremos de outras.


1. Conceitos e preconceitos


Para retomar a conversa iniciada no texto da semana passada, transcrevo seu
final, quando comentava o trabalho de conclusão de curso da estudante Soraya
Ventura, do curso de Jornalismo do Mackenzie:


‘(…) Na minha avaliação, a qualidade principal da monografia está em suas
deficiências conceituais. Porque nessas deficiências se manifestam preconceitos
– alguns quase seculares, ou já seculares, outros nem tanto – que sustentam uma
cultura jornalística de muitas receitas, um apreciável acervo de verdades
convenientes a certas correntes, e porções históricas de arrogância. Do
caldeamento desses ingredientes resultam os tais preconceitos sedimentados em
redações e salas de aula, preconceitos que precisam ser pelo menos
discutidos.’


Vamos, pois à discussão de alguns preconceitos que fazem mal ao jornalismo,
em sua natureza de linguagem de interlocuções sociais.


Antes de mais, convém aclarar a significação aqui atribuída ao termo
‘preconceito’. A palavra denomina o juízo feito antes de se examinar determina
da questão, ou seja, antes de o conceito estar definido e provado. Portanto,
antes que a idéia sobre alguma coisa seja construída pelos mecanismos da
cognição intelectual, capacidade própria do homem como ser inteligente – e peço
licença para reduzir a tão curta frase as complexidades desse objeto teórico
chamado ‘conceito’.


Exige menos espaço e esforço falar sobre preconceito. Trata-se da noção ou da
teoria à qual se atribui vigor de ‘verdade’, mesmo sem a existência de dados
suficientes que a tornem comprovável. Às vezes, como escrevi no texto anterior,
‘verdades’ tão fortes que nem as provas em contrário conseguem desfazê-las –
razão pela qual tão fortes persistem nas relações humanas aberrações odiosas
como a do preconceito racial.


2. Burlas conceituais


As muitas ‘verdades’ preconcebidas que perpassam a cultura jornalística não
têm, claro, nem a gravidade das conseqüências nem o dolo ético dos grandes
preconceitos sociais. Mas produzem o dano, cada vez mais inaceitável, de
estimular a preguiça intelectual. E de inibir algo que deveria ser essencial no
ofício de jornalista e no uso da linguagem jornalística: a propensão à dúvida,
ao questionamento, o que implicaria a rejeição de receituários com revestimentos
dogmáticos.


As ‘verdades’ preconcebidas acabam sendo burlas conceituais. Para as
desmascarar e destruir precisamos enriquecer o jornalismo com ferramental
teórico de outras áreas de saber, entre elas as ciências da linguagem, a
História, a Psicanálise e a Teoria Literária.


******


As ‘verdades sagradas’ da cultura jornalística são tão verdades e tão
sagradas que se auto-dispensam de argumentos de sustentação. Refiro-me a um
conjunto de crenças tidas nas redações, e até na academia, como inquestionáveis.
Uma delas, já secular: a pregação dogmática que propõe a divisão do jornalismo
em opinião e informação. Impingem-nos isso como se a objetividade fosse uma
‘virtude’ possível e desejável no texto jornalístico. Ou como se fosse possível
atribuir valores e hierarquias aos conteúdos sem o exercício de escolhas
opinativas.


Mas sobre isso já escrevi o bastante nesta coluna, em outros momentos.


Permitam-me, portanto, que cite outros três casos de preconceitos integrantes
do elenco de ‘verdades inquestionáveis’ da cultura jornalística:


a) A ‘verdade’ do jornalismo interpretativo, entendido como agrupamento
privilegiado de algumas (poucas) espécies de texto, às quais estaria limitada a
vocação interpretativa do jornalismo. Ora, até por ser, em todos os seus tipos
de texto, uma linguagem de resumos do essencial, não há como fazer jornalismo
sem interpretação. O jornalismo é interpretativo na sua totalidade, e não apenas
em algumas de suas espécies de texto. Não são poucos os autores que já dão
sustentação a esse entendimento da natureza discursiva do jornalismo. E digo
mais, evocando saberes de Umberto Eco: no mundo da comunicação e da informação,
a interpretação é um processo dialético que vai além da mensagem, e se alonga e
se enriquece nos percursos da difusão, com as intervenções dos destinatários.

b) O uso e abuso da qualificação de ‘sensacionalismo’ para pichar o
jornalismo de sabor mais popular, e atribuir ao termo valor de ‘mal’ – como se
fosse possível anunciar noticias e idéias importantes sem o sensacionalismo de
bons títulos, de impactos e movimentos visuais dirigidos ao universo das
sensações, para ativar e direcionar interesses no ‘outro’. Um discurso que não
dispensa o título em qualquer das suas formas e que constrói o seu sucesso por
trilhas da emoção não se manifesta nem se afirma sem o uso de estratégias e
táticas sensacionalistas de comunicação. O xis da questão não está no
sensacionalismo, mas honestidade e/ou desonestidade do seu uso. Em todos os
meios e mídias.
c) A valorização saudosista do jornalismo literário, em
detrimento do jornalismo de relato da atualidade. Os profetas do jornalismo
literário acham que só a grande reportagem de sabor literário, ou seja, o texto
de autor, é expressão de qualidade no jornalismo. Como se todas as indigências
estilísticas e intelectuais do jornalismo estivessem dos textos do relato da
atualidade, jamais no dito jornalismo literário.


Mas como esse tema de ‘jornalismo literário X jornalismo de relato’ dá pano
para mais algumas mangas, a ele voltarei na próxima semana.


Até lá.


(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor
livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola
de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar
teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem,
foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso
acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de
pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes.
Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado
em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro
da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.


 


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