A imprensa finalmente produziu um trabalho sobre a Amazônia capaz de esclarecer o leitor sobre a necessidade de políticas eficientes, integradas e de longo prazo para a preservação da floresta, do cerrado e do patrimônio que guardam.
A reportagem em questão explica a importância de preservar as imensas extensões florestais do Brasil: elas absorvem uma quantidade impressionante de carbono, e sua derrubada representa 20% das emissões mundiais de gases nocivos. Na ponta do lápis, interromper o desmatamento poderia ser a melhor maneira de cortar as emissões de gases que produzem o aquecimento global.
Seria uma solução mais rápida, mais eficiente e mais duradoura do que as outras medidas que estão em progressão lenta, como a substituição das fontes de energia e de combustíveis, que vão levar anos e custar bilhões.
O texto citado aborda ainda as melhores políticas para assegurar a preservação do patrimônio florestal da Amazônia, resumidas em duas frentes: estabelecer claramente os direitos de propriedade na região, com as devidas responsabilidades, e remunerar os proprietários por preservar as árvores.
Se essas políticas podem funcionar em algum país, esse país é o Brasil, que possui 60% das florestas tropicais do planeta.
Leitura útil
A reportagem entra também na importância estratégica que tem a preservação da floresta para o Brasil, no momento em que se lança como candidato a protagonista no cenário global: a devastação causa tremendo dano à reputação do país que é o pioneiro em fontes renováveis de combustíveis e, principalmente, a destruição da floresta ameaça alterar o sistema climático que viabiliza o Brasil como um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas.
Essa reportagem está disponível para o público.
Ela esclarece que 40% do território amazônico no Brasil é ocupado por reservas indígenas e parques nacionais, áreas legalmente protegidas mas permanentemente ameaçadas por causa da falta de regularização fundiária e pelo avanço da pecuária e outras atividades predatórias.
A reportagem em questão entra ainda na análise da Medida Provisória 458, aprovada com alterações pelo Congresso Nacional e que pretende legalizar a propriedade privada das terras na Amazônia.
É leitura muito útil para entender a questão amazônica. Pena que não esteja disponível na grande imprensa nacional. Essa reportagem está publicada na presente edição da revista britânica The Economist (ver aqui e aqui, em inglês).
Amazônia aos pedaços
A imprensa brasileira ainda trata a Amazônia no varejo, pontualmente. Quando produz uma edição especial, é quase sempre sobre as belezas naturais, quase como guias de turismo cheias de ufanismo, com belas fotografias, sobre um patrimônio que corre sério risco de desaparecer. Raramente se pode ver, na imprensa nacional, uma reportagem ambiciosa como a da Economist desta semana.
Na edição de terça-feira (16/6), por exemplo, o Estado de S.Paulo traz a análise de um estudo apontanto a importância das unidades de conservação para impedir a crescente transformação da floresta em savanas. O estudo foi publicado originalmente numa revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
O Globo publicou no domingo (14/6) estudo do Instituto Imazon demonstrando que apenas 14% dos crimes ambientais foram punidos na Justiça, no período de 1997 a 2006. Mais recentemente, observa o jornal carioca, a legislação se tornou mais rigorosa, reduzindo prazos para recursos e criando a possibilidade de apreensão e leilão de gado e madeira de origem ilegal.
Na terça-feira (16), o Globo informa que o ministro do Meio Ambiente está pedindo ao Supremo Tribunal Federal a criação de varas especializadas para o julgamento de crimes ambientais. Nos últimos dias, a imprensa nacional também noticiou que o Conselho Monetário Nacional cortou o crédito de quem pratica crimes ambientais e citou o caso das empresas que vendem carne originária de fazendas ilegais da Amazônia. No entanto, nenhum desses temas teve uma sequência ou mereceu uma edição mais ambiciosa.
Os jornais e revistas brasileiros evitam tratar a questão amazônica de maneira abrangente, como fez a britânica The Economist. Talvez porque isso implique colocar em discussão o papel do agronegócio na destruição da floresta.
O agronegócio é grande anunciante e importante aliado político no sistema de poder que a imprensa representa. Ou talvez seja apenas falta de visão.