Não me preocupa nem um pouco a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar não obrigatória a exigência de diploma de Jornalismo para exercício da profissão. Se o argumento é evitar a restrição da liberdade, é até melhor assim porque jornalismo sem liberdade representa uma ameaça à própria sociedade.
E os não diplomados podem até apontar dedos e se gabarem de não precisarem ter uma faculdade. Mas não obrigar a ter um diploma é muito diferente de ‘desvalidar o diploma’, o que não aconteceu. O diploma de bacharel em Comunicação Social continua valendo, o portador do documento tem nível superior de escolaridade e, por isso, pode se especializar em qualquer área das Ciências Sociais aplicadas, em nível amplo (especialização lato sensu), restrito (mestrado), ou ainda no doutorado e até pós-doutorado (PhD). O campo de pesquisa (que por aqui quase se restringe às universidades) é vasto, necessário e rende boas oportunidades de mercado, no Brasil e no mundo.
Assim como a falta de liberdade não combina com a prática do jornalista, a falta de conhecimento também não. E esse, muito raramente, se consegue apenas de maneira prática. Nesse mundo frenético em que vivemos, em que é exigido do funcionário um mundo de competências, quase não existe lugar para quem não tem diploma. Ensinar jornalista a escrever não é o foco das redações modernas, que precisam contar com profissionais preparados para apurar e escrever para o impresso, dar as principais notícias no rádio, assinar uma coluna diária num programa de TV e ainda manter um blog com opiniões da área de sua especialidade. São meios de mídia que diferem em gênero e público, mas que exigem capacidade técnica de diferenciação, pesquisa e muito, mas muito conhecimento.
Quem dá valor é o profissional
A decisão do Supremo é fato e o mercado de comunicação precisará se adaptar a ela. Mas sou cético quanto ao fato de que isso provocará alguma mudança repentina no mercado de trabalho, entre elas a desvalorização de quem já é formado.
Nos Estados Unidos, para ser jornalista não é preciso diploma. Mas lá na terra do Tio Sam quase não se encontra um profissional que não se sinta constrangido em tentar seguir a carreira sem pelo menos quatro anos de formação sólida, com ampla reflexão humanística e técnica. Prova de que uma imprensa forte se faz a partir do momento em que se é bom. Não é o STF que dá valor ao diploma do jornalista, mas sim o próprio profissional, comprometido com a prática do jornalismo como ele deve ser: instigante, verdadeiro, provocador de mudanças positivas e, sobretudo, cidadão.
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Graduado em Jornalismo pela Funcec (João Monlevade/MG), pós-graduado em Criação e Produção em Mídia Eletrônica (Rádio e TV) pelo Uni-BH; pós-graduando em Gestão Organizacional pela Funcec; professor dos cursos de Jornalismo, Administração e Ciências Contábeis da Funcec, editor do jornal A Notícia, colunista do site DeFato on Line, webmaster do blog Antenado e repórter colaborador do programa Wagner Ferreira, da Rádio Caraça FM (Itabira/MG)