A coluna de domingo [11/3/7] de Deborah Howell, ombudsman do Washington Post, foi dedicada ao debate – freqüente na redação do diário – sobre o tamanho ideal de um artigo jornalístico. Segundo ela, uma matéria deve ser grande o bastante para contar aos leitores o que eles querem saber, mas curta o suficiente para que eles não gastem seu tempo à toa. Uma das principais razões que os assinantes alegam para o cancelamento de assinaturas é a falta de tempo para ler.
Diante destes motivos, o editor-executivo Leonard Downie e o chefe de redação Phil Bennett enviaram um memorando no dia 28/2 à equipe estabelecendo normas para o tamanho das matérias com a seguinte filosofia: ‘todo artigo deve merecer cada centímetro que tem’. Em tempos de crise, o Post não é o único jornal a se preocupar com o assunto, pois ele mexe diretamente com o bolso: os custos com salários e impressão são os maiores gastos de uma empresa jornalística.
Cada centímetro vale ouro
Vale lembrar que a extensão de uma matéria não é necessariamente uma medida para sua importância, mas pode ser uma das formas de se avaliar o quão relevante é o tema. As matérias publicadas recentemente no Post denunciando os maus tratos aos soldados que recebiam tratamento no Centro Médico Militar Walter Reed, em Washington, foram imensas para os padrões usuais – e receberam muitos elogios dos leitores. No meio jornalístico, é mais comum que grandes reportagens recebam os prêmios mais importantes.
Deborah resume as matérias jornalísticas em três categorias: as notícias diárias de última hora; as analíticas ou críticas; e as investigativas. O prazo curto de entrega e o pouco espaço disponível no jornal são os fatores que determinam, em geral, o tamanho das notícias diárias – ou seja, se falta um minuto para o deadline, a matéria vai ser publicada do jeito que está. Já as matérias maiores são planejadas e têm um espaço maior reservado para elas. Para tanto, elas têm de ser importantes o suficiente para atrair a atenção dos leitores com uma chamada na capa e fazê-los ir até o interior do jornal para continuar a lê-las.
Fato é que nenhum jornal tem espaço ilimitado. Alguns deles, como o USA Today e tablóides como o New York Daily News ou o Newsday, publicam poucas matérias longas. Mas o Post e alguns de seus concorrentes se orgulham de projetos investigativos que geralmente são publicados por vários dias. Estas reportagens causam impacto e não podem ser resumidas em pouco espaço. Os jornais, entretanto, têm de competir com a correria do dia-a-dia. Se o leitor está correndo para ir trabalhar de manhã ou para levar as crianças à escola, há pouca chance de que ele leia o Post com calma no período da manhã –provavelmente, só poderá fazê-lo na hora do almoço ou à noite.
O outro lado da questão
Há leitores, no entanto, que reclamam que algumas matérias são muito curtas. Para avaliar o tamanho ideal de uma matéria, o jornalista deve pensar no que o leitor quer saber e na totalidade da edição do dia. Os editores e repórteres devem se concentrar no tamanho do texto e na quantidade certa de informações para contextualizar o assunto. Isto não é uma tarefa fácil, admite Deborah, pois é mais fácil escrever um texto longo do que curto.
No fim, entretanto, a escolha sobre o tamanho de uma matéria cabe aos editores. São eles que dão a palavra final, com base em dois critérios: a importância do artigo para os leitores e a estrutura do texto, que pode permitir cortes ou não. O sítio do Post serve, algumas vezes, de espaço para complementar às matérias, quando não há mais nenhum pedacinho de edição impressa sobrando.