A Rede Globo e a Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) promovem no início de julho, no Rio de Janeiro, um seminário temático para discutir o ensino e pesquisa em telejornalismo no Brasil. Serão apresentados trabalhos de pesquisa de professores de algumas cidades do país, principalmente Porto Alegre (seis) e São Paulo (nove) e palestras com os principais nomes do telejornalismo da emissora carioca.
Na prática das aulas convive-se diariamente com a solicitação de alunos da graduação em Jornalismo, nas disciplinas afins do telejornalismo, para a criação de oficinas e cursos de extensão que preparem jovens formandos para utilizarem técnicas de corpo e voz. Os procedimentos da língua e expressão são revelados no conteúdo programático das disciplinas para a produção dos textos, captação de imagens e edição dos telejornais. A maioria das grades curriculares dos cursos de Jornalismo não contempla disciplinas específicas sobre o conhecimento das técnicas de oratória e retórica, movimentos corporais, comunicação não-verbal, respiração adequada, timbre de voz e inflexão profissional na enunciação do texto.
São comuns os casos de acadêmicos com bom texto, recursos intelectuais para produção de conteúdo, criação de pautas fora do lugar-comum, apuração de notícias, apresentação pessoal e aparência adequadas ao mercado, mas que lutam contra emoções não controladas, ansiedades, vozes quase infantis ou timbres que promovem desconforto e não atendem aos níveis de exigência das emissoras no mercado de trabalho. São percebidos na telinha os repórteres que não dominam tecnicamente a busca pelo envolvimento do telespectador. Ficam pouco tempo no ar. O diferencial do profissional de sucesso pode percorrer também esse caminho.
Constrangimento e falta de sintonia
Se para os alunos as dificuldades de formação performática competente deixam a lacuna para o desempenho com expertise nos estágios, primeiras experiências com câmeras e microfones, a falta de disciplinas específicas pode continuar a gerar novos reféns emocionais. O mesmo acontece com profissionais renomados, que precisam se adaptar às novas tendências libertadoras do modelo engessado e tradicional de emissão da informação via televisão.
A tendência contemporânea de interatividade do noticiário televisivo para fazer frente às novas tecnologias é uma estratégia que busca resgatar ou manter cativo o espectador que abandona o consumo de notícias e confirma o fascínio por outras mídias. Mas a falta de hábito ou intimidade, mesmo dos jornalistas profissionais, com os arranjos do desempenho, ornamentos da palavra das relações combinatórias dos textos de ontem com os de hoje provoca mal estar na tela TV. São visíveis os constrangimentos ou falta de sintonia no ‘ao vivo’ das últimas edições. Foram anos de palavras, gestos, movimentos precisos e sincronizados em segundos e de relação com o sagrado que ganham nova dimensão e perspectiva na produção de conteúdo e credibilidade do informativo.
Cumplicidade com o telespectador
O universo da web e seu efeito tentacular permitem a ousadia e a proposta definitiva da diminuição das distâncias entre as pessoas através da familiarização carnavalesca, efetivada nas relações dialógicas. Assim, telejornalismo se rende ao dialogismo, embora antigos apresentadores de TV e críticos do modelo afirmem que está em cena o modelo ‘improviso lido’ no telepromper – a ‘cola’ dos apresentadores que os transforma em magos das palavras –, no bate-papo com o espectador, com comentários inteligentes, sinceridade da fala, domínio técnico de canais de emissão como voz, mãos, olhares e outros signos da expressão para renovar o sentimento de empatia com o público.
Com as inovações na postura comunicacional, o telejornalismo precisa ampliar a gramática de informação, gestual e verbal, diminuindo a hierarquia entre emissor e receptor. A ruptura dos códigos simbólicos do jornalismo, que tinha no noticiário a principal referência, é a estratégia de sobrevivência e resgate da audiência. Um produto que renova seu ciclo de vida para manter a atenção. A universidade e os produtores de notícias na televisão podem investigar e investir na reflexão sobre novo modelo técnico de atuação frente às câmeras como mais uma competência profissional para buscar a cumplicidade emocional com o telespectador cético, crítico e arredio do século 21. É como dizia o sábio Chacrinha: ‘Quem não se comunica, se trumbica’.
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Jornalista, professor universitário e mestrando em Comunicação e Tecnologia