Como responsável pela Comunicação Social de uma empresa de serviços públicos com mais de 1.200 funcionários e quase 50.000 clientes, não estaria fazendo meu trabalho se não refletisse sobre a polêmica criação do blog da Petrobras, o Fatos e Dados.
Primeiro, é preciso explicar o conceito de blog. A idéia de manter um diário (de anotações, de bordo) ou livro de pensatas (pessoais, culturais ou profissionais) disponível em tempo real na rede mundial de computadores era impensável apenas alguns anos atrás.
É uma idéia revolucionária e cada vez mais adotada porque coloca o autor como fonte direta de informações, sem a intermediação dos meios de comunicação tradicionais (jornais, revistas, rádios, TV e os próprios sites noticiosos).
O blog da Petrobras funciona como um registro das solicitações dos repórteres à Assessoria de Imprensa da empresa. A justificativa por trás da iniciativa, mais ou menos explícita, é mostrar diretamente à sociedade, em detalhes, a resposta dada, para evitar distorções ou omissões de jornalistas supostamente mal intencionados. (Na prática, acredito, será uma ferramenta de metalinguagem, lida apenas por outros jornalistas.)
Uma ‘lógica’ irracional
Daí surgiu toda a revolta e polêmica. O equívoco da Petrobras (e, sim, a empresa está errada neste aspecto!) é seu timing; é publicar as respostas antes de os jornais publicarem as matérias. Pesquise no Google o termo ‘blog da Petrobras’ e veja a imensa polêmica causada pela iniciativa.
Mas o que não se percebeu ainda é que o blog não é uma declaração de guerra aos jornais (sejam eles éticos ou antiéticos com a empresa no tratamento da informação recebida). O blog é, de fato, uma iniciativa de gerenciamento de crise, a tentativa da Petrobras de interromper a ‘lógica do furo‘, tão nefasta para órgãos públicos e empresas, em um período de CPI no Congresso.
Apesar de não ser ilegal e de não fazer a menor diferença para a imensa maioria da sociedade, a iniciativa é antiética do ponto de vista do jornalismo (e da relação das empresas de comunicação com as assessorias de imprensa em geral), pois esvazia a grande mola propulsora cotidiana da atividade: a guerra pelo ‘furo’.
Sempre considerei a ‘lógica do furo’ bastante irracional, pois o cidadão comum não lê dois jornais diferentes todos os dias. (Notem que os ‘furos’ ainda são reservados como manchetes da versão impressa e só são publicados nos respectivos sites já de manhã, quando o concorrente não tem mais como correr atrás.) Mas ela existe e é muito cara às redações e aos repórteres que labutam para se destacar na área.
Certo ou errado?
Ora, se não há pedido de informação individual (e, portanto, sigiloso e eticamente embargado aos demais órgãos de imprensa até a publicação da matéria), não há furo. O repórter do jornal concorrente acessa o blog, toma conhecimento da pauta trabalhada pelo colega e faz a mesma matéria, no mesmo dia.
Durante a CPI a ser instalada a qualquer momento, haverá dezenas de pequenos vazamentos de informações, realizados por este ou aquele deputado, da base ou da oposição, sempre querendo comprometer ou limpar a barra da Petrobras (e, portanto, do governo federal).
Os repórteres vão de digladiar atrás destes ‘furos’, que serão publicados com estrondo, ‘manchetados’, e depois analisados, repercutidos. O que vem contra (a acusação) é sempre mais interessante, mais ‘quente’. E, como numa guerra, provavelmente a História (sim, só a História pode inocentar um acusado via grande mídia) nem sempre vai comprovar estas acusações.
O objetivo do blog é evitar tudo isto. É contra esta lógica nefasta que nós mesmos, jornalistas, criamos e alimentamos, que o famigerado blog da Petrobrás foi concebido, na cabeça de algum gênio do mal (e da Comunicação) da alta cúpula da semi-estatal. Só a História vai dizer se ele está certo ou errado.
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Jornalista, coordenador da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Nova Odessa, SP