Lewis Libby, ex-chefe de gabinete do vice-presidente americano, Dick Cheney, foi condenado por mentir a agentes do FBI e a membros do grande júri que investigavam o vazamento da identidade secreta da agente da CIA Valerie Plame. O veredicto do julgamento foi apresentado na terça-feira (6/3), em Washington. Libby foi considerado culpado por itens presentes em quatro das cinco acusações a que respondia: obstrução à justiça, falso testemunho e perjúrio. O júri, que não se comoveu com as alegações de ‘lapsos de memória’ usadas pelo réu, o absolveu da acusação de prestar declarações falsas ao FBI.
Houve 10 dias de deliberação do júri até a manhã de terça-feira, quando o veredicto foi entregue ao juiz federal Reggie B. Walton. Teoricamente, Libby, de 56 anos, pode vir a enfrentar mais de duas décadas de prisão, mas, como réu primário, deve conseguir uma pena mais branda. Após ouvir o veredicto, o ex-funcionário governamental foi levado para ser fotografado e ter suas digitais tiradas como condenado. Ele continuará em liberdade até a apresentação da sentença, marcada para o início de junho.
Constrangimento para Bush
O principal advogado de Libby, Theodore Wells, afirmou que pediria um novo julgamento e, caso seja negado, irá apelar do veredicto. Já o promotor Patrick Fitzgerald, responsável pela investigação do caso Valerie Plame, afirmou que fez tudo que um ‘promotor responsável’ deveria fazer. ‘Qualquer mentira sob juramento é grave’, completou.
Ainda que haja apelação ou a condenação seja futuramente anulada pelo perdão presidencial, o momento é de tragédia pessoal para Libby, analisa artigo do New York Times. O desfecho do julgamento também é embaraçoso para o governo Bush, cuja estratégia na guerra do Iraque torna-se cada vez menos popular entre os americanos.
Vazamento e investigação
O caso teve início em 2003, quando o colunista sindicalizado Robert Novak divulgou a identidade da agente da CIA Valerie Plame, mulher do ex-embaixador Joseph Wilson. Uma semana antes, Wilson havia publicado um artigo no New York Times onde questionava a afirmação do governo de que o Iraque havia tentado comprar urânio enriquecido do Níger – ele havia estado no país no ano anterior para investigar a alegação. A suposta existência de armas de destruição em massa em posse de Saddam Hussein foi a principal justificativa para que Washington determinasse a invasão ao Iraque.
O vazamento da identidade de Valerie foi visto por analistas como uma represália às críticas de seu marido ao governo e poderia ser considerado crime, já que se tratava de informação confidencial. A investigação para descobrir o responsável pelo vazamento foi conturbada e levantou sérias questões sobre sigilo de fontes jornalísticas nos EUA. Diversos profissionais de imprensa foram obrigados a depor perante o grande júri e a então repórter do NYTimes Judith Miller chegou a passar 85 dias na cadeia por se recusar a revelar sua fonte à justiça.
O paradoxo do caso é que ninguém foi acusado criminalmente do vazamento em si. O então subsecretário de Estado Richard Armitage teria confessado às autoridades que seria ele a fonte primária da coluna de Robert Novak. O principal estrategista político de Bush, Karl Rove, teria confirmado alguns detalhes sobre a identidade da agente para o colunista. Ainda assim, Libby foi o único indiciado.
Inconsistências
Fitzgerald alega que Libby mentiu repetidamente na tentativa de dificultar a investigação sobre o caso. Já seu advogado diz que qualquer inconsistência apresentada nos depoimentos do cliente não passou de inocentes lapsos de memória de um homem muito ocupado.
Enquanto Libby afirma que soube da identidade de Valerie Plame por um jornalista, depois de 10 de julho de 2003, o promotor mantém a alegação de que ele tomou conhecimento da informação bem antes, e por meio de funcionários do governo. Fitzgerald também acusa Libby de contar a repórteres sobre Valerie na tentativa de desacreditar seu marido.
Enquanto a acusação levou ao tribunal o testemunho de repórteres que afirmavam que Libby teria contado a eles sobre Valerie antes de 10 de julho de 2003, a defesa tirou vantagem da falta de precisão dos jornalistas quando sua memória e suas anotações eram postas à prova. Informações de David Stout e Neil A. Lewis [The New York Times, 6/3/07].