Enquanto outros jornalistas ocidentais voltavam para seus países de origem, Richard Engel, correspondente freelancer para a rede de TV NBC no Iraque, arriscou ficar em Bagdá para esperar a invasão americana em 2003. Sem apoio logístico, nem empregador fixo, ele chegou a se questionar se estaria tomando a decisão certa. ‘Eu pensei em mil possibilidades horríveis. A maior parte dos repórteres tinha deixado Bagdá e eu estava sozinho’, conta o jornalista, hoje correspondente-chefe no Oriente Médio para a NBC.
Esta experiência e outras vividas ao longo de quatro anos no Iraque são contadas por Engel no documentário War Zone Diary, transmitido esta semana pelo MSNBC [canal a cabo da NBC]. A filmagem teve início com o objetivo de ser apenas um registro pessoal dos primeiros dias de estadia do repórter em Bagdá, em março de 2003, em um quarto no Hotel Palestine. O filme de uma hora segue com a ocupação americana, incluindo a destruição da estátua de Saddam Hussein e as expectativas dos iraquianos em relação à tão sonhada liberdade.
Mesmo juntando-se definitivamente à equipe da NBC em junho de 2003, Engel continuou a produzir seus vídeos quando era possível. Ele não via a hora de poder divulgar as filmagens, mas até o ano passado as fitas estavam em caixas no escritório da NBC em Bagdá. Com o apoio e o sinal verde do vice-presidente da NBC News, Alex Wallace, o correspondente começou a editar o material.
Vivência
O resultado é uma narrativa pessoal de um profissional de mídia ocidental diante do cotidiano dos cidadãos iraquianos, soldados americanos e dos jornalistas, estes últimos constantemente ameaçados. ‘Sempre me perguntaram como era estar lá, como me sentia, o que eu comia, como era andar nas ruas. O documentário responde a estas perguntas. Não acho que ele seja pró-guerra, nem antiguerra; ele não julga nada’, explica.
Além de divulgar a miséria e a morte de ambos os lados do conflito, o vídeo mostra um drama pessoal do autor: durante o tempo em que ficou no Iraque, o jornalista acabou se separando de sua esposa. Engel afirma que pensou em não mencionar o fato no documentário, mas considerou que ele poderia ser importante para expressar as dificuldades de se lidar com a distância dos familiares. ‘[A separação] Fez parte do processo e mostra como a vida pessoal é afetada’, conta. Informações de Paul J. Gough [Hollywood Reporter, 19/3/07].