Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Editora norueguesa na contramão da crise

Enquanto empresas jornalísticas de todo o mundo lamentam a perda de leitores e anunciantes, uma editora norueguesa inova nas versões online de seus jornais, atraindo muitos leitores e ganhando bastante dinheiro. A Schibsted, com sede em Oslo, disponibiliza na página de seu tablóide Verdens Gang (ou VG) notícias financeiras com link para uma outra publicação sua, o jornal econômico online E24.

Estratégias como esta têm dado certo: os lucros da Schibsted subiram 28% no quarto trimestre de 2006 e estima-se que as operações online gerem cerca de 20% dos lucros da empresa este ano – muitas outras grandes publishers lutam pesado para conseguir atingir a meta de 10%. Para 2008, espera-se que a divisão online se torne responsável por 60% dos lucros da empresa.

O sucesso da Schibsted na rede é tão notório que Bharat N. Anand, professor da Harvard Business School, está escrevendo um estudo sobre o caso da empresa. ‘Há certamente algo de muito especial lá’, opina. ‘Não há dúvidas de que eles fizeram a transição para o meio online muito antes das outras empresas jornalísticas e, portanto, estão em uma melhor posição’.

Razões para o sucesso

A Schibsted começou a investir fortemente em novas plataformas de mídia em 1995 e continuou a fazê-lo até mesmo no período do auge da bolha da internet, entre 2000 e 2001 – quando diversos empresários foram à falência e muitas editoras deixaram de investir na rede. Nos últimos anos, a companhia norueguesa vem expandindo seu mercado para a vizinha Suécia e para países como França e Espanha, lançando jornais gratuitos com o nome de 20 Minutes e adquirindo classificados online. Para Kjell Aamot, executivo-chefe da Schibsted, a empresa reconheceu há mais de uma década que ‘ser uma publisher tradicional de jornais na Noruega não seria sustentável com o passar do tempo’.

Conforme analisa Tor Jakob Ramsoy, consultor da McKinsey, o segredo do sucesso da publisher norueguesa é reconhecer que o consumidor é o rei. ‘Se é um novo canal, eles vão experimentar e deixar o mercado decidir’, opina. Além do perfil empreendedor da editora, o mercado norueguês também apresenta algumas vantagens em relação a outros, nos quais o cenário midiático é mais diversificado e competitivo. A Noruega tem o maior índice de leitura de jornais do mundo, segundo a Associação Mundial de Jornais, fazendo com que as publicações sejam marcas fortes para os consumidores online. ‘É melhor ser um peixe grande em um pequeno lago que um pequeno peixe em um lago enorme’, compara Dag Sletmo, analista da Kaupthing.

Espaço valorizado

Gigantes como o Yahoo! e o Google dominam a maioria dos mercados, mas o sítio do VG é o mais popular da Noruega, atraindo mais de dois milhões de visitantes únicos por semana. Além dele, quatro outros sítios da Schibsted estão na lista dos 20 mais acessados. Por dominar muito do tráfego online, a publisher consegue atrair uma grande quantidade de anunciantes. Colocar um banner durante 24 horas no sítio do VG, por exemplo, custa cerca de US$ 34 mil, mais do que um anúncio colorido de primeira página no jornal impresso. Até junho, todos os espaços de banners no VG online já estão vendidos. Para competir com o Google, a Schibsted também lançou seu próprio mecanismo de busca, o Sesam.

Diante de tanto sucesso, a grande questão, indaga Anand, é saber se ‘isto pode ser repetido [por outras empresas], ou é algo que necessita de 10 anos de investimento?’, ou ainda, ‘até onde o fenômeno pode ser expandido além da Escandinávia?’. Informações de Eric Pfanner [The New York Times, 19/2/07].