Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa esqueceu o Proer

Ao longo desta crise financeira global nosso governo aproveita todas as oportunidades para jactar-se da invulnerabilidade do sistema bancário brasileiro. O governo está certo, porém, esquece de uma coisa – dar nome aos bois. Sem o Proer – Programa de Estímulo à Reestruturação do sistema financeiro nacional, adotado a partir de 1995, talvez já estivéssemos dentro do furacão.


É fácil entender porque o governo escondeu a proeza do Proer, que conseguiu blindar os bancos brasileiros, a moeda brasileira e, em última análise, a economia brasileira. O Proer não foi obra deste governo, mas do anterior; os maiores beneficiários do Proer são aqueles que há treze anos eram os seus mais ferrenhos detratores.


Ora, este tipo de esquecimento é freqüente nas disputas políticas, faz parte de um jogo onde a urbanidade não costuma ser obrigatória. O que não se entende é que a imprensa gaste toneladas de papel para cobrir e explicar todos os lances da crise financeira e tenha passado ao largo de uma informação de capital importância para o esclarecimento da sociedade.


Quem tomou a iniciativa de lembrar o episódio foi o ex-vice-presidente da República, o senador Marco Maciel, num artigo de jornal (O Estado de S. Paulo, 30/9).


Não há termo de comparação entre os 20 bilhões de reais gastos no Proer e os 850 bilhões de dólares que serão gastos no pacote de socorro americano, mas cabia à imprensa – e não a uma das partes – a tarefa de fazer esta remissão a um passado tão recente.


Afobada, nossa imprensa esquece depressa. Seu problema é este.