Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Cinemateca recupera arquivo da TV Tupi


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Segunda -feira, 22 de junho de 2009


 


TELEVISÃO
Lúcia Valentim Rodrigues


Cinemateca recupera arquivo da TV Tupi


‘A Cinemateca Brasileira colocou em seu site (www.cinemateca.gov.br) mais de 3.000 reportagens feitas para a extinta TV Tupi (1950-1980), a primeira emissora do Brasil.


O projeto Resgate do Acervo Audiovisual Jornalístico da TV Tupi, patrocinado pelo Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos do Ministério da Justiça, visa recuperar um total de 400 mil vídeos. A empreitada é grande, já que para cada uma hora de material finalizado são de 20 a 30 horas de trabalho.


São filmagens captadas em 16 mm pela equipe no Brasil e no exterior por agências internacionais. Muitas delas estão sem áudio, porque eram acompanhadas por locuções ao vivo, das quais o único registro é o roteiro datilografado.


Esses scripts também estão sendo microfilmados pelo Arquivo do Estado de São Paulo.


A ideia é, numa segunda fase do projeto, recriar em estúdio locuções mais conhecidas como as do ‘Repórter Esso’.


Além deste, as imagens históricas abrangem conteúdo de vários telejornais da época, como ‘Edição Extra’, ‘Diário de São Paulo’ e ‘Ultranotícias’.


Entre os assuntos cobertos, está o noticiário político, como a queda de Juan Domingo Perón, na Argentina, em 1955, ou a Guerra do Vietnã. Também não faltam temas de variedades e esportivos (veja ao lado).


Para o coordenador de preservação Millard Schisler, ‘há uma urgência’ nesse projeto. ‘Estamos lutando contra o tempo para restaurar um material de fragilidade fenomenal. Já há hoje uma pequena porcentagem que não é mais possível telecinar [transpor de película para vídeo]. Mas é emocionante trazer de volta um minuto que seja de uma história que ninguém mais conhece.’


Para Fábio Kawano, coordenador de catalogação, há uma riqueza nas cenas corriqueiras. ‘É interessante ver como eram retratados casos de roubos ou o trânsito na rua Augusta.’’


 


 


Daniel Castro


Eliana deve assinar hoje com SBT; rede quer Celso Freitas


‘Apresentadora do ‘Tudo É Possível’, na Record, Eliana deverá assinar hoje com o SBT contrato para comandar, nos próximos quatro anos, um programa dominical na TV de Silvio Santos. Se a negociação se confirmar, será o segundo artista que o SBT tira da Record em menos de uma semana, em resposta ao assédio sobre o apresentador Gugu Liberato.


Na noite de sexta-feira, Silvio Santos e sua filha Daniela Beyruti, diretora-geral do SBT, fecharam negociação com Roberto Justus, que apresentava ‘O Aprendiz’, um dos maiores sucessos comerciais da Record.


No SBT, Justus irá comandar um programa semanal, no horário nobre, a partir do final de agosto ou setembro.


Além de Eliana e Justus, Silvio Santos quer outros profissionais da Record. O próximo da lista é o jornalista Celso Freitas, âncora do ‘Jornal da Record’. A uma pessoa próxima, o dono do SBT teria afirmado estar disposto a gastar R$ 15 milhões em multas para tirar artistas da concorrente. Esse é o valor da multa contratual de Gugu, cujo vínculo com o SBT vence em março de 2010.


A contratação de Roberto Justus pelo SBT surpreendeu a cúpula da Record. A emissora soube de toda a negociação, desde seu início, nos primeiros dias da semana passada. Na tarde de sexta, no entanto, seus executivos já davam como certa a perda de Eliana, mas ainda contavam com Justus.


O contrato do publicitário com a Record vence no final deste mês. No sábado, Justus recebeu uma ligação pouco amistosa de um bispo da Igreja Universal, dirigente da Record.


FESTA VIRTUAL Filhas de Silvio Santos, Daniela Beyruti e Patricia Abravanel festejaram a contratação de Roberto Justus. ‘Sim, Roberto Justus é o mais novo membro da família SBT! Estamos muito felizes!’, escreveu Daniela no Twitter. ‘E Ooo Roberto vem aí… lalalala lala lalalalalala rsrsrs :)’, postou Patrícia.


POPOZUDA TORRES A atriz Fernanda Torres grava nesta semana participação especial no ‘Casseta & Planeta, Urgente’. No humorístico, ela interpretará várias personagens para mostrar ‘as parentes desconhecidas de Fernanda Torres que ninguém conhece’, como a figurante ‘Figuranda Torres’ e a prima ‘Fernandinha Cachorruda’, que tenta sucesso nos bailes funk.


CRISE REDONDA


Estourou a primeira crise no emergente jornalismo esportivo da Record, agora comandado por Douglas Tavolaro. Sérgio Hilinsky, ex-Globo, contratado para chefiar o departamento, caiu em desgraça na semana passada, após desentendimentos com Tavolaro. Georgios Theodorakopoulos, homem de confiança do diretor de jornalismo, agora é o novo chefe do setor.


CLONAGEM Glória Perez vai usar o recurso de convidar cantores para participarem de sua atual novela, ‘Caminho das Índias’. No capítulo de amanhã, Alcione aparecerá em show em gafieira, ornamentando trama dos personagens de Tânia Kalil e Dira Paes, entre outros.’


 


 


Audrey Furlaneto


De Édipo a Hamlet


‘Quando tinha 26 anos, Felipe Camargo saía do mar, em Copacabana, e viu cinco garotas vindo em sua direção. ‘É ele! Ahhhh!’, gritavam por ter reconhecido o galã da série ‘Anos Dourados’. Era 1986, e o ator se sentia ‘alvo de fãs como as beatlemaníacas’.


Durou pouco. Menos de dez anos depois, foi-se o título de galã e entrou o de ‘doidão’. Felipe bebia, usava drogas e chegou a quebrar o braço da então mulher, Vera Fischer, numa das célebres brigas do casal que, diz ele, o afastaram da TV.


O ator ficou 17 anos sem interpretar um protagonista na Globo. Seu ‘perdão’ veio com o convite de Fernando Meirelles para ser o personagem principal de ‘Som e Fúria’, série que estreia em 7 de julho (leia mais ao lado).


‘O Felipe foi um achado’, afirma o diretor de ‘Cidade de Deus’ e ‘Ensaio sobre a Cegueira’. ‘Tem o estofo e o talento para protagonizar uma série como esta e, ao mesmo tempo, por ter sido colocado em alguma geladeira que nunca entendi, trouxe também o frescor de um ator que parece que acabamos de conhecer.’


Felipe, 48, conta que já estava ‘desesperado’, há um ano sem papéis (sua última atuação foi em ‘Paixões Proibidas’, novela da Band) e de malas prontas para tentar trabalhar nos Estados Unidos. Agora, além de atuar nos 12 capítulos de ‘Som e Fúria’, assinou contrato de dois anos com a Globo.


‘Eu acho que essa série me coloca no ponto onde eu comecei na Globo. Estreei como protagonista, em ‘Anos Dourados’, tinha 26 anos, fazia teatro há quatro ou cinco anos, e ninguém me conhecia’, diz o ator.


Em ‘Som e Fúria’, ele será Dante, ator de um grupo de teatro que tem um branco em cena, quando interpreta Hamlet, foge e volta sete anos depois, à frente da cia. Sans Argent (sem dinheiro). Ele acaba assumindo a direção do Municipal quando o amigo Oliveira (Pedro Paulo Rangel) sofre um acidente.


‘Dante é o melhor personagem que eu já fiz. É um Hamlet às avessas. Enquanto o Hamlet vai para a morte, ele vai para a vida’, avalia. Felipe se identifica: ‘Eu quis viver, né?’.


Papéis secundários


Há três anos, o ator parou de beber e diz que está ‘legal há bastante tempo’. Mesmo assim, não conseguia nada além de papéis secundários. Para ele, seus problemas tiveram projeção muito grande, inclusive na classe artística.


‘Eu era o primeiro ator da minha idade na Globo. Entrei em ‘Anos Dourados’ como protagonista. Dali, eu fiz todos os trabalhos como protagonista. Estava protagonizando uma novela das oito e conheço a Vera Fischer’, lembra Felipe.


‘Ela fica solteira e, aparentemente, a Vera é do Brasil. Chega um garotão de sucesso e se envolve com essa mulher. Eles têm um caso, um caso não tão calminho [risos], mas tanto é um casamento que há um fruto’, diz ele, que, após oito anos de brigas judiciais com Vera, obteve a guarda definitiva de Gabriel -pai e filho moram juntos desde 1997.


Além da relação com Vera, Felipe diz que ‘gostava de ficar doidão’. ‘Minha geração pegou um rabo dos hippies, da coisa do desbunde das drogas. Se você não era doidão, era o careta. Na zona sul [do Rio] dos anos 70, todo mundo era meio doidão, sabe? Fumava um baseadinho, bebia alguma coisa.’


O ator, que agora só fuma cigarro Bali Hai e corre na praia de manhã, diz que a vida é impiedosa. ‘Tenho sorte de ter tido uma segunda chance’.’


 


 


Lucia Valentim Rodrigues


Meirelles explora conflito de diretores


‘‘Som & Fúria’, série da Globo dirigida por Fernando Meirelles (‘Cidade de Deus’) que vai ao ar a partir do dia 7 de julho, expõe um conflito de diretores. Um tem o luxo de uma montagem no Teatro Municipal, mas com o cansaço dos anos vividos sob a sombra de um único sucesso.


O outro tem liberdade artística, mas falta público e dinheiro para fazer qualquer peça que seja. Cada um, a seu modo, tem inveja do outro.


E, como diz o ditado, a inveja mata. Pedro Paulo Rangel, o estável e veterano diretor artístico que monta pela enésima vez ‘Sonho de uma Noite de Verão’, de William Shakespeare, vai ser a vítima atropelada.


Felipe Camargo, de espírito livre e alma atormentada, vai assumir a direção de uma temporada de clássicos no lugar do amigo, que volta para assombrá-lo e dar conselhos.


Tempos antes, Camargo foi um Hamlet impecável. Mas só por três dias, porque surtou durante um espetáculo e nunca mais voltou para colher os louros do sucesso.


Agora, ele se incumbe de montar ‘Hamlet’ novamente. No papel principal, um astro da novela das sete vivido por um Daniel de Oliveira que convence tanto como um inexperiente ator de TV quanto nos monólogos de Shakespeare -alguém se lembrou de Wagner Moura?


Pouco dinheiro


No teatro, menos dinheiro é sinônimo de mais criatividade, parece ser a mensagem de Meirelles. Mas isso é apenas uma pequena parcela da série, que ganhou um compacto de menos de duas horas de duração. Este filme vai ser usado para divulgar a série em festivais de televisão no mundo.


Também há sexo, traições, homenagens a personalidades do teatro, trechos de ‘Hamlet’, piadas sobre os bastidores das artes. E uma iguana. Na televisão, essa miscelânea pode fazer um divertido sentido.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Neda


‘Começou no sábado, postado em páginas de YouTube e linkado por Facebook e Twitter, e se espalhou por canais de notícias como CNN e BBC e sites ocidentais como ‘New York Times’.


É o vídeo de uma jovem sangrando por boca, nariz e olhos até a morte, depois de levar um tiro no peito nas ruas de Teerã. O vídeo é acompanhado de alertas não só quanto ao choque das imagens, mas quanto à dúvida sobre sua autenticidade. Não importa, Neda, como foi chamada, virou ‘um símbolo da crise iraniana cada vez maior’, avaliou o site da revista ‘Time’. E o levante encontrou sua ‘mártir’.


Entrando pela noite, o canal de notícias do Irã, Press TV, deu que o Conselho de Guardiães, enfim, admitiu ‘irregularidades’ na eleição.


MÍDIA VS. MÍDIA


Na manchete on-line do ‘Washington Post’, ‘Mídia estatal do Irã chama manifestantes de terroristas’. E o governo iraniano acusa os ‘canais estatais’ Voz da América e BBC, ‘porta-vozes’ de EUA e Grã-Bretanha, de estimularem os protestos.


Logo abaixo, na home, o ‘WP’ postou o apelo de Fareed Zakaria, um dos editores da ‘Newsweek’, pela libertação do correspondente da revista em Teerã, desaparecido. Na home do ‘NYT’, destaque também para a relação dos jornalistas presos no país, feita pela organização Repórteres Sem Fronteiras, já em 24.


A repressão da cobertura levou à expulsão de um correspondente da BBC e ao fechamento do escritório do canal ligado à Arábia Saudita, Al Arabyia, que vem ressaltando a divisão no clero do Irã.


JORNALISTA EM CATIVEIRO


O ‘NYT’ destacou ontem no papel a fuga de seu repórter David Rohde, após sete meses em cativeiro do Talebã. O editor-chefe, Bill Keller, agradeceu aos jornais e emissoras que, mesmo sabendo do sequestro, evitaram divulgar, a pedido da família e do próprio ‘NYT’.


Cerca de 40 organizações se calaram sobre a notícia, segundo o site Editor & Publisher.


Nem todos, porém. O site Gawker listou, entre os que divulgaram o sequestro, sites e blogs conservadores dos EUA, como Free Republic.


‘CAUTELA’


Na submanchete on-line do ‘WP’, ‘Republicanos criticam Obama sobre Irã’. Dizem que está ‘indiferente’.


Em longa reportagem sobre sua ‘resposta cautelosa’, o mesmo jornal acrescenta que os parlamentares democratas estão ‘nervosos com a possibilidade de o presidente estar perdendo momento histórico’ . Especialistas apoiam a cautela de Obama.


‘PRAGMATISMO’


A BBC Brasil pergunta na home se existe ‘outra opção’, fora ‘o silêncio de Obama e o pragmatismo de Lula’.


Em destaque na Folha Online, Claudia Antunes informa que o próprio Palácio do Planalto agora ‘tenta relativizar as declarações feitas pelo presidente Lula’, que inicialmente comparou a oposição iraniana a uma torcida de futebol derrotada.


DESEQUILÍBRIO DE PODER


Em editorial de domingo, o ‘Boston Globe’ analisou a cúpula dos Brics sublinhando que não desafiaram o dólar, afinal, ‘porém a mudança no equilíbrio do poder na economia global ficou evidente’.


O ‘Telegraph’ de Londres se perguntou, no título de longa reportagem: ‘É a morte do dólar?’. Não, respondeu ouvindo Jim O’Neill, criador do acrônimo, para quem é preciso aguardar uns cinco anos.


Abrindo a semana, o ‘Financial Times’ avisou que os investidores seguem voltando aos Brics.


ÀS COMPRAS


O ‘NYT’ de domingo relatou como a crise financeira atingiu o Plaza, símbolo de Nova York que encerrou longa remodelação em setembro e viu os compradores sumirem. Mas eles começam a voltar. Cita dois, da Rússia e do Brasil.’


 


 


INTERNET
Ronaldo Lemos


Software livre é punk


‘Imagine 7.000 pessoas, grande parte jovens, reunidas no mesmo lugar para falar sobre… software. Parece um assunto técnico e chato, mas é só adicionar uma palavra que tudo muda: livre.


Porto Alegre recebe nesta semana, pela décima vez, o FISL (Fórum Internacional do Software Livre). É um dos eventos mais legais do Brasil e um dos maiores do mundo. Para quem não sabe, o software livre é aquele que pode ser copiado e modificado por qualquer pessoa. A única regra é que qualquer modificação deve ser livre também, dando continuidade ao círculo virtuoso.


Muita gente usa software livre sem saber. O navegador Firefox é um exemplo. E o sistema operacional Linux é mundialmente conhecido. Mas há inúmeros outros. A ponto de a influente revista ‘The Economist’ ter ousado declarar a vitória do software livre sobre o fechado. Segundo ela, com mais cabeças pensando em cima de um produto aberto, é inevitável que os resultados sejam mais inovadores. E, nessa, até a Microsoft começou a adotar modelos abertos para alguns produtos.


O mais legal do FISL é acompanhar a sua evolução. Antes, o destaque era só para as discussões técnicas. Elas continuam, mas cresceu o espaço para a discussão de temas importantes para a internet no Brasil e no mundo. Por exemplo, neste ano o evento terá Peter Sunde, um dos líderes do site Pirate Bay. Execrado pela indústria, o jovem sueco é ao mesmo tempo considerado por muita gente um tipo novo de herói dos tempos atuais. Virá ao Brasil falar sobre downloads na internet.


O fórum terá ainda representantes da Mozilla, criadora do Firefox, e uma mesa para discutir o polêmico projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) para criminalizar a internet que, em pouco tempo, conseguiu 140 mil assinaturas contrárias no país.


A única coisa a lamentar é que o número de mulheres no fórum ainda é pequeno. Apesar disso, elas estão cada vez mais organizadas, e é bacana acompanhar projetos como o Software Livre Mulheres (migre.me/2esu).


O FISL torna-se cada vez mais um ponto de encontro jovem. Afinal, o software livre atualiza o ideal punk do ‘faça você mesmo’ para a era digital. E, como quem controla o código influencia a rede, ele acaba sendo também uma nova forma de participação pública.’


 


 


NOVAS MÍDIAS
NYT


A ascensão do jornalismo ‘faça você mesmo’


‘Dizem que a história é escrita pelos vencedores. Mas o que acontece quando os perdedores contam com um sistema próprio de publicação? Contrariar o poder está bem mais fácil com o uso das novas mídias, e isso tem abalado os alicerces da mídia tradicional.


Depois de o presidente Mahmoud Ahmadinejad ter ironizado os que protestavam contra os resultados das eleições no Irã, comparando-os a torcedores de futebol descontentes com ‘poeira’, um manifestante respondeu com a seguinte mensagem no Twitter: ‘Ahmadinejad nós chamou de poeira; nós lhe mostramos uma tempestade de areia’.


Enquanto repórteres da grande imprensa eram forçados a deixar o país, a história foi sendo deixada a cargo de iranianos com coragem suficiente para fazer vídeos e fotos com seus celulares, postar notícias no Twitter e escrever blogs sobre os protestos. Com o Estado no controle da TV e dos jornais, os iranianos recorreram ao Facebook e às mensagens de texto para se informar sobre os protestos. Quando essas vias também foram fechadas, o Twitter foi o que lhes restou.


Mas essas mídias não tradicionais têm seu lado negativo, que inclui a dificuldade de verificação dos dados e as ameaças à segurança pessoal de quem as faz. São grandes os riscos corridos por jornalistas independentes e cidadãos desprovidos do apoio de uma organização influente, e duas americanas do canal Current TV aprenderam isso da maneira mais dura ao serem detidas na fronteira da Coreia do Norte e, no início de junho, sentenciadas a 12 anos de trabalhos forçados.


‘Em qualquer organização noticiosa principiante, há uma visão de que é preciso ser mais ousado do que outros veículos, para conseguir chamar atenção ao que você divulga’, disse ao ‘New York Times’ o jornalista freelancer Kevin Sites. ‘Isso traz um risco real.’


Robert Mahoney, vice-diretor do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, disse que as grandes organizações noticiosas ‘têm recursos com os quais podem contar para ajudar’ jornalistas. ‘Seu acesso a rádio, TV e internet é algo que não pode ser subestimado.’ Quando o repórter Alan Johnston, da BBC, foi seqüestrado em Gaza, em 2007, a emissora organizou manifestações e petições e convenceu outras redes a cobrir o tema, para fazer pressão por sua soltura. Ele foi libertado depois de quatro meses em cativeiro.


A mídia não tradicional assume outros tipos de riscos para atrair atenção. Como escreveu Damon Darlin no ‘New York Times’, quando os blogs ‘TechCrunch’ e ‘Gawker’ postaram rumores de que a Apple estaria interessada em comprar o Twitter, atraíram muitos leitores e centenas de comentários. O rumor não demorou a ser exposto como falso.


‘Nunca quero perder o caráter inovador e experimental dos blogs’, disse Michael Arrington, fundador do ‘TechCrunch’ e autor do post no Twitter.


Os blogs não podem competir com os recursos de que dispõem os veículos de imprensa, de modo que é grande a tentação de arriscar-se divulgando informações interessantes, porém não confirmadas. ‘A precisão custa caro’, disse Arrington. ‘[Mas] ser o primeiro a divulgar a notícia custa pouco.’’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 22 de junho de 2009


 


DITADURA
Leonencio Nossa e Denise Madueño


Aumenta a pressão por abertura de todos os arquivos do Araguaia


‘A divulgação pelo Estado dos documentos sobre a repressão à Guerrilha do Araguaia guardados durante 34 anos pelo oficial da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió, aumentou a pressão pela abertura de todos os arquivos sobre o conflito e também pela busca e identificação dos corpos dos guerrilheiros executados pelo regime militar.


Representantes de entidades de direitos humanos dizem que a abertura do arquivo de Curió força o governo a identificar os restos de corpos retirados em 1996 e 2001 de cemitérios na região de Xambioá, onde ocorreu o conflito, entre 1972 e 1975. Dez restos de corpos esperam por identificação nos armários do Ministério da Justiça.


‘A informação dele demonstra que os arquivos existem e que não é correta a afirmação eventual de que é difícil achar os corpos. Tem um caminho a ser percorrido para encontrar os corpos e encerrar esse capítulo obscuro e violento do País’, disse o ministro da Justiça, Tarso Genro. Desde o fim do governo militar (1964-85), a falta de arquivos e de informações oficiais é apontada como obstáculos à busca dos corpos dos guerrilheiros e da revelação do que ocorreu na repressão.


O secretário especial dos Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vannuchi, afirmou que a entrevista de Curió deve ser aproveitada para que se corrija o rumo da expedição comandada pelo Ministério da Defesa na busca pelos corpos. Vannuchi quer que o ministro Nelson Jobim aceite a participação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, de representantes de familiares e do Ministério Público na expedição do Exército. Vannuchi pedirá, hoje, a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Jobim, que estava em viagem à Europa, divulgou apenas uma declaração: ‘Toda colaboração com elementos para ajudar na elucidação dos fatos é extraordinária. Nós apoiamos e estimulamos divulgações como essa’.


Documentos do arquivo de Curió publicados ontem pelo Estado contrariam versão militar de que os 67 guerrilheiros mortos estavam de armas na mão quando morreram. De acordo com o arquivo do oficial, 41 foram executados depois que estavam presos e não ofereciam risco às tropas.


‘A revelação entra na mesma linha que estamos trabalhando: para haver reconciliação, tem de buscar a verdade. Não se pretende procurar culpados individuais, mas desvendar a operação e achar os corpos para que se consiga encerrar esse processo doloroso’, afirmou Genro, que pretende buscar mais dados com Curió.


O ex-deputado Aldo Arantes, representante da Fundação Maurício Grabois, ligada ao PC do B, diz que a reportagem contribui para acelerar as medidas de identificação de ossadas. ‘Esses novos elementos levantados agora vão facilitar o esclarecimento dessas ossadas.’ Arantes disse que foi ‘surpreendido’ pelas declarações de Curió. ‘A atitude respeitosa dele em relação aos guerrilheiros me surpreendeu. Ele não chamou os guerrilheiros de terroristas.’ Na Câmara, o vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Pedro Wilson (PT-GO), vai pedir, na reunião de terça-feira, que Curió seja convidado para expor os documentos sobre a Guerrilha do Araguaia que está em seu poder. ‘Se ele se dispuser a falar, será um salto no sentido de temos acesso a documentos importantes. Não queremos revanchismo’, disse.


Ex-guerrilheiro, o deputado José Genoino (PT-SP), preso em 1972 durante a primeira campanha militar na região, afirmou que a reportagem confirma fatos e dá novos detalhes. ‘O governo já está com um conjunto de informações para prestar contas às famílias. O direito à memória e à verdade tem de ser garantido sem qualquer tipo de revanchismo’, disse.’


 


 


Roldão Arruda


Ativista se diz ‘chocada’ com revelações


‘Criméia Almeida, de 63 anos, perdeu três familiares na Guerrilha do Araguaia – o marido, o sogro e o cunhado – e hoje é uma das mais destacadas integrantes da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Além de ativista incansável, ela se tornou referência por causa de seu espírito investigativo. Há décadas reúne todo tipo de informação sobre a guerrilha. Sabe qual foi a trajetória de cada oficial do Exército envolvido no conflito. Esteve na região duas vezes, em busca de corpos dos desaparecidos. E empregou parte da indenização que recebeu do governo, por ter sido presa e torturada, na melhoria do seu arquivo particular.


Mesmo assim, ela disse ter ficado ‘chocada’ com algumas das revelações feitas ontem pelo Estado a partir do arquivo do Major Curió. ‘O que mais me impressionou foi a informação de que mais de 60% das pessoas presas pelo Exército foram executadas.’ A revelação, disse ela, é mais um estímulo para que se aumente as pressões sobre o Exército, no trabalho de localização dos corpos.


Mas, ao mesmo tempo, ela levantou suspeitas quanto à lista de participantes divulgada pelo Estado sob o título ‘A Lista Inédita’. Criméia diz que a relação apresentou como guerrilheiros ou simpatizantes pessoas que, na verdade, eram informantes e colaboradores do Exército.


Entre os nomes nessa condição estariam Raimundo Nonato dos Santos, apresentado como guerrilheiro camponês, que teria sobrevivido às torturas; e Margarida Pereira Félix e Tota Félix, que teriam dado forte apoio aos guerrilheiros. ‘O Raimundo e o Tota atuaram como guias do Exército, ajudando na caça aos guerrilheiros, enquanto a Margarida servia aos militares como informante’.


Criméia não sabe o motivo da inclusão dos nomes, mas suspeita: ‘Acho que a intenção é fortalecer os pedidos de indenização para essas pessoas junto ao governo federal’. Ela também manifestou desconfiança em relação às intenções do Major Curió, por abrir o arquivo logo após a Corte Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, ter aceitado julgar o Brasil pela ocultação de corpos dos guerrilheiros. ‘Fica parecendo uma coisa orquestrada, que alguém mandou ele fazer isso, como boi de piranha.’’


 


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Jovens buscam espaço em Cannes


‘A expectativa dos organizadores do projeto Young Lions Brazil era levar este ano, no máximo, cinco jovens publicitários para o Festival Internacional de Publicidade de Cannes, por causa da crise global. Mas conseguiram patrocinar a ida de 17. ‘É uma clara demonstração de como esse projeto, que tem 15 anos, é relevante para o mercado publicitário nacional’, diz Armando Ferrentini, dono da editora Referência e um dos organizadores da iniciativa.


No geral, o projeto Young Lions Brazil leva à costa francesa entre 10 e 15 jovens profissionais todos os anos. ‘O pior desempenho foi durante a crise financeira de 2001, quando levamos apenas sete’, lembra Emmanuel Publio, coordenador do Young e diretor de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing ( ESPM).


A seleção foi dura. No total, foram 266 inscritos – com mais de dois anos de carreira e menos de 28 anos de idade. Em Cannes eles participam de seminários e workshops, além de ter a oportunidade de contato com alguns de seus ídolos, como os diretores de criação mais badalados no universo publicitário.


‘É uma experiência transformadora e que dá muita projeção à carreira’, avalia Rodrigo Jatene, de 28 anos, que trabalha há dez anos com publicidade online, sendo os últimos quatro na agência Wunderman. É a segunda vez que ele se inscreve. ‘É mais fácil ganhar um Leão em Cannes do que conseguir uma vaga entre os ?youngs?’, brinca.


Jatene será um dos oito jovens, do grupo de 17, que viaja com uma missão extra. Em duplas, esses oito jovens encaram uma disputa paralela no Festival, que é a competição Young Lions. Nela, têm de criar peças que serão julgadas, e a eleita ganha um Leão. Eles trabalham, em completo isolamento, em um tema que é descrito na hora. Devem produzir filmes, anúncios impressos, desenvolver projetos de veiculação em diferentes mídias e também fazer campanhas online. Tudo em pouco mais de 24 horas.


Jatene será dupla de Marcelo Pignatari, que conheceu casualmente em um shopping, na disputa pela categoria Cyber, ou seja, vão criar para propaganda na internet – em oito anos de existência dessa categoria entre os Youngs, as duplas que representaram o Brasil levaram a melhor em cinco. ‘É lógico que incomoda a pressão por ganhar’, diz Pignatari, 28 anos e há quatro na agência McCann-Erickson. ‘Mas nós já assumimos que vamos bombar.’


Disposta a fazer bonito do seu lado, Fabiana Manfredi, 26 anos e há seis trabalhando na agência DM9DDB, fará dupla na categoria de programação de mídia, com Sandro Cachiello, 26 anos e há quase dois na F/Nazca Saatchi & Saatchi. ‘No ano passado, fiquei em terceiro lugar. Não me conformei, porque achava que tinha chances. Me inscrevi de novo e aqui estou’, diz Fabiana.


Para se preparar, Fabiana e Cachiello organizaram almoços com publicitários que já competiram. ‘Eles contaram que o briefing é passado de forma muita rápido. Se você não entender, corre o risco de fazer planejamento ineficiente e acabar desclassificado’, diz ela.


Cachiello acredita que deve sua seleção às boas ações que inscreveu na disputa para ser um ‘young’. ‘Acho que a minha experiência profissional, com cases de sucesso, como o Skol Sensation (um evento de música eletrônica organizado pela marca de cerveja), pode ser um facilitador’.


Mais preocupada com seu desempenho está a redatora Carla Cancellara, 28 anos e há dois na Leo Burnett, que fará dupla com Alex Mendes, que trabalha na empresa Telecine, no Rio, e vão criar um filme comercial. ‘É um desafio e tanto fazer um roteiro, produzir, editar e colar uma trilha sonora em menos de 48 horas’, diz ela. ‘E tudo isso deve ser feito com um celular!’


A 15ª edição do projeto este ano teve participação recorde. Entre os 17 jovens profissionais, há alguns que já estão trabalhando fora do Brasil. E há também uma brasileira que vai concorrer no Young Lions defendendo a propaganda portuguesa.’


 


 


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Brasil tem 13 chances para conseguir um troféu


‘Com nove possibilidades em ações de marketing direto (Direct), duas em ações promocionais (Promo) e mais duas na estreante categoria de relações públicas (PR), o Brasil aparece com 13 chances de obter troféus em forma de Leão na atual edição do Festival Internacional de Publicidade de Cannes.


Antes dos vencedores serem anunciados, os jurados de cada uma das 11 categorias em disputa elaboram uma lista prévia com os trabalhos que vão para a segunda rodada de apreciações. Para muitos profissionais, em especial os que começam na carreira, já é mérito emplacar a primeira etapa.


Diante dos primeiros finalistas, não dá para prever qual o desempenho do Brasil, mas demonstra algumas surpresas, já que em Direct Lions, que este ano tem no júri o brasileiro Rui Piranda, da agência Giovanni + Draft FCB, as perspectivas melhoraram muito. Foram nove casos na lista prévia. Havia 57 peças inscritas. No ano passado, o Brasil não obteve nenhum prêmio nessa categoria.


Já em Promo Lions, onde o Brasil conseguiu três Leões na competição de 2008, as chances ficam muito reduzidas este ano, somente duas peças passaram pelo funil, das 56 inscritas. O jurado brasileiro na categoria, Marcelo Heidrich, da agência Ponto de Criação, previu que o páreo seria duro. ‘Somente uma ação agradou bastante os jurados na fase da votação’, contou ele.


Na PR, o Brasil, que tem por jurado Andrew Greenlees, vice-presidente da empresa de comunicação CDN, conseguiu colocar na reta final duas ações. No total, havia 26 casos competindo. ‘Os dois cases classificados do Brasil não ficaram devendo em nada aos outros concorrentes. Eram bem realizados’, diz Greenlees. ‘A ação de comunicação desenvolvida pela empresa SA Comunicação São Paulo obteve uma mobilização da cidade de São Paulo muito efetiva em torno do problema da dengue. Já o caso de divulgação da série Dom Casmurro, da TV Globo, fez uso da mídia social de forma intensa’.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


SBT desfalca Record


‘Pense bem antes de entrar em guerra com Silvio Santos. Em contra-ataque ao potente assédio da Record em cima de seu mais famoso pupilo, Gugu, o dono do SBT contratou, sem alarde, duas das maiores estrelas da Record. Na sexta-feira à noite, Silvio fechou contrato de quatro anos com Roberto Justus. Já Eliana, deixou acordo apalavrado com o ex-futuro patrão (ela já trabalhou no SBT), e deve assinar contrato com a emissora ainda hoje.


A estratégia de SS pegou os executivos da Record de surpresa. Na tarde de sábado, muitos ainda ligavam para Justus tentando reverter a situação.


Mesmo sem a resposta de Gugu – SBT fez uma contraproposta para ele renovar com a casa – SS prometeu para Eliana um programa dominical, logo após ao seu. Para Justus: um game show semanal. Silvio até pensa em oferecer à ele o Show do Milhão, já anunciado para julho. Troco encomendado uma vez que a Record preparava a estreia do mesmo formato, com Justus, para agosto.


Com tudo isso, SS ainda espera que Gugu fique, e está de olho na turma do Pânico. Onde o SBT vai colocar toda essa gente? Bom, nem pense em discutir com o patrão.’


 


 


 


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