Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A indução dos números

Enquanto se digerem os resultados das eleições de domingo (5/10) e já se começa a pensar nas presidenciais de 2010, convém retomar uma questão que tem sido ventilada neste Observatório em temporadas eleitorais anteriores. Tem a ver com a abusiva utilização das pesquisas de opinião por parte da mídia que chegou a ganhar o nome de doença – pesquisite.


Em pleitos anteriores, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não permitia a divulgação de sondagens nos dias da votação por achar que poderiam induzir o eleitor a optar pelo voto útil, isto é, esquecer o preferido e votar naquele que vai ganhar. Houve eleições em que os resultados das pesquisas só eram divulgados até a sexta-feira anterior.


No domingo (5), em São Paulo, ficaram muito claros os malefícios produzidos pela divulgação de sondagens no dia da votação: os dois jornalões, o Estado de S.Paulo e a Folha de S. Paulo, trombetearam em manchete a certeza de que Marta Suplicy e Gilberto Kassab seriam os vencedores (nesta ordem).


E o que aconteceu? A divulgação antecipada da tendência de alta de Kassab reverteu a própria previsão dos institutos: a ex-prefeita ficou em segundo lugar e o atual prefeito a ultrapassou.


Critério do rigor


No Rio de Janeiro, a situação era a mesma – Fernando Gabeira e Marcelo Crivella disputavam a segunda vaga, mas O Globo comportou-se com mais responsabilidade e divulgou discretamente a previsão dos institutos. Não forçou o voto útil.


Registre-se que o jornalão carioca torcia claramente contra o senador Crivella. Se desejasse induzir os indecisos bastaria destacar em manchete os resultados do Datafolha que indicavam a inclusão de Gabeira no segundo turno.


Se a Justiça Eleitoral tem sido tão rigorosa em matéria de propaganda, sobretudo no tocante à internet, conviria que voltasse a examinar com a mesma severidade a divulgação de pesquisas no dia da votação. Os institutos vão chiar, mas a democracia agradece.