Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

E agora, José?

E agora, mais do que nunca, os jornalistas foram completamente desvalorizados no Brasil. Os argumentos apresentados foram vários. Tudo para tirar o diploma de quem ficou anos na faculdade, estudando para poder realizar um trabalho com qualidade e ética.

De acordo com Taís Gasparian, advogada do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Sertesp), a obrigatoriedade do diploma é inconstitucional, pois vai contra os conceitos de livre pensamento e liberdade de expressão. Taís disse ainda que a profissão não depende de conhecimentos técnicos.

‘A profissão não depende de um conhecimento técnico específico. A profissão de jornalista é desprovida de técnicas. É uma profissão intelectual ligada ao ramo do conhecimento humano, ligado ao domínio da linguagem, procedimentos vastos do campo do conhecimento humano, como o compromisso com a informação, a curiosidade. A obtenção dessas medidas não ocorre nos bancos de uma faculdade de jornalismo’, disse.

Sendo assim, a profissão de advogado também não precisa de diploma, já que não tem um conhecimento técnico específico. Basta conhecer a lei e saber argumentar.

‘Uma camisa-de-força’

Um advogado não precisa saber o que é um lead ou uma linha fina. Não precisa saber como se portar na televisão ou no rádio. Não é necessário para um advogado distinguir uma crônica, um artigo, uma crítica ou um simples texto factual. E pelo jeito, para o jornalista também não.

Se o diploma de Direito fosse derrubado, Taís Gasparian teria a mesma opinião?

Surpreendentes também são as declarações de Paulo Tonet Camargo, diretor do comitê de relações governamentais da Associação Nacional de Jornais (ANJ), e de Daniel Pimentel Slaviero, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert).

Para Tonet, ‘a decisão consagra no direito o que já acontecia na prática, ou seja, não modifica a situação atual. A ANJ continua prestigiando os cursos de Jornalismo e reconhecendo a validade do diploma de jornalismo. Mas o que estava em jogo no Supremo era o diploma como pré-requisito para o exercício da profissão’.

Já Slaviero afirmou que o diploma era um obstáculo para a profissão. ‘Continuamos a entender que o diploma e o desenvolvimento dos cursos de Jornalismo continuam sendo importantes, mas a Abert via [a obrigatoriedade do diploma] como uma camisa-de-força.’

‘Compromisso com informação e curiosidade’

No entanto, a pior declaração de todas foi de Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República, ao dizer que a obrigatoriedade do diploma pode prejudicar a informação do leitor. ‘Não se pode fechar os olhos para o fato de que jornalismo é uma atividade multidisciplinar e que muitas notícias e artigos são prejudicados porque são produzidos apenas por um jornalista especialista em ser jornalista, sendo que em muitos casos essa informação poderia ter sido produzida por um jornalista com outras formações, com formação específica em medicina, em botânica, com grande formação acadêmica, mas que não pode exercer o jornalismo porque não tem diploma. Não se pode desprezar esse contexto’, disse.

Souza desprezou completamente a profissão de jornalista. É diferente quando se fala de pessoas que contribuem para meios de comunicação com textos sobre áreas mais específicas, como medicina, por exemplo. Porém, quando se trata da notícia, ninguém está mais bem preparado que um jornalista formado para transmiti-la.

O jornalista não precisa apenas do ‘compromisso com a informação e da curiosidade’, como disse Taís Gasparian. É necessário que o profissional do jornalismo disponha de conhecimentos de ética, muitos conhecimentos técnicos sobre como elaborar textos, produzir material para televisão, rádio, assim como operar os equipamentos necessários à realização de suas atividades. O jornalista precisa saber como se relacionar com suas fontes, precisa saber seus limites, assim como a hora de extrapolá-los.

O ‘sábio discernimento’ da decisão

É inaceitável que uma decisão como essa seja aceita de boca fechada pela sociedade e principalmente pela classe dos jornalistas e estudantes de Jornalismo. Todo o esforço realizado para poder assumir o compromisso de transmitir a informação não pode ser deixado de lado. A credibilidade, a ética e a qualidade da profissão não podem ser simplesmente esquecidas, como fizeram os ministros Gilmar Mendes, Carmen Lucia, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie, Marco Aurélio e Celso Mello.

Assim, fica uma dúvida: em que se basearam os ministros do Supremo para tomar tal decisão? Pressões? Interesses políticos? Interesses econômicos? Pelo jeito, foi apenas no ‘sábio discernimento’do ministro Gilmar Mendes.

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Estudante de Jornalismo