Citado de passagem, como curiosidade, na imprensa de todo o mundo, o cineasta Michael Moore coloca em pauta uma expressão que deveria estar obrigatoriamente vinculada à atual crise financeira: o crime corporativo.
Moore, que se tornou uma das mais rombudas pedras no sapato do governo Bush com seus documentários extremamente populares, declarou, em artigo publicado no site Znet, que a proposta de ajuda aos bancos à beira da falência corresponde ao crime corporativo do século.
Descontadas as aleivosias do documentarista, que costuma transitar por teorias conspiratórias mais ou menos verossímeis, convém anotar que ele toca num ponto até aqui ignorado pela imprensa: quanto da crise financeira atual se deve a ações criminosas?
Dinheiro limpo
Sabe-se, de acordo com estudos da ONU, que o crime organizado movimenta anualmente cerca de 2 trilhões de dólares. Sabe-se também que, desse total, nada menos do que 1 trilhão e 400 bilhões circulam todos os anos pelo sistema financeiro internacional.
A pergunta que a imprensa ainda não fez: quanto da crise financeira, cujo custo está sendo repassado aos cidadãos, foi produzido pelo dinheiro de mafiosos que é lavado em investimentos de alto risco?
Segundo a ONU, a receita do crime organizado inclui 1 trilhão de dólares da corrupção, entre 300 bilhões e 400 bilhões de dólares do tráfico de drogas e outros 300 bilhões a 400 bilhões de dólares do contrabando de armas. Esse dinheiro, além da receita do tráfico humano, roubo de cargas e outras atividades criminosas, não desaparece no ar.
Passa pelo sistema financeiro e ressurge, limpo, para ser investido dentro da lei.
Causas profundas
Quando o dinheiro do crime organizado circula pelo sistema financeiro, ele passa a ser objeto de crime corporativo, pois esse recurso entra no mercado em condições privilegiadas de competição contra o patrimônio dos investidores honestos, cuja receita tem certidão de nascimento.
A imprensa nunca tratou desse assunto com profundidade.
Talvez esteja na hora de um exame mais completo dessa crise, cujas causas são muito mais profundas do que os excessos na concessão de créditos para moradias.