Intolerância a críticas, pressão por quebra de sigilo de fontes, ameaças e violência explícita são apenas alguns dos problemas enfrentados por profissionais de imprensa no continente americano. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que representa mais de 1.300 jornais, recebeu, em encontro na Colômbia, relatórios regionais sobre liberdade de imprensa.
Nos EUA, o que mais parece incomodar os jornalistas é a recente onda de violação do direito ao sigilo de fontes, com autoridades pressionando profissionais de imprensa a revelar a identidade de fontes que prometeram proteger. Os jornalistas americanos pedem que seja criada uma lei federal que impeça que juízes e promotores os obriguem a revelar suas fontes. ‘Hoje, acho que mais do que em qualquer outro momento, há uma grande pressão para que os jornalistas identifiquem as pessoas que falam com eles – mesmo quando a informação discutida não chega a ser publicada’, afirma Milton Coleman, editor do Washington Post. A questão é tema de grande debate no país desde o início do caso Valerie Plame, onde jornalistas tiveram que testemunhar sobre suas fontes na investigação para se descobrir a origem de um vazamento de informação confidencial.
A delegação mexicana destacou o assustador número de jornalistas assassinados por membros de gangues de narcotraficantes. Desde outubro, foram contabilizados sete mortes, dois desaparecimentos e oito casos de ameaças de morte. ‘Eu diria que o México se tornou o país [no Ocidente] mais perigoso para se exercer o jornalismo’, diz Gonzalo Marroquín, editor do jornal Prensa Libre, da Guatemala, e presidente da comissão de liberdade de imprensa da Sociedade Interamericana de Imprensa. Já na Colômbia, considerada na última década o terceiro país mais perigoso para jornalistas – atrás apenas do Iraque e da Rússia –, não foram registradas mortes de profissionais de imprensa com relação com seu trabalho nos últimos seis meses.
Repressão na América Latina
Segundo Marroquín, a liberdade de imprensa sofreu grande deterioração no ano passado em países com vitórias eleitorais de candidatos de esquerda. ‘Na Venezuela, onde eu diria que o autoritarismo do presidente Hugo Chávez é absoluto, e em outros lugares onde as restrições à imprensa estão se tornando mais repressivas, há também a aparente tendência de tentar limitar o acesso à informação’, diz Marroquín. Organizações em defesa da liberdade de imprensa acusam Chávez de usar o judiciário e a nova legislação para silenciar seus críticos. O presidente nega ameaçar a liberdade de imprensa no país e, por sua vez, acusa a imprensa privada de conspirar para derrubar seu governo.
De acordo com a delegação da Bolívia, o presidente Evo Morales ‘não parece confortável’ com os princípios de liberdade de imprensa. Ele costuma classificar reportagens críticas a suas ações de ‘parte de um plano contra a estabilidade’ governamental. Morales já reclamou mais de uma vez sobre a suposta parcialidade da imprensa nacional contra ele e defende a idéia de abrir mais empresas de mídia pró-governo.
Outro que costuma acusar a imprensa de conspiração é o presidente uruguaio Tabare Vazquez. Para ele, a mídia questiona sua competência por meio de reportagens ‘imorais, ofensivas e mentirosas’, contou a delegação do Uruguai. No Equador, o recém eleito Rafael Correa já acusou a imprensa de seu país de estar a serviço de ‘máfias políticas marginalizadas’. Informações de Sergio de Leon [AP, 17/3/07].