Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A lição da cobertura pré-guerra

A cobertura que questiona se o governo iraniano estaria fornecendo apoio e armas às milícias xiitas no Iraque serviu como um teste importante para o New York Times, devido aos artigos publicados no pré-guerra, de credibilidade questionável, sobre as supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein, escreve o ombudsman do jornal, Byron Calame, em sua coluna de domingo [25/2/07]. Por isso, não foi surpresa que diversos leitores que acreditavam que o diário estava servindo de novo como porta-voz da Casa Branca reclamassem das matérias.

Calame decidiu revisar os artigos sobre o caso ao longo do último mês, focando em dois aspectos-chave da redação que afetam a cobertura sobre temas como segurança nacional e serviços de inteligência: o grau de ceticismo, devido à falta dele em relação aos artigos pré-guerra; e o nível de cautela na edição refletido nas matérias.

O NYTimes mencionou, no começo de 2005, a suspeita do Exército dos EUA de que algumas bombas sofisticadas encontradas no Iraque estavam vindo do Irã. No fim de 2006, estas bombas estavam matando um número maior de americanos, o que levou os militares no Iraque a entrar em ação. O problema se agravou este ano, depois que o presidente americano, George W. Bush, autorizou incursões a instalações iranianas no Iraque, em uma tentativa de confirmar e impedir o suposto envio destas armas. Quando o embaixador iraniano no Iraque pediu que o governo explicasse estas buscas, a administração Bush prometeu fazê-lo em breve. No dia 10/2, foi publicada no NYTimes uma matéria de primeira página escrita por Michael Gordon. O texto afirmava que o serviço de inteligência americano havia chegado ao consenso de que o Irã estava fornecendo as bombas.

Situações semelhantes, cautelas diferentes

A situação assemelha-se ao período pré-guerra, quando o NYTimes publicou que o Iraque tinha armas de destruição em massa. Como elas não foram encontradas, o diário reconheceu publicamente que sua cobertura havia sido ‘de qualidade insuficiente e que deixou de contestar os fatos’. Após este episódio, o editor-executivo Bill Keller alega que o nível de ceticismo dos repórteres tornou-se maior.

Em artigo no dia 12/2, isto pôde ser observado, com divulgação de dados concretos, como número de série das bombas, a fim de confirmar as acusações dos serviços de inteligência. Em nenhum momento, entretanto, o texto afirmava categoricamente que o Irã fornecia as armas ao Iraque.

A cobertura de assuntos de segurança nacional exige que os editores lidem com fontes anônimas, mas que assegurem que elas estejam em posição de saber de modo claro e imparcial o que estão informando. O requisito mais importante para fontes anônimas do NYTimes – que o editor saiba as suas identidades – foi seguido por Michael Gordon. Como ele foi um dos autores das matérias pré-guerra, ele é até hoje alvo de críticas.

De maneira geral, o ombudsman concluiu que a cobertura do caso tem sido equilibrada e que reflete os níveis saudáveis de ceticismo e cuidado editorial. Segundo ele, os artigos mostram que é possível ter uma cobertura não totalmente comandada por vazamentos de serviços de inteligência.