TV PÚBLICA
PPS quer evitar uso político da TV Brasil
‘O deputado Fernando Coruja (SC), líder do PPS na Câmara, afirmou que o partido vai se mobilizar para aprovar dispositivos que permitam à sociedade controlar a TV Brasil, criada pelo governo Lula. ´Não temos nada contra TV pública, mas temos preocupações de que possa ser um instrumento apenas de propaganda do governo.´’
RÁDIO DIGITAL
Escolha do padrão da rádio digital entra na fase decisiva
‘Na próxima quinta-feira, começa em São Paulo a fase final dos testes para a escolha do padrão de rádio digital que será utilizado no Brasil. Os testes, feitos pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), estão sendo feitos com o padrão americano Iboc. A idéia é fazer um relatório sobre as condições técnicas do sistema, como cobertura dos sinais e nível de interferências. O Instituto Mackenzie vai participar do processo. Participam desta etapa de avaliação a Rádio Globo (FM), a Rádio Cultura (AM) e a Rádio Bandeirantes (FM).
Segundo a Abert, os testes com o acompanhamento da equipe do Mackenzie, na capital paulista, devem durar 10 dias. O desempenho do sistema digital também será testado posteriormente em Ribeirão Preto e em Belo Horizonte. O Ministério das Comunicações informou que aguarda a apresentação pelas emissoras de um relatório técnico sobre os testes, que será utilizado pelo governo como subsídio para a escolha do padrão digital.
Além do padrão americano, o preferido da maioria das emissoras, também está sendo analisado pelo governo brasileiro o padrão europeu (DRM).
Os testes com o padrão americano vêm sendo feitos por 23 emissoras em todo o País há cerca de dois anos. O governo, no entanto, quer que instituições de pesquisa acompanhem e façam relatórios técnicos sobre o desempenho dos sistemas em estudo, como foi feito no processo de escolha da TV digital.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, chegou a afirmar, em meados do ano passado, que a tendência era a de escolher o padrão americano para as emissoras AM e FM porque é o único que permite o funcionamento simultâneo do rádio digital e do analógico. Para as emissoras de ondas curtas, que atendem principalmente à região amazônica, seria escolhido o padrão europeu.
A escolha do governo foi adiada para este ano diante de problemas verificados no padrão americano, como interferências entre os sinais digitais e analógicos, atraso na recepção dos sinais e redução no raio de alcance das emissoras.
Em outubro do ano passado, o assessor especial da Casa Civil da Presidência da República, André Barbosa, disse durante audiência pública no Senado que a Casa Civil estava preocupada em não tomar uma decisão de ´afogadilho´, e que, portanto, a escolha poderia demorar ainda seis meses.
Com o sinal digital, o som da rádio AM terá qualidade de FM e o da rádio FM ficará similar ao do CD. Além de melhorar sensivelmente a qualidade do som, os novos aparelhos vão trazer informações adicionais em texto, como previsão do tempo, serviços de localização, trânsito e dados sobre cantor e compositor da música que está sendo executada.’
MERCADO
DVD começa a perder espaço nos EUA
‘As vendas de DVDs nos Estados Unidos caíram 4,5% em 2007, a primeira grande queda numa comparação anual para a categoria desde o surgimento desse formato de disco em 1997. Após passar por uma época de estabilidade em 2005 e 2006, a venda de filmes e programas de TV em DVD caiu de 1,144 bilhão de unidades em 2006 para 1,092 bilhão de unidades em 2007, informou Tom Adams, presidente da empresa de pesquisa Adams Media Research. Os números incluem as vendas dos DVD da próxima geração.
´No ano, as vendas de programas de TV em DVD caíram pela primeira vez´, acrescentou Adams. O formato de DVD registrou crescimento de vendas na casa dos dois dígitos desde que surgiu até atingir o ápice de US$ 16,6 bilhões em vendas em 2004. Adams acredita que uma combinação de fatores contribuiu para a queda, incluindo a diminuição do apetite do consumidor por aumentar ainda mais sua coleção de DVDs.
O executivo crê ainda que a indústria deve enfrentar desaquecimento em 2008 e 2009, conforme a nova geração de DVDs se desenvolve. ´A alta definição é o raio de esperança da indústria´, concluiu Adams.’
NELSON RODRIGUES
Confissões de um reacionário
‘Em 1968, o Brasil e o mundo fervilhavam, marcados pela radicalização de posições políticas à esquerda e à direita. Enquanto artistas e intelectuais acreditavam ser necessário se posicionar claramente, o escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues iniciava um momento muito difícil de sua vida – ele se aproximava dos 60 anos, logo terminaria o segundo casamento, sofreria com duas úlceras perfuradas e um enfarte, além de se angustiar com o filho Nelsinho, obrigado a entrar na clandestinidade e ainda ser preso. Acima de tudo, Nelson, que há anos militava na imprensa, parecia ultrapassado pelas novas técnicas jornalísticas, que pregavam textos isentos.
Em resposta a tudo isso, e especialmente para reforçar sua profissão de fé reacionária ao mesmo tempo em que perturbava a parcela da esquerda mais explosiva, Nelson iniciou, primeiro no jornal Correio da Manhã, depois no Globo, a publicação de uma série de crônicas que, reunidas em livro, originaram A Cabra Vadia, que a editora Agir relançou recentemente (472 páginas, R$ 54,90).
´Ao lado de O Reacionário, são as crônicas mais pessoais do autor, e versam sobre acontecimentos e personagens que, com o autor, compartilharam a época do confronto, político e ideológico, no final dos anos 60´, observa o jornalista Wilson Figueiredo no prefácio da atual edição. De fato, as 84 crônicas escritas entre janeiro e outubro de 1968 – mais ou menos o mesmo período coberto por O Óbvio Ululante, outra seleção de textos notadamente pessoais – revelam um espectador atento que investia contra mitos e modismos da época.
O título, aliás, vem de um quadro que Nelson Rodrigues apresentava no programa Noite de Gala, da TV Globo. Ali, ele comandava entrevistas imaginárias em que conseguia de importantes personagens da vida brasileira depoimentos que eles só diriam ´num terreno baldio, às luz de archotes, e na presença apenas de uma cabra vadia´. E por que o animal? ´A cabra não trai´, justificava. Nelson voltava-se contra as entrevistas tradicionais que, acreditava, nada acrescentavam. Ali, dizia, ´o sujeito não diz uma palavra do que pensa e sente´.
Na verdade, Nelson lutava contra uma desconfiança em relação à sua obra que dominava a cultura naquele momento.’
Beth Néspoli
Diretores mantêm vivas tragédias rodriguianas
‘Dramaturgia potente é aquela que já produziu clássicos e consegue renovar-se. Abre espaço para novos autores, mas mantém no palco sua grande dramaturgia, viva, sem museologias ou invencionices deformadoras. O teatro brasileiro, se não atingiu em plenitude, está bem próximo desse estágio. Tem seus clássicos e os põe em cena. Sem dúvida, Nelson Rodrigues é um deles, se assim definimos um autor que toca temas universais e atemporais.
As tragédias rodriguianas tratam, com profundidade rara e ousadia de gênio, clareza entre suas virtudes e leva a compreender os embates em jogo. Depois, será um prazer a mais apreciar as outras duas visões. ´Adoro essa peça; é o mais coral dos textos de Nelson´, diz Zé Celso. Se nessa peça o inconsciente vem à tona, em Vestido de Noiva é o subconsciente que aflora, o de Alaíde, uma mulher atropelada que agoniza numa mesa de hospital. Vázquez promete lançar mão de recursos tecnológicos para recriar esse delírio cênico.’
Ubiratan Brasil
O profeta que enxergava o óbvio
‘O direito de reinventar a realidade era defendido por Nelson Rodrigues como uma batalha pessoal. Filho de uma época em que o jornalismo retratava o cotidiano segundo suas próprias leis, indiferente à veracidade, ele decidiu, a partir dos anos 1950, com a adoção do respeito à realidade nas redações, defender uma causa quixotesca: o retorno dos bons tempos, ou seja, a volta do ponto de exclamação nas manchetes, a reintrodução das reticências maliciosas e insinuantes, e também dos pontos de interrogação que sacudiam o leitor. ´Não era apenas o reacionário, mas o jornalista do passado, ressentido com o futuro´, comenta Wilson Figueiredo na introdução de A Cabra Vadia.
Segundo ele, o realismo de Nelson, com porcentagem razoável de ficção, reforçava-se com retalhos de fatos verdadeiros, costurados com paixões humanas. ´As posições pessoais tinham mais peso do que os acontecimentos na elaboração dos textos´, escreve Figueiredo. ´Bastava ao realismo rodriguiano a verossimilhança. O resto o autor providenciava no padrão elegante e forte do jornalismo, irreverente e enfático nas caracterizações.´
Foi graças a seu imenso talento que Nelson se salvou de naufragar no limbo junto de autores que tentaram, em vão, impor um estilo. ´Enquanto os jovens tomavam as ruas gritando ´Muerte!` e decapitando marias antonietas imaginárias, Nelson a tudo assistia dos seus pontos de observação: as sacadas das avenidas, os bares dos intelectuais, os saraus dos grã-finos. Depois, na redação, comentava o que vira, em crônicas de implacável lucidez´, observou Ruy Castro na edição de A Cabra Vadia lançada pela Companhia das Letras em 1995. Esta como a atual, editada pela Agir, traz todos os textos ordenados em ordem cronológica, cada um recebendo a identificação da data em que foi publicada no final da crônica. Com isso, corrigem as imperfeições da primeira edição do livro, datada de 1970.
As confissões de A Cabra Vadia são como uma filosofia de vida. Nesses textos, o escritor colocou as esquerdas na defensiva, ridicularizando os ´padres de passeata` e as ´grã-finas amantes espirituais de Guevara´. Sofreu, em troca, um ferrenho patrulhamento ideológico.
Mesmo assim, o assumido reacionarismo de Nelson não usou disfarces nem recorreu a meias palavras, observa Wilson Figueiredo. Na verdade, só reforçou sua condição de espectador atento, que não deixou escapar nem os festivais da canção daquele ano de 1968, surpreendendo com opiniões sobre as polêmicas provocadas por canções como É Proibido Proibir (de Caetano Veloso), Caminhando ou Para Não Dizer Que Não Falei das Flores (de Geraldo Vandré) e Sabiá (de Tom Jobim e Chico Buarque).
Em Os Centauros, Nelson conta que reviu, na televisão, ao videoteipe da final do Festival da Canção, em São Paulo. Sua primeira observação dizia respeito ao público: ´Uma platéia sem coroa e ocupada por uma mocidade ululante e salubérrima. Imaginei que estaria, ali, a melhor juventude paulista.` A mesma platéia que logo vaiou Caetano, comprovando sua ´escandalosa` politização. ´Não me admiraria nada que, no futuro, os nossos jovens socialistas queimem poetas no meio da rua´, comentou.
Nelson revela seu espanto com a reação de Caetano. ´Ele começou a falar. Era um contra 1.500. E um que dizia a sua feroz mensagem nos trajes mais impróprios para seu rompante. Sim, ele estava de peruca, plumas, batom, salto alto, etc. E disse as verdades que estavam mudas, sim, as verdades que precisam ser ditas – urgentes, inadiáveis e santas verdades.´
Mais adiante, em A Ira de Vandré, Nelson trata da derrota do compositor, no Maracanãzinho. Como se sabe, Vandré era, disparado, o preferido do público jovem que acompanhava o festival, no Rio. O que não se esperava, porém, era que o júri decidisse premiar Sabiá, deixando Vandré atônito com o segundo lugar.
Nelson não entende a certeza de todos da vitória de Vandré. ´Informa o senso comum que qualquer competição, seja o prêmio Nobel ou de cuspe a distância, tem os seus imponderáveis´, observa. Daí a injustificada surpresa de Vandré com o resultado, que ´doeu-lhe, fisicamente, como uma nevralgia´. ´Ele acabara de saber que era, apenas e miseravelmente, o segundo colocado.´
Ao espanto de Vandré, outro momento inesquecível: a expressão de Tom Jobim. ´Ao saber-se premiado teve espasmos triunfais de víbora moribunda´, descreve Nelson, que conclui: ´Como é trágica a euforia do subdesenvolvido premiado.´’
TELEVISÃO
Aposta em violência
‘Duas Caras retomou sua boa fase em audiência. A trama de Aguinaldo Silva, que chegou a trafegar pela casa dos 35 pontos de ibope, voltou para a casa dos 40 pontos esta semana, só que a duras penas.
O autor, que havia prometido fazer uma favela sem violência e tráfico de drogas, voltou atrás. Duas Caras bateu novamente seu recorde de ibope – 41 pontos, no capítulo de quinta-feira – apostando pesado na invasão da favela modelo, a Portelinha, por um bando de traficantes.
Na estréia do seu folhetim, Aguinaldo chegou a criticar produções como Cidade de Deus e a novela da Record Vidas Opostas por mostrarem violência e muitas cenas com armas na favela.
O que se viu ontem em Duas Caras não foi diferente disso. Pelo contrário. As cenas em que os bandidos invadem a Portelinha com armas na mão tiveram direito a câmera lenta e trilha sonora de suspense. Produção primorosa, texto dos bons e a cara de mau de Paulo César Pereio, que interpreta o chefe da invasão, valem o apelo.
E hoje deve ter mais, com a morte fake de Juvenal Antena (Antônio Fagundes) durante um tiroteio na favela.’
CINEMA
Obrigado por Fumar e a necessidade de ser correto
‘Nos últimos anos, Hollywood tem patrocinado vários filmes que investem contra a indústria tabagista. O melhor é O Informante, de Michael Mann, que conta não apenas a história de um ex-executivo contra a indústria do fumo, mas também – e principalmente – contra a convivência da imprensa e a liberdade de expressão. Embora não seja tão bom, Obrigado por Fumar enfoca o assunto de forma original e criativa.
O filme de Jason Reitman passa às 20h10 no Telecine Pipoca. Aaron Eckhart, ator que começou cult – nos filmes de Neil LaBute – e hoje ficou popular a ponto de estrelar comédias românticas (como Sem Reserva, formando dupla com Catherine Zeta-Jones), chegou a ser indicado para o Oscar, pelo papel. Nestes tempos em que o fumante é um marginal, segregado em áreas reservadas pela correção política, Eckhart é garoto-propaganda de uma fábrica de cigarros. Ao mesmo tempo, ele tenta dar bons exemplos ao filho.
Jason Reitman, de 31 anos, é filho do também diretor Ivan Reitman, da série Os Caça-Fantasmas. Depois de Obrigado por Fumar, ele fez Juno, que trata de um outro tema polêmico – a gravidez indesejada na adolescência.’
Marcelo Rubens Paiva
Meu nome é João
‘Sou suspeito para fazer crítica de cinema, teatro e livros. Não tenho a frieza e o distanciamento necessários para o exercício da atividade. E o meu queixo é de vidro. Mas foi resenhando um livro, Minha Profissão É Andar (João Carlos Pecci), para a revista Leia Livros, em 1982, que fui ´descoberto` como autor, aos 22 anos. Depois de ler o texto, o editor Caio Graco (Brasiliense) descobriu que eu sabia datilografar. Me encomendou o livro Feliz Ano Velho, título escolhido por ele.
Ironicamente, meu primeiro trabalho remunerado na imprensa foi como crítico literário da Veja. Dizia-se que uma resenha na Veja, falando bem ou mal, era a garantia de uma edição de livro vendida. Pois um aluno ainda de Comunicações da USP, euzinho, pretensiosamente resenhava livros de Dalton Trevisan a Anatole France. Queriam um texto mais sujo e contemporâneo (jovem?), naquela que foi uma das mais influentes editorias do mercado literário. Lembro-me que dei o título Mutcho Loko para uma resenha de um livro que não entendi mutcho.
Conheço autores, diretores, atores e produtores. Alguns são meus melhores amigos. Encontro-os diariamente em bares, restaurantes e eventos. Trabalhei com muitos deles. Estamos no mesmo barco. Eu não conseguiria escrever uma crítica detonando uma obra e encontrar o autor no bar bebendo com o seu time de pelada. Um crítico de verdade precisa ser corajoso, fiel a seus princípios, gostar de conflitos e não temer os físicos. Eu mesmo, como criticado, já tive vontade de partir pra cima. Até aprender a respeitá-los e aceitar a regra 1 do mercado: não há unanimidade.
Mente o autor que diz que não dá bola para a crítica. E se a crítica desqualifica o autor, odeia-se o crítico, a revista que paga o seu salário e os seus assinantes. Torcemos para que ninguém a leia. Depois, ao encontrarmos amigos ou colegas, torcemos para que eles não toquem no assunto.
Se é uma peça, e sai uma crítica detonado, o autor deve ir ao teatro, entrar alegre antes do espetáculo, cumprimentar a todos, comentar as insanidades, a inveja e a burrice do crítico, que o persegue há anos, e afirmar que o público não é influenciado pela crítica. Só depois, na solidão da coxia, chorar de raiva do trabalho de meses ser detonado por um sujeito que o persegue e perguntar se o público é influenciado pela crítica.
Sou suspeito para falar do filme Meu Nome Não É Johnny. O diretor e roteirista, Mauro Lima, é dos meus melhores amigos – e tem amigos surfistas malhados e tatuados. Já trabalhamos juntos e tocamos ainda projetos. Nossa amizade foi proposta. Isso mesmo. Eu percebi que o encontrava em todos os lugares. Gostamos dos mesmos bares e restaurantes. Apelidei-o de onipresente. Um dia, cheguei e sugeri: ´Vamos ser amigos, a gente já se vê todas as noites?´
Numa tarde fria na Barra, Rio de Janeiro, fui à praia com dois amigos, apesar de ter estourado um emissário, e o mar estar preto, o que afugenta todos os cariocas de bom senso. Diante da paisagem deserta, brinquei: ´Aposto R$ 50 que o Mauro Lima aparece aqui.` Não é que, dois minutos depois, ele apareceu, o onipresente? Na verdade, viu meu o carro estacionado na orla vazia.
Nos divertimos muito quando escrevemos os últimos três meses As Aventuras da Tiazinha, para a Band. Antes, o seriado não tinha pé nem cabeça, apesar do ótimo patrocínio de um provedor. Quando nos chamaram, fizemos o óbvio. Inspirados pela série Batman da tevê, criamos gangues de vilões, como nerds e patricinhas (todas com esparadrapo no nariz e bolsas de lojas de grife). Tiazinha passou a trabalhar num salão de beleza, como depiladora e contracenava com atores de prestígio (Marcelo Várzea, Ângela Dip, Luciane Adami). Aumentamos a audiência. Mas a Band assinou uma parceria com o provedor concorrente. Dançou o patrocínio. Perdemos, playboy.
Pouco a pouco, conheci a obra pouco conhecida de Lima (como o longa Deus Júnior), passei a ler os seus roteiros inéditos e a admirar. Há três anos, procuravam alguém para escrever o roteiro de Meu Nome Não É Johnny, livro de Guilherme Fiúza. Fui um dos que indicaram Lima sem titubear; autor de diálogos e cenas excelentes.
Meu Nome Não É Johnny já é um dos filme brasileiro inesquecíveis e faz jus à história surrealista de João Guilherme Estrella, filho de um diretor do Banco Nacional (empresa que não é citada no filme; patrocinadora de Ayrton Senna), que vira o traficante da juventude dourada carioca e só entra em roubada. O filme tem ritmo, humor, nonsense, revolta e, sobretudo, paixão, além de Selton Mello, que é um caso à parte e criou alguns cacos hilários, como as falas em italiano e Perninhas Roliças, o apelido da sua namorada (Cléo Pires).
Mas o que chama a atenção no filme é que trata de um tema recorrente, que a sociedade civil brasileira não enfrenta, não faz questão de enfrentar nem pensa em enfrentar, como fundamentalista de uma moral duvidosa, enquanto o mundo gira sem parar: a descriminalização das drogas.
Prova disso: há duas semanas, no Rio de Janeiro, 19 pessoas da classe média e alta foram presas pela Polícia Federal acusadas de pertencerem a uma quadrilha de tráfico de drogas que intermediava o comércio entre o morro e o asfalto. Mais 19 Joões foram para cadeia na Operação Naufrágio, por causa do sobrenome do preso José Brasil Fragata, morador em um condomínio de luxo da Barra, acusado de ser um dos principais traficantes de cocaína da zona oeste carioca. Exatamente como aconteceu com João Estrella. O que revela, para aqueles que assistirão ao filme, que a trama se repete, recicla, volta, e que nada muda, no País afoito a debates e reformas.
O progressista dirá que o filme vai, enfim, alimentar uma mudança na falida política de combate às drogas, que o País abarrotado de laboratórios de refino de coca e plantações de maconha examinará as experiências de outros países, fará um mapa do consumo, consultará todos os envolvidos. O conservador dirá que os argumentos ´non sequitur´, e a sociedade precisará de mais polícia contra os seus Joões.
Em vez de grades ao redor do Masp, não seria mais prático colocar grades ao redor dos responsáveis pela sua decadência? Voltei, parceiro. Lá vem…’
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