Em eventos significativos de implicações grandiosas, a mídia está (quase sempre) presente. No Irã, onde ocorrem violentos protestos por conta do recente pleito presidencial que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad, os jornalistas foram impedidos de exercer seu trabalho. Em vez das imagens usuais das manifestações, grandes organizações noticiosas agora contam com informações por telefonemas, e-mails e chats pela internet. Manifestantes iranianos e oficiais passam assim dados para os correspondentes em Teerã, que, por sua segurança, devem permanecer dentro de seus escritórios.
Esta censura levou também a uma explosão nas redes sociais e no microblog Twitter. ‘São impulsos democráticos’, diz o professor Thomas Warhover, da Escola de Jornalismo do Missouri. ‘As pessoas vão encontrando meios de ser ouvidas – novos e excitantes meios’, completa, lembrando que estas manifestações devem ser vistas como parceiras da cobertura tradicional, em vez de rivais. De fato, organizações de notícias passaram a monitorar o Twitter e outras redes sociais, contextualizando, entretanto, as informações – e lembrando ao público que este conteúdo nem sempre pode ser totalmente verificado. O governo, alerta, começou a bloquear sítios como o Facebook e o Twitter e páginas que apóiam o líder de oposição Mir Hossein Mousavi. Mensagens de texto por celular também foram cortadas na semana passada, e o serviço de telefonia móvel em Teerã cai com frequência.
Alvos
Segundo a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras, as autoridades já prenderam 23 jornalistas e blogueiros iranianos desde o início dos protestos. Entre eles, está o presidente da Associação dos Jornalistas Iranianos. ‘Isso está se tornando cada vez mais problemático para os jornalistas’, afirma o pesquisador Benoit Hervieu, lembrando que os profissionais de imprensa se tornaram alvos primordiais do governo. No domingo [21/6], a revista americana Newsweek informou que um de seus jornalistas, o canadense Maziar Bahari, foi detido sem acusações formais. Não se sabe o paradeiro de Bahari, que cobre o Irã há uma década para a Newsweek e outras publicações estrangeiras.
Além das prisões, o governo iraniano também tenta manter os correspondentes estrangeiros longe do país. A veterana Christiane Amanpour, principal correspondente da CNN, não teve o visto renovado, e precisou deixar Teerã no início da semana passada. No fim de semana, as autoridades ordenaram a saída, em 24 horas, de Jon Leyne, correspondente da rede britânica BBC na capital. O governo acusa a rede – e o Reino Unido – de tentar se meter em assuntos internos. O canal de TV al-Arabiya, com sede em Dubai, também recebeu ordem para fechar sua sucursal, por ter feito uma cobertura ‘parcial’ das eleições.
Banho de sangue
As restrições à imprensa foram impostas depois de imagens de centenas de milhares de pessoas em uma passeata em Teerã no início da semana passada. Elas denunciavam fraude nas eleições de 12/6 e alegavam que Mousavi teria sido o verdadeiro vencedor da disputa. Pelo menos sete manifestantes foram mortos a tiros, e o banho de sangue espalhou-se pela mídia mundial. Uma foto mostrava o corpo de uma das vítimas, no chão, com sangue pingando de sua cabeça.
O governo não gostou do que viu estampado nas TVs, jornais e sítios de internet de todo o mundo. Agora, com os jornalistas proibidos de registrar os eventos, tornou-se difícil confirmar os números de mortos, feridos e detidos. Imagens feitas por celulares passaram a circular em sítios como YouTube e Facebook, mas agências de notícias como a Associated Press dizem não ter como verificar o local e a data das cenas.
‘Nosso objetivo é conseguir divulgar histórias precisas’, diz o editor da AP John Daniszewski. Na CNN, já foram recebidas mais de duas mil informações de ‘jornalistas-cidadãos’ relacionadas ao Irã desde o dia seguinte à eleição, e mais de 80 vídeos e fotografias foram ‘completamente checados’ e exibidos, segundo o porta-voz Nigel Pritchard. Informações de Brian Murphy [AP, 22/6/09], AFP [21/6/09] e BBC [22/6/09].