Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Orgulho e falha jornalística

A coluna de domingo [11/3/07] do ombudsman do New York Times, Byron Calame, começa com a seguinte questão: ‘Por que os leitores do NYTimes ficaram por seis dias sem uma palavra sobre o escândalo do Centro Médico Militar Walter Reed após ele ter sido denunciado pelo Washington Post [no dia 18/2]?’

Diante do furo do Post, leitores sedentos por notícias sobre os maus tratos dados a soldados feridos na guerra do Iraque no centro médico de Washington ficaram sem o ponto de vista do NYTimes sobre o assunto por quase uma semana. ‘Eu não podia esperar para ler o NYTimes a fim de ver o que o jornal tinha a dizer sobre isto’, escreveu a leitora Margo Muccino. ‘Fiquei perplexa, chateada e chocada que o jornal não tinha publicado uma linha sobre as condições do hospital. Sinceramente, vocês têm de explicar este lapso jornalístico para aqueles que amam e lêem o NYTimes.’

Calame deu toda a razão a Margo e a outros leitores que entraram em contato com ele para reclamar. As reportagens investigativas do Post, totalizando 9.400 palavras, forneceram um olhar detalhado sobre a vida dos pacientes, incluindo os fungos, as baratas mortas e os vazamentos nos quartos. De imediato, as matérias causaram a saída do secretário do Exército e do general responsável pelo hospital, além de uma investigação por uma comissão bipartidária.

Com uma semana de atraso, o NYTimes publicou algo sobre o caso: um artigo de 620 palavras na página A10, que dava crédito ao Post, sem grandes detalhes sobre as condições do centro médico. Apenas as demissões que se sucederam ganharam destaque de capa no jornalão. Os leitores só conseguiram ler depoimentos de pacientes duas semanas após o assunto vir à tona.

Justificativas

Bill Keller, editor-executivo, reconheceu que o jornal poderia ter sido mais rápido em responder às matérias do Post. ‘O tratamento dos soldados feridos em um dos mais prestigiosos hospitais da nação em tempo de guerra merecia mais cobertura. Mas nós acabamos cobrindo apenas as conseqüências do trabalho do Post‘, admitiu. Segundo Keller, o diário foi devagar porque seria difícil acompanhar o trabalho investigativo de quatro meses das duas repórteres do Post, além dos repórteres especializados em temas militares do NYTimes estarem ocupados com outros artigos. ‘Nossos repórteres que cobrem o Pentágono estavam ocupados a todo vapor com matérias relacionadas à guerra no Iraque. Mas se os editores estivessem determinados a dar aos leitores um panorama maior do prédio 18 do hospital, entrevistando familiares e pacientes, isto teria sido um passo mais lógico – e uma pauta que qualquer repórter do NYTimes poderia cumprir’, opina.

O caso não foi o único que o jornal ‘se atrasou’ em reportar. No ano passado, o diário também demorou a publicar o suposto massacre de civis iraquianos por tropas americanas em Haditha, no Iraque, após o mesmo ter sido exposto na revista Time. Para Calame, o motivo para tais falhas é o orgulho excessivo. ‘O desejo de ser o primeiro a dar a notícia ainda é algo de tal modo presente na redação do NYTimes e de outros jornais que faz com que editores e repórteres se sintam derrotados quando concluem que a informação de um artigo exclusivo de outra publicação tem um valor jornalístico tão grande que não pode ser ignorado’, diz o ombudsman. Já Keller alega que não se trata apenas de orgulho. ‘Há a questão de saber o quão confiável é o furo’, afirma o editor-executivo. ‘Até que verifiquemos – ou até que a matéria tenha conseqüências – é uma informação de segunda mão para nós’.