Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governo deve abrir espaço para novas redes de TV

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 3 de outubro de 2008


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Governo deve abrir espaço para novas redes


‘O governo federal deve anunciar após as eleições municipais uma solução para os chamados canais TVA, outorgados há quase 20 anos para exploração de TV paga via canais de UHF.


Ao todo, são 25 canais, em cidades importantes como São Paulo (4), Rio (5) e Belo Horizonte (5), que possibilitariam a criação de duas redes nacionais, segundo estimativas.


Pouquíssimos desses canais são usados para os fins originais. Atualmente, o governo permite que eles irradiem até 11 horas de programação aberta.


As licenças desses canais venceram em 2006 e 2007. Os pedidos de renovação estão sob análise do governo. Há várias possibilidades de desfecho.


A mais provável, defendida pelo ministro Hélio Costa (Comunicações), é a renovação dessas licenças para as empresas que as detêm, como Globo (canal 19 em São Paulo), Abril e Band, e a liberação para transmissão aberta em alta definição (ou em vários canais digitais). Essa hipótese permitiria pelo menos uma nova rede aberta, da Abril, com canais em SP, Rio, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. É a solução dos sonhos de igrejas evangélicas.


Outra hipótese seria a ‘cassação’ desses canais. Setores do governo defendem que essas freqüências sejam usadas por canais públicos. Isso resolveria o problema da recém-criada TV Brasil, cujo canal analógico em SP, o 69, não pode operar porque causa interferências.


RESERVA 1


O SBT começou ontem a negociar a renovação de contrato de 26 dos 49 atores que integram o elenco da novela ‘Revelação’, de Íris Abravanel. A emissora ainda não criará um banco de elenco (contratos de longa duração, como três anos). Serão contratos mais curtos, para atuação na próxima novela, que será um texto de radionovela de Janete Clair.


RESERVA 2


A iniciativa do SBT é conseqüência da competição entre Globo e Record na teledramaturgia. Antes, o SBT não renovava contratos de atores. É também uma tentativa de minimizar os danos sofridos por atores que não poderão trabalhar em outras redes, porque poderão estar no ar em ‘Revelação’, cujas gravações acabam em novembro.


SERIADO TEEN


A Rede TV! comprou 34 episódios de ‘Buffy – A Caça-Vampiros’ e a exibirá aos domingos, às 17h, a partir do dia 19.


TRANSPARÊNCIA 1


O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ontem à Sky para que passe a informar ao assinante o percentual e o total de horas ocupado por propaganda nos canais que carrega. A operadora terá que informar também se o programa em exibição é inédito ou reprise.


TRANSPARÊNCIA 2


O órgão não esclareceu como essas informações seriam dadas. A Sky tem dez dias para acatar a recomendação. A operadora informou não ter sido notificada. O MPF diz que só fez a recomendação à Sky porque não recebeu reclamações contra outras operadoras.’


 


 


VENCIDAS
Editorial – Folha de S. Paulo


Concessões sem controle


‘FAZ-DE-CONTA: não há palavra mais adequada para descrever a situação de 184 concessões de emissoras de rádio e TV vencidas. São apenas 4% das quase 4.623 estações outorgadas no país, mas oferecem um instantâneo desalentador da negligência com que o Ministério das Comunicações trata do assunto. É como se o controle público sobre concessões de radiodifusão não tivesse importância.


Algumas emissoras aguardam renovação de concessões há duas décadas. Existem casos em que a espera excedeu o próprio prazo da renovação solicitada, 10 anos no caso de rádios e 15 no de TVs. Entre as emissoras que ficam nessa espécie de limbo estão algumas de propriedade de famílias com poder político.


A anomalia administrativa, aliás, tem raiz numa manobra executada em 2006 pelo governo Lula, no interesse do deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA). Um lote de 225 concessões enviadas pelo Ministério das Comunicações aguardava apreciação do Congresso, como manda o artigo 223 da Constituição, mas o governo pediu sua devolução. Havia a expectativa de que as concessões viessem a ser rejeitadas na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, justificou a medida, na época, dizendo que havia o temor de um ‘julgamento político’ da Câmara no exame dos processos. A decisão, no seu entender, deveria ser meramente ‘empresarial’. Deu 90 dias para as empresas regularizarem a documentação, mas o processo não foi consumado para todas as concessionárias.


O saldo da confusão é que 184 emissoras estão com as suas concessões vencidas, e ninguém na Esplanada parece se importar com esse fato. Se nunca foi fiscalizado o cumprimento das obrigações associadas à concessão de emissoras, como a finalidade educativa, agora não mais se cumprem nem sequer as formalidades administrativas.’


 


 


CRISE
Clóvis Rossi


É a política, estúpidos


‘SÃO PAULO – Reencontro George Soros na capa da Folha. Nosso encontro anterior no mesmo local fora há seis anos. Participávamos de um seminário sobre terrorismo no Council on Foreign Relations de Nova York. No jantar, cada um de prato na mão, perguntei sobre a eleição brasileira (a de 2002).


Respondeu: ‘É Serra ou o caos’.


Deu capa na Folha, claro. Por que o caos? Porque os mercados atacariam de todos os lados para tentar evitar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda visto como perigoso esquerdista (ah, como os mercados se equivocam).


‘Não é antidemocrático?’, perguntei ingenuamente. Soros: ‘É, mas como na Roma antiga só votavam os patrícios, no mundo moderno votam os americanos’ (referindo-se aos mercados, não aos americanos em geral, que não prestam atenção a eleições periféricas).


O eleitorado brasileiro não deu bola para a chantagem dos ‘patrícios’ modernos, embora Lula tenha se rendido gostosamente a eles depois de vencer.


Seis anos depois, lá está o velho e bom George repetindo a chantagem na capa da Folha ao dizer que o pacote de ajuda aos mercados é ‘desesperadamente necessário’.


Na prática equivale a dizer: o pacote ou o caos, como em 2002.


Pode até ser que ele tenha razão, mas, frase por frase, prefiro inverter a do marqueteiro James Carville a Bill Clinton, na campanha de 1992: Carville dizia ‘é a economia, estúpido’; agora é a hora de dizer ‘é a política, estúpidos’.


Posto de outra forma: é preciso que os governos governem os mercados também. Governança global, diga-se, porque soluções isoladas não parecem factíveis. Não se trata de subordinar os mercados ao Estado (esse muro já caiu e não volta), mas de regras que previnam chantagens dos ‘patrícios’, que arruinaram o primeiro ano do governo Lula e, agora, semeiam o pânico de Hong Kong a Nova York.’


 


 


SEM TV
Painel do Leitor


Espírito olímpico


‘‘Onde está o espírito de Brasil-sil-sil da Globo? Para onde foi o ufanismo? Quer dizer que a partir do momento em que a Globo perde os direitos de transmissão do Pan de 2011 e da Olimpíada de 2012 ‘dane-se o esporte olímpico brasileiro’ (‘Globo discute boicote a esporte olímpico’, coluna ‘Outro Canal’, Ilustrada, ontem)?’


BENJAMIN EURICO MALUCELLI (São Paulo, SP)’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Dedos cruzados


‘‘Com os dedos cruzados’ é o enunciado da ‘Economist’ sobre os latino-americanos diante da crise agora global. Lembra que o ‘crash’ de 29 derrubou 16 governos por aqui, trocados por ditaduras. Mas agora a crise não é ‘made in Latin America’ e o temor maior é pelo crédito e por bancos menores que dependem de financiamento externo. Outro temor, para o ‘futuro’, é pelas contas públicas que seriam afetadas por uma recessão global, com impacto sobre as commodities. De todo modo, ‘os maiores opositores das finanças globalizadas são os que mais provavelmente vão sofrer em suas mãos’, quer dizer, Venezuela etc. Já para o Brasil ‘as coisas parecem melhores’.


ARMÍNIO &


Em meio à crise de crédito, a ‘gestora de recursos’ Gávea Investimentos, do ‘ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga’, como é descrito até no exterior, conseguiu enunciados positivos na cobertura ao anunciar US$ 180 milhões em ‘subscrição privada’ para a Cosan. Foi a forma que a produtora de álcool achou para, entre outras coisas, pagar pela Esso, segundo o site da ‘Exame’.


MENDONÇÃO


Outros não tiveram enunciados tão favoráveis. ‘O Estado de S. Paulo’ destacou a ‘fuga dos fundos de alto risco’. O movimento ‘atinge estrelas como os ex-diretores do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Investimentos, e Ilan Godfajn, da Ciano Investimentos’. Também o ‘ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, da Quest Investimentos’.


TODO MUNDO


A nova edição da ‘Economist’ apresenta o mundo à beira do precipício, para sublinhar nem tanto o risco, mas o fato de que ‘a crise agora é global, pertence a todo mundo, ainda que seja ‘made in America’, como querem os europeus’. Para o editorialista, ‘isso significa que os governos têm de trabalhar juntos’


A FUGA DA AMÉRICA


De ‘New York Times’ a UOL, destaque para a queda forte em Wall Street e maior na Bovespa.


Mas a manchete on-line do britânico ‘Financial Times’ seguia outra pista, ‘Investidores pulam fora dos papéis comerciais dos EUA’. Em uma semana, o montante caiu US$ 95 bilhões, ‘elevando o temor sobre a disponibilidade de dinheiro para bancos e empresas’. É ‘fonte vital para o curto prazo’ e seria responsável pelos problemas de gigantes como General Electric e AT&T.


‘CONSCIENTE’


Na manchete do site Stratfor, ‘a reforma da defesa’ no país. É a reta final para a compra de armamentos, a começar dos jatos militares. Será ‘escolha estratégica consciente’, diz o site, sublinhando que, apesar da ‘presença crescente da Rússia’ na região, os EUA têm ‘influência sobre atores mais importantes: México, Colômbia e Brasil’


AGORA, ‘PARCEIRO’


No topo das buscas de Brasil pelo Google News, ontem, o despacho da americana Associated Press dizendo que os ‘EUA encorajam o Brasil a comprar seus jatos militares F-18’. Em comunicado, a embaixada em Brasília declarou que os ‘EUA consideram o Brasil como um parceiro estratégico chave e apóiam o programa do Brasil para modernizar suas Forças Armadas’. Além do jato Boeing, concorrem os europeus Saab e Dassault.


O PRESIDENTE NEGRO


Via Blue Bus: em texto de uma correspondente da ‘Newsweek’ em Pequim, o site americano Slate elogia o romance futurista ‘O Presidente Negro’, de Monteiro Lobato, relançado aqui.


Diz que ‘está atraindo o maior interesse este ano’ por ter previsto em 1926 ‘transformações tecnológicas e geopolíticas’, mas sobretudo por ‘ter antecipado um cenário político em que gênero e raça determinam uma eleição nos EUA’. Por aqui, diz a Slate, ‘blogueiros debatem loucamente a proposição racista de Lobato’, então próximo da eugenia.


MENOS IMIGRANTES


Em destaque na capa do ‘Wall Street Journal’, ontem, a informação de que muitos imigrantes latino-americanos estariam ‘voltando para casa’. Perfila longamente e acompanha toda a viagem de Ambrosio Carrillo até sua Guatemala natal.


MENOS REMESSAS


E o ‘NYT’ também ressaltou, na home, que ‘menos pessoas estariam entrando ilegalmente nos EUA’, segundo levantamento do Pew Hispanic Center, divulgado ontem. Os bancos centrais ‘do México ao Brasil’ projetam queda de remessas.’


 


 


CAMPANHA
Folha de S. Paulo


Justiça eleitoral proíbe divulgação de pesquisa


‘A decisão, de caráter liminar, é do juiz Fábio Henrique Toledo, da 33ª Zona Eleitoral, e proíbe a reprodução da última pesquisa Ibope sobre a disputa eleitoral em veículos de comunicação de Campinas. A medida foi tomada a pedido do candidato do PSDB, o deputado federal Carlos Sampaio, que alega divergências entre os dados que constavam no registro da pesquisa e o que foi executado pela equipe que realizou o levantamento em campo. Cabe recurso à decisão judicial.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Sérgio Dávila, Washington


Biden e Palin escapam de gafes em debate


‘O senador Joe Biden procurou ligar John McCain a George W. Bush, como havia sido instruído, e a governadora do Alasca, Sarah Palin, atacou Barack Obama e reforçou a imagem de independência de sua chapa, conforme o combinado. Mas os candidatos a vice da corrida presidencial norte-americana surpreenderam ao fazer o debate da noite de ontem sem fugir do figurino nem cometer nenhuma gafe grave.


A surpresa pela ausência de derrapadas mais significativas revela a expectativa em relação ao encontro, que reuniria pela primeira e única vez uma neófita no cenário político nacional que vem causando má impressão por seu despreparo nas poucas interações com a imprensa e um senador veterano com conhecimento sólido em política externa, mas famoso por sua verborragia.


A impressão foi confirmada por pelo menos um instantâneo, a pesquisa feita com telespectadores pela emissora CNN, divulgada no fim do debate.


Para 84% dos ouvidos, Sarah Palin saiu-se melhor do que o esperado, ante 64% dos que tiveram a mesma opinião em relação a Biden. Os altos índices demonstram a baixa expectativa em relação a ambos. Para 51% dos ouvidos, o senador foi o vencedor, ante 36% que consideraram a governadora a melhor. Dos eleitores independentes, 46% consideraram que Biden venceu, 33% disseram que houve empate e 21% que Palin foi a vencedora.


Biden começou repetindo o mantra de seu cabeça-de-chave, de que a crise atual é o testamento do republicano Bush e que a diferença fundamental entre a chapa democrata e a governista era uma mudança completa na política econômica. ‘Nós vamos focar na classe média, porque, quando a ela cresce, a economia cresce e todo mundo vai bem, não só ricos e grandes empresas’, disse.


Já Sarah abriu a noite imprimindo o tom ‘gente como a gente’ que manteria até o final, se apresentando ao senador e pedindo para chamá-lo de ‘Joe’ e dizendo que o verdadeiro barômetro da economia era um jogo de futebol num sábado de manhã, um programa típico de pais e filhos da classe média americana. ‘Aposto como você vai ouvir alguma apreensão’ se for a um, disse.


Na seqüência, diria que McCain era um verdadeiro independente. ‘Agora, Barack Obama, é claro, só votou praticamente com seu partido’, atacou. ‘De fato, 96% de seus votos foram com os democratas, o que faz com que deixe de provar ao povo americano seu compromisso de colocar o partidarismo de lado, os interesses especiais de lado e resolver os problemas do povo.’


Pontos decorados


A governadora do Alasca de 44 anos se saia melhor quando falava de improviso, sorrindo e olhando para o oponente. Foram poucas vezes. Logo olhava para a câmara e recitava pontos aparentemente decorados -a candidata chegou a se isolar no que foi apelidado de ‘acampamento de debate’, no Arizona, para aperfeiçoar a técnica.


Em seus piores momentos, quando o assunto era política externa, parecia insegura e por vezes recorria abertamente às fichas que trazia diante de si, que lia. Pronunciou de maneira errada os nomes dos países Irã e Iraque, do comandante norte-americano no Afeganistão, e repetiu um erro que popularizou Bush: dizer a palavra nuclear como ‘nucular’.


Já Biden, 65, se exprimia com mais segurança e naturalidade em assuntos de política externa, ao qual se dedica há décadas no Senado. Ele parecia menos simpático em geral, com expressão imóvel. Também engasgou por três vezes antes de dizer o nome de seu companheiro de chapa -a quem já chamou em uma ocasião de ‘Barack América’. Em outro momento, suspirou alto.


Palin fez uso freqüente de palavras ou expressões de uso popular e deu escorregadelas populistas, como quando disse: ‘Eu posso não responder o que a moderadora perguntou ou o que você [Joe Biden] quer ouvir, mas eu vou falar direto ao povo americano’.


Biden também procurou se aproximar da classe média, ao contar a história de um eleitor que não sabia quanto custava para encher o tanque de seu carro porque nunca tinha dinheiro para tanto. Ao reivindicar que, como homem, também sabia da dificuldade de criar filhos, emocionou-se -o senador perdeu sua primeira mulher e um filho num acidente e criou dois filhos sozinho.’


 


 


Barbara Gancia


Deus nos acuda de Sarah Palin


‘ESCREVO ANTES do debate entre os candidatos a vice-presidente na eleição norte-americana. Não é preciso ser mãe Dinah para imaginar que o senador democrata Joe Biden tenha levado a melhor sobre a republicana Sarah Palin. Para tanto, basta estar ao corrente das barbaridades que a governadora do Alasca andou proferindo desde que foi escolhida por seu partido, em agosto.


Quando o nome de Palin foi anunciado, achei que ela cairia no gosto do norte-americano. Afinal, vivemos em tempos em que a vulgaridade e a burrice são celebradas como qualidades, em que diploma e estudo são desprezados em favor da espontaneidade. Vivemos na era Elle Woods, heroína de ‘Legalmente Loira’, que vira melhor aluna da turma, em Harvard, valendo-se mais da ajuda da manicure do que dos livros.


Uma das primeiras providências de Palin depois de eleita prefeita de Wasilla, cidade com pouco mais de 5.000 habitantes, foi sondar a diretora da biblioteca para saber sobre como proceder para banir livros.


Outra, a fim de desencorajar o aborto, foi determinar que vítimas de estupro pagassem pelos exames de corpo de delito, enquanto vítimas de outros crimes continuavam a ter seus exames pagos pelo Estado.


Até aí, a visão de mundo de Palin não difere da apregoada por Bush ou do pensamento da maioria no Meio-Oeste norte-americano.


Mas é sua performance recente que tem deixado até republicanos de cabelo em pé. Ela demonstra ser tão, mas tão despreparada, que mesmo na conservadora Fox News já se aventou a possibilidade de retirar o nome dela da chapa.


Na terça-feira, referindo-se ao senador Joe Biden, ela disse: ‘Não o conheço, mas tenho ouvido seus discursos no Senado desde que estava na segunda série’. A frase seria até engraçadinha, não fosse o fato de seu companheiro na disputa, John McCain, vir a ser, aos 72 anos, o mais velho candidato a concorrer à Presidência dos EUA.


Se essa foi apenas uma gafe inócua, o mesmo não pode ser dito de dois fiascos retumbantes, a entrevista com Charles Gibson, da rede ABC, e a conversa com Katie Couric, da CBS, em que Palin citou a proximidade do Alasca com a Rússia como credencial de sua experiência em política externa. Com Gibson, a situação foi ainda mais constrangedora. Perguntada se concordava com a doutrina Bush, Palin não soube responder. Percebendo sua dificuldade, o entrevistador refez a pergunta: ‘A senhora sabe o que é a doutrina Bush?’ Palin respondeu que era ‘a visão de mundo de George Bush’, e Gibson teve de explicar a ela que se trata da política que permite aos EUA atacar países que abriguem terroristas e que essa tem sido a base da política externa dos Estados Unidos nos últimos sete anos.


No caso de Sarah Palin, a palavra ‘despreparo’ vem a ser um eufemismo para ignorância crassa.


John McCain tem 72 anos e, estatisticamente, são grandes demais as chances de ele morrer sem concluir o mandato para deixar uma desavisada como Palin na presidência.


Já imaginou uma cabeça oca dessas tendo em mãos os códigos nucleares? Já pensou no tipo de juiz que dona Sarah não vai indicar para a Suprema Corte?’


 


 


FRANCENILDO
Mônica Bergamo


Da periferia


‘O cineasta João Moreira Salles, que hoje dirige a revista ‘Piauí’, passou um ano apurando os bastidores da quebra do sigilo do caseiro Francenildo, que derrubou Antonio Palocci do Ministério da Fazenda. Uma das revelações da reportagem, que chega hoje às bancas, é que Francenildo recebeu proposta de R$ 1 milhão de ‘gente da periferia do PT’, de acordo com a revista, para recuar das acusações que então fazia a Palocci.’


 


 


INTERNET
Marco Aurélio Canônico


‘Criminalizar internautas é um erro’


‘Na batalha pelo futuro dos direitos autorais, monopolizada pelos extremistas -de um lado, as indústrias da música e do cinema, que a tudo proíbe e a todos processa; de outro, os piratas, que tratam tudo como produto grátis- o professor Lawrence Lessig fica no meio.


‘Não estou com os abolicionistas do direito autoral, mas também não concordo com a criminalização de toda uma geração de internautas’, diz Lessig, ex-professor de direito na Universidade de Chicago (onde ficou amigo de Barack Obama, então professor-adjunto), hoje ensinando em Stanford.


Lessig é a figura mais respeitada e conhecida na questão de direitos autorais, graças à sua criação, o Creative Commons (CC), que é um meio-termo na questão do copyright: ele permite aos criadores de uma obra intelectual qualquer compartilhar sua criação com mais liberdade -por exemplo, licenciando a obra para uso gratuito, desde que sem fins lucrativos.


Lessig esteve em São Paulo anteontem para uma palestra intitulada ‘A Cultura do Remix’ -tema de seu próximo livro, que sai no fim deste mês-, no evento Digital Age 2.0, onde conversou com a Folha.


FOLHA – O senhor disse em sua palestra que a atual geração não fala mais com palavras. Por quê?


LAWRENCE LESSIG – Nos séculos 19 e 20, ser alfabetizado significava aprender a escrever, unir palavras para expressar idéias.


O que vemos neste século é que as palavras são só uma forma de alfabetização e que há outras formas mais atraentes para os nossos filhos, como as imagens.


FOLHA – Os críticos dizem que isso leva a um ‘emburrecimento’.


LESSIG – Não acho que seja verdade. A explosão do acesso [à informação] permite às pessoas terem mais conhecimento. Em 1970, se quisesse saber o histórico dos vice-presidentes dos EUA, teria que ir a uma biblioteca, e apenas uma em cada 10 mil pessoas fazia isso. Hoje, quando alguém quer saber algo, o acesso é instantâneo, mais e mais pessoas têm aprendido.


De resto, mesmo se fosse verdade, e daí? Não vivemos num mundo totalitário onde podemos parar essa forma de cultura e forçar a volta apenas à leitura de livros. Precisamos aprender a viver com isso.


FOLHA – A liberdade da internet costuma ser vista como algo inerente ao sistema. O sr. concorda?


LESSIG – A liberdade da rede é produto de sua arquitetura, de seu código, e esse código pode ser mudado para que as liberdades sejam retiradas. E é do interesse das empresas e dos governos mudar esse design para restringir a liberdade. Por isso, organizações como a FSF (Free Software Foundation), de que já participei, são essenciais para pensar estratégias para evitar essas mudanças.


FOLHA – Como o sr. vê o futuro do Creative Commons?


LESSIG – Meu sonho é que o CC esteja morto em seis anos, que não seja mais necessário porque a legislação de direitos autorais se tornou racional. Mas, enquanto for irracional, mais artistas e criadores devem começar a usar as licenças do CC para ter seus trabalhos livres.


Não significa que todos vão usar, não espero que a Madonna passe a usar o CC tão cedo, mas antes de convencê-la vamos convencer gente suficiente de que o mundo não está dividido entre dois modelos extremistas, Hollywood numa ponta e os piratas na outra. A maioria dos criadores está no meio, espera alguma proteção.


FOLHA – Como o sr. vê iniciativas paralelas ao CC, como as do Radiohead e de Paulo Coelho, que colocaram suas obras de graça na rede?


LESSIG – É importante que tenhamos muitas experiências, mas acho ruim quando esses criadores fazem algo que parece que apóia a liberdade, mas que, quando vemos os detalhes, não funciona assim. O Radiohead é um bom exemplo: lançou concurso para que os fãs criassem remixes das músicas.


Mas, quando você lê a licença, descobre que a [gravadora] Warner fica com todos os direitos sobre os remixes criados.


FOLHA – O sr. tem um bom número de antagonistas. Há algo das críticas com que concorde?


LESSIG – Já aprendi muito com críticos meus, como Jack Valenti, chefe da Motion Picture Association [a associação dos estúdios de cinema], uma das pessoas a quem dediquei meu último livro, ‘Remix’. Nós tivemos ao menos cinco conversas, e havia um tema que lhe era caro: as conseqüências que haveria para a geração de garotos que está crescendo levando a vida fora da lei [no que tange aos direitos autorais]. Achava isso bobagem, mas percebi que estava certo, e meu livro começa dizendo isso, que o grande problema é a criminalização dessa geração. É claro que discordamos quanto à solução: ele defende uma guerra mais eficiente contra nossas crianças, e eu espero que encontremos um sistema em que elas não sejam consideradas piratas.


FOLHA – Que mudanças podemos esperar nessa área, com o próximo presidente dos EUA?


LESSIG – Os EUA têm tantos problemas maiores que não acho que o próximo presidente vá ter tempo para tratar de direitos autorais. Dito isso, e sendo um apoiador de Obama, acho que, se ele vencer, vai levar para o governo uma geração de pessoas sensíveis ao tema.


FOLHA – O sr. seria uma delas?


LESSIG – Não acho que me ofereceriam um cargo e, como acho que eu não ajudaria, também não aceitaria.


FOLHA – O foco nos direitos autorais não deixa para trás um tema mais importante, o da democratização do acesso à rede?


LESSIG – Concordo que essa é uma crítica justa. Mas o que levaria a uma democratização mais rápida da web? No Brasil, há um movimento significativo nessa direção, o projeto Pontos de Cultura, que foi lançado quando [Gilberto] Gil era ministro [da Cultura]. Mas o que as pessoas vão fazer quando se conectarem? Vão querer compartilhar, expandir essa cultura do remix, que está no cerne da cultura tradicional brasileira, para a era digital. O melhor que podemos fazer, então, é criar um ambiente favorável a esse tipo de cultura na internet.’


 


 


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‘Brasil está na vanguarda’, afirma Lessig


‘‘A lei dos direitos autorais está fora de sincronia com a tecnologia, e o Brasil é um dos países que estão mostrando isso ao mundo.’


A frase é apenas uma das que Lawrence Lessig usa para expressar sua admiração pelo país, que sediou uma reunião mundial do Creative Commons em 2006.


Entre seus principais interlocutores, estão o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil (‘Sou fã dele e muito grato pelo que ele fez em prol de nossas idéias’) e o advogado Ronaldo Lemos, professor da FGV Rio e diretor do CC no país.


‘Ronaldo é espantoso, tem muito conhecimento e consciência, terá um papel de liderança.’’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 3 de outubro de 2008


 


CAMPANHA
Talita Figueiredo


TRE recolhe 12 t de propaganda ilegal durante operação federal


‘Se os candidatos à Prefeitura e à Câmara Municipal cariocas quase não aproveitaram a segurança oferecida pelos militares que ocuparam 27 áreas consideradas perigosas no Rio, os fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio trabalharam como nunca durante a campanha. Nos 22 dias de atuação das Forças Armadas foram apreendidas aproximadamente 12 toneladas de propaganda ilegal. Desde o começo da campanha, em 6 de julho, já foram 32 toneladas.


A Operação Guanabara foi montada para garantir o acesso dos candidatos a regiões onde milicianos e traficantes estariam impedindo a campanha de candidatos rivais e evitar que criminosos pudessem obrigar eleitores a votar naqueles que apóiam. No entanto, maior proveito está sendo tirado pela coordenação de fiscalização do TRE, cujo chefe, Luiz Fernando Santa Brígida, se diz impressionado com a sujeira nas regiões mais pobres da cidade.’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Patrícia Campos Mello, Washington


Biden vence Sarah em debate na TV


‘Em um dos mais esperados debates da campanha americana, a candidata republicana à vice-presidência, Sarah Palin, e seu rival democrata, Joe Biden, se concentraram na crise econômica dos EUA para defender seus companheiros de chapa. Biden culpou o presidente George W. Bush pela crise e disse que um governo John McCain seria ‘mais do mesmo’. Sarah contra-atacou com o mantra republicano, dizendo que o candidato democrata Barack Obama, se eleito, vai elevar impostos e exacerbar a crise. Pelo menos duas pesquisas feitas após o debate mostraram clara vitória de Biden.


Sarah, cuja inexperiência e desempenho duvidoso em entrevistas recentes estavam inquietando os republicanos, não cometeu grandes erros. Ela apostou em seu charme e jeitão caipira, abusando de expressões populares e menções à família e à sua pequena cidade de Wasilla, no Alasca. Para escapar de armadilhas, Sarah não respondeu diretamente à maioria das perguntas e se ateve aos slogans da campanha. O senador Joe Biden não cometeu nenhuma de suas costumeiras gafes e demonstrou clara superioridade em política externa e economia.


Logo na entrada, Sarah abriu um amplo sorriso e perguntou ao veterano senador: ‘Posso te chamar de Joe?’ Falando de economia, Sarah disse que qualquer pessoa que quisesse entender o impacto da crise deveria ‘falar com os pais de crianças em um jogo de futebol, que estão com medo de perder seus investimentos na bolsa’. Ela disse que McCain foi o primeiro a alertar sobre a crise das hipotecas.


Biden lembrou da gafe de McCain, que afirmou que ‘os fundamentos da economia são sólidos’ às vésperas da quebradeira dos bancos. ‘Isso não torna John McCain uma má pessoa, mas o ponto é que ele está fora da realidade’, disse o democrata.


Sarah cometeu poucos erros – chamou o general David McKiernan, responsável pelas forças da Otan no Afeganistão, de ‘McClellan’ (George McClellan foi general na Guerra Civil). Biden, apesar de ser mais experiente – já participou de 14 debates -, conseguiu não transparecer condescendência. Poupou Sarah, mas atacou diretamente McCain.


Sarah ficou isolada nos últimos dias. Treinada por assessores republicanos, suas frases pareciam bem ensaiadas – muitas delas idênticas às de McCain. Muitas vezes desviava da resposta e voltava a slogans da campanha. Pressionada pela moderadora a responder uma pergunta sobre a lei de falências, que ela havia divagado falando sobre independência energética, Sarah disse: ‘Talvez eu não responda às perguntas do modo que a moderadora ou vocês queiram, mas eu vou falar direto para o povo americano.’


A republicana voltou a dizer que não acha que aquecimento global é resultado de ações humanas. ‘Acho que é em parte, mas há também os ciclos meteorológicos’, disse. ‘Eu não quero discutir sobre as causas – eu quero discutir sobre como nós vamos agir em relação aos impactos.’ Ao que Biden lançou: ‘Se você não entende a causa, é difícil encontrar a solução.’


Sarah Palin tem 44 anos e é governadora do Alasca. Antes, foi prefeita de Wasilla, uma cidadezinha de 9 mil habitantes. Biden, de 65 anos, está no Congresso há 30 e é presidente do Comitê de Relações Exteriores.


Para mostrar-se confortável com temas de política externa, ela repetiu algumas vezes os nomes dos líderes dos países considerados inimigos dos EUA – Mahmud Ahmadinejad do Irã, Kim Jong-il na Coréia do Norte e ‘os irmãos Castro’ em Cuba.


A primeira pesquisa instantânea divulgada logo após o debate pela CBS News mostrou que para 46% dos entrevistados Biden venceu o confronto, enquanto Sarah se saiu melhor para apenas 21% – 33% dos eleitores acharam que o debate terminou empatado. Outra pesquisa realizada pela CNN também apontou o triunfo do democrata (51% a 36%). A boa notícia para Sarah, no entanto, é que em ambas as pesquisas os eleitores disseram que ela se saiu melhor do que o esperado.


BIDEN


‘Duas semanas atrás, John McCain disse às 9h que a economia era forte e tínhamos feito grandes progressos sob as políticas de Bush. Às 11h do mesmo dia, McCain disse que tínhamos uma crise econômica. Isso não faz de John McCain uma má pessoa, mas o ponto é que ele está fora da realidade’


‘A política econômica dos últimos oito anos foi a pior que já tivemos’


SARAH


‘Vão em um sábado a um jogo de futebol infantil e falem com qualquer pai que esteja em um canto do campo e aposto que vão perceber em sua voz que ele tem medo de perder seus investimentos na bolsa’


‘Respeito seus anos no Senado, Joe, mas acho que os americanos estão desejando algo novo e diferente’’


 


 


TV PAGA
O Estado de S. Paulo


Ministério Público questiona a Sky


‘O Ministério Público Federal recomendou à operadora de TV por assinatura Sky que informe o porcentual e o total de horas ocupados pela publicidade dentro de sua programação. Solicitou também informações sobre reprises de programas nas suas transmissões. A Sky tem 10 dias para responder. Caso não se manifeste, caberá ação judicial.’


 


 


PESQUISA
O Estado de S. Paulo


Microsoft abre centros de pesquisa na Europa


‘A Microsoft está abrindo três centros de pesquisa na Europa, como forma de recuperar o atraso com relação ao líder de mercado Google no campo das buscas na Internet. A Microsoft, que fracassou em diversas tentativas de adquirir a companhia de buscas Yahoo, disse que o novo centro de tecnologia de busca terá núcleos em Paris, Londres e Munique.’


 


 


CRISE
O Estado de S. Paulo


Crise global ameaça jornais gratuitos


‘Os jornais gratuitos de todo o mundo, especialmente os europeus, atravessam um momento delicado. Reunidos em Madri esta semana, executivos desses jornais discutiram saídas para recuperar o crescimento, em meio a perspectivas nada animadoras.


De acordo com Piett Bakker, da Universidade de Amsterdã, especialista em jornais gratuitos, a circulação desses periódicos chegou a um ponto crucial em setembro. Segundo as estatísticas apresentadas por ele, e citadas pelo jornalista Philip M. Stone no site Follow the Media, a circulação de jornais gratuitos na Europa agora é de 27 milhões de exemplares, ou seja, 300 mil a menos do que no final de 2007. Não é uma queda considerável, mas é uma queda.


Durante o congresso, Bakker disse que essas publicações são ‘extremamente vulneráveis a uma recessão’, e que as que dependem exclusivamente da publicidade e não pertencem a importantes grupos editoriais, em condições de absorver os prejuízos e oferecer propostas de publicidade conjunta, serão as que mais sofrerão com a atual crise financeira global.


De acordo com o Follow the Media, Bakker afirmou que a situação ainda não é desesperadora. A circulação global até subiu 2%, por causa dos lançamentos sul-americanos e asiáticos, disse. Em termos globais, há hoje 230 jornais gratuitos em 50 países, com uma circulação diária total de 43 milhões. Mas somente a Europa apresenta 63% da circulação mundial desses jornais, com 120 títulos em 32 países, representando 23% da circulação de jornais da Europa.


De acordo com Philip Stone, a Metro International, a maior editora mundial de jornais gratuitos, enfrenta atualmente graves dificuldades. A Metro afirma ter 20 milhões de leitores para seus vários jornais gratuitos publicados em mais de 154 cidades em 20 países, cerca de 45% do total global de leitores de jornais gratuitos. No entanto, não está tendo nenhum lucro.


A empresa, que registrou prejuízos de 1,9 milhão no segundo trimestre, em comparação com um lucro de 1 milhão no mesmo período do ano passado, teve de fechar as operações deficitárias – sua franquia croata fechou este mês -, e há mais de um ano vem tentando transferir suas publicações deficitárias americanas em Filadélfia, Nova York e Boston.


Para melhorar os resultados finais, a companhia concluiu a venda de uma participação de 35% em sua subsidiária sueca para a Schibsted por 35 milhões, e vendeu 24,5% do metroXpress na Dinamarca para a JP/Politiken, em troca do jornal 24 Timer, da JP/Politiken, que foi transferido para o Metro Group. Por outro lado, recentemente elevou sua participação em sua sociedade mexicana até o limite legal de 49%.


Segundo o Follow the Media, em Londres, continua com força total talvez a maior guerra entre jornais gratuitos da Europa, mas somente porque ambas as editoras envolvidas têm consideráveis recursos e nenhuma das duas ainda deu sinal de arrefecer. O thelondonpaper, de Rupert Murdoch, distribui 500 mil cópias toda tarde, e o London Lite, da Associated Newspapers, distribui cerca de 400 mil. Portanto, não chega a surpreender que o Evening Standard, publicação paga da Associated, esteja sofrendo todo o impacto, e sua circulação só se mantenha ao nível aceitável de 279 mil exemplares porque vende 45% das edições para instituições como hotéis e companhias aéreas.’


 


 


MEIO AMBIENTE
O Estado de S. Paulo


‘Rádio Eldorado’ celebra 8 anos de Pintou Limpeza


‘A Rádio Eldorado comemora oito anos do projeto Pintou Limpeza. Nesse tempo, a sociedade vem recebendo informações sobre questões ambientais por meio de boletins na emissora, com dicas sobre reciclagem e alerta sobre problemas causados pelo descarte incorreto de lixo e o consumo irresponsável de recursos naturais. Com o esforço da emissora, de seus apoiadores e ouvintes, já foi possível reciclar 2 mil toneladas de papel nos Pontos de Entrega Voluntárias (PEV) espalhados pela cidade. Para comemorar, a Eldorado prepara uma série de atividades neste mês, no Parque da Mônica (Shopping Eldorado) e na Fnac Pinheiros (Av. Pedroso de Moraes, 858). A programação está em www.pintoulimpeza.com.br.’


 


 


FUTEBOL
Bruno Deiro


Reality show dá a garoto teste na Itália


‘O novo reality show O Dono da Bola tornará mais próximo o sonho de garotos entre 15 e 17 anos de jogar na Europa – mas não tanto quanto anuncia.


A divulgação na mídia do programa, idealizado pela E+ Entretenimento, oferece ao vencedor um contrato com a Fiorentina, da Itália. O clube italiano, no entanto, comprometeu-se apenas a avaliar o jovem durante duas semanas.


Roberto Gilvaz, um dos empresários que irá acompanhar o ganhador na Europa, reconhece que houve excessos na divulgação. ‘A permanência está condicionada ao interesse do clube após o teste’, disse o agente, credenciado pela Fifa.


O presidente da KMS Sports, Camilo Abranches – responsável pelo acordo com a Fiorentina -, confirma que negociou apenas um teste de 15 dias. A empresa de Abranches fará um contrato de representação com o campeão do programa.


O ‘big brother’ da bola é uma chance de aspirantes a craque mostrarem seu futebol para dirigentes de um grande clube europeu.


As inscrições começam na próxima segunda-feira e os custarão R$ 91 por atleta. Sem número máximo de inscritos, 4.000 participantes serão pré-selecionados.


A primeira triagem ocorre por meio de um questionário, respondido ao telefone. As perguntas vão desde a altura e o peso do atleta até o motivo que o levou a participar do programa.


A etapa seguinte, já com a bola rolando, acontece na cidade mineira de Juiz de Fora. Em partidas realizadas aos sábados e domingos, os jovens jogadores serão observados por uma comissão técnica – segundo a produção, formada por nomes famosos (ainda não divulgados).


Neste período, os gastos estarão a cargo dos candidatos – e de seus respectivos responsáveis. Apenas os 30 finalistas terão os custos de alimentação, transporte e hospedagem pagos pelo programa, nos últimos 15 dias de disputa.


Gilvaz afirma que tentará convencer o dirigente Pantaleo Corvino, responsável pelo setor juvenil da Fiorentina, a vir ao Brasil para acompanhar parte do processo. Caso haja interesse por parte do clube italiano após o estágio, o premiado terá de aguardar por um tempo no Brasil antes de assinar contrato com a Fiorentina. Desde 1998, a Fifa exige que apenas atletas com mais de 18 anos podem ser negociados ao exterior.


O craque eleito pelo programa se juntaria a Phillipe Coutinho, de 16 anos. Revelado pelo Vasco, Coutinho já foi vendido à Internazionale, de Milão, por 3,8 milhões, mas terá de esperar até 2010 para defender o clube italiano.’


 


 


Keila Jimenez


Reality busca craque


‘Vem aí mais um reality show de futebol. Trata-se de O Dono da Bola, da E+ Entretenimento, que pretende selecionar, entre jovens de 15 a 17 anos, um novo craque para o time italiano Fiorentina.


O programa, que já está com suas inscrições abertas ( 031 8841-4141 ), terá uma prévia no ar no dia 12, na Rede Brasil. Nela será apresentado o formato, que funciona como uma peneira de jogadores. A cada semana vão sendo eliminados concorrentes até chegar ao ganhador, que firmará um contrato com a Fiorentina.


O júri da atração será composto pela equipe da KMS, empresa brasileira que negocia passe de jogadores no exterior, e por técnicos.


A E+, que segue esta semana para a Itália para gravar com os jogadores e representantes da Fiorentina, negocia o formato com redes abertas. A mais interessada no negócio até agora é a RedeTV!


A produtora pretende estrear o Dono da Bola em novembro, com o término das inscrições. As gravações serão no campo de treinamento da KMS, em Minas. Vale lembrar que tanto na Itália, como aqui, na Band, já houve realities com a proposta de revelar novos craques.’


 


 


LITERATURA
Ubiratan Brasil


A nova velha jogada das editoras


‘No início de setembro, os freqüentadores do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, descobriram uma nova forma de parceria. Uma das três lojas antes ocupadas pela Livraria Cultura foi reaberta, agora com livros de apenas uma editora. ‘A Companhia das Letras por Livraria Cultura, que é o nome do espaço, será um showroom permanente apenas da editora’, comenta Pedro Herz, presidente da Cultura. ‘Creio que é a primeira experiência do gênero no mundo.’


A parceria reforça um segmento do mercado que cresce com velocidade: o de editoras mantendo livrarias com seu próprio nome. Algumas tradicionais, como Saraiva, Vozes, Cortez, seguem seu padrão habitual, enquanto outras, como Martins Fontes, Nobel, passam por pequenas mudanças a fim de ganhar uma personalidade própria. E, engrossando a fila, a Brasiliense, que marcou época no século passado, volta a abrir as portas para o público em dezembro, quando inaugura sua livraria no mesmo prédio que vai abrigar sua diretoria, no bairro de Pinheiros (veja mais detalhes abaixo).


‘O mercado vem se expandindo, mesmo com a comodidade oferecida pela venda de livros pela internet’, acredita Alexandre Martins Fontes, que faz parte do comando tanto da editora que leva o nome da família como de duas livrarias, a principal delas também na Avenida Paulista, em um ambiente acolhedor. Lá, como acontece nas demais, o espaço não é exclusivo do catálogo da editora. ‘Não oferecemos apenas nossos títulos, mas de todos os selos.’


Ao contrário de outras, a Martins Fontes não vende CDs, DVDs ou artigos de papelaria – mantém-se exclusiva para o livro. O propósito, segundo seu diretor, é manter uma grande oferta de títulos. Assim, a loja da Paulista tem, em suas prateleiras, 110 mil volumes, dos quais 90 mil títulos. ‘É um número bem superior, por exemplo, ao da Fnac da Paulista, que tem 30 mil títulos, pois oferece espaço para outros produtos.’ A aposta já rende frutos espetaculares: a livraria deve fechar o ano com um lucro 600% superior ao de 2004.


Aproveitar a força embutida no nome da editora é também o interesse da Nobel que, por trabalhar no sistema de franquias, tem 440 lojas no Brasil em 115 cidades. ‘A vantagem de ter livrarias ligadas à editora é ter um canal de distribuição que coloca seu produto imediatamente no mercado’, comenta Sérgio Benclowicz, diretor da Nobel Franquias. ‘Com isso, é possível fazer também um laboratório de mercado, o que permite investir em produtos já devidamente testados.’


A Nobel tem lojas em locais carentes de livrarias, como Rio Branco, no Acre, e mantém apenas um espaço próprio, em Piracicaba. Lá acontecem os principais testes de mercado, que fornecem relatórios preciosos para o restante da rede. Informações como a queda da venda de CDs e DVDs enquanto produtos de informática têm mais saída.


Como os demais, Benclowicz acompanha curioso a parceria entre a Companhia das Letras e a Livraria Cultura. ‘Foi um negócio de oportunidade, pois tanto a editora expõe seu produto como a livraria evita a vinda de um concorrente’, disse ele. Foi, de fato, um acordo favorável às duas partes. ‘Sempre sonhamos com um espaço próprio, não tínhamos a disponibilidade nem a capacidade para gerir o negócio’, conta Luiz Schwarcz, da Companhia.


Pelo acordo, que dura dois anos (renovável por mais um), a Cultura é responsável pela gestão, fornecendo pessoal e know-how. A editora entra com seu catálogo, do qual hoje 80% está disponível. A união já rende frutos: nos dez dias iniciais de funcionamento, a livraria vendeu acima do previsto. E o negócio já desperta interessados para as duas lojas que Herz ainda dispõe. ‘Por ora, vou esperar’, disse.


EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO


Moradores de Pinheiros já se interessam pela livraria que abre em dezembro, na Rua Mourato Coelho. ‘Sempre vem alguém perguntando quando começa a funcionar’, comenta Yolanda da Silva Prado, que comanda a editora Brasiliense fundada por seu pai, Caio Prado Júnior (1907-1990), e o escritor Monteiro Lobato, em 1943. Berço de idéias, a editora sempre foi referência entre os estudiosos, alimentando gerações de intelectuais. Depois de uma difícil fase econômica, a editora busca agora a reestruturação. E um dos planos está no retorno da livraria. ‘Teremos quatro salas especiais’, conta a diretora Cleide Almeida. ‘Uma delas vai se chamar Primeiros Passos, em homenagem a uma das principais coleções lançadas pela editora nos anos 1980. Haverá também um espaço para eventos, chamada de Caio Prado e que vai abrigar alguns móveis dele.’ Lembranças do glorioso passado, aliás, estarão presentes como diversas referências a Lobato, que chegou a morar no prédio onde funcionava a antiga livraria, no Centro. E a expectativa não está apenas nos moradores do bairro: alguns escritores já pensam em voltar para a editora.’


 


 


Andrei Netto, Paris


Na França, prática já aparece no século 19, com Baudelaire


‘A relação entre a edição de livros e seu comércio em livrarias da própria marca se confunde, literalmente, na França. Mais do que uma estratégia de marketing, a venda direta ao público por editores é um capítulo da história da literatura no país. As primeiras edições de Fleurs du Mal (Flores do Mal), o clássico de Charles Baudelaire, foram impressas e vendidas na loja de Auguste Poulet-Malassis, livreiro e editor célebre na Paris do século 19. Hoje, as mais premiadas ‘maisons d?édition’, como Gallimard, Flammarion e Seuil, mantêm a tradição.


Além de Poulet-Malassis, Adrienne Monnier e sua Maison des Amis des Livres, André-Charles Cailleau, Charles-Joseph Panckoucke e Pierre-François Ladvocat marcaram época entre os séculos 18 e 19 ao venderem diretamente para o público, em pequenas lojas do Quartier Latin, os livros que editavam. À época, os editores e livreiros independentes da capital francesa eram obrigados por lei a se concentrar nas imediações da Sorbonne. Por sua quantidade e por seu charme, tornaram-se parte do imaginário de Paris.


No século 20, alguns desses editores se transformaram em empresários relevantes. Gaston Gallimard tornou-se o fundador do atual quinto maior editor francês, com ? 221 milhões em negócios por ano. A marca tem quatro lojas próprias na França, três das quais em Paris. Na Rue de la Convention, uma de suas livrarias parisienses – as demais são Raspail e Place de Clichy -, a Gallimard adota o nome de Le Divan, respeitando a denominação original da loja, incorporada ao grupo em 1957. ‘Nossas lojas próprias não são apenas uma estratégia de marketing recente, mas uma forma de sedimentar cada vez mais a força da empresa’, explica Maryvonne Bermond, do Serviço de Marketing da companhia.


A estratégia não visa a eliminar a concorrência. Na Le Divan, são vendidos livros da editora Gallimard – o editor mais indicado para o Prêmio Goncourt 2008 – e das demais marcas do grupo, mas também de concorrentes. ‘Não deixamos de oferecer livros de outras editoras. Não é o nosso objetivo sermos exclusivistas’, explica Maryvonne.


Editar livros e vendê-los diretamente ao público também é a conduta de outras multinacionais do setor na França. A editora criada por Ernest Flammarion, o editor de Émile Zola, é hoje a quarta maior do país, com ? 238 milhões em negócios. Nem por isso deixa de oferecer ao seu público as obras das nove marcas do grupo em uma discreta livraria do quarto distrito de Paris.


Uma loja também é o que dispõe a mais jovem das grandes, a Édition Seuil. Suas vendas são feitas na Rue Jacob, no quinto distrito, há três anos. ‘Com a livraria própria, ganhamos em visibilidade para nossos produtos e em exposição da marca’, confirma Nicolas Perrot, diretor da loja. Outra vantagem é tornar-se referência para o leitor. ‘Não temos tudo o que editamos, mas as chances são maiores de encontrar um livro Seuil aqui do que em qualquer das demais livrarias.’


A exceção à regra é a Hachette Livre. Maior editor da França, com ? 2 bilhões em negócios por ano, a filial do grupo Lagardère detém marcas fortes. Dentre elas, estão Grasset – criada pelo editor e livreiro Bernard Grasset no início do século 20 – e Fayard, duas editoras sempre presentes nas listas de melhores livros do ano. A opção do grupo, no entanto, é se concentrar na publicação, diz uma porta-voz da empresa: ‘Não é nosso métier abrir livrarias, nem nosso projeto estratégico investir na venda direta ao público.’’


 


 


CRÔNICA
Ubiratan Brasil


Amanhã, a vez da dona da história


‘Arquiteta de formação, Adriana Falcão jamais deixou sua marca em alguma estrutura sólida, preferindo assinar trabalhos etéreos mas especiais – enquanto os colegas exerciam a profissão conforme a regra, projetando e edificando o espaço habitado pelos homens, ela se notabilizou por construções imaginárias, que ocupam e estimulam a mente. Escritora e roteirista, Adriana assinou projetos para o cinema, literatura, teatro e televisão. Em todos, um toque especial: o cuidado com as relações humanas. ‘Sempre me interessei pelo convívio entre as pessoas’, conta.


É o que leitor poderá notar a partir de amanhã, quando Adriana Falcão iniciar um revezamento com Marcelo Rubens Paiva na crônica da última página do Caderno 2 de sábado. ‘Não sei falar de política ou economia’, argumenta. ‘Prefiro deixar essa reflexão para o Luis Fernando Verissimo, que a faz com maestria. A atualidade só me interessa quando se aproxima dos sentimentos.’


Basta observar a coluna de estréia, intitulada A Gaveta. Ali, Adriana elege a memória como tema ao propor uma brincadeira sobre onde ficam arquivadas, dentro da mente, as histórias do passado. ‘Todos já fomos surpreendidos por uma lembrança que, de repente, volta fresca, sem nenhum motivo aparente. Onde ela estava guardada? Por que ficam hibernadas? Questões como essas motivaram o texto da coluna.’


As recordações também inspiraram alguns de seus livros. Como A Comédia dos Anjos (Planeta), inspirado no espírito irrequieto da mãe, que freqüentemente participava da vida dos outros. E basta observar a ligeireza na mudança de cenas e a fluidez dos diálogos, A Comédia dos Anjos se assemelha a um divertido roteiro cinematográfico. A comparação não é gratuita – Adriana percorre com desenvoltura por diversas formas narrativas, permitindo que seu texto tenha flexibilidade para alimentar o cinema, o teatro, a televisão ou mesmo a literatura.


Romper com a fronteira que separa vivos e mortos, presente e passado, aliás, incentiva seu trabalho. Afinal, ela colaborou no roteiro do filme A Dona da História, de Daniel Filho, inspirado em sua própria peça teatral, sobre uma mulher que volta ao passado e reencontra a si mesma.


Se não se apega a notícias pesadas, a escritora, porém, é fascinada pelas novas tecnologias. Foi graças à internet, por exemplo, que ela escreveu o livro PS Beijei (Salamandra), junto de Mariana Verissimo, filha de Luis Fernando Verissimo. O livro conta a história de Bia e Lili, duas amigas que, durante as férias escolares, se comunicam por mensagens eletrônicas com uma única finalidade: beijar os meninos.


O mundo virtual, no entanto, é amplo demais, segundo Adriana. Ela não se interessa por blogs, que possibilitam a qualquer um criar sua própria coleção de escritos. ‘Acho saudável que muita gente se interesse em se ?exibir?, mas ainda temos de cuidar dos limites, que nem sempre são visíveis.’


Ela se recorda de um fato desagradável. Certo dia, curiosa para descobrir quantas vezes foi mencionada na rede mundial, Adriana jogou seu nome em um site de pesquisa. Entre as inúmeras manifestações, uma chamou sua atenção. ‘Era de uma garota que tinha lido um dos meus livros e não gostou. Mas suas palavras eram tão agressivas que passei mal durante uma semana’, relembra. ‘Era um rancor injustificável.’


Enquanto busca assuntos para suas crônicas, Adriana ocupa o resto do tempo com muito trabalho. Além de pertencer à equipe de roteiristas do seriado A Grande Família, da Rede Globo, ela prepara o novo livro, que deverá ser editado pela Objetiva no próximo ano. Engana-se quem acredita que tanta tarefa é produzida com facilidade. ‘Sou muito insegura’, confessa. ‘Passo dias preocupada apenas com uma vírgula.’’


 


 


 


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