Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pra que ser jornalista?

Essa história de que as empresas vão continuar exigindo formação nas contratações é lorota e quem, assim como eu, trabalha no meio sabe o tamanho da lorota. Se antes, já não tínhamos órgãos de defesa da categoria respeitados, imagine agora? Aqui no Piauí temos um sindicato pífio que consegue a façanha de reduzir um aumento no piso que era de R$ 50,00 por ano, para R$ 35,00. Você sabe o que é esperar 365 dias para ter um aumento e receber R$ 35,00? Precisei da ajuda de duas pessoas para levar esse dinheiro todo ao banco, claro! E nem me venha falar em $#%&@ de Anuênio porque isso é privilégio de poucos. A grande massa de profissionais hoje é formada por jovens, como eu, e não estamos em empresas tempo suficiente para ter esse direito, ou se temos ele não significa grande diferença no contracheque.

Sabe para que esse sindicato serve? Para proteger os velhinhos caquéticos e preguiçosos, os Joãos, os Raimundos, os Zés que vão para as redações passar as manhãs ou tardes copiando e colando releases e sites, entre uma coçadinha nos ‘ovos’, uma outra nas frieiras dos pés e um peido. Sindicato de bosta, como sempre foi. E esses pulhas compõem a diretoria deste meu amado sindicato e para quem não tem noção de Constituição e direitos, esclareço por qual motivo estas ‘criaturas’ entram nas diretorias. No artigo 8º, VIII da CF, ‘É vedada a dispensa de empregado sindicalizado a partir do registro de sua candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei’. Sacou, né? Ou quer que eu desenhe? Maravilha! O cara não faz coisa alguma, se escora nos colegas e goza de estabilidade contra a demissão. Beleza!

‘Mobilização nacional’

Não acredito em liberdade de ação de sindicatos, cujos presidentes atuam em empresas como empregados. Sou da teoria de que presidente de sindicato, durante sua atuação, deve se afastar do emprego e ter os salários pagos pelo sindicato.

Eu sei, eu sei, a decisão do STF não é culpa dos sindicatos. É, não de forma direta, mas indiretamente, quando você deixa de fazer, também contribui para uma decisão. E é na junção do Piauí com o Maranhão, com o Rio de Janeiro e por aí vai que se constitui a força de um movimento. Lembro que, há pouco mais de dois meses, durante comemoração do Dia do Jornalista em sessão solene na Assembleia Legislativa, abordei o presidente do meu querido sindicato sobre o assunto e sua resposta foi a de que estava confiante de que o STF iria negar a cassação do diploma. É, amigo, o STF fez o contrário. E agora? ‘Chupa essa manga e engole o caroço.’

Olha só que lindo o discurso dele: ‘Nós vamos ter que convocar um seminário nacional para discutir regras e discutir como fazer com o registro de jornalista. (…) Mas nós acreditamos que isso não será necessário, uma vez que vamos ganhar esta causa, a mobilização é nacional, estudantes, jornalistas e a sociedade estão lutando em defesa da formação acadêmica do jornalista.’ É goool do Brasil, sil, sil!

Tristeza, ódio, desilusão

Se antes eu já pensava em abandonar a profissão, agora não é mais uma questão de escolha, é de sobrevivência, é uma obrigação. Penso no que adiantou as noites acordadas para estudar para o vestibular, os quatro anos de dureza, cansaço e tristezas entre faculdade e estágios? Para que mesmo? Para vir um safado chamado Gilmar Mendes e nos comparar a cozinheiros (nada contra a classe, até porque foi assim que minha avó criou minha mãe), mas me poupe! Do universo de cozinheiro do país, quantos estudaram para exercer a profissão? É piada, não é? Mas o que esperar de um homem desses que transborda cinismo até calado? Nada.

A mim fica a sensação de tempo perdido, sonho errado e o desânimo diante de uma longa caminhada para recomeçar. Se antes eu já dizia que filho meu não seria jornalista, agora então…

O que eu sinto agora, nem consigo descrever, não dá para definir se é tristeza, ódio, desilusão. Acho que é um misto de tudo isso com uma grande pitada de coisa nenhuma. É, é assim que me sinto, coisa nenhuma. Então, viva ao STF!

Me processe!

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Jornalista, Teresina, PI