Pois é! Também vou meter a minha colher nesse cozidão em que se transformou a decisão do Supremo Tribunal Federal que acabou, na semana passada, por 8 votos a 1, com a exigência do canudo de jornalista para o exercício da profissão. Muita gente aplaudiu o STF e muita gente, também, ficou emburrada com a sua decisão, chorando sobre o leite derramado. Mas – atentai bem! – pelo que sei, só quem está se dando bem com leite derramado é Chico Buarque, que deu este título ao seu último livro e está vendendo como água.
O barulho em torno da queda do diploma não é para menos. O jornalista, embora não ofereça riscos à vida de terceiros, como bem enfatizou o presidente do Supremo, mexe com a vida de muita gente, para o bem ou para o mal. Daí a repercussão do assunto.
Mas eu pergunto: por que, para derrubar o diploma, o ministro Gilmar Mendes comparou a atividade do jornalista à de cozinheiro? Seria algum ato falho freudiano? É! Não é a Justiça que tem a mania de cozinhar em ‘banho-maria’? Ou será que é porque os jornalistas são dados a ‘frituras’ de personalidades, especialmente daquelas que se desviam de suas funções? Ou será, ainda, que é porque os escândalos políticos brasileiros sempre acabam em pizza? Não sei. Sinceramente, não sei.
Penso, entretanto, que, nesse mingau, o ministro misturou alhos com bugalhos. Ou será que é porque o jornalista, quando não é insosso, carrega no sal e, por muitas vezes, deixa também o seu prato apimentado, provocando azia?
Do ‘Brasil alfabetizado’ para uma redação
Pelo arrazoado do presidente do Supremo, desconfio que temos que cuidar urgentemente de novas regulamentações de outras profissões, aquelas que representam perigo à vida humana. Quem tem poder de causar riscos à vida alheia, no exercício de sua profissão? Médico? Engenheiro civil? Policial? Nenhum desses tem mais poder de fogo, na questão da ameaça à vida, quanto o piloto de avião…
Bem, o fato é que, pela decisão do Supremo, a partir de agora qualquer sujeito que não der certo em sua profissão pode tentar o jornalismo. E por que não? Mas não é preciso ir a outra faculdade, não. Pode sair direto do ‘Brasil alfabetizado’ para uma redação. Segundo o ministro, diploma não põe talento em ninguém. Nem tira, não é?
Mas, cá pra nós, diante de tudo isso, eu fico assim com a sensação de que, em pleno século 21, na era da informação, jornalista de verdade, sem diploma, fica meio capenga. Ou meio capanga.
******
Jornalista e licenciado em Letras, com pós-graduação em Comunicação, editor-chefe do jornal Diário do Povo, de Teresina, PI