Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Profissional insignificante e profissão fútil

Há quem diga que ser jornalista num país como o Brasil é uma tarefa árdua e complicada, além de perigosa, é claro, pois estamos à mercê dos perigos que envolvem o campo das reportagens e entrevistas. Passamos horas na mira das desgraças e das falcatruas, e tudo para que possamos levar a cada telespectador, a cada ouvinte, a cada leitor, a possibilidade de estarem mais próximos e mais ligados ao mundo a sua volta.

Enquanto muitos dormem e descansam no conforto dos seus lares, há sempre na rua uma equipe pronta a ‘atender às ocorrências’, a averiguar a veracidade dos fatos, tudo para que você, ao acordar, tenha logo cedo, ainda neste conforto que é seu lar, a notícia em primeira mão. Os fatos como eles realmente aconteceram, mas de repente, como se nada disso tivesse valor, como se cada noite em claro que passamos fosse algo fútil e desnecessário, juntam-se meia dúzia de governantes, eleitos por estes mesmo jornalistas, é claro, e simplesmente dizem que não há necessidade de diploma para o exercício da profissão. Vai ver que eles pensam assim porque não é preciso ser diplomado para ser político, não é mesmo? É claro que não. Afinal, em qual universidade/faculdade ou em qual escola nesse país existe um curso intitulado ‘Arrogância e prepotência, mentiras e enganações’? É, caros colegas, infelizmente, ou felizmente, não sei, mas em 28 anos de vida a única escola a qual eu vi formar cidadãos arrogantes e prepotentes, falsos e mentirosos é a própria escola da vida. Não que ela seja a maior culpada pelo crânio oco desses infelizes que assinaram essa lei, mas que com certeza a vida deles deve ser tão vazia quanto suas cabeças, isso deve ser mesmo.

Quem tem dom, nasce com tudo

A única coisa que nos resta agora é unir forças e exigir que isso mude e que essas assinaturas sejam apagadas e esses papéis jogados no lixo porque se ficarmos de braços cruzados esperando as coisas se ajeitarem por si só, então só digo mais uma coisa: ‘Atenção, universitário de Jornalismo que ainda pretende ser formar neste país, não gaste seu dinheiro ou o dinheiro de seus pais à toa, vá pra balada. Beba até não aguentar mais e depois saia dirigindo embriagado pelas ruas de sua cidade e, se por um acaso você se envolver em um acidente, não se preocupe porque se houver vítimas e estas não forem você, o máximo que poderá acontecer é você pagar cestas básicas ou prestar serviços comunitários porque, afinal, se envolver em acidente embriagado, é como diz a lei, sem intenção de matar, ou seja, para que ser um jornalista diplomado infeliz a divulgar tais acontecimentos se você pode ser o acontecimento propriamente dito? Pense nisso e mais uma vez ouça a voz da sua consciência e a voz da conta bancária da família, vá pra balada que com certeza seu gasto mensal será ainda menor do que o valor paga em mensalidades e material, sem falar que na balada você obtém retorno, afinal você se diverte. Agora, se você for em busca do seu diploma de jornalismo, o único retorno que você vai obter é o de ser chamado de insignificante e sua profissão de coisa fútil.

A parte inicial deste texto é de uma colega jornalista, Andréa Cristina Vale… Formada. Com diploma. ‘Grande coisa, né, a lei não obriga mais você a ter um… Para que passar horas estudando, sentado a um banco escolar, pagando um horror de mensalidade, um horror em livros, em xerox, fazer aulas laboratoriais, de TV, de rádio, de web, de fotos, de dicção, para que?… Quem tem dom já nasce com tudo isso e mais um pouco, sabe como falar, conhece o que é um lead, o que significa ter uma fonte, o que é uma fonte oficial ou oficiosa, e por aí vai… O dom apresenta isso. O jornalista sabe como usar uma câmera fotográfica, o que é uma edição não linear e, por fim, sabe a fundo o que é ser ético…

Direitos e deveres

Este texto vai ser cheio de reticências porque… teria muito a falar, mas, caros colegas, para quem é só do ‘dom vou falar’, se jornalista tem seus direitos e também deveres, quando você vai a um banco escolar, tem lá um chamado manual de Direitos e Deveres do jornalista… E falar de forma aberta pode lhe render alguns processos, cestas básicas, ameaças e por aí vai.

Olha, vou parar por aqui, pois sou diplomado, também estive durante quatro anos em uma faculdade e agora que sei que ser diplomado não tem mais valor no mercado de trabalho e também para a sociedade, num vou apresentar no final deste texto meu registro, aí você poderia me dizer mas o sindicato dos jornalista exige! Pode ter exigido, mas de hoje em diante, vou assinar revistas, jornais, fazer o que me tem de direito e no lugar do meu registro… Vou apenas deixar escrito…

Registro: eu tenho o dom…

Este texto foi um desabafo da colega jornalista Andréa Vale, também colega de faculdade e amiga e minha colega de profissão, também ‘diplomado’…

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Jornalista