Não consegui entender o motivo de tanta repercussão – com argumentos tão retrógrados e chorões – da ‘grande imprensa’ sobre a publicação no blog Fatos e Dados das íntegras das perguntas enviadas pelos jornalistas e das respostas apresentadas pela Petrobrás.
Quer dizer então que ao jornalismo é dado um direito implícito ao monopólio da exclusividade? Que o ‘furo’ deve ser respeitado… pela fonte? Veja bem: é a fonte quem tem – conceitual e concretamente – a informação, em primeiro lugar (que é pública, no caso da Petrobrás e dos jornais).
De onde poderia ter surgido esse tipo de idéia? De que a fonte não pode divulgar – antes ou depois da reportagem – informações que são dela mesma, por seus próprios meios? Ah, sim! ‘Poder, ela pode… Dever é que não deve. Em respeito ao `bom jornalismo´’. (Uma ‘infração deontológica‘, como disse o mestre Alberto Dines.)
Em relação àqueles que praguejam que isso seria uma ‘censura’, ou uma forma de inibição da imprensa e tentativa de controle da informação e da contextualização dos fatos ao público em geral, sinto-me envergonhado. E, como jornalista, peço perdão ao leitor, que não pode ser tratado como se não soubesse interpretar a realidade por contra própria. (Leia aqui as opiniões dos editores dos principais veículos sobre este caso.)
Exemplo de bom jornalismo
Atacar uma instituição por divulgar as informações solicitadas pela imprensa, mesmo que o faça durante o necessário, saudável e transitório período de sigilo da reportagem, é tratar a informação e o furo como ‘propriedades do jornalismo’. Quantas outras instâncias não cansam de ‘furar’ os jornais? O problema é que, neste caso, a Petrobrás parece ter boa credibilidade entre seu público. E na web, isso conta muito. E essa aceitação acaba de ganhar ainda mais notoriedade com o estardalhaço exagerado da grande mídia, que se sentiu atacada em sua ‘reserva de mercado’.
O que sei, na prática, é que no Brasil ‘bom jornalismo’ é tão raro quanto ‘transparência’. Isso para usar uma gíria atual. Pelo que sei, ser aberta e clara perante a sociedade é obrigação de qualquer instituição, pois está inserida e é legitimada (além de ser ‘tocada’ e levada em suas ‘vias de fato’) pela sociedade.
Este caso só me traz bons exemplos de uma dessas raras qualidades. Cada um que tire suas próprias conclusões. E cada instituição – seja empresa ou imprensa – que se esforce para ganhar e manter sua própria credibilidade e legitimidade.
Exemplo de bom jornalismo é a ótima reportagem, publicada aqui no Observatório da Imprensa: ‘Blog da Petrobras provoca debate sobre jornalismo e acesso à informação‘.
Fogo de palha?
Finalmente, o caso do blog da Petrobrás expôs – antes tarde do que nunca – a fragilidade do jornalismo perante a nova sociedade em rede, amplificada pelas novas tecnologias de informação e comunicação (TICs). A publicidade e o jornalismo tradicionais, enquanto ‘modelos de negócio’, já vinham sendo sepultados em todo o mundo. Agora, o próprio jornalismo brasileiro – em sua forma e essência – terá também de se reinventar para sobreviver neste vasto mundo novo.
Já houve um recuo de ambas as partes envolvidas. Mas eu – como profissional de comunicação organizacional – apóio e aplaudo a iniciativa da Petrobrás. São poucas (e boas) as organizações que podem se dar ao luxo de se dirigir com tanta abertura ao seu público. Na blogosfera, você é cobrado, vigiado, monitorado, criticado e influenciado de formas que nenhuma empresa brasileira nunca antes, na história desse país, experimentou. É o nosso marco contemporâneo no jornalismo – tanto empresarial quanto ‘de massa’.
Resta saber se não é só fogo de palha. Se, passada a sombra da CPI, o blog for extinto, o espernear da mídia será justificado.
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Jornalista, Belo Horizonte, MG