Uma popular série de TV alemã se tornou alvo de protestos da comunidade turca no país, noticia a revista Der Spiegel [31/12/07]. O programa com temática policial Tatort (cena do crime), exibido pelo canal estatal ARD, desagradou a comunidade muçulmana alevi, ao abordar um caso – ficcional – de incesto. A comunidade – uma ramificação dos xiitas – é minoria na Turquia, onde diz ser discriminada pelos sunitas por suas práticas relativamente liberais. Os alevi permitem que mulheres, homens e crianças orem juntos, por exemplo. Esta tolerância levou ao estereótipo, durante o Império Otomano, de que eles seriam inclinados ao incesto.
Cerca de 20 mil muçulmanos alevi se reuniram em frente à catedral de Colônia no domingo (30/12) em um ‘protesto pacífico’, segundo a polícia local. Teriam sido alugados 200 ônibus para transportar os manifestantes de diversas regiões da Europa. Líderes do grupo alegaram que o programa foi preconceituoso. ‘Os alevis respeitam a liberdade de imprensa e de opinião, e são contrários a qualquer proibição da expressão cultural. Mas estes valores não devem ser usados para prejudicar a dignidade de uma minoria’, afirmou Mehmet Ali Toprak, um dos líderes alevi na Alemanha.
Ficção
O episódio em questão, exibido em 23/12, retratava um caso de assassinato e incesto em uma família alevi vivendo na Alemanha. Na trama, investigadores descobriam que uma jovem alevi havia sido assassinada pelo pai após confrontá-lo por ter engravidado sua irmã. Antes da manifestação em Colônia – a mais significativa –, centenas de alevis protestaram em Berlim, Hamburgo e Hanover na semana passada.
Antes da exibição do programa, representantes da comunidade fizeram uma queixa de que a emissora estaria ‘incitando o ódio racial’, e foi colocada uma declaração nos créditos de abertura explicando que o conteúdo se tratava de ficção. ‘Pode ser que os alemães não tenham nenhum preconceito contra nós. Mas um filme assim pode agravar as tensões na comunidade turca entre alevis e sunitas’, declarou um manifestante.
O primeiro-ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, afirmou ao jornal Bild am Sonntag que o episódio não deveria se transformar em ‘uma desculpa para uma guerra cultural’. Ele ressaltou, entretanto, que cabe aos roteiristas do programa de TV a responsabilidade de ‘mostrar respeito, discrição e cuidado com os sentimentos religiosos de todas as pessoas, independente de sua fé’.