ISTOÉ
Comunique-se
Editora Três: greve e negociações abertas, 2/03/07
‘Se intensificou na sexta-feira (02/03) a crise da Editora Três após o inicio formal da greve dos jornalistas e a mobilização dos setores de telemarketing e administrativo, que devem entrar em greve na segunda-feira (05/03). Paralelamente, as negociações sobre a venda da empresa seguem em aberto, com Daniel Dantas e seu Opportunity como o nome mais cotado para adquirir a Três, mesmo após a entrada da Record, de Edir Macedo, nas negociações.
Os jornalistas estão paralisados desde o dia 27/02, quando a empresa falhou em cumprir o prazo para o pagamento das duas parcelas do salário de fevereiro, que seguem atrasadas. IstoÉ Gente, que tem o fechamento no começo da semana, já estava quase pronta quando a paralisação começou, mas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro foram produzidas com um número muito reduzido de profissionais. Apesar disso, as revistas desta semana devem ir para as bancas normalmente.
As especulações acerca da compra da editora por Dantas ganharam força no final da semana e a Folha Online publicou, em matéria assinada por Guilherme de Barros, que 51% das ações da editora já foram vendidas para o dono do Opportunity. Fontes internas na Três julgaram a informação precipitada e, oficialmente, nenhuma das empresas envolvidas nas negociações se posicionou de qualquer forma.
Enquanto isso, os jornalistas em greve preparam ações para aprofundar a mobilização, como a criação de um blog para noticiar passo a passo a trajetória da greve e a convocação de um carro de som, que deve estar na porta da editora na manhã de segunda-feira. ‘O sentimento geral entre os jornalistas é que não interessa quem comprou ou vai comprar: a gente só volta a trabalhar quando receber’, afirmou um profissional.
Uma assembléia está marcada para as 11h da próxima segunda-feira (05/03), prazo para o pagamento da primeira parcela do salário de março. Os profissionais deverão se concentrar fora do prédio da empresa e estudam tentar bloquear a entrada da editora.
Buscando dar satisfações ao seu público pela crise interna que vai, inevitavelmente, ser refletida no conteúdo das revistas, os profissionais da Três divulgaram na tarde desta sexta (02/03) o manifesto que segue abaixo.
À sociedade
Em busca de salários e obrigações trabalhistas não cumpridas pela Editora Três – empresa que publica as revistas IstoÉ, IstoÉ Dinheiro, Dinheiro Rural, IstoÉ Gente, Planeta, Motor Show e Menu;
A favor da finalização das negociações que envolvem o controle da companhia;
E por informações objetivas que apontem uma solução para as muitas questões trabalhistas pendentes,
Comunicamos respeitosamente ao público que nós, profissionais da Editora Três, resolvemos entrar em greve – amparada em lei e registrada na Delegacia Regional do Trabalho – a partir desta data.
São Paulo, 2 de março de 2007.
Funcionários da Editora Três’
INTERNET
Descompliquem a web!, 1/03/07
‘Uma das minhas principais missões como consultor é esclarecer dúvidas sobre o mercado, em especial sobre novidades. E como minha área é comunicação digital, não faltam conceitos novos para apresentar, idéias a expor que possam acrescentar alguma melhoria (de fato) a um projeto e – acredite – muitos termos esquisitos para explicar.
Como a web deixou de ser, há anos, um reduto de nerds e acadêmicos, e hoje é uma mídia de longo alcance, era de se esperar que o assunto ‘internet’ se tornaria praticamente auto-explicativo. Que nada. O que deveria ser um ambiente em que tanto seu filho pequeno quanto sua mãe poderiam entender e acompanhar sem problemas, virou puro sânscrito.
Quando eu aponto este ‘nó’ de comunicação na web, não me refiro ao simples ato de navegar pela Rede, mas sim em compreender sua evolução. Por isso, grifei o verbo acompanhar no parágrafo acima – navegar é fácil, difícil é não se perder em um mar de novidades e ‘sopa de letrinhas’.
Comece pelo mais fácil: faça uma retrospectiva dos dois últimos anos e verá que a web já mudou, e muito: do Orkut ao You Tube, do jornalismo colaborativo à música digital. Fossem transformações que afetassem apenas o mercado de tecnologia, ou seja, o funcionamento da web – e não o seu uso -, sem problema.
Não é assim que a banda toca, contudo. A Rede caminha a passos largos e juntos precisamos entender o que há de novo para não perder o bonde da Comunicação. Isso vale para você, como profissional, mas para seu filho e sua mãe, também.
Não é difícil explicar para uma criança de nove anos o que é uma rede de relacionamentos como o Orkut – isso se ele não já souber – ou mostrar à sua mãe como assistir o vídeo da apresentação de capoeira do neto no You Tube ou baixar músicas via internet. São aulas que não vão durar mais que alguns minutos.
Agora, quando a mídia começa a falar em ‘Web 2.0’, ‘Web 3.0’ e assim por diante, o cano entope, e o pobre receptor da informação engasga. É como sua mãe fosse tomada de um súbito acesso de tosse ou seu filho engasgasse com uma bala. ‘Web o quê???’
Como eu entendo do riscado e, portanto, tenho autoridade para tocar na ferida, conclamo tevê, jornais e revistas a facilitar a vida dos reles mortais. Meu filho não precisa saber o que é ‘Web 3.0’, mas o que está por trás deste conceito. É como ele aprende na escola – o importante é entender, não ‘decorar’.
Sua mãe também não precisa esbarrar com termos como ‘Web Semântica’ nas revistas semanais. Ela precisa é saber que, dentre em pouco, vai encontrar muito mais fácil o que procura na Rede, e que ela pode colaborar ‘catalogando’ o que põe na internet – e só.
Desde 1997, quando a web ‘explodiu’ e tomou conta do mundo, uma penca de profissionais – que inclui o colunista que vos escreve -, especialistas em Comunicação Digital, ou até mesmo quem divulga e traduz este universo para o público em geral, têm sido perfeitos em não misturar o acadêmico, o comercial e o público.
Parece, infelizmente, que esta fase acabou. Badalar termos como ‘Web 3.0’ é vender – o que deveria ser feito apenas para empresas – um conceito – do tipo bem acadêmico – para o meu filho, a sua mãe e quem você puder imaginar, que terá toda a razão de achar que é tudo sânscrito, inatingível e até mesmo incômodo. Em suma, são assuntos para ‘olhar’, nunca para ‘usar’.
Deixem os usuários da web respirar, gente. É a velha história de que o que vale é o conteúdo, não a embalagem. Valorizem o sabor do suco, e não o processo de fabricação – isso é detalhe, é o que vem depois, e só para quem se interessar.
Sabe por que estou encabeçando esta campanha? O tempo que eu gasto ceifando as interrogações que afogam meus clientes e os mostrando que não é preciso ter medo (ou pior, desprezo) pelo o que é novo na web, eu poderia estar trabalhando para melhorar a comunicação das empresas na internet.
Junte-se a nós, os que querem simplificar a Rede! E não demore, porque falta muito pouco para alguém batizar algo de ‘Web 4.0’ e a novela recomeçar – aposta quanto?
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No dia 13 inicio mais uma edição de meu curso ‘Webwriting e Arquitetura da Informação’ no Rio de Janeiro. Para mais informações, basta ligar para 0xx 21 2102-3200 ou enviar um e-mail para extensao@facha.edu.br.
Até semana que vem!
(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’
Comunique-se
BBC começa a divulgar conteúdo pelo Youtube, 2/03/07
‘Foi anunciada na sexta-feira (02/03) um acordo entre o YouTube e a BBC para veiculação oficial de conteúdo da TV inglesa no site de vídeos. A partir da data, os internautas terão acesso diario a 30 clipes de notícias sobre o mundo, além dos conteúdos de programas de espetáculos, algumas de suas séries, e dos documentários apresentados pelo naturalista David Attenborough.
Mark Thompson, diretor geral da BBC, disse em comunicado que o YouTube é uma ‘entrada-chave’ para novos espectadores e o acordo ‘é uma fantástica notícia para o público’. No mesmo comunicado, o executivo-chefe do YouTube, Eric Schmidt, expressou sua satisfação por poder oferecer aos usuários ‘a melhor programação televisiva disponível’.
Necessidade, estratégia e audiência
Mario Cavalcanti, editor do site Jornalistas da Web, acredita que essa ação tem dois atributos: necessidade e estratégia. ‘Necessidade, por estarmos falando de uma linha que já é padrão entre os veículos tradicionais, a de apostar em conteúdo audiovisual e partir para um campo promissor que se abriu no meio online. E estratégia pelo fato de ter escolhido o YouTube como parceiro, o primeiro grande portal de vídeos e sem dúvida um campeão de audiência’, declara.
Em outubro do ano passado, o Google adquiriu o YouTube pelo valor de US$ 1,65 bilhão. Desde então, a empresa tem fechado acordos com diversos órgãos da mídia para divulgação de seus conteúdos.
A diretora de redação da revista Info Exame, Sandra Carvalho, lembra que o sucesso do YouTube vem da interatividade e que jornalistas precisam se adaptar à essa realidade. ‘Espero em primeiro lugar que isso faça ‘cair a ficha’ dos jornalistas em geral de que acabou o tempo em que a gente produzia o conteúdo de um lado só e as pessoas consumiam. [Essa nova tendência] modifica nossa atuação, pois não temos mais a última palavra. Temos de compartilhar informação. É um desafio novo e estimulante’, afirma.
(*) Com informações da Agência EFE.’
LÍNGUA & JORNALISMO
Chinglish e outras provas olímpicas, 2/03/07
‘Os chineses estão empenhados em uma prova coletiva de proporções olímpicas. Como preparativo para a recepção a milhões de visitantes estrangeiros, tanto a prefeitura como o comércio e todos os outros interessados em agradar os visitantes vêm colocando, ao lado de todas as informações originais em chinês, as respectivas traduções em inglês,
E, de repente, o célebre dito italiano – ‘traduttori, traditori’ – exibe toda a sua triste verdade: Pequim está coberta por expressões incompreensíveis, já apelidadas de ‘chinglish’, ou seja, algo que nem é mais chinês nem chega a ser inglês.
A internet pode oferecer mil exemplos a quem se interessar pelo tema, mas eu gostaria de recordar a campanha francesa para evitar letreiros,anúncios, embalagens etc, com o uso de palavras inglesas, mesmo quando o idioma francês oferece equivalentes perfeitos.
É claro que hamburger, chip, shopping center, lamé e outras palavras já foram incorporados ao português. Mas diet, light e outras do gênero são inteiramente prejudiciais, até porque ninguém sabe exatamente o que significam, mesmo diabéticos como eu, que têm de ler cuidadosamente letrinhas em corpo 2 ou 3 para saber exatamente o que um refrigerante ou um doce contêm.
E a crescente presença de erros de português em jornais, revistas e anúncios, como enfrentar o problema? Certa vez a Prefeitura carioca tentou fazer uma campanha para corrigir outdoors, cartazes em supermercados etc. Mas não conseguiu superar a indiferença (quando não hostilidade) de agências de publicidade e gerentes de lojas.
O Globo e alguns jornais menores já fazem autocrítica diária de seus erros gramaticais e ortográficos. Extra Rio, publica uma lista das 12 ou 14 palavras mais ‘difíceis’ publicadas em cada edição, explicando os respectivos significados. Várias escolas usam essa lista como material para aula.
São bons exemplos de como a imprensa pode ajudar para um melhor conhecimento de nossa língua e nossa cultura.
(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’
JORNAL DA IMPRENÇA
TV por açinatura, 1/03/07
‘Esta língua é meu coração,
na tortura, na paixão
e no sal amargo da purificação.
(José Nêumanne in A Seara de Saramago)
TV por açinatura
Alforriada da NET, hoje refém da TVA, a considerada Lilian Strutzel Assunção, jornalista em São Paulo, assistia a mais um programa estrangeiro quando a legenda traduziu assim a fala de uma entrevistada:
(…) eu nunca havia me engravidado sozinha.
‘Isso seria uma aberração da natureza! Acredito que a entrevistada queria dizer que nunca antes estivera na condição de mãe solteira’, protestou Lilian, já exausta de ver tanta besteira em forma de legenda nos programas e filmes exibidos na televisão paga.
Então ela juntou os exemplos colhidos nas últimas semanas e os despachou para a ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura) e o SETA (Sindicato das Empresas Operadoras de TV por Assinatura). Aguarda resposta que não deve vir por carta e muito menos pelo móbil, que é como os ‘tradutores’ chamam o telefone celular.
Convido o considerado leitor a visitar o Blogstraquis e conhecer a, digamos, coletânea que Lilian enviou àqueles órgãos sambiônticos, ou melhor, simbióticos.
Muito cuidado!
O considerado Ernesto Vieira Santos, de Salvador, enviou embalagem de supositórios para hemorróidas, na qual estava escrita esta crucial advertência, em Arial, corpo 14, negrito e caixa alta: NÃO ENGOLIR!
Janistraquis, que quando a coisa aperta se vale de erva-de-bicho, um santo remédio, comentou, com inevitável ironia:
‘Ainda bem que supositório não contém glúten!’
O Chão de Graciliano
Livro desses que pesam nas mãos, como a barra de ouro puro, e enchem os olhos como um florido muçambê do sertão, eis O Chão de Graciliano, produzido pelos considerados Audálio Dantas e Tiago Santana. Texto de um, fotos do outro, embora a parceria seja tão afinada que até inspira o redator a escrever que os dois fazem letra e música.
A obra, que a dupla de artistas compôs e lançará hoje à noite, a partir das 18h30, na paulistana Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena), tem versão em inglês e espanhol e é o resultado de inúmeras viagens ao sertão de Alagoas e Pernambuco, a partir de 2002; no ano seguinte, Audálio e Tiago montaram no Sesc Pompéia, em São Paulo, a mais importante exposição até hoje realizada sobre o escritor: O Chão de Graciliano, transformada em livro que recebeu apoio da Lei Rouanet e patrocínio da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF, mais Petrobras Transporte S.A – Transpetro.
Visite o Blogstraquis e conheça os caminhos percorridos pelos autores da exposição que virou livro.
Fascismo?!?!?!
O considerado Gilson Caroni Filho, professor de sociologia da Facha, enxerga um dedo de fascismo no clamor das ruas por maior severidade nas leis penais. Parece que não o comove a tese segundo a qual a pobreza pode levar ao ilícito, sim, porém somente a psicopatia conduz à barbárie, ao crime hediondo. E este, é claro, merece toda a severidade possível numa democracia.
Leia aqui o artigo no qual o Mestre Caroni expõe as razões de sua beneficência, artigo publicado três dias antes de mais uma derrota do Vasco, time da massa, para o Flamengo, time do povo. Como explicou outro Mestre também rubronegro, Marcos de Castro, numa das primeiras edições da revista Realidade, povo é todo mundo; massa reúne apenas a pobreza, a ralé, a escumalha e quantos sinônimos mais existam para definir uma torcida miseravelmente apaixonada.
José Nêumanne
Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo excerto encima esta coluna; são versos de um menestrel cujo verbo nasceu no sertão paraibano e se conjuga nos salões daqui e d’além.
Ô, Agência Senado…
O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Minas Gerais, incluindo-se a Zona Contestada, despacha de Belo Horizonte:
Deu na Agência Senado de ontem, 27. Antecipo meus pêsames ao redator por estender para trás.
‘(…) Heráclito informou que irá atender pedido do senador Sibá Machado (PT-AC) para estender o período das investigações da CPI até 1998 ou 1994. Inicialmente, a CPI iria investigar fatos ocorridos de 2003 em diante.’
Janistraquis se lembrou logo do premiado romance do nosso considerado Deonísio da Silva, intitulado Avante, soldados: para trás!
Mais luz!
O considerado Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna no DF, de cujo varandão debruçado para a traição política vê-se a tropa de choque defronte ao Palácio do Planalto, disposta a impedir a passagem de Marta Suplicy, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando deparou com a seguinte legenda sob foto da matéria intitulada Risco de acidente em quadra:
Na 104 Sul, usuários se revezam diariamente para varrer, trancar e apagar holofotes da quadra de esportes: última reforma em 2004.
Roldão iluminou-se:
O termo holofote está mal empregado. O holofote emite um facho de luz concentrado à distância. Holofotes são usados para localizar aviões e orientar a artilharia anti-aérea. Já as quadras esportivas e estádios empregam refletores que espalham a luz para iluminar uma área ampla.
Que nem o papa
Perguntava a matéria do alemão Der Spiegel, traduzida e exibida pelo UOL:
Quem quer ser padre nos dias de hoje?
A Igreja Católica Apostólica Romana está ficando sem candidatos a padre. Quem quer ser padre nos dias de hoje e nesta era? Uma visita ao Seminário Saint Georgen, em Frankfurt (…)
Janistraquis, que desde o falecidíssimo ano de 1950 não entra numa igreja pra rezar, deu gostosa risadinha e comentou:
‘Aaaaah, considerado, a barra anda pesada e os seminários estão formando cada vez mais padres analfabetos, como se fossem adevogados e gornalistas (jornalistas com G); na televisão, já escutei jovens vigários a dizer ‘nóis vai’ e ‘a gente podemos’. Ora, se não sabem nada de português, avalie o que não sabem de latim…’
Ponderei que o Der Spiegel se referia não aos padres brasileiros, mas aos lá de seu país e que estes pelo menos falam alemão, que nem o papa!’
Renatão Pompeu
A considerada Angela Ziroldo envia convite para o lançamento de O Mundo Como Obra de Arte Criada pelo Brasil, romance-ensaio de Renato Pompeu, este que é um dos melhores jornalistas do Brasil e escritor como pouquíssimos.
Renatão aguardará os fãs às 18h30 de terça-feira, 6 de março, na Livraria da Vila, rua Fradique Coutinho 915, entre as ruas Aspicuelta e Inácio Pereira da Rocha, na Vila Madalena, a mesma que hoje abrigará o chão de Graciliano, como está acima enunciado.
Nota dez
O estandarte da mais saudável controvérsia foi empunhado pelo considerado Leandro Narloch, cujo artigo na Folha de S. Paulo, intitulado A Beija-Flor mente sobre a África, deixou muito sambista com os cabelos em pé de guerra.
Homenagear a África está na moda. Louvar reis africanos, como provou a Beija-Flor neste Carnaval, rende graves notas 10 na Quarta-Feira de Cinzas. Mesmo que, para isso, seja preciso mudar a história, calar os historiadores e contar velhas mentiras politicamente corretas sobre a escravidão.
Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que deixou cuícas e tamborins a engabrichar impropérios.
Errei, sim!
‘RÉDEAS SOLTAS – Titulaço do Agrofolha, que é o suplemento agrícola da Folha de S. Paulo: Rédeas revela a destreza do cavalo de raça. Janistraquis adorou: ‘Considerado, isto sim é um título cavalar!’. Concordo.’ (fevereiro de 1992)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).
(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’
MERCADO EDITORIAL
Boas e más notícias, 28/02/07
‘Tenho ouvido falar – e eu próprio tenho de certo modo acompanhado como observador essa tendência – que o mercado editorial vive um momento de tranquilidade e até registrando aqui e ali algum crescimento. Nada que se possa comparar à explosão do período da bolha da internet, mas um quadro que eu classificaria de regular para bom.
Temos aí alguns lançamentos, como o da revista Época Negócios, da Editora Globo, previsto para os próximos dias; o crescimento da circulação dos jornais em 2006 em cerca de 6,5%; contratações realizadas para ampliação de equipes em várias redações; agências de comunicação fechando novos e promissores contratos etc.
Como nem tudo são flores nesse caminho, temos também alguns espinhos. Um deles e, aliás, o que mais preocupa, atualmente, é a situação da Editora Três, que, entre uma e outra negociação para sua venda, não consegue manter os salários em dia, levando aflição e constrangimento para seus funcionários, que já nem sabem mais o que fazer para reverter a situação. Se ficar o bicho come e se correr o bicho pega, entre entrar em greve e ver a situação da empresa se agravar ainda mais ou trabalhar, mesmo sem receber, eles têm buscado à exaustão um meio termo. E esse meio termo foi aprovar a decretação de estado de greve, dando à empresa um prazo de 48 horas para apresentar uma proposta diferente da que foi submetida e rejeitada em assembléia ontem, terça-feira (27/2). A empresa, por seu diretor-geral Domingo Alzugaray, informou que só poderia se comprometer a pagar esses atrasados quando recebesse o dinheiro da venda de seu controle, o que está previsto, segundo ele, entre os dias 12 e 31 de março.
Há meses que se ouvem rumores das negociações que Alzugaray estaria fazendo com alguns grupos empresariais para a venda da sua Editora Três, entre eles o de Nelson Tanure e de Daniel Dantas. Sem chegar a um acordo e com a situação se agravando, percebe-se claramente que os protagonistas desta negociação fazem um verdadeiro jogo de pôquer. Alzugaray blefa valendo-se das várias negociações para extrair dos eventuais candidatos o máximo possível que seu patrimônio pode render. Seus interlocutores, ao contrário, vendo o circo pegar fogo, certamente esperam comprar a empresa por um preço módico, valendo-se da crise para pressionar Alzugaray certamente até o limite da exaustão. Quem tem pressa, afinal, é Alzugaray que está emparedado seja pelos credores, seja pelos empregados, que a qualquer momento, numa situação de desespero, podem paralisar as atividades, gerando prejuízos inimagináveis para a empresa, para as negociações e para seus próprios empregos.
Nessa briga entre o rochedo e o mar, só que tem a perder são os empregados que, fragilizados, começam a enfrentar problemas para pagar as contas e mesmo para garantir a sobrevivência. Já vimos esse filme antes, várias e várias vezes. E nem faz muito tempo. Ou as pessoas já esqueceram o que aconteceu com o glorioso Jornal do Brasil e com a poderosa Gazeta Mercantil, para ficar em apenas dois exemplos, ambos indo parar nas mãos de Nelson Tanure, na Companhia Brasileira de Mídia – CBM.
As negociações, de todo modo, prosseguem e toda a torcida é para que cheguem a bom termo e que com isso voltem a ganhar musculatura e prestígio publicações como IstoÉ, Dinheiro, Gente, entre outras.
Saindo da Lapa de Baixo (bairro onde fica a sede da Editora Três) e chegando a Salvador, na Bahia, num rápido vôo da imaginação, vamos encontrar uma situação bem diferente, ao menos num dos diários baianos, o Correio da Bahia. O jornal pagou às vésperas do Carnaval o 14º salário para seus funcionários, como participação nos lucros da empresa, fazendo com que a alegria na festa do Rei Momo fosse infinitamente maior. Foi sem dúvida um fato inusitado e auspicioso, que os baianos esperam ver repetido nas demais empresas de comunicação do Estado. Sonhar, afinal, não custa nada.
Essa boa notícia, aliás, já havia sido dada na semana anterior à equipe do Diário do Comércio, aí já de volta a São Paulo, pelo presidente da Associação Comercial, Guilherme Afif Domingos, que vem a ser também Secretário do Trabalho do Governo Serra, no Estado de São Paulo. Afif informou que o DC pagaria 1,4 salário para cada funcionário a título de 14º, repetindo feito de 2006 e 2005. Com isso as 121 pessoas que trabalham no jornal puseram no bolso um total de R$ 508 mil.
Pouco? Pode ser, mas se há jornais dispostos a pagar bônus para seus empregados é porque a situação econômica que vivem é boa. E a do mercado em geral, afinal, não deve ser tão ruim assim.
Querem mais um exemplo? Um mega exemplo?
A Editora Abril, que vem de um crítico período de endividamento, regularizado em 2006 graças a uma importante renegociação com os bancos, à venda de parte de seu controle acionário para um grupo editorial sul-africano e à venda da TVA para o Grupo Telefônica, anunciou para seus funcionários, ainda em janeiro, que anteciparia para fevereiro o pagamento relativo à participação nos lucros da empresa. Normalmente, esse pagamento seria feito só em maio ou junho.
A empresa, vale ressaltar, paga a seus diretores de Redação e redatores-chefes um bônus proporcional ao resultado das publicações que dirigem. Uma parte desse resultado é medida pelas metas de negócio de cada título. Outra tem a ver com itens que estão mais diretamente sob controle dos dirigentes de Redação, como o controle das despesas de borderô editorial, a folha de pagamento e, principalmente, a venda em bancas e de assinaturas. A Abril entende que, de alguma forma, a venda de suas revistas reflete a satisfação dos leitores com a qualidade editorial. Por isso, é usada como item de desempenho de seus executivos, que também são avaliados por metas de natureza mais editorial, como a reformulação de uma seção ou projeto gráfico, o lançamento de um novo título e o treinamento e o desenvolvimento dos jornalistas sobre suas responsabilidades. Os demais jornalistas da Abril, que não recebem bonificação, também participam dos lucros da empresa na forma de um programa chamado Super Ação. Nesse caso, o que conta é o resultado geral da empresa, também com pagamento em fevereiro.
Temos aí, como se vê, situações diametralmente opostas, mas o placar geral, ao menos neste artigo, é de 3×1 para as boas notícias. Oxalá essa tendência se consolide e venhamos a ter uma goleada num curto espaço de tempo.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
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José Paulo Lanyi
O outdoor do prefeito, 27/02/07
‘Recebo, dia desses, a foto de um outdoor da região do ABCD paulista em que se pode ler: ‘Cidade-Escola, a marca de Dib’. Seria mais uma entre tantas ações de divulgação oficial. O problema é que não se trata de publicidade ‘direta’ da prefeitura de São Bernardo do Campo, administrada por William Dib, mas de propaganda do Diário do Grande ABC, um dos maiores e mais importantes do Brasil no segmento regional. No painel se vê a capa de uma das edições recentes do jornal. A manchete, que bem poderia servir como título de um release, destaca-se aos olhos do público. Ao lado, o slogan da publicação: ‘Sob medida para o Grande ABC’.
Veja aqui a foto do outdoor.
No e-mail que recebi, minha fonte se mostra inconformada. Ela sabe que um jornal de tradição não pode e não deve fazer o que fez.
Parece mesmo uma operação casada, uma ação de ‘cross-media’: a manchete propagandística no próprio jornal e, depois, a mesma manchete nos outdoors da região.
Vamos a algumas considerações.
Em primeiro lugar, penso que se deva assumir em editorial as posições ‘político-ideológico-empresariais’. É um mal necessário. Disfarçar é pior. Aqui vai mais uma má notícia para os neófitos: todos os veículos têm os seus interesses comerciais, e, descontadas as exceções, são estes que regem todos os demais, como os políticos e ideológicos.
Em segundo lugar, liberdade de imprensa é a liberdade do patrão, já dizia Claudio Abramo, com irretocável realismo. Todo jornalista vai deparar, mais dia, menos dia, com as determinações e os limites impostos pela empresa. Essa também não é uma boa notícia.
O que fazer, então? Suicidar-se? Tornar-se monge no Tibete? Empastelar a redação e curtir a cadeia dos mártires? Não há necessidade. Basta fazer o que sempre fazemos na vida: batalhar por espaço no cotidiano. Conversar, debater, discutir, demarcar os nossos limites. Nessa equação do atrito, contra nós podem pesar a inflexibilidade e a subserviência de determinados chefes. Mas temos a nosso favor a persistência, a coragem, o talento, uma série de qualidades que por vezes fazem o outro pólo recuar dessas propostas absurdas que acabam comprometendo todos os funcionários, sejam do departamento comercial, sejam da redação (incluindo o jornalista que deu a ordem de redigir essa ou aquela matéria), sejam de outros setores.
Infelizmente poucos se dispõem a impor limites. Esses são tidos como chatos ou radicais. São estranhos no ninho. Gente que ou sobrevive ali com habilidade, em meio às divergências, ou se obriga a cuidar da vida em outro lugar.
Quanto às empresas, fazer caixa a curto prazo à custa da credibilidade do grupo pode até pagar as contas atuais, mas hipoteca o futuro, com implicações que se apresentam com mais celeridade do que se pensa.
É ingênuo pensar que ninguém está vendo. Sobretudo porque todo mundo vê a propaganda. E muitos também a enxergam.
(*) Jornalista, escritor, crítico, dramaturgo, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
Para bem escrever, não basta o talento, 2/03/07
‘O XIS DA QUESTÃO – A narração jornalística de hoje, em especial a feita pelos jornais diários, aceita preguiçosamente as preponderâncias propostas pelas fontes organizadas. Renuncia-se ao exercício da escolha inteligente da perspectiva narrativa, que permitiria ter critérios próprios para chegar ao que é mais importante. E porque renunciam ao exercício inteligente da criatividade, jornais e jornalistas se repetem entre si, no formato final dos textos.
1. O xadrez das idéias
Com prévios pedidos de desculpa pela cansativa extensão que o texto desta semana certamente terá, espero que o tema escolhido interesse aos jovens ingressantes nas faculdades de jornalismo, para os quais continuo a escrever esta semana. E uso a provocação da pergunta para entrar no assunto: – Como aprender a escrever bem? – isto é, com clareza e cada vez melhor. Há fórmulas e métodos de bem escrever jornalismo? Ou isso é coisa que não se ensina nem se aprende? – como diriam os que pregam por aí que basta ter talento.
A cultura jornalística produziu algumas receitas. E por falar em receitas da cultura jornalística, vem-me à lembrança o meu primeiro chefe de reportagem, no Diário Ilustrado, vespertino de Lisboa, lá pelos idos de 1958. Chamava-se Alfredo Alpedrinha, o bom Alpedrinha, que já se foi. Na competência jornalística, Alpedrinha cuidava particularmente bem do ‘arroz com feijão’, a rotina do dia-a-dia. E adorava a síntese, que exercitava nas ‘notícias em três linhas’, habilidade em que ninguém o batia. Pois Alpedrinha, como tantos outros chefes de reportagem e de redação, gostava de ensinar aos mais novos: ‘Comece sempre pelo que é mais importante’.
Mas nunca me ensinou como se decide o que é mais importante numa notícia. Nem eu lhe perguntei. Talvez por falta da pergunta, faltava a resposta. Como resposta faltou para outra pergunta que também não fiz, nem se faz por aí, nas redações controladas por manuais e livros de estilo – esta: ‘E por que o mais importante tem de estar no início da notícia?’
Não consigo nem arrisco imaginar como Alpedrinha teria respondido às perguntas que não lhe fiz. Mas nessas perguntas estão, sem dúvida, questões centrais da arte de escrever com clareza. Ou, se preferirem, na arte de pensar.
Faltou arte, por exemplo, no pedaço de mau texto que a seguir transcrevo, redigido por um figurão bastante solicitado para fazer análises políticas, e publicado em importante jornal diário. Os nomes não vêm ao caso, nem o do jornal nem o do autor. Mas, para fins pedagógicos, guardo desde setembro de 2000 o recorte do artigo, que se propunha a fazer uma análise sobre supostos equívocos da ação política do governo russo, ante situações de crise que à época teve de enfrentar. Assim lá está escrito:
‘O comportamento dos comandos perante a tragédia do Kursk, circunstância em que o almirantado mentiu e mostrou ignorar os valores humanos, demonstra que a agonia do império é muito lenta na cadeia do comando, que a idéia persiste além dos fatos e que os riscos desta sobrevivência podem desenvolver-se em mais de uma oportunidade: o desastre no Afeganistão não impediu a teimosia na Chechênia e nesta vão sendo desmentidos cada dia os progressos anunciados pela nova presidência, também paralisada perante o desastre naval e a angústia das famílias atingidas’.
Acontece com esse trecho o mesmo problema também encontrado com certa facilidade por aí, em editoriais e artigos de certos jornais, e até mesmo em reportagens tecnicamente mal cuidadas: a gente lê, e não consegue memorizar com nitidez uma só idéia ou informação. Relê, e continua a acontecer a mesma coisa. Sob o ponto de vista gramatical, talvez esteja tudo certo, impecável. Mas a verdade é que, na relação com esse texto, só lá terceira ou quarta releitura se consegue decifrar o enigma.
E isso por quê? Por alguns motivos. O principal é o de não haver, no longo período-parágrafo de 89 palavras, uma idéia ou informação que aflore claramente como a mais importante, impondo lógica, clareza e fluência articuladora às idéias – estivesse a sentença mais importante no início, no meio ou no fim do parágrafo. Outro problema, derivado do anterior, é a mistura nivelada de uma quantidade abusiva se idéias independentes, concorrentes entre si.
Se o autor do texto houvesse seguido a velha receita da Seleções (não escrever períodos com mais de 27 ou 28 palavras), teria facilitado a sua própria tarefa e a vida dos leitores. Períodos curtos – sábia norma, que funciona, se bem posta em prática. Dificilmente alguém conseguirá misturar idéias em períodos tão curtos…
2. Aprendendo com Hemingway
Não me lembro onde li a frase, mas guardo-a inteira na memória: ‘Um bom livro começa com uma frase forte, verdadeira’. O autor não explicou o que entendia por frase verdadeira. Mas, lendo suas obras, jamais tive dúvidas de que uma frase verdadeira é, na essência, uma frase rigorosamente precisa.
Exemplos? Olhem este:
‘O velho chama-se Santiago. Dia após dia, tripulando sua pequena canoa, ia pescar no Gulf Stream. Mas, nos últimos oitenta e quatro dias não apanhara um só peixe’.
A frase puxa o fio da meada de um livro histórico, O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. E é de Hemingway, também, a frase citada, sobre como começar um bom livro.
Ernest Hemingway levou do jornalismo para a literatura a precisão com que esculpe a clareza, em sua arte de descrever, para narrar. Ei-lo, no exercício da arte: ‘A casa ficava na parte mais elevada da estreita faixa de terra entre o porto e o mar aberto. Tinha resistido a três furacões e era sólida como um navio’.
Talvez por causa dos ensinamentos de Hemingway, acredito que está no rigor da precisão o caminho mais curto e eficaz para o jornalismo se aproximar da verdade, e se relacionar com ela – precisão nos dados e detalhes de função descritiva; precisão no relato dos fatos e das falas; precisão na escolha de verbos, substantivos e adjetivos.
Da precisão resultará a clareza, sem a qual não há comunicação bem sucedida.
Mais no jornalismo do que em outros campos da linguagem escrita, a clareza vai além da questão do estilo e do talento individual de quem escreve. Jornalismo é texto de consumo rápido, imediato. Além disso, carrega consigo as complexidades e subjetividades de um processo interlocutório amplo e complicado. Uma notícia, mais ainda uma reportagem, é produto da interveniência interessada de múltiplos sujeitos, alguns deles partícipes dos fatos, outros, intérpretes dos fatos. Nos próprios limites das redações, vários jornalistas atuam no percurso da notícia – nem sempre harmoniosamente. A questão da clareza está, pois, condicionada pela complicação das interações, ao longo do processo.
Na interlocução, pela escrita como pela fala, temos de levar em conta uma limitação de raiz biológica: nenhum de nós, seres humanos, consegue decodificar mais de uma idéia ou sentença por vez. Por isso, quando falamos uns com os outros, evitamos naturalmente os períodos longos, tendentes à mistura de idéias. E rejeitamos apostos com estrutura de frase, que fragmentam as idéias principais.
Nas relações do dia-a-dia, a sabedoria da vida nos capacita para a necessidade vital de sermos compreendidos. Já quando redigimos, talvez até por termos interlocutores ocultos, freqüentemente caímos na tentação de escrever para nós próprios.
Não funciona.
3. A arte das relevâncias
Mas não basta apresentar uma idéia por vez. É preciso que as idéias tenham relação lógica entre si – e isso só acontecerá se, no conjunto das sentenças articuladas, uma adquirir relevância preponderante, para funcionar como eixo articulador do texto.
Na dimensão do parágrafo, a gramática chama de ‘tópico frasal’ a idéia ou a informação de maior relevância. E em torno do tópico frasal, a partir dele ou em sua função, se faz a articulação das sentenças secundárias.
Era ao tópico frasal que os velhos chefes de redação, Alpedrinha entre eles, se referiam quando profetizavam, como verdade evangélica, que ‘uma notícia começa pelo que é mais importante’.
Tinham razão. É mais fácil escrever, e com maior clareza, com o tópico frasal no início do parágrafo. Porém, quando claramente definido e perceptível, o tópico frasal determina, inevitavelmente, o sentido e a ordenação do texto, esteja ele no começo, no meio ou no fim do parágrafo. Só que esses deslocamentos da idéia ou informação principal exige habilidades literárias que nem todos têm.
***
Ao tratar destas questões, continuo a pensar nos jovens que agora entram nas universidades, atrás do sonho de serem jornalistas. E lhes digo, com a convicção que os cabelos brancos me permitem: escolher o mais importante, e o que, em relação ao mais importante, deve cumprir papel de informação ou idéia secundária, é um fascinante exercício de criatividade. Exercício do qual resultam as peculiaridades de cada texto.
Diante de um mesmo fato, sempre é possível usar critérios diferentes para decidir o que tem maior importância. Mas a narração jornalística de hoje, em especial a feita pelos jornais diários, aceita facilmente, preguiçosamente, as preponderâncias propostas pelas fontes organizadas. Renunciam, portanto, ao exercício da escolha inteligente da perspectiva narrativa, que lhes permitiria ter critérios próprios para chegar ao que é mais importante. E porque renunciam ao exercício inteligente da criatividade, jornais e jornalistas se repetem entre si, no formato final dos textos.
Colocadas assim as coisas, temos uma questão a esclarecer: – Como fazer escolhas? Como decidir o que é mais importante?
E aí está a sarnazinha escolhida para me coçar na próxima semana…
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’
Antonio Brasil
Unesco quer melhorar o ensino de jornalismo, 26/02/07
‘Há muitos anos pesquiso e desenvolvo novas metodologias e tecnologias para o ensino de jornalismo. A crise no setor é grave (ver coluna aqui A crise no ensino de jornalismo, 4/3/2005) e o jornalismo como o conhecemos pode estar morrendo.
Para mudar esse cenário, precisamos falar menos e agir mais. É necessário apresentar soluções concretas para a crise da prática profissional e do ensino de jornalismo.
Há alguns dias fui convidado pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura para participar com mais 15 educadores de um projeto ambicioso que pretende melhorar as precárias condições de ensino de jornalismo nos países em desenvolvimento e nas democracias emergentes.
O objetivo principal do projeto é desenvolver currículos mais apropriados para as realidades desses países e mais antenados com as mudanças tecnológicas e de paradigmas da profissão.
O projeto nasceu de uma demanda de paises membros da UNESCO interessados em estabelecer diretivas comuns para os currículos de suas escolas de jornalismo. Para isso, foi realizada uma reunião em dezembro de 2005 em Paris com professores de jornalismo que decidiram estabelecer uma comissão de trabalho para elaborar e aprovar conteúdos programáticos mais detalhados, apropriados e específicos.
As principais disciplinas pesquisadas foram os Fundamentos do jornalismo em suas diversas vertentes, jornalismo online multimídia, novas técnicas de reportagem, escrita e pesquisa, jornalismo investigativo, ética profissional e telejornalismo.
Antimanual
No campo específico do jornalismo de TV, a crise é ainda mais grave e os problemas a serem enfrentados incluem quebras de paradigmas e o fim de teorias absurdas. Seguem alguns exemplos retirados do nosso Antimanual de Jornalismo e Comunicação a ser publicado em breve pela Editora SENAC-SP.
1. O telespectador está satisfeito e não merece nada melhor.
2. Em TV e, principalmente, em telejornalismo, nada muda e nada se cria. Tudo se copia.
3. Não é possível ‘experimentação’ em telejornais. E no fim, não vai dar certo mesmo.
4. A teoria do desajustamento. ‘Trabalho ou ensino telejornalismo. Mas odeio TV, telejornais e ainda mais, os telespectadores’.
5. Teorias de descontrução. ‘Sou contra as inovações.Não crio, não faço nada e não deixo ninguém fazer’.
6. Teorias importadas. É sempre mais fácil e cômodo ensinar ou reciclar teorias de outros países e ignorar os desafios da prática jornalística.
7. Teorias conspiratórias. O jornalismo e a TV são responsáveis por todos os males do mundo. O telejornalismo manipula e desinforma. Não deveriam existir.
8. Teoria do saudosismo. A TV e os telejornais do passado eram muito melhores. Defesa de uma cultura ilusória, de um passado que jamais existiu. Para eles, o presente e o futuro serão sempre piores.
9. Os neo-luditas. As mudanças, as novas tecnologias e principalmente as novas promessas são sempre perigosas e vão nos decepcionar.
10. Teoria da ignorância. ‘Não vi, não conheço e não gosto’.
Ensino de Jornalismo e videogames
Em outra perspectiva, nos EUA, educadores estão desenvolvendo novas ferramentas de ensino. Não adianta culpar os alunos de hoje pela falta de motivação e competência. É preciso ajustar a didática aos novos tempos. Para isso, já estão sendo desenvolvidos videogames ou simuladores digitais específicos para o ensino de jornalismo. Precisamos de soluções criativas para os nossos problemas comuns. Dos simuladores de vôo partimos para os simuladores de reportagem. Os equipamentos dos laboratórios das universidades, assim como aviões de companhias aéreas são caros e escassos. A simulação digital não elimina o ensino da prática profissional. Mas evita desperdiçar tempo e recursos com alunos despreparados e que foram iludidos pelas promessas do jornalismo-espetáculo.
Bem sabemos que aqui no Brasil, a grande maioria dos cursos de jornalismo ainda vive a realidade de um jornalismo do século XIX.
Os alunos de jornalismo – que não são bobos – logo percebem as deficiências dos cursos e o descaso de alguns professores – afinal, dar aulas não passa de um bico temporário – e se dedicam de corpo e alma aos seus estágios profissionais. Muitos deles são ilegais, não passam de exploração de mão de obra quase infantil e dificilmente são supervisionados por professores. Mas costumam ser muito melhores e úteis para os alunos do que a maioria das aulas ministradas em quatro anos de muitas bobagens e redundâncias.
Goiânia e Cingapura 2007
O projeto da Unesco pretende mudar essa realidade. Os currículos das escolas de jornalismo, principalmente nos países do terceiro mundo estão defasados e precisam se profissionalizar. Ademais, deveriam ser avaliados pela comunidade acadêmica e pelos profissionais que atuam no mercado. O isolamento na torre de marfim das universidades gera distorções graves. O jornalismo, mais do que nunca, é uma profissão dinâmica que enfrenta grandes mudanças e desafios para sua sobrevivência.
Enquanto isso, aqui no Brasil, os cursos de comunicação com habilitação em jornalismo em instituições públicas também precisam atualizar seus currículos, e mais do que tudo, precisam deixar de ser cabide de empregos para os amigos e companheiros do partido da hora. Em muitas instituições privadas, esses cursos não passam de arapucas, verdadeiros casos de polícia, que exploram a boa-fé de tantos alunos e de suas famílias.
Após a conclusão dos trabalhos, a Unesco pretende divulgar seus programas e recomendações para as escolas de jornalismo de todo o mundo durante o Primeiro Encontro Mundial de Professores de Jornalismo a ser realizado em Cingapura em junho de 2007.
Enquanto isso, os educadores brasileiros vão se encontrar no Fórum Nacional de Professores de jornalismo, que acontece de 27 a 30 de abril em Goiânia. O tema principal do encontro não poderia ser mais apropriado: Os 60 anos do ensino de jornalismo. O FNPJ reúne professores de jornalismo que buscam debater a qualificação do ensino, da pesquisa e da extensão no âmbito dos cursos.
Iniciativas como essa da Unesco, encontros nacionais e internacionais também são fundamentais para encontrarmos soluções para os nossos problemas. Assim como despertamos para a necessidade de lutar pela sobrevivência do planeta também devemos salvar e melhorar o jornalismo. Não há mais tempo a perder. Mas essas soluções requerem investimentos em informação e participação. O jornalismo do século XXI precisa ser mais competente, educado e menos arrogante.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’
COMUNIQUE-SE
Boa notícia para jornalistas precisa de revisão, 2/03/07
‘O Comunique-se não interpretou os dados que tinha em mãos. A reportagem ‘Circulação de jornais aumentou em 2006’ deixa dúvidas.
Um leitor pondera: ‘O crescimento foi provocado principalmente pelos jornais populares, mas [a matéria] esqueceu de apontar que os jornais tradicionais, os chamados jornalões, têm apresentado queda de circulação’. Exatamente. Uma análise profunda poderá, no futuro, frustrar outros leitores, que postaram comentários comemorando a informação.
Entidades ouvidas na reportagem, como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), têm interesse na propagação desse tipo de notícia. É fundamental ler os números com olhos críticos. Uma reportagem que demonstrasse maior intimidade com os dados apresentados permitiria uma interpretação mais realista.
IstoÉ
A Folha Online noticiou, na sexta-feira (02/03), que Daniel Dantas comprou 51% da Editora Três. No mesmo dia, o Comunique-se optou por destacar, em sua manchete, a greve dos jornalistas da empresa. Por precaução, o Portal noticiou, mas não confirmou, a informação dada pela Folha Online.
Neste caso, fica claro que somente o tempo irá mostrar qual dos dois veículos conta com a informação precisa. Pelo histórico de reportagens, é patente que ambos possuem fontes dentro da Editora Três, o que torna saudável (para o leitor) a corrida pela informação.
Mix indigesto
O Comunique-se fez uma salada ao decidir colocar na mesma matéria a não-renovação dos vistos de três jornalistas estrangeiros em Cuba e a crítica de Hugo Chávez ao jornal O Globo. Ao ler o título ‘Cuba não renova vistos e Chávez critica O Globo’, um leitor ironizou: ‘Se os dois países têm regimes semelhantes, então sou parecidíssimo com o Tom Cruise’. Concordo com ele. Não havia nenhuma conexão entre os dois episódios. O certo seria produzir duas reportagens distintas. Teria informado melhor.
Também não contribuiu o fato de a reportagem não explicar que o repórter do site G1, que foi questionado por Chávez, estava em solo venezuelano quando dialogou com o polêmico governante. Nas aspas de Chávez, aparece: ‘Você é bem-vindo aqui…’. Aqui onde? A matéria nem sequer informa em qual cidade venezuelana estava o repórter brasileiro.
Versões
O site Rondoniagora, de Porto Velho, noticiou que o jornalista Paulo Andreoli foi agredido nas dependências da Câmara de Veradores da cidade. Já o Comunique-se informou que Andreoli foi apenas barrado, e explicou o caso.
A informação do Comunique-se me parece a correta, embora fatos como esse dêem margem a descrições diferentes. O próprio leitor pode comparar as duas matérias (do Portal e do Rondoniagora) e tirar as suas conclusões.
De toda forma, houve um descuido por parte do repórter do Comunique-se. No primeiro parágrafo, afirma: ‘O combustível foi adquirido através de um esquema de compra feito por vereadores…’. O certo seria: ‘um suposto esquema’.
Ontem x hoje
Informações que vêm de agências noticiosas têm de ser revisadas. A matéria ‘Cinegrafista de canal de TV morre em naufrágio do navio indonésio ‘Lavina I’ começa assim: ‘Jacarta, 25 fev (EFE) – Um cinegrafista indonésio…’. No mesmo parágrafo: ‘… a embarcação naufragou hoje de maneira inesperada’. Acontece que a matéria foi veiculada no Comunique-se dia 26/02. Ou seja, o hoje foi ontem.
Cabeça
A matéria que noticiou a morte de Ula Weiss traz a idade da jornalista no título, mas não no texto. Mesmo considerando que o leitor tenha absorvido tal informação, o lide é falho.
Gol
Na reportagem ‘Emerson Leão acusa imprensa de complô’, o Comunique-se cumpriu, e bem, o seu papel. Entrou nos bastidores e conseguiu enxergar, sob a ótica dos jornalistas, a polêmica noticiada por vários veículos de comunicação.
(*) Cassio Politi é jornalista. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net, e no site UOL News, do Portal UOL. Ministra cursos de extensão sobre Jornalismo On-Line e Videorreportagem desde 2001. Deu aulas em 25 estados brasileiros para mais de 2 mil jornalistas. Em janeiro de 2007, tornou-se o primeiro ombudsman do Comunique-se, empresa na qual também ocupa o cargo de diretor de Cursos e Seminários.’
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